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31 de dez. de 2014

Transições

Transições criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 31-12-2014
Transições, criado em 31-12-2014.

Transição ou mudança de fase é a transformação que ocorre em um sistema termodinâmico: variação abrupta em uma ou mais propriedades físicas induzidas por mudanças em uma variável como a temperatura. Descreve transições entre os estados físicos da matéria mais comuns, como sólido, líquido e gasoso e, em casos raros, o plasma.*


Movidos da alegria ao ódio, interferimos nos mundos existentes. Ou você pensa que há apenas um mundo? Cada cabeça uma sentença! Mundos dentro do mundo.

Razões são várias, cada qual com seus paradigmas e lógicas, que confirmam verdades absolutamente contraditórias ou opostas. Sob qual deveríamos encarar a vida?

Ao assumir como absoluto o que uma razão comprova corremos o risco imenso de ignorar outras formas de razão. Por exemplo, há também razão no amor e sustentabilidade de influências nas práticas de uma pessoa ou várias: sob sua égide se decide e se vive. Para bem de uma certa verdade, o mesmo acontece com toda e qualquer forma de emoção, especialmente as coletivas.

Aqui se inserem os rituais de transição. Em cada rito de passagem nos permitimos um imersão na alma do mundo, nas estruturas que nos permeiam como seres sociais. É como um mergulho em um rio profundo. Adentramos muito pouco abaixo de sua superfície, mas isso é o suficiente para retornarmos de um novo modo, com o olhar e sentimentos renovados. Ignorar esse aspecto é, também, ignorar as imensas possibilidades da vida que ficam retidas em cada DNA e na Psiquê de um ser humano.

Ritos cumprem a sua função: conectar pessoas, produzindo um campo de unidade ao seu redor. Quando sua força é amplificada por um propósito, surge uma motivação social. A reprodução, com um toque de novo, do modo de viver.

Vou me permitir um novo encontro com a transição: a do adeus ano velho e feliz ano novo. Vou acrescentar uma dose bem forte de transformação; vou desejar que boas surpresas me encontrem no novo percurso demarcado com os primeiros momentos de 2015; vou me propor a felicidade e sonhar com [im]possíveis.

Antes, deixem-me agradecer por todas as conquistas realizadas por puro esforço ou com a ajuda dos grandes amigos e dos bons adversários. Os desafios foram bons e tornei-me alguém mais forte do que era. Isso, por si, já basta para me trazer ao rosto um sorriso feliz.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 31 de dezembro de 2014.

* Adaptado de Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Transi%C3%A7%C3%A3o_de_fase)

26 de dez. de 2014

Dia feliz

Dia feliz  criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 25-12-2014.
Dia feliz*, criado em 25-12-2014.

Left alone with just a memory, life seems dead and quite, quite unreal
All that's left is loneliness, there's nothing left for me to feel

(You Don't Have To Say You Love Me — The Floaters)


A véspera do natal é uma data interessante, com correria e tudo, porque sempre me provoca. Eu gosto do encontro que ela permite, não apenas com os familiares. Amigos que passam por aqui, numa peregrinação em casa de familiares e de outros amigos, são o ponto da minha reflexão.

É que eu andava pela noite, com um grupo de amigos, de casa em casa, mordiscando, bebendo algo, dando satisfações aos familiares, antes de seguirmos adiante em uma noite quase que inteira de movimentação.

Havia, no entanto, aquele momento quando a peregrinação acabava, o violão era sacado, nossa garrafa de vinho barato aberta e dividíamos aquilo que éramos de forma plena e feliz.

Musicalmente belo - tínhamos bons instrumentistas e vocalistas no grupo -, nos permitíamos as piadas mais infames, as perfeitas sacanagens e bullyings marotos - conscientes de ser apenas do momento -, até que chegava o momento da apresentação das verdades ocultas durante todo o ano… noite de paz. O dia seguinte, cada macaco no seu galho, cada menino com sua família.

Um prisma intenso, caleidoscópio emocional. Ontem e hoje, uma revivência similar, em outra ordem, ao receber em minha casa familiares e amigos. Ocupar o lugar do outro da minha adolescência me faz repensar os reflexos permitido sobre uma superfície quase igual.

O que ficou do garoto? O que o papai Noel presenteou? Nomes já não me importam mais. Conceitos, entendimentos, apropriações, sim!

Em um diálogo com meu cunhado, Elias, eu me recordei o motivo de ser tão importante manifestar ou agir em prol das necessidades alheias. Não apenas questão de fé. A manifestação do amor é o que nos leva a um patamar superior.

Alguns amores não vieram e a saudade bateu. Entendi os motivos, mas o coração sofreu. É assim mesmo. A vida tem desses momentos. A perfeição exige. Pensei no Arthurzinho, que está muito próximo de chegar, senti seus chutes na mão, os sonhos do meu sobrinho aguardando a chegada do seu filho eram visíveis.

Quem sou eu para desqualificar a vida? Louvado Seja! Que o tempo dessa vida, que não consegue ser suficiente para se viver uma amizade sequer, seja meu aliado nessa jornada; que eu aprenda a ser sensível aos seus signos, que eu entenda que até mesmo os meus limites (não consegui fazer tudo o que queria) são parte importante desse momento do viver.

Um dia o sino pequenino toca e eu não estarei aqui. Até lá, bem… vou aproveitar o que há para se fazer.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 25 de dezembro de 2014.

* A felicidade nunca é tão plena a ponto de impedir as pequenas tristezas causadas pela incompletude que as chamadas faltas nos trazem. Sensação essa que para mim é muito bem representada no trecho de uma música muito antiga que citei na abertura: Fiquei sozinho somente com memórias. A vida assemelha-se a morte, muito próxima do irreal. Quando tudo que resta é a solidão, nada mais resta para sentir.

23 de dez. de 2014

A lição do Flamboiã

Flamboiã, fotografado por Wellington de Oliveira Teixeira em 10-12-2014
Flamboiã, fotografado em 10-12-2014.

Gostaria de ter começado essa história assim:
"Era uma vez um pequeno príncipe que habitava um planeta pouco maior que ele, e que precisava de um amigo…".
Para aqueles que compreendem a vida, isso pareceria, sem dúvida, muito mais verdadeiro.

(Antoine Saint-Exupéry — O Pequeno Príncipe, p.18)*


O Flamboiã é um tipo de árvore que conquista muito a minha simpatia: adoro suas cores, o formato de suas folhas e flores, o contraste estabelecido entre a leveza de suas sementes em floração com a robustez dos seus galhos. Mas a possibilidade dessa apreciação ocorre apenas em determinadas épocas do ano.

Com ele obtive o aprendizado que compartilho: há momentos para que muitas das coisas desejadas tornem-se viáveis ou seus processos sejam mais propícios ao desenvolvimento.

Alguns países possuem, nessa época do ano, um inverno rigoroso e as tradições natalinas e de passagem de ano auxiliam no processo de restauração da esperança de que a próxima primavera irá trazer o renascimento do mundo e a colheita de tudo o que ficou oculto sob a neve ou a terra.

Nós, os sortudos habitantes do Rio de Janeiro e do Brasil coroado de belezas naturais, somos brindados, durante todo o verão, por exuberâncias. Em terra, no céu e no mar sua manifestação é estonteante. Isso facilita a lição dos ciclos: término de um, reinício em outro.

Como sugestão, aproveite essa época para permitir-se momentos de uma reflexão positivista, esperançosa. Imagine o mundo dos seus desejos e - independente dos desafios necessários - já se prepare para ir ao seu encontro.

Como desejo, que você consiga ver o outro, que está ao lado ou distante, como um ser plenamente semelhante em necessidades, mesmo que divirja frontalmente em conceitos, propostas ou práticas.

Não podemos ocupar o lugar do outrem, mas podemos nos imaginar nele, a partir de nossas próprias necessidades na vida: de alegria, de amor, de esperança, de paz e de realização pessoal.

Isso, tente! Deseje de coração que ele obtenha tudo isso, mas o faça sem mesquinharia e sem invejas. Algo que aprendi há muito tempo embasa esse pensamento: quanto mais gente feliz e realizada no mundo, melhor será o mundo em que vou viver e também aqueles a quem amo tanto.

Bons festejos e reinício de ciclo de vida.
Wellington de Oliveira Teixeira, em 23 de dezembro de 2014.

* Às vezes, para se iniciar um novo ciclo, é preciso nos reinserirmos em um acontecimento do passado e resgatarmos o aprendizado que nos foi proporcionado. No reencontro desses dias com a família Prét, rememorações se fizeram necessárias e eu pude reacender o encontro com um pequeno príncipe na Vila de Trindade (Parati-RJ), o Alisson Gley. À potente memória daqueles momentos e meu grande aprendizado, fica meu agradecimento (e a vontade de experimentar o sabor da melhor geleia de minha vida).

6 de dez. de 2014

Minhas pequenas mortes

Pequenas mortes criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 06-12-2014
Pequenas mortes, criado em 06-12-2014.

Mas cada homem não é apenas ele mesmo; é também um ponto único, singularíssimo, sempre importante e peculiar,
no qual os fenômenos do mundo se cruzam daquela forma uma só vez e nunca mais.

(Hermann Hesse — Demian p.7)


Eu já morri muitas vezes em minha vida.

Pequenas mortes causadas por perdas incomensuráveis, porque perdas de amor e porque há muitas formas de se amar.

No lugar dos pedaços que foram arrancados da minha alma, a vida encarregou-se de ir construindo uma espécie de tampão para que o que restou não se esvaísse completamente.

Cada um desses pedaços tem um nome, uma história e foi um mundo que evadiu-se no universo. Algo que traduz um encontro inesquecível.

Dentre as formas de morrer, descobri uma que acentuava todos os aspectos da dor: um amor que se encontra com a morte repentina. Não há como chamar de despedida brusca, nem usar de pleonasmos para não ser cruel com outros, que também ficam e sofrem. Um cristal que se parte é impossível de ser recomposto.

Algumas vezes tive a sorte de ter sido usado pelas palavras de conforto. De algum modo, engoli a minha dor, acolhi a dor de um outro e lhe dei aconchego. Me ensinando ocupar um outro lado? Quem sabe? O lugar não importa quando o sofrimento o abraça.

Difícil é o descobrir que nenhum amor morre. A cicatriz que fica comprova mais que suficientemente que sua potência constitui, também, sua perpetuação em quem ousou acatá-lo e agasalhá-lo no coração.

Uma grande lição do abrir mão é saber que mesmo despedaçados seguimos em frente, constituímos uma nova forma de caminhar, estabelecemos um novo mundo — com todas as brechas e rombos e buracos negros que se configuraram, à despeito de nossa força desejante.

Todos os anos, uma hora ou outra, esta sensação estranha me toma e, como um vácuo, me engole. Fico cercado de memórias tristes, alheio a tudo o que é belo. O vazio, já me dizia a História sem fim, quando a gente permite, tira o que nos torna o que quer que sejamos.

Mais uma vez, vou apelar para a estratégia de trazer à memoria momentos de uma intimidade maravilhosa de um beijo, abraço, riso ou frase que se perpetuou. Vou insistir até que a presença se sobreponha a ausência. Uma técnica que aprendi a chamar de reacender a potência do encontro. Revivenciá-lo* e me deixar tomar pelo que senti naquele momento.

São muitos os brilhos nos olhares, os sorrisos mais do que marotos ou gentis eternizados em mim. Assim, antes que a morte desse atual corpo se estabeleça, vou reafirmando a Vida, essa com v maiúsculo que se intensifica em cada contato que estabeleço.

Que tal escutar aquela música e se deixar levar, sem compromisso com o tempo, até que esse momento de saudosismo sofrido se sacie e deixe a vida prosseguir?

Não se iluda, dor também é parte integrante do que chamamos mundo, partidas e despedidas também. Não importa o que se desfez — o encontro, o relacionamento, a vida de alguém — tudo é reabsorvido de um modo ou de outro no mundo físico, emocional ou espiritual. Cabe a você escolher o que fazer, enquanto tiver o poder de decidir.

Só não esqueça de carregar consigo e bem guardado o amor que um dia você recebeu e cuidou.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 06 de dezembro de 2014.

* Nos ensinamentos de Dom Juan, há um conceito de não estar preso a uma história de vida. Para liberar-se dela, sem perder o que foi importante, é preciso uma rememoração de tal intensidade que permitiria reviver a potência de um determinado momento e registrá-lo em si mesmo. A partir de então, bastaria retornar a esse ponto de energia para se reabastecer.

Identidade difere de homogeneidade

Identidade criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 05-12-2014
Identidade*, criado em 05-12-2014

Quando se entende que o que se atraiu era algo necessário, até um empurrão que o leva adiante merece um louvado seja.
(Wellington de Oliveira Teixeira)


As vezes me irrito com certos autores de autoajuda quando promovem uma integração do tipo homogeneização.

A questão não é tão complicada quanto os nomes indicativos sugerem, caso você parta do princípio de que todos os seres possuem diferenças inerentes e que somos um conjunto de experiências diversas que se estruturam como nossa identidade.

Tal como a digital colhida para seu Registro Geral, mais conhecido como carteira de identidade, somos um conjunto de linhas cuja configuração é exclusiva.

Então, ao proporem soluções únicas para processos semelhantes, porém diferenciados, acabam por incentivar a igualdade como padrão, isto é todos, do mesmo modo, pensam e agem, absorvem suas experiências e as assimilam, integram em si os aprendizados emocionais e racionais. E não há dúvidas de que isso é ilógico e incoerente!

Todas as partes que o compõem interagem entre si e se reconfiguram a cada novo momento. É nisso que reside sua identidade: no modo como o processo se realiza, não nos elementos.

Todos passamos pelo amadurecimento corporal - da infância à velhice - mas de forma muito própria. Com esse arcabouço e seu modo de apreensão estruturamos nosso ser. Sempre ficam pontos não finalizados, conexões não tão bem feitas.

Na pele, há marcas como manchas, cicatrizes, queimaduras; na alma, dores, ausências, mágoas. Carregamos experiências e modos de aprender próprios. No fundo, qualquer tentativa de igualar é fadada ao fracasso.

Então, jogue fora esses conceitos sem qualquer base científica nem psicológica que tentam lhe dar uma receita de bolo de como viver: vá pra rua experimentar o seu modo de ser e estar no mundo e ser feliz.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 05 de dezembro de 2014.

* A digital que é a sua identidade, nada mais é do que um conjunto de linhas desencontradas, mas únicas no mundo.

30 de nov. de 2014

Tecelão de si mesmo

Tapeçaria criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 30-11-2014
Tapeçaria, criado em em 30-11-2014.

E o tempo, assim, se torna contrário e começa a desfazer a tapeçaria que estava já chegando a sua conclusão, e impede a visão do processo como um todo.
Só se vêem linhas soltas e uma agulha solitária, todas sem função, a não ser um papel decorativo para quem apreciava as cores que possuíam individualmente.
A pausa não mais se expressou pelo seu aspecto de recuperação de forças para se seguir a caminhada, e, em vez de uma vírgula,
o que se viu foi uma tentativa de um limite, de um fechamento, de se gerar um ponto final.

(Wellington de Oliveira Teixeira — Trama de Histórias, Tapeçaria de Linhas*)


Alguns acreditam que aquela tapeçaria que vem produzindo com a vida é equilibrada, coesa, estruturada e sem brechas. Se esses adjetivos fossem antecedidos de quase ou até mesmo de suficiente já chegaríamos um pouco mais próximos da realidade.

Esse ano eu vi parte de uma montanha ser quebrada para abrir espaço para uma estrada. Máquinas imensas e de grande potência levaram meses para obter o resultado. Durante o processo, pude ver o interior da montanha que me era inacessível. A impressão que eu tinha era de que eu veria algo sólido e inteiriço, uma pedra única. Ledo engano: havia sulcos, valas, até plantas em seu interior. A água corria por ali, quando chovia.

Entendi que mesmo montanhas sólidas são constituídas por vãos, brechas, igual aos tecidos e tapetes. Sua firmeza se encontra na união das partes. Percebi que havia partes dela que se racharam em outros momentos e se recolocaram nos feixes e nas tramas. Sem nenhuma desqualificação nisso, ao contrário, a montanha encontrou um modo de adaptar essas incongruências admitindo as diferenças: acatou entre seus espaços a água, a areia, os galhos e até ossos enterrados.

Permitir-se perceber, antes de entender tal processo, nos capacita a ver nas diferenças os complementos — os pedaços que poderão se constituir partes de nós mesmos.

Olho para trás e vejo um complexo desenho representando o que foi produzido em minha vida. Alguns trechos me encantam, outros nem tanto. Mas me alerto para o fato de que um formato que não me atrai mais, em determinado momento foi o meu possível e não pode ser modificado, como o que estou nesse momento construindo. Maturidade também é poder olhar para trás, avaliar o tipo de tecelão que você conseguiu ser e ter orgulho de ter produzido algo.

Mas não esqueça: aperfeiçoar sempre é possível. O que ficou para trás deve ser encarado como desenhos feitos quando criança: carregados de sentimentos e sentidos verdadeiros e próprios àqueles momentos, mesmo que formalmente mal estruturados sob a ótica e capacidades atuais.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de novembro de 2014.

* O texto que produzi em 27 de outubro de 1998 encontra-se disponível neste blog do Ser Pensante. Acesse-o em http://bigwzh.blogspot.com.br/2008/04/trama-de-histrias-tapearia-de-linhas.html
Sugiro a leitura do texto em azul (alinhado à esquerda) separadamente do texto em preto (alinhado à direita), para só então realizar a leitura completa. Os textos são o equivalente às linhas verticais e horizontais de um tapete.

21 de nov. de 2014

Um adulto que a criança se orgulharia

Life goes on criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 20-11-2014.
Life goes on*, criado em 20-11-2014.

Um Deus infinito pode se dar inteiro a cada um dos seus filhos.
Ele não se distribui de modo que cada um tenha uma parte,
mas a cada um ele se dá inteiro, tão integralmente
como se não houvesse outros

(Aiden Wilson Tozer, citado por William P. Young em A Cabana, p.203)


Vi uma imagem com a legenda: A criança que você era teria orgulho de quem você é? E essa é realmente uma questão que gostaria de encarar com esse texto queonde me permiti ser bem intimista.

Com certeza, o que me tornei não foi apenas fruto dos meus desejos, uma vez que houve uma imensa carga de desafios para os quais não estava preparado e sucumbi. Bem, não é com orgulho que alguém se recorda dos seus erros, no entanto, fico feliz por ter conseguido encarar as minhas derrotas. Cada guerreiro sabe o peso dos enfrentamentos que escolhe assumir, e é isso que me faz olhar o passado com bons olhos: eu me superei.

Claro que houve várias concessões: pedaços de mim que ficaram para trás, como tributo, no altar da vida plena, mas, das dores no corpo e na alma surgiu um ser humano coletivista.

Falta de modéstia? É! Com muito orgulho que vejo aonde cheguei, apesar da imensidão do que me afirmavam ser impossibilidades, por conta do contexto social e suas enormes dificuldades, por conta do modelo cultural, por conta da falta de referências no caminho que optei por trilhar.

De certa forma, a trilha que abri incentivou aqueles que vieram depois e, hoje, tenho a alegria de ver as novas gerações da família seguindo por um caminho consolidado. Isso reafirma que tudo valeu a pena.

Mas não pense que os créditos são todos meus, claro que não! Sem o precioso e amoroso suporte e incentivo que recebi, o caminho teria sido muito, mas muito mais difícil e, muito provavelmente, mais acidentado. Então, um componente fundamental da minha alegria é saber que na solidão de cada caminho há a possibilidade de se criar conexões e alianças que nos fortalecem, nos esclarecem, impedem a perda gradual da essência da vida que permite nossa plenitude como ser. Meus verdadeiros amigos - isto inclui, especialmente, os familiares - estiveram e estão ao meu lado.

Realização é uma palavra forte demais, ainda, para esse momento — há tanto percurso pela frente. Reconheço que estou mais cansado, porém muito mais esperançoso e esforçado: eu sei o quanto já enfrentei e o quanto já superei. De tudo o que desisti, apenas uma coisa me incomoda, até hoje. E isso é algo muito bom para se dizer, pois há ainda um vislumbre de um pequeno horizonte onde seja possível realizar: nossas utopias pessoais são o incentivo que nos fazem prosseguir tentando.

Não tenho arrependimentos, algumas tristezas, certamente. A vida, em vários momentos, rasgou um pedaço do meu coração e levou. Restou marcas e recordações que reintegro sempre que necessário, sempre que a saudade é forte demais. Não com dor. Agradecido pela partilha solidária do Caminho.

Das esperanças que me acalentam os sonhos, a de ver uma sociedade mais justa é a que me impele mais adiante. Dos prazeres, aqueles especiais e indizíveis momentos quando alguém perdeu a noção de si, comigo. Dos projetos, sempre estudar e possuir um lugarzinho pra chamar de meu, onde possa receber amigos e ver — olha a pretensão! — meus bisnetos correndo ao meu redor. Dos questionamentos, só o caminho onde se sinta pleno vale a pena percorrer. Das certezas, só o amor.

Wellington de Oliveira Teixeira, entre 20 e 21 de novembro de 2014.

* A vida continua

19 de nov. de 2014

O Brasil mostra a sua cara

Identidade real criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 19-11-2014.
Identidade real, criado em 19-11-2014.

Não me convidaram pra essa festa pobre que os homens armaram pra me convencer a pagar sem ver toda essa droga que já vem malhada* antes de eu nascer.
Brasil, mostra a tua cara, quero ver quem paga para a gente ser assim. Brasil, qual é o teu negócio?, o nome do teu sócio?, confie em mim.

(Cazuza — Brasil)


Percebo muitos especialistas intrigados com o novo perfil do país, buscando destrinchar os fios coloridos embaraçados, do que antes era a face nacional. Eu não. Não creio ter havido mudanças na face, perdeu-se a maquiagem que parcialmente escondia a verdadeira identidade brasileira: um conjunto fragmentário de ideias, de monta semelhante as suas dimensões continentais.

Quebrou-se a magia que mantinha o olhar preso nas maquinações produzidas pelo Pra frente Brasil, todos juntos vamos!, repetido infinitamente para criar, de um bando de consumidores ávidos por inserir-se como parte de algo importante, um grupo coeso, mesmo que por breve período de tempo.

Perguntam-se em muitos textos: no período de campanhas eleitorais a população foi fracionada? Evidente que não! Ganhou foco. Desfez-se o filtro na lente que tornava a imagem um todo coerente.

Em grande parte, fruto dos descontrolados textos e imagens, completamente incoerentes mas adotados como verdades absolutas, as rachaduras no perfil mantido anteriormente escancararam-se. E da coesão momentânea restou apenas a indignação coletiva, e mesmo sendo esta tão parcial, por um esforço hercúleo da mídia dominante para cooptar, gerou a indignação seletiva.

Às disputas ideológicas, das correntes de direita-esquerda-nãosei, seguiu-se outra por controle do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, visivelmente apresentada nas generalizações indevidas, nos discursos defendidos com garra e até mesmo com atos de manifestação de ódios, antes reprimidos.

Desfeitas as possibilidades de omitir as questões de interesses de classes e dos preconceitos, a corrida acirrou-se no sentido de buscar alcançar o ideário da população: ser contra a corrupção. E vieram à tona os esqueletos de um período que escondia sob os tapetes do judiciário (com j minúsculo mesmo!), casos inequívocos abafados ou controlados pelas instâncias de poder.

Do antigo jogo do Corra que a polícia vem aí!, esta instituição tão utilizada pela máquina ditatorial militarizada se esfacelou, implodiu diante da cidadania de alguns de seus melhores elementos que ousaram se posicionar contra os imensos desmandos que atingiam os direitos inalienáveis da população: dos cacos visíveis a grande população conheceu as milícias, as fraudes nos flagrantes forjados, e até a bola de cristal que permitia o aprisionamento indevido do cidadão com base em projeções futuras.

Para quem milita há anos em função dos direitos do cidadão ou aqueles bem informados historicamente, uma grande alegria: as tensões e distensões se visibilizaram, o país terá que lidar com elas de forma coerente sob pena de novos movimentos e manifestações de grande porte e nacionais só que extremamente polarizados e potencialmente agressivos.

Finalmente, o Brasil mostra a sua cara!

Wellington de Oliveira Teixeira, em 19 de novembro de 2014.

* A expressão droga malhada refere-se às substâncias que os traficantes acrescentam às drogas que vendem para torná-la mais potente e viciante ou apenas para que, ao aumentar seu peso, gere mais lucros. No texto da música, aos problemas herdados da Ditadura Militar, como a Dívida Externa que cada brasileiro, ao nascer, já carregava.

15 de nov. de 2014

Rotear o percurso

Roteando criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 15-11-2014
Roteando, criado em 15-11-2014.

Mas cada homem não é apenas ele mesmo; é também um ponto único, singularíssimo, sempre importante e peculiar, no qual os fenômenos do mundo se cruzam daquela forma uma só vez e nunca mais. Assim, a história de cada homem é essencial, eterna e divina, e cada homem, ao viver em alguma parte e cumprir os ditames da Natureza, é algo maravilhoso e digno de toda a atenção. Em cada um dos seres humanos o espírito adquiriu forma, em cada um deles a criatura padece, em cada qual é crucificado um Redentor.
Poucos são hoje os que sabem o que seja um homem. Muitos o sentem e, por senti-lo, morrem mais aliviados, como eu próprio, se conseguir terminar este relato.
Não creio ser um homem que saiba. Tenho sido sempre um homem que busca, mas já agora não busco mais nas estrelas e nos livros: começo a ouvir os ensinamentos que meu sangue murmura em mim. Não é agradável a minha história, não é suave e harmoniosa como as histórias inventadas; sabe a insensatez e a confusão, a loucura e o sonho, como a vida de todos os homens que já não querem mais mentir a si mesmos.
A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo, a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro.

(Herman Hesse — Damien, p.7-8.)


É impressionante como adicionamos novos processos às práticas cotidianas, absorvendo-os sem a mínima condição de avaliar os prós e contras, por conta da rapidez com que eles surgem. De repente, estamos usando instrumentos de interligação mundial que emitem ondas em faixas de frequências cada vez mais abarrotadas e sob o controle de um grupo cada vez menor.

A cautela se perde diante das facilidades oferecidas, a tal ponto, que nem os alertas das experiências anteriores, indicando a probabilidade de diversos cânceres, conseguem ser ouvidos de modo a forçar um tempo maior para pesquisas de avaliação das consequências.

Pudera, estamos estupefatos com o poderio oferecido pelas novas formas de telefonia, sinais digitais de rádio e tvs, e agora os techwear, os gadgets considerados 'vestíveis', como os óculos, os relógios e o tênis com capacidade de computação e conexão, antes, nem possíveis aos desktops.

O conceito de integrados é literal: eles conversam entre si. Os tênis sinalizam para o relógio que controla meus batimentos cardíacos, este avalia velocidade e gastos calóricos, mede a eficiência dos meus exercícios e envia um relatório ao meu espertofone* que contabiliza e mostra em gráficos minha evolução. Minha tv fala com minha câmera fotográfica, com meu celular, com o home theater, com o HD externo, usando sinais de wi-fi ou de bluetooth. Tudo o que estiver na internet é acessível.

Não, eu não acredito que seja possível fugir às mudanças, mesmo a educação já tem transformações preparadas para integrá-las. Do ensino básico ao superior, novos instrumentos que mais parecem jogos de simulação, se efetivam para facilitar operações de níveis muito complexos: os aprendizados de controle de tráfego, de pilotagem aérea, terrestre ou marítima; de cirurgias a distância ou de integração de plataformas de colaboração em pesquisas.

Na contramão dessa maximização da conexão, afastamo-nos uns dos outros (se das relações mais antigas, o que se dirá das novas!). Nossas crianças já apresentam sinais de curvaturas na altura do pescoço, ao ponto de, em breve, disfunções graves serão preocupação familiar, tais como foram as síndromes de tendinites como a Ler e a Dort**.

Não é algo inescapável de críticas, de transformações, desde que direcionemos os questionamentos e as aplicações. O cuidado em função do ensino do equilíbrio no uso de tais instrumentos precisa ocupar a Ordem do Dia — para usar a expressão militar que foi apropriada pelos civis — de modo a garantir qualidade de vida (dito ser o objetivo deles, por aqueles que o produzem).

Que a humanidade mude suas práticas e seus métodos e instrumentos, isso a história já nos ensina. Porém, o simples abandono de antigos valores não é garantia da geração de novos qualitativamente valorizáveis. Todo momento é de transição e exige nossa atenção. Somos responsáveis por estarmos produzindo o futuro e devemos ser críticos mais do apressados em adotar mudanças.
Wellington de Oliveira Teixeira, em 15 de novembro de 2014.

* Da palavra Smartphone. Esperto é o indivíduo astuto e malicioso: O mundo é dos espertos e Não quero espertalhão como sócio, exemplificam.
Experto é a forma nacional para o expert, o perito, o especialista ou a pessoa ilustre em determinada área do conhecimento: Procure ouvir a opinião de algum experto e Somente um experto distingue um quadro falso de um verdadeiro.

** Exemplos de síndrome dos movimentos repetitivos: L.E.R. (Lesões por Esforço Repetitivo), D.O.R.T. (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho), L.T.C. (Lesão por Trauma Cumulativo), A.M.E.R.T. (Afecções Musculares Relacionadas ao Trabalho).

14 de nov. de 2014

Potências muito subutilizadas

Potencias subutilizadas, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 10-11-2014
Potencia subutilizada*, criado em 10-11-2014.

Julia nunca se perguntava por que coisas ruins aconteciam com pessoas boas, pois já sabia a resposta: coisas ruins aconteciam com todo mundo. Não que isso servisse de desculpa ou justificativa para fazer mal a outro ser humano. Ainda assim, todos tinham uma experiência em comum: a do sofrimento. Ninguém deixava este mundo sem verter uma lágrima, sentir dor ou navegar pelos mares da tristeza. Por que a vida dela deveria ser diferente? Por que ela receberia um tratamento especial, privilegiado? Até Madre Tereza sofreu, e ela era uma santa.
(Sylvain Reynard — O inferno de Gabriel, p.186)


Muitas vezes ignoramos que o sofrimento é um ponto de convergência da raça humana: todos sofrem. Gostamos de pensar que se formos bonzinhos não teremos castigos - e isso é até verdade, nos termos corretos -, só que avaliamos erroneamente o processo imensamente subjetivo da dor e dos valores.

Há muitas formas de não sofrer: há aqueles cujos corpos respondem quase que insensivelmente aos estímulos mais fortes; há os que estão em um nível mental onde as invasões são praticamente inexistentes; há os que se fecharam emocionalmente e, talvez, até tenham perdido a chave para a reabertura; há os que cauterizaram sua consciência.

Há muito mais formas de sofrer: diariamente morremos um pouco, nos incapacitamos fisicamente um pouco, fazemos investimentos que não nos trazem retornos, projetamos futuros e nos decepcionamos, somos envolvidos em situações que nos constrangem, nos sugam a individualidade e a alma.

Há a dor dos desesperançados, dos mutilados, dos enlutados, dos desenganados, dos mal amados, assim como a dos juízes do alheio, dos mantenedores dos ódios, dos insufladores de guerras pessoais ou globais, dos ressentidos…

Não gostamos dos nos incluir, mas todos, absolutamente todos desenvolvemos um pouco de tudo isso - é o nosso processo de evolução pessoal.

Talvez por isso, geneticamente estamos predispostos à sensibilidade ante o sofrimento alheio. Ele reflete o nosso, e, quando intervimos para minimizá-lo, fazemo-lo diretamente nos ajudando. Queiramos ou não há uma boa dose de egoísmo nesses atos: ficamos satisfeitos ao agir desse modo. Não desqualifique esse elemento: egoísmos tem matizes boas e ruins, dependendo da intensidade com que se efetua.

Seu dia está ruim? O período não está favorável, o mar não está para peixe? O fruto de seu intenso e esperançoso plantio não corresponde com uma breve e farta colheita? Isso faz parte do processo de aprendizado e aperfeiçoamento pessoal, não é castigo, não é lei do retorno às avessas. Chega o momento em que o peso que você ergue se torna leve e é necessário aumentar a carga. Isso tem consequências dolorosas, também, mas o fortalece e o capacita a uma nova fase bem mais ampla que a anterior.

Então é isso, solidarize-se com o sentimento e sofrimento alheio, mas não se perca nele. Avalie os seus, mas sem fazer comparações, uma vez que cada um tem seus próprios desafios. O caminho de hoje pode ter o sol iluminando um dia ameno e prazeroso, o de outro dia ser extremamente frio ou quente e desagradável ou incômodo. Mas você está lá, vivo, com possibilidades só suas desejando serem atualizadas e vividas plenamente.

No fundo, é sempre muito bom quando alguém percebe suas lutas e é capaz de se aproximar para, apenas com sua presença, partilhar seu momento e estimular suas capacidades de superação. A humanidade tem potências muito subutilizadas, mas estão lá, latentes, aguardando sua ida à fonte delas para dotá-lo de poderosos instrumentos de transformação. Como sempre, basta apenas uma decisão.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 14 de novembro de 2014.

* Muitas filosofias, inclusive as de cunho religioso, tentam dar contar da questão da dor em forma de sofrimento. Aprecio aquelas que tentam encaminhar a questão por um prisma de construção e desenvolvimento pessoal, especialmente aquelas que tentam estruturar sua lógica invadindo os elementos causadores: há os que produzem bem ou mal, dependendo das condições momentâneas e dosagem, mudando completamente o entendimento da questão e tirando o foco do 'coitado' para o do 'focado', isto é, o modo como encaramos as questões é que causa o sofrimento, não qualquer coisa em si.

9 de nov. de 2014

Erramos com as melhores das intenções

Lendas, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 31-08-2014
Lendas*, criado em 31-08-2014.

Na formação das lendas há toques da imaginação popular nos elementos da sabedoria ancestral,
cuja fantasia preserva, em tradição oral, os alertas dos mais sábios que nos precederam.
As nossas foram enriquecidas pela miscigenação intercontinental. Não exigem comprovação,
seu caráter é de inconsciente coletivo das lições retidas nos acontecimentos reais.

(Wellington de Oliveira Teixeira — Se Pensante by Well)


Gosto de lendas como a do Rei Arthur, pois nos permite imaginar caminhos individuais e coletivos; ver que, por melhor que sejam as intenções, haverá erros pessoais, traição e, por outro lado, sonhos, mágica e amor.

Não vejo como fundar, sem esses elementos, uma sociedade humana com desejos coletivizadores onde o desenvolvimento individual não perca seu espaço.

São as dúvidas, não as certezas, que nos provocam o pensamento, estruturam aprimoramentos e constroem momentâneas decisões de vida.

São os erros que cometemos que nos reencaminham, quando nos permitimos entendê-los e desejar ultrapassá-los. São os momentos mágicos que nos dão o alento e o descanso na vida; o amor, que nos dá a certeza de valer a pena percorrer a jornada; são as pequenas ou grandes traições, a nós mesmos, de ou a outros, que nos mostram do quanto somos capazes, quando provocados ou quando colocados em um ponto sem saída.

Gosto de lendas porque nos ensinam a humanidade e tudo o que acarreta dela mas nos dão um vislumbre de aonde a capacidade de superação pode nos levar.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 09 de novembro de 2014.

* A primeira vez que li As brumas de Avalon, de Marion Zimmer, tive um choque inicial diante da visão extraordinariamente complexa e diferenciada das outras apresentações a respeito de lenda do rei Arthur e sua espada. Poucas pessoas, hoje, se envolveriam na leitura de A Senhora da Magia, A Grande Rainha, O Gamo-Rei e O Prisioneiro da Árvore, seus quatro volumes. Além do foco no feminino e nos bastidores de todos os atos e motivações, o livro traz essa crua realidade: somos humanos, erramos, mesmo com as melhores das intenções.

3 de nov. de 2014

Conto de fraldas

Conto de Fraldas criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 02-11-2014
Conto de Fraldas*, criado em 02-11-2014.

Era de modo diferente de outrora que a essa altura pensava a respeito das criaturas humanas. Havia no julgamento menos intelecto, menos orgulho, mas, em compensação, mais calor, mais curiosidade, mais simpatia. […] A vaidade, a cupidez, o ridículo que os dominavam perdiam para ele sua comicidade, encontravam explicação, tornavam-nos até mesmo dignos de respeito. O amor cego que a mãe tributasse ao filho; o orgulho estúpido, obcecado, de que um pai presunçoso se enchesse em face do filhinho único; o desejo desvairado, furioso, de possuir joias, de ser admirada pelos homens, tal como o experimenta uma mocinha garrida – todos esses instintos, todas essas infantilidades, ambições e ânsias, impulsos simples, irracionais, porém invencíveis na desmedida força e na pujante vitalidade, cessavam de apresentar-se aos olhos de Sidarta como mera criancice. Chegava ele a entender que os seres humanos viviam em função dessas coisas e que justamente elas os capacitavam para proezas incríveis, permitindo-lhes fazer guerras, empreender viagens, suportar tudo e resistir a sofrimentos sem fim.
(Hermann Hesse — Sidarta)


Atualmente, eu inicio as atividades diárias tentando me oferecer um tempo para um desjejum calmo. Em minha vida corrida, literalmente, eu já precisei correr muito para conseguir realizar minhas tarefas de estudos e trabalho.

Dona Theonas, uma das mais abnegadas pessoas com quem tive a oportunidade de conviver e aprender, ralhava, mas entendia. E, de um modo inexplicável, conseguia atender às necessidades dos que estavam ao seu redor, mesmo com prejuízo próprio momentâneo. Só hoje entendo sua descoberta de que a alegria que lhe seria proporcionada, em momento posterior, valia a pena.

Semelhante oportunidade de transcender, algumas pessoas amigas, próximas ou distantes, est[ar]ão encarando. A abnegação, como a citada antes, entrou em suas vidas disfarçada com o formato de uma barriga expandida ou de uma visita ao lar da cegonha. É importante frisar que a adoção pelo coração da nova figura se faz em ambos os casos.

Dá trabalho (ufa, e como!), quase nos exaure. E, quando se pensa em desistir, um pequeno reflexo de sorriso faz brotar a força sobre-humana que consolida a recarga interior e faz o futuro brilhar e iluminar o momento atual.

São muitos os nomes individuais, mas todos podem ser condensados na palavra filho. Assim, também, são diversas as maneiras de lidar com o processo de desenvolvimento da figurinha - inclusive aceitar tranquilo o arrancar dos seus cabelos por dedinhos minúsculos, especialmente por parte de alguns mais iniciantes.

Vejo, incentivo, promovo o situar-se no processo e incluí-lo no conjunto de elementos que realizam o sonho de ser e estar pleno. Planejado ou presente surpresa, esse encontro com as novas possibilidades provavelmente o fará sair do si atual e avançar para um outro muito mais amplo de capacidades. É que, quando uma pessoa descobre que a vida sempre dá um jeito de expandir-se, eu digo que ela encontrou o seu sonho de fraldas.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 03 de novembro de 2014.

* Permitam-me dedicar especialmente para o Arthur, filho à caminho do meu sobrinho Weberson Thomaz Teixeira - que, em função dele, transforma diariamente o valor das moedas em quantidade de fraldas.

30 de out. de 2014

Reflexos infinitos

Reflexos infinitos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 04-10-2014
Reflexos infinitos*, criado em 04-10-2014.

Com cada início de vida, a roda das decisões começa a girar reproduzindo os mesmos processos anteriores,
e apenas uma decisão permite se distanciar da repetição em busca de algo original.
É isso que define tornar a vida expressiva ou não.

(Wellington de Oliveira Teixeira)


Me remeto àquelas improváveis possibilidades que eu pude dispersar ou reunir em uma única e simples decisão.

Por que, após elas, nos tornamos apenas isso, limitação. Perdemos a infinitude em prol da concretização.

Num paradoxo que me escapa ao entendimento, mesmo restrito às escolhas que foram estabelecidas, instituímos, após cada uma, um novo e infinito campo de possibilidades.

Nisso somos seres de quem somos, nisso a Ordem se estabelece em nós, nisso exploramos a cada encontro uma plenitude seguida de transformação.

Nisso contribuímos com a plenitude e a transformação da Ordem: reflexos infinitos, qual um único raio de sol atravessando uma minúscula gota d'água que gera, não apenas por si, um fragmentário e belo campo luminoso.

Energia luminosa que, uma vez liberada, não é possível mais cercear, por que cada reflexo se expande em múltiplos reflexos, numa escala infinita.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de outubro de 2014.

* Reflexos que escapam da similaridade com seus originais tornam-se autênticos.

21 de out. de 2014

Sempre com e por amor

Sempre com amor, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 21-10-2014
Sempre com amor*, criado em 21-10-2014.

…Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta.
(Bíblia — Mateus 5:24)


Não me levem a mal, nem me coloquem pra mais da metade no caminho do mal. Meus posicionamentos, convergências, divergências deveriam mostrar meu profundo respeito por cada pessoa com quem travo bons combates, sempre no campo das ideias: mostro quem sou sem rodeios.

Ao provocá-lo com desafios lógicos ou apenas emocionais, investindo no que sei ser seu possível e aguardar o melhor dos seus posicionamentos, apenas tento me ofertar a chance de ver seu desenvolvimento pessoal - e, simultaneamente promover o meu.

Somos humanos e um pouco preguiçosos, acostumados com as comodidades desse século: não é mais preciso ir ao rio com o balde; gira-se uma torneira e abracadabra!, a água sai para seu uso (ops!, menos em SP - me permitam a ironia). Perdemos um pouco o bom costume de digladiar, irmanamente, em mesa de bar ou de escola, cada um buscando o aprimoramento dos seus argumentos para tornar alegre a noite com sabedoria, vinhos e paixões. Mas não deixamos de precisar do conhecimento, do prazer e do amor.

Encaro os dias já contados, e a um mês de distância da nova idade, com olhos no adiante não no que passou - mesmo sempre voltando e recorrendo à sua fonte que me ensina a não cometer os mesmos erros.

Já provoquei indizíveis questões em mãe, pai, irmão, amigo, professor, chefe ou subordinado. A alguns, sofrimento; a outros, alegria - em momentos diversos fui um ou outro para cada um. Toda música, livro, pintura que merece ser chamado de bom acabam por ter um trecho preferido exaltado e, que bom, deixamos passar aqueles que não estiveram a altura. Mas todos temos uma obra prima, aquela que fica irrepreensível, a que nos denomina, e essa é a que estou trabalhando: produzir encontros fortes, saudáveis, enriquecedores.

Não desejo a concordância plena, apenas a sinceridade dos posicionamentos. É verdadeiro e é pleno? Por favor, me dediquem, se possível. Estou me esforçando para promovê-lo com a minha própria prática.

Sou persistente, bato na mesma tecla com pausas diversas; é assim que sai a música: tem samba de uma nota só.

Sinta-se extremamente respeitado quando me dedico a um embate com você - você tem o status de merecedor; alguns, talvez maioria, prefiro não usar o meu pouco e precioso tempo de vida para tal.

E, daqui a pouco, quando o vento me levar, espero que você possa dizer: o filho, irmão, primo, pai, tio, avô, amigo, colega, ou o que quer que tive o prazer de ser seu, foi um cara que promovia o aperfeiçoamento pessoal de todos que encontrava. Esse foi o método escolhido por ele para se aperfeiçoar. Errou feio em muitas coisas, mas jamais irei questioná-lo por ter sido verdadeiro e pleno naquilo que fez, pois fez sempre com (e por) amor.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 21 de outubro de 2014.

* Dedico esta postagem ao meu afilhado Carlos Roberto, aniversariante neste dia.

17 de out. de 2014

A calma é ilusória

Ilusório, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 17-10-2014
Ilusório*, criado em 17-10-2014.

Cada pessoa, todos os fatos de sua vida ali estão porque você os pôs ali.
O que fazer com eles cabe a você resolver.

(Richar Bach - Ilusões: as aventuras de um messias indeciso, p.116)


Conforme se vive, uma coisa fica clara: momentos de tranquilidade precisam ser bem aproveitados, por serem passageiros e, muitas vezes, breves.

É enganosa a ideia de superfície estável porque se estrutura na ebulição de diversos elementos. Nosso continente, por exemplo, que o interior da terra, onde o magma concentra-se e revolve-se, torna possível. Sua base é caos e o desequilíbrio. Nosso planeta, uma esfera que se sustenta no espaço por forças eletromagnéticas e ainda consegue manter seu manto ou crosta suficientemente aderido para nós vivermos sobre ele.

O conjunto de significantes e significados que permitem a você ser único, também exemplifica a ideia. Durante a vida atribuímos valores às coisas e, a partir delas, determinamos caminhos, disputamos espaços, construímos e defendemos ideias. Num piscar de olhos, porém, por conta de algo inesperado, tudo é ressignificado, redirecionando nossa trajetória. A doença grave ou a morte costumam fazer isso.

Os encontros que fazemos, as trocas que experimentamos, os ideais que adotamos tornam-se as partículas que absorvemos, mesmo quando permanecem ocultas. Depois agrupam-se e formam uma grande paixão, um novo hobby, algo que captura nossa atenção e institui novas práticas no viver.

Eu digo que os pressupostos que construímos - isso mesmo, são apenas construção - e sobre os quais estabelecemos nossa vida e, em casos extremos, abrimos mão dela, carregam essa fragilidade: novos conhecimentos determinam nova rota. Você faz uma descoberta e ri-se: que ignorância a minha!, como não percebi isso antes?

Não se leve a sério demais, nem a vida - ela é apenas um sopro -, por que apenas as conexões valem a pena, mesmo que instáveis. Não desvalorize o momento das coisas pequenas. É ele que permite a produção das grandes.

Conecte-se com o seu dia, vivencie as intensidades que ele promove, estabeleça encontros que o fortaleçam, por mais casual que pareçam (cuidar de uma planta, pegar um animalzinho ou correr com ele, parar para sentir a brisa, mexer o pé na areia…). Tudo o que se é, é isso.

A serenidade é este pequeno refúgio que buscamos no emaranhado dos fios soltos e desencapados que, fortuitamente, geram descargas e choques. E, se nos descuidarmos, descarregam nossa energia vital e tiram o sabor de viver.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 17 de outubro de 2014.

* Que promove uma ilusão, algo que nos engana os sentidos.

14 de out. de 2014

Doar sem ficar exaurido

Doação, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 10-10-2014
Doação *, criado em 10-10-2014

Pai, cuide de seus filhos e não permita que fiquem largados pelo caminho.
Ensine-os o amor uns pelos outros para que o paraíso seja lugar em seus corações.

(The Commodores - Jesus is love)


Tenho com as músicas desta epígrafe e da nota no rodapé uma história singular e, talvez, algum dia eu consiga contar. Hoje as escutei enquanto começava a desenvolver esses pensamentos a seguir. Por ouvi-las, o rumo do que eu avaliava foi alterado e ganhou contornos mais claros. Dito isso, ultrapasso a preocupação e sigo adiante feliz.

Algumas coisas me provocam a reflexão sobre o que, apesar de ser considerado bem simples e banal, no dia a dia, atinge grande parte de nossa vida. Dentre elas, eu citaria a busca da certeza, do estar certo, de conseguir alcançar um ponto de referência que permita um conforto diante das questões que enfrentamos. Eu creio que há níveis diferenciados de busca que variam na própria pessoa, além daqueles comparados aos de outros.

Alguns se saciam com respostas prontas, as tradições, o senso comum. E, com isto, conseguem enfrentar as intempéries que o caminho humano traz. E, destes, penso: como conseguem? Mas, num paradoxo da razão, eu digo baixinho 'bom para eles', mesmo não conseguindo evitar aquele velho preconceito ao continuar a frase com 'ignorância é uma benção!'.

A outros não basta esse nível de compreensão e saem em busca dos diálogos, dos debates, da abertura ao questionamento, mas apenas para encontrar sustentação para as fórmulas já adotadas e os conceitos já enraizados. Ao meu ponto de vista, estes conseguem um avanço, ampliam os horizontes com respostas mais sofisticadas, englobam pontos de vistas diferenciados. Mas, com o mesmo paradoxo da razão, eu digo baixinho 'bom para eles', sem evitar o preconceito da frase 'mas se contentam com tão pouco!'.

Muito poucos, e com nenhuma modéstia me incluo entre estes, não aceitam ter como base fixa nenhum conceito passível de mudança, uma vez que a própria base do pensamento é o tudo se transforma. Geralmente inquietas, do que pude observar e absorver, estas pessoas tem uma fome de saber insaciável e, no que constroem um paradigma já vislumbram os elementos que o desfarão ao serem desenvolvidos. Esse grupo é dos que aprenderam a usar o desequilíbrio (surfistas do saber) para avançar. E o paradoxo sussurra, antes que eu os defina 'e sofrem com a inquietação a vida inteira'.

Já vi, já experimentei, mas não alcancei a capacidade de uns iluminados que se abrem ao entendimento de um modo tão amplo que acolhem todos os outros - cada um de um modo distinto e satisfatório - e lhes transmitem algo de um nível surpreendente, capaz de aplacar a inquietude que há em qualquer nível de entendimento. São aqueles que doam paz.

Paz é algo tão singular como o amor: é possível doar sem ficar exaurido deles. E, para além de qualquer nível que a sabedoria pode me propor ou me levar, eu desejo aprender a ser desse modo e colocar como meta provocar junto com a fome de saber o exercício da paz interior. Descobri que meu amor se satisfaz com a paz que eu consiga transmitir a quem o dedico.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 14 de outubro de 2014.

* Fiz esta pequena canção e você deveria cantá-la nota por nota: Não se preocupe, seja feliz!
A vida toda encaramos problemas, mas quando você se angustia, você os duplica. Não se preocupe, seja feliz, já!
Se não há lugar para pousar a cabeça pois levaram a sua cama: Não se preocupe, seja feliz!
Se o senhorio cobra o aluguel atrasado e pode levá-lo a Juízo: Não se preocupe, seja feliz!
Olhe pra mim, eu estou feliz: Não se preocupe, seja feliz!
Anote meu telefone e, se você se preocupar, me ligue que eu venho alegrá-lo: Não se preocupe, seja feliz!
Você se preocupa, seu rosto enruga e todos ao redor se contaminam: Não se preocupe, seja feliz!
Não se preocupe, não, não faça isso e seja feliz.
Permita aflorar um sorriso na face, não espalhe preocupação ao redor.
Não se preocupe, todos ultrapassarão o que enfrentar.
Por não me preocupar, estou feliz: Não se preocupe, seja feliz!
(Don't worry, be happy - Robert McFerrin e Terry McBride)

26 de set. de 2014

Reações ou redemoinhos

Redemoinhos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 26-09-2014.
Redemoinhos*, criado em 26-09-2014.

Não ter mais alguém muito querido fisicamente presente
não nos impede de recordar e celebrar o tempo compartilhado.
Fazê-lo, com gratidão pela oportunidade que nos foi permitida do convívio,
honrará o sentimento que temos, acalmará nossa saudade,
e perpetuará as marcas deixadas em cada um de nós.

Wellington de Oliveira Teixeira


Uma questão aflorou hoje: se não somos iguais, por que esperar as mesmas reações de outra pessoa?

Há sempre um modo inusitado de reagir capaz de surgir, dependendo das circunstâncias, pelo modo como os fatos embolam dor e algo planejado para adiante. Há momentos em que sonhos e medos se reúnem num único instante numa combinação explosiva que não exige vazão imediata ou nos desagregarão.

Presenciar ou vivenciar algo assim traz de imediato a imagem de um redemoinho que pegou alguém e lhe retirou a noção de espaço e tempo, desfazendo, por alguns instantes, a própria personalidade.

Refazer-se após a reviravolta é de suma importância. Também o é, situar-se com calma e ir se fortalecendo diante dos elementos disparadores, até conseguir superá-los. Um processo assim, tão dolorido, certamente não é simples, por isso não se deve exigir a mudança de imediato.

Um tempo ou dois é o necessário para se reelaborar, gerar outras referências e reprogramar-se. Entenda que é preciso ter serenidade e saber que, pouco a pouco, o rumo da vida retoma, e se consegue ir em frente, realizar os sonhos, mesmo que não da maneira desejada de início. Não é sempre assim nesta vida?

Mas devemos sempre entender que poderá haver muitas outras surpresas ainda. Momentos felizes ou tristes sempre nos encontrarão e precisamos nos preparar para curti-los ou enfrentá-los.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 26 de setembro de 2014.

* Envolver-se é algo lindo, mas cobra seu preço: podemos ser tomado por um redemoinho de emoções.

19 de set. de 2014

Rotular é tornar o pontual a referência.

Senhor de si, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 19-09-2014
Senhor de si, criado em 19-09-2014.

Transcender
Os espaços, uma a um, devíamos
Com jovialidade percorrer,
Sem nos deixar prender a nenhum deles
Qual um pátria.
O Espírito Universal não quer atar-nos
Nem nos quer encerrar, mas sim
Elevar-nos degrau por degrau, nos ampliando o ser.

(Hermann Hesse - O jogo das contas de vidro, p.447)


Sem sua ousadia não há o que esperar da vida. Estou falando de forma direta, não alegórica ou metafórica. Desde que haja alguma forma de construção, há o possível, o viável, a invenção de si. São eles que se opõem ao estruturado, ao modelado e conduzem à ausência e ao vazio.

Essa espera não no sentido de esperança, ainda que, de algum modo, possa abarcá-la se entendida como projeção, como sonho, como elemento transformador por produzir mobilidade.

Um momento ímpar está acontecendo, em todas as épocas, em diversas esferas da vida, onde quer que os seres humanos estejam se transformando e buscando por mudanças. Costumes e práticas apenas são os indicadores de algo a que se opõem e se agitam grupos de pessoas indocilmente, envolvendo-se numa luta contra a mesmice.

E muito do que se vê pode ser considerado exagero, forçação de barra, imposição - principalmente se percebido de um ponto de vista mais tradicionalista. E aqui se resume a polarização, o antagonismo que tem levado ao extremismo pontual. Sim, é pontual. Mesmo com tanta propaganda querendo rotular todos por conta da ação de uns muito poucos.

Mesmo quando você age de forma mais exacerbada, vez ou outra, isso não dá a ninguém o direito de tachá-lo descontrolado. Se todos tem seus momentos assim, isso não pode torná-lo referência.

Então, por que os meios de comunicação (e muitos os que os reproduzem) tacham pejorativamente pessoas ou movimentos sociais que trazem uma reformulação do padrão que eles ditam? Dos brincos e tatuagens, aos cortes de cabelo e estilos de vestir - quase sempre acompanhados de linguajar, formas de musicar e poetizar novos -, toda era é uma nova era que modifica a anterior.

Desnecessário o gigantismo da tentativa de contê-la, quaisquer que sejam as vias. A repetição do Assim é o certo, quase sempre vem acompanhada da ignorância de que esta também foi uma prática nova. Não se pretende arrazoar, esclarecer, apenas determinar. Surgem vozes iradas, clamando o fim do mundo - há séculos fazem isso! - criando novos apocalipses para amedrontar e controlar. Baseados em que? Costumes.

O mais indelével dos direitos humanos, o ser senhor de si mesmo, quer-se dominado. O maior medo é, se mudar, as vozes que ditam o certo e o errado perderão seu poder. Tentam esconder o fato de que as rupturas sempre acontecerão e que é possível harmonizar o novo com o antigo, há espaço para ambos.

É preciso ousadia, repito, para abrir as asas, saltar no vazio e desconhecido, para descobrir a maravilha que é o voo. O menor dos insetos alados sabe disso. Mas, por mais que muitos dos antigos e os novos-antigos citem as águias, os condores em alegorias da transformação que permite a ampliação da potência de vida pessoal, continuam preferindo as caixas, os ninhos, as asas deformadas por falta de uso. E não admitem que os outros tentem. Fazem isso, ameaçando: 'vai, mas não volta'; se fizer isso, não será mais meu …'; 'isso é coisa de …'; 'filha minha …'; e muito mais.

Antes que eu me esqueça, ao exemplificar as forças conservadoras não é necessário citar qualquer grupo ou prática: todos temos a semente dela em nosso interior, também. Ser cuidadoso é dialogar, avaliar as questões, alinhar os prós e os contras. É se dispor ao apoio do seres que se individualizam. Esse processo eles o percorreram de qualquer forma, agora ou depois, apoiados ou solitários.

E quando uma nova forma de estar em sociedade ocorre, ela é assimilada aos poucos e torna-se parte do antigo modo. Entender e superar tal processo sem gerar mais seres podados, enrustidos, mal-amados, rancorosos, vigiadores do alheio é um desafio imenso.

A vida exige que o ser aflore. E quando o processo de vir à tona ocorre, nada o impede. Pode-se podar todas as manifestações, viver protegido ou escondido, tentar iludir-se ou aos outros. É uma opção. Mas há outra: pode-se lutar para se manifestar de forma única, também.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 19 de setembro de 2014.

* […] Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida.
Na parede da memória, essa lembrança é o quadro que dói mais.
Minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.
Você pode até dizer que eu tô por fora ou, então, que eu tô inventando.
Mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem.
(trecho de 'Como nossos pais' - Antonio Carlos Belchior)

14 de set. de 2014

Coisa de momento

Coisa de momento, criado por Wellington de Oliveira Teixeira entre 10 e 14 -09-2014.
Coisa de momento*, criado entre 10 e 14 -09-2014.

A noite de sábado começava, era a primeira vez que passeava sozinho em Zurique e
aspirava profundamente o perfume da liberdade. A aventura espreitava-o em cada esquina.
O futuro tornava-se de novo um mistério. Voltava à vida de solteiro,
essa vida que anteriormente estava certo de ser o seu destino,
pois era a única em que poderia ser tal qual era realmente.
Vivera acorrentado a Tereza durante sete anos – ela havia seguido com o olhar
todos os seus passos. Era como carregar bolas de ferro amarrada nos calcanhares.
No momento, subitamente, seu passo estava mais leve. Quase voava.
Estava no espaço mágico de Parmênides: saboreava a doce leveza do ser.

(Milan Kundera - A insustentável leveza do ser, p.35-36)


A gente diz coisas sem se dar conta da extensão daquilo que dissemos.

Coisa de momento: dimensionado pelo êxtase que atravessou corpo, alma e espírito; que traz à tona o que nunca consegue aflorar além de parcialmente; que faz a palavra humano ganhar verdadeiro sentido. Genuinamente pleno, inescapável, indubitável. Mas, como tudo que é de ordem superior, é como um flash imenso que oblitera tudo o mais que se encontra além do foco do nosso olhar.

Depois, com o que chamamos de realidade do dia a dia, aquela magia se esvai por termos que usar os básicos sentidos da sobrevivência. E entramos novamente na matrix para termos as experiências comuns e ansiarmos enormemente por uma nova oportunidade de ultrapassarmos o invólucro que englobou a força vital e nos separou da ordem universal.

Particularidades nos tornam indivíduos, com todo o preço que se paga por isso, em especial a perda da conexão que nos integra ao todo.

E a gente sobrevive depois de conseguir uma fagulha para nos reincendiar, por um lapso temporal mínimo, e assim propulsionar a sequência dos momentos que se constitui o cotidiano. Só que somos capazes de um espectro muito maior; a amostra grátis que aqueles momentos nos proporcionam confirmam.

Então, isso é seguir em frente: ignorar a eternidade que nos cerca e nos assume em cada gesto. Certamente, seria loucura tentar dar conta dela nesse corpo tão maravilhoso mas tão reduzido ainda no uso de suas capacidades. Por isso, ansiamos experimentar a química fantástica que os sentimentos produzem alterando todos os padrões cerebrais — milhões de vezes superior ao que qualquer droga conseguiria — e vivenciarmos a irrealidade.

Só por isso, mais outra e outra vez, que, continuamente, resolvemos acreditar no eu, na ilusão das percepções. Tudo o mais é reduzido a apenas fantasia de um momento.

A eternidade aqui não valeria um único sequer momento sem este instante mágico, onde se reúne tudo o que se é até que o eu desaparece ou consegue se ultrapassar.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 14 de setembro de 2014.

* As pequenas experiências de plenitude ampliada, simultâneas da nulidade do eu, como no êxtase físico ou espiritual, são fundamentalmente o que permite a perpetuação da vontade de produzir novos encontros.

8 de set. de 2014

Vida é o pleno desequilíbrio

Ponto de desequilíbrio, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 08-09-2014
Ponto de desequilíbrio, criado em 08-09-2014.

Não existe um problema que não ofereça uma dádiva para você.
Você procura os problemas porque precisa das dádivas oferecidas por ele…
Valorize suas limitações, e, por certo, não se livrará delas.

(Richard Bach - Ilusões - as aventuras de um messias indeciso, p.62 e 82)


Vida é o pleno desequilíbrio onde estabelecemos um equilíbrio provisório, em que não devemos acreditar totalmente.

A arte de perceber os ventos contrários como uma força capaz de nos impulsionar é um dos maiores aprendizados que temos. Os deslizantes da água, terra e ar confirmam isso.

Na infância, e por muito anos depois, são os apoios que recebemos que nos ajudam a estruturar a base de assimilação dos elementos necessários para seguir adiante. Alguns alcançam a fase de transformação e de individualização consciente, entendendo que devem ir soltando, ponto por ponto, do mais simples ao mais difícil de abrir mão, os antigos apoios em função de construir os novos e próprios.

A vida age e obriga, quando ignoramos esse fato. Em toda a natureza há exemplos claros desse processo, em que é necessário o desapego e o enfrentamento das dificuldades. No entanto, enganam-se os que acreditam que esse processo é, obrigatoriamente, solitário. Não o é. Apenas o aprendizado e sua absorção o é. É possível criar estratégias e agir coletivamente. Deixar de lado apoios e criar referenciais.

Assim, ao invés de olharmos para a área da vida que atualmente está desbotada e desarrumada - por conta dos acontecimentos que nos deslocam, nos descentralizam e nos sacodem -, devemos utilizar como guias ou auxiliares, nesse momento de movimento desequilibrado, os referenciais que nos embasam.

Não tente pegar tudo simultaneamente. Defina o mais imediato e importante e assuma-o como prioridade. Agende, antecipadamente, os próximos e necessários passos, não permitindo que as questões exigidas por eles se tornem pr(é)ocupações que o atrapalhem agora. Foque no hoje. Dê o melhor de si no agora. Pense que, quando chegarem os outros itens, a realidade terá se transformado - e você com ela.

Não é possível assumir a dor, a responsabilidade e os outros elementos inerentes à experiência de vida de outra pessoa - por mais próxima e amada que seja! - mas podemos ser solidários. E devemos deixar isso bem claro.

É isso que tento fazer com essas reflexões junto ao meu sobrinho Weberson (que, nesse momento, tenta corajosamente ocupar os papéis de filho cuidadoso, de neto amoroso e de, em breve, papai e provedor) e ao meu filho Paulo Roberto (em fase de mudanças familiares importantes, inclusive de casa).

Todos nós, vendo esses desafios, estamos respeitosamente permitindo que vocês os enfrentem e decidam o momento em que é necessário alguém ao lado. Seja como companhia para relaxar ou alguém para ajudar a traçar novas rotas, porque, para amar não precisa chamar.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 08 de setembro de 2014.

* Ninguém sabe qual é o calo, onde se encontra e como dói, além da própria pessoa. Por isso, devemos deixá-la decidir como tratá-lo.

2 de set. de 2014

Minha profissão de fé

Fé, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 26-08-2014.
Fé, criado em 26-08-2014.

Guardando o mistério da fé numa consciência pura.
(Bíblia - 1 Timóteo 3:9)
É válido para muitas pessoas a tentativa de provar a existência ou não de um deus, ou deuses. Seus pontos de vistas, a partir de pressupostos pessoais ou de fé são inquestionáveis. O mesmo preceito deveria valer para que não se tornem uma imposição para outros modos distintos de avaliar, de crer, que também são inquestionáveis.

Avalio que exista a fé por adesão, aquela que adota ao se observar, ouvir, avaliar pressupostos ou práticas de pessoas ou grupos; como também por intuir um caminho por conta de vivências, na tentativa de encontrar um fluxo que permita a própria espiritualidade expandir.

Baseado nesse simples conceito, há quem construa uma janela escancarada e usada para cooptar neófitos. Uma espécie de vale tudo para você adotar um determinado lado. Práticas cada vez mais bizarras (e concordo que essa visão e avaliação são minhas!) vão assumindo territórios antes delineados por uma certa formalidade menos excêntrica.

Não. Não discordo de que antigos rastafaris usem sua forma de cantar, mover, falar, vestir para pronunciar sua nova maneira de encarar o mundo da fé; que os rouqueiros, fanqueiros, repentistas (rappers, incluídos), forrozeiros e adotantes de qualquer outro estilo ou prática musical manifestem, com a forma mais expressiva para si, uma transformação na vida. O blues, o jazz, o clássico também o foram e criaram a maneira que até pouco tempo atrás era a dominante nas instituições religiosas cristãs. Alguns grupos decidem barrar novidades, fortalecer o tradicionalismo, algo também válido, uma vez que é a sua forma de expressão.

A visão que possuo de acolhimento das diferenças me exige um esforço enorme para ultrapassar conceitos e preconceitos adquiridos quando da adoção de minha forma de expressar fé. Sempre posso discordar, mas respeitar. Isso não impede avaliar a coerência interna e externa na formalização das práticas de fé, cujo trunfo maior é não apenas falar e ensinar, cobrar ou reprimir. A prática diária a expressa de forma contundente: se digo que amo mas não cuido, a fé é invalidada por não se manifestar, seu objetivo maior.

Fé é para tornar um ser mais seguro, mais hábil em lidar com as experiências da vida, para aperfeiçoar os modos de relacionar-se pessoalmente ou em grupo. É produzir, com o modo de agir, investimentos no mundo que o rodeia em prol de equilíbrios maiores.

Fé é fundamento, não fundamentalismo. É estruturação interna, é dar razões à si mesmo, é a busca por integralidade, plenitude e aperfeiçoamento.

Alguns confundem um relacionamento com o divino com a fé. Essa correlação não é verdadeira. O divino é e se expressa em si e por si, sem a nossa ajuda. O ato de se permitir vivenciar o divino ultrapassa a fé, pois é uma conexão não limitada pela possibilidade de expressão.

Fé, então, é um modo de entendimento sobre o divino baseado em sua experiência pessoal, primeiramente, cuja adoção de formalizações é possível, mas posterior. Isso é o que me propõe uma atitude respeitosa e cuidadosa com aquilo que ilumina o interior de uma outra pessoa. Isso é o que me permite, também, questionar as formalizações. Toda instituição é isso: instituir, constituir, determinar, definir. As religiosas não escapam dessa percepção. Nenhuma instituição pode dar conta, ou determinar caminhos para a fé de alguém. E aquelas que incentivam o cuidado, o amor, o aprimoramento dessa conexão inexplicável, devem ser vistas com bons olhos.

Mas, e digo isso com muita certeza: Toda utilização da fé, com propósitos escusos é hedionda, pois mexe com o mais sagrado em cada um de nós. Isso eu repudio, isso eu combato. E essa é a minha profissão de fé.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 02 de setembro de 2014.

* Acredito na religiosidade não institucionalizada, a que carrega o sentido de expansão espiritual, a que integra os seres com base e sustentação no amor, no respeito às individualidades.
Penso que, em cada época, as formalizações irão mudar juntamente com os costumes e práticas de uma sociedade.
Independente de tempos de liberação ou de controle, o que vale é a apropriação, em si, do sagrado e a expressão com propriedade do que se efetua com essa conexão. À medida que ocorre maior iluminação interna, maiores níveis de expressividade da fé acontecem.
Fé é o que nos capacita ao aperfeiçoamento. O amor, à unidade. E fica sempre aquela ponta de esperança que, um dia, chegaremos todos lá.

30 de ago. de 2014

Energia em formato de memória

Memória, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 29-08-2014.
Memória, criado em 29-08-2014.

Confie em seu poder pessoal: é tudo o que temos neste mundo misterioso.
A escuridão é como o vento, uma entidade desconhecida à solta, que pode lhe pegar se não tiver cuidado.
Você deve entregar-se ao seu poder pessoal, fundir-se com ele…
Um guerreiro é impecável quando confia em seu poder pessoal,
sem considerar que ele seja pequeno ou grande.

(Dom Juan, em Viagem a Ixtlan de Carlos Castañeda, p.161-162)
É quando os fios de cabelo da nuca arrepiam e uma estranha sensação, vaga, de estar fora do tempo, é subtituída por outra que cola na mente uma certeza; não em outro.

Nesse momento, único em efeitos, em que perco o senhorio de mim, ao mesmo tempo em que me expresso mais verdadeiro que nunca; não em outro.

Só quando preciso encontrar um modo de racionalizar - qualquer um - para que esse encontro da alma com o infinito, com o atemporal, não me faça ultrapassar os limites de um corpo cada vez menos interessado no estático, no substancial, no sequencial; só nele.

Eu me confidencio, calmamente, que este tempo de vida é pequeno; que as marcas estampadas no invólucro individualizante cumpriram sua função; que os motivos encontrados para realizar essa jornada se esgotaram; que tudo se iguala e por isso mesmo ganha o mesmo status: não há importância pois tudo tem valor; que não há dor na paz, na aparência, talvez; que é quando um antigo fluxo se expande que um novo núcleo se aglutina: a vida não se desfaz se reconstitui em outras vias; que, a novidade chega não para ocupar o lugar do antigo, ela estabelece um novo;

Apenas um flash, um estalo. Em um piscar de olhos o tudo torna-se nada, melhor, visibiliza-se como apenas uma camada transparente - como as da cebola - que por um exato e ínfimo instante é permeável e permite ser transposto.

Não mais substância, o que se configurou forma desfaz-se e torna-se, aos poucos, o que sempre foi: uma energia que flui e ganha, em todos, o formato de uma memória.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de agosto de 2014.

* Quando converso com algumas pessoas sobre poder pessoal, cito o conceito de capacidades pessoais bem conhecido por cristãos, resumido em uma parábola (uma ilustração que permite a absorção imediata de um conceito difícil), como a que a palavra talento pode significar poder, capacidade ou habilidade pessoal, além do conceito de bem, gravado em moeda com esse mesmo nome.
Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens.
E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe.

(Bíblia - Mateus 25:14-15)

28 de ago. de 2014

Intuir é possível

Intuir, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 28-08-2014.
Intuir, criado em 28-08-2014.

Intuição sempre constrói meu próprio abrigo, desculpe amigo, se eu não sei o que dizer.
Se estou aqui agora é porque faz sentido, minha esperança é bem maior do que sei ser.
Eu sou inteiro e é mais honesto ser assim porque de mim ninguém vai ter coisa melhor
do que tentar eternamente achar em mim o que há de luz, o que há de sombra, o que há de só.

(Fábio Jr. - Intuição)


Já ouvi incontáveis histórias de percepção instantânea que surpreendeu uma pessoa quando, em um milésimo de segundo, tomou uma decisão que influiu diretamente no desenrolar dos acontecimentos.

Intuição é o nome que comumente damos para um processo fantástico que o cérebro é capaz de executar que pode ser comparado aos sistemas de computador que operam em multitarefa. Sabe aquelas ações que ele executa enquanto você usa outras funções? Ações do tipo ir baixando e avaliando a periculosidade de um arquivo enquanto você troca mensagens com alguém e, simultaneamente, abre uma nova janela para ver a foto enviada.

Uma experiência usual, a consciência foca a ação do seu dia a dia, como ir para algum lugar, e ele trabalha agrupando informações em segundo plano: enquanto você vê alguém na rua, próxima ou distante, o cérebro vê tudo dessa pessoa e ao seu redor, gravando o contexto. Faz isso e armazena os dados coletados para gerar novas informações.

Em uma ação inconsciente para você ele correlaciona as novas informações com os padrões já estruturados de experiência e, em caso de emergência, envia um sinal imediato.

Fantástico isso, não é? O que me impressiona é o fato de que muitas pessoas acreditam que intuir é algo de histórias fantásticas, deixando de lado exercitar e utilizar um instrumento valioso para o nosso viver diário.

Preconceitos não estão ligados apenas a raças e à sistematização de preceitos. Relacionam-se, predominantemente mais, ao que somos capazes de admitir no contexto de nossas vidas e ao que, ao contrário, bloqueamos por desconhecimento dos processos de produção ou de constituição.

Geralmente, cientistas e pesquisadores precisam diariamente se desvencilhar de sua visão de mundo estabelecida para constituir as novas formas de pensar de uma sociedade, em bases não acorrentadas ao senso comum. Ao mesmo tempo, esse desenvolvimento pode ser produzido por pensadores de comunidades consideradas menos desenvolvidas. Não à toa, o processo de intuir que plantas com determinados formatos poderiam ter uso medicinal, produziu experiências que geraram os chás, infusões e pastas poderosas, altamente cobiçadas pela indústria farmacêutica ou cosmética.

Na próxima vez que comprar um produto de beleza, ou sua mãe, ou outro parceiro de vida lhe der um aviso, não titubeie, avalie com calma. Intuições não respondem à interpretação simples. Há muito mais razões…

Wellington de Oliveira Teixeira, em 28 de outubro de 2014.

* Jung propôs que a Sensação e Intuição são coisas diversas, mas estreitamente relacionadas ao modo de perceber ou sentir o mundo: agem como um sensor. Razão e Sentimento ligados ao julgamento e à avaliação.
Todas são modalidades da percepção e do pensamento (os processos cognitivos) que o ser humano usa para se guiar na vida. Precisam ser integrados para que a personalidade possa ser equilibrada e saudável, independente de transformar-se sempre, a partir de situações diversas.

23 de ago. de 2014

Como a mim mesmo

Rodopios, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 23-08-2014
Rodopios*, criado em 23-08-2014.

ah, tem que ser (tem que ser!) hoje que eu vim
eu vim com tudo que tem haver com você
você nem sabe que sim, que simplesmente é assim:
assim que vejo você, você de frente pra mim,
eu me arrepio, grito, pulo, assobio, gesticulo, rodopio,
vou girando, vou girando, até cair no meio-fio

(Rodopio - Luiz Tatit)


Não há como pedir a quem quer que seja que entenda o que produzo.

Tudo que faço é apenas um reflexo das elaborações dos sentimentos que são provados por fornalhas de pensamentos, moldados a partir de uma ética do fortalecimento mútuo: recebo diariamente, de fontes diversas, os estímulos necessários para tal. Nenhum deles igual.

O que resiste e consegue vir à tona é digno de se manifestar.

Assim, acesse ao que escrevo e ao que desenho como o melhor de mim oferecido a quem quiser e puder utilizá-lo em benefício próprio.

Puro ato de antropofagia, o como a mim mesmo é o meu mais puro egoísmo em favor do seu. Só assim, expondo a minha verdade nua e crua posso contribuir com alguém. Vez por outra, agrido. Algumas, sensibilizo. Melhor quando apenas provoco e com isso desloco a passividade.

Não tento ensinar nada. Sequer pretendo ocupar o lugar da verdade, apenas sonho vivenciar as minhas.

As de muitos afetaram a minha, especialmente daqueles das artes. Escritores, filósofos, músicos, dançarinos, atores, médicos, amantes e amados são os artistas pensadores que conseguiram incendiar minhas inquietações.

E, certamente mais que todos os outros, os rodopios que o amor promove dos fundamentos à cama.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 23 de agosto de 2014.

* Série de giros ou voltas executados, em torno do próprio eixo, rapidamente; girar como um pião. Isso descreve muito bem as idas e vindas destes pensamentos e sentimentos que me tomam, mas que não possuem a graciosidade dos movimentos dos bailarinos.