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31 de dez. de 2014

Transições

Transições criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 31-12-2014
Transições, criado em 31-12-2014.

Transição ou mudança de fase é a transformação que ocorre em um sistema termodinâmico: variação abrupta em uma ou mais propriedades físicas induzidas por mudanças em uma variável como a temperatura. Descreve transições entre os estados físicos da matéria mais comuns, como sólido, líquido e gasoso e, em casos raros, o plasma.*


Movidos da alegria ao ódio, interferimos nos mundos existentes. Ou você pensa que há apenas um mundo? Cada cabeça uma sentença! Mundos dentro do mundo.

Razões são várias, cada qual com seus paradigmas e lógicas, que confirmam verdades absolutamente contraditórias ou opostas. Sob qual deveríamos encarar a vida?

Ao assumir como absoluto o que uma razão comprova corremos o risco imenso de ignorar outras formas de razão. Por exemplo, há também razão no amor e sustentabilidade de influências nas práticas de uma pessoa ou várias: sob sua égide se decide e se vive. Para bem de uma certa verdade, o mesmo acontece com toda e qualquer forma de emoção, especialmente as coletivas.

Aqui se inserem os rituais de transição. Em cada rito de passagem nos permitimos um imersão na alma do mundo, nas estruturas que nos permeiam como seres sociais. É como um mergulho em um rio profundo. Adentramos muito pouco abaixo de sua superfície, mas isso é o suficiente para retornarmos de um novo modo, com o olhar e sentimentos renovados. Ignorar esse aspecto é, também, ignorar as imensas possibilidades da vida que ficam retidas em cada DNA e na Psiquê de um ser humano.

Ritos cumprem a sua função: conectar pessoas, produzindo um campo de unidade ao seu redor. Quando sua força é amplificada por um propósito, surge uma motivação social. A reprodução, com um toque de novo, do modo de viver.

Vou me permitir um novo encontro com a transição: a do adeus ano velho e feliz ano novo. Vou acrescentar uma dose bem forte de transformação; vou desejar que boas surpresas me encontrem no novo percurso demarcado com os primeiros momentos de 2015; vou me propor a felicidade e sonhar com [im]possíveis.

Antes, deixem-me agradecer por todas as conquistas realizadas por puro esforço ou com a ajuda dos grandes amigos e dos bons adversários. Os desafios foram bons e tornei-me alguém mais forte do que era. Isso, por si, já basta para me trazer ao rosto um sorriso feliz.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 31 de dezembro de 2014.

* Adaptado de Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Transi%C3%A7%C3%A3o_de_fase)

26 de dez. de 2014

Dia feliz

Dia feliz  criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 25-12-2014.
Dia feliz*, criado em 25-12-2014.

Left alone with just a memory, life seems dead and quite, quite unreal
All that's left is loneliness, there's nothing left for me to feel

(You Don't Have To Say You Love Me — The Floaters)


A véspera do natal é uma data interessante, com correria e tudo, porque sempre me provoca. Eu gosto do encontro que ela permite, não apenas com os familiares. Amigos que passam por aqui, numa peregrinação em casa de familiares e de outros amigos, são o ponto da minha reflexão.

É que eu andava pela noite, com um grupo de amigos, de casa em casa, mordiscando, bebendo algo, dando satisfações aos familiares, antes de seguirmos adiante em uma noite quase que inteira de movimentação.

Havia, no entanto, aquele momento quando a peregrinação acabava, o violão era sacado, nossa garrafa de vinho barato aberta e dividíamos aquilo que éramos de forma plena e feliz.

Musicalmente belo - tínhamos bons instrumentistas e vocalistas no grupo -, nos permitíamos as piadas mais infames, as perfeitas sacanagens e bullyings marotos - conscientes de ser apenas do momento -, até que chegava o momento da apresentação das verdades ocultas durante todo o ano… noite de paz. O dia seguinte, cada macaco no seu galho, cada menino com sua família.

Um prisma intenso, caleidoscópio emocional. Ontem e hoje, uma revivência similar, em outra ordem, ao receber em minha casa familiares e amigos. Ocupar o lugar do outro da minha adolescência me faz repensar os reflexos permitido sobre uma superfície quase igual.

O que ficou do garoto? O que o papai Noel presenteou? Nomes já não me importam mais. Conceitos, entendimentos, apropriações, sim!

Em um diálogo com meu cunhado, Elias, eu me recordei o motivo de ser tão importante manifestar ou agir em prol das necessidades alheias. Não apenas questão de fé. A manifestação do amor é o que nos leva a um patamar superior.

Alguns amores não vieram e a saudade bateu. Entendi os motivos, mas o coração sofreu. É assim mesmo. A vida tem desses momentos. A perfeição exige. Pensei no Arthurzinho, que está muito próximo de chegar, senti seus chutes na mão, os sonhos do meu sobrinho aguardando a chegada do seu filho eram visíveis.

Quem sou eu para desqualificar a vida? Louvado Seja! Que o tempo dessa vida, que não consegue ser suficiente para se viver uma amizade sequer, seja meu aliado nessa jornada; que eu aprenda a ser sensível aos seus signos, que eu entenda que até mesmo os meus limites (não consegui fazer tudo o que queria) são parte importante desse momento do viver.

Um dia o sino pequenino toca e eu não estarei aqui. Até lá, bem… vou aproveitar o que há para se fazer.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 25 de dezembro de 2014.

* A felicidade nunca é tão plena a ponto de impedir as pequenas tristezas causadas pela incompletude que as chamadas faltas nos trazem. Sensação essa que para mim é muito bem representada no trecho de uma música muito antiga que citei na abertura: Fiquei sozinho somente com memórias. A vida assemelha-se a morte, muito próxima do irreal. Quando tudo que resta é a solidão, nada mais resta para sentir.

23 de dez. de 2014

A lição do Flamboiã

Flamboiã, fotografado por Wellington de Oliveira Teixeira em 10-12-2014
Flamboiã, fotografado em 10-12-2014.

Gostaria de ter começado essa história assim:
"Era uma vez um pequeno príncipe que habitava um planeta pouco maior que ele, e que precisava de um amigo…".
Para aqueles que compreendem a vida, isso pareceria, sem dúvida, muito mais verdadeiro.

(Antoine Saint-Exupéry — O Pequeno Príncipe, p.18)*


O Flamboiã é um tipo de árvore que conquista muito a minha simpatia: adoro suas cores, o formato de suas folhas e flores, o contraste estabelecido entre a leveza de suas sementes em floração com a robustez dos seus galhos. Mas a possibilidade dessa apreciação ocorre apenas em determinadas épocas do ano.

Com ele obtive o aprendizado que compartilho: há momentos para que muitas das coisas desejadas tornem-se viáveis ou seus processos sejam mais propícios ao desenvolvimento.

Alguns países possuem, nessa época do ano, um inverno rigoroso e as tradições natalinas e de passagem de ano auxiliam no processo de restauração da esperança de que a próxima primavera irá trazer o renascimento do mundo e a colheita de tudo o que ficou oculto sob a neve ou a terra.

Nós, os sortudos habitantes do Rio de Janeiro e do Brasil coroado de belezas naturais, somos brindados, durante todo o verão, por exuberâncias. Em terra, no céu e no mar sua manifestação é estonteante. Isso facilita a lição dos ciclos: término de um, reinício em outro.

Como sugestão, aproveite essa época para permitir-se momentos de uma reflexão positivista, esperançosa. Imagine o mundo dos seus desejos e - independente dos desafios necessários - já se prepare para ir ao seu encontro.

Como desejo, que você consiga ver o outro, que está ao lado ou distante, como um ser plenamente semelhante em necessidades, mesmo que divirja frontalmente em conceitos, propostas ou práticas.

Não podemos ocupar o lugar do outrem, mas podemos nos imaginar nele, a partir de nossas próprias necessidades na vida: de alegria, de amor, de esperança, de paz e de realização pessoal.

Isso, tente! Deseje de coração que ele obtenha tudo isso, mas o faça sem mesquinharia e sem invejas. Algo que aprendi há muito tempo embasa esse pensamento: quanto mais gente feliz e realizada no mundo, melhor será o mundo em que vou viver e também aqueles a quem amo tanto.

Bons festejos e reinício de ciclo de vida.
Wellington de Oliveira Teixeira, em 23 de dezembro de 2014.

* Às vezes, para se iniciar um novo ciclo, é preciso nos reinserirmos em um acontecimento do passado e resgatarmos o aprendizado que nos foi proporcionado. No reencontro desses dias com a família Prét, rememorações se fizeram necessárias e eu pude reacender o encontro com um pequeno príncipe na Vila de Trindade (Parati-RJ), o Alisson Gley. À potente memória daqueles momentos e meu grande aprendizado, fica meu agradecimento (e a vontade de experimentar o sabor da melhor geleia de minha vida).

6 de dez. de 2014

Minhas pequenas mortes

Pequenas mortes criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 06-12-2014
Pequenas mortes, criado em 06-12-2014.

Mas cada homem não é apenas ele mesmo; é também um ponto único, singularíssimo, sempre importante e peculiar,
no qual os fenômenos do mundo se cruzam daquela forma uma só vez e nunca mais.

(Hermann Hesse — Demian p.7)


Eu já morri muitas vezes em minha vida.

Pequenas mortes causadas por perdas incomensuráveis, porque perdas de amor e porque há muitas formas de se amar.

No lugar dos pedaços que foram arrancados da minha alma, a vida encarregou-se de ir construindo uma espécie de tampão para que o que restou não se esvaísse completamente.

Cada um desses pedaços tem um nome, uma história e foi um mundo que evadiu-se no universo. Algo que traduz um encontro inesquecível.

Dentre as formas de morrer, descobri uma que acentuava todos os aspectos da dor: um amor que se encontra com a morte repentina. Não há como chamar de despedida brusca, nem usar de pleonasmos para não ser cruel com outros, que também ficam e sofrem. Um cristal que se parte é impossível de ser recomposto.

Algumas vezes tive a sorte de ter sido usado pelas palavras de conforto. De algum modo, engoli a minha dor, acolhi a dor de um outro e lhe dei aconchego. Me ensinando ocupar um outro lado? Quem sabe? O lugar não importa quando o sofrimento o abraça.

Difícil é o descobrir que nenhum amor morre. A cicatriz que fica comprova mais que suficientemente que sua potência constitui, também, sua perpetuação em quem ousou acatá-lo e agasalhá-lo no coração.

Uma grande lição do abrir mão é saber que mesmo despedaçados seguimos em frente, constituímos uma nova forma de caminhar, estabelecemos um novo mundo — com todas as brechas e rombos e buracos negros que se configuraram, à despeito de nossa força desejante.

Todos os anos, uma hora ou outra, esta sensação estranha me toma e, como um vácuo, me engole. Fico cercado de memórias tristes, alheio a tudo o que é belo. O vazio, já me dizia a História sem fim, quando a gente permite, tira o que nos torna o que quer que sejamos.

Mais uma vez, vou apelar para a estratégia de trazer à memoria momentos de uma intimidade maravilhosa de um beijo, abraço, riso ou frase que se perpetuou. Vou insistir até que a presença se sobreponha a ausência. Uma técnica que aprendi a chamar de reacender a potência do encontro. Revivenciá-lo* e me deixar tomar pelo que senti naquele momento.

São muitos os brilhos nos olhares, os sorrisos mais do que marotos ou gentis eternizados em mim. Assim, antes que a morte desse atual corpo se estabeleça, vou reafirmando a Vida, essa com v maiúsculo que se intensifica em cada contato que estabeleço.

Que tal escutar aquela música e se deixar levar, sem compromisso com o tempo, até que esse momento de saudosismo sofrido se sacie e deixe a vida prosseguir?

Não se iluda, dor também é parte integrante do que chamamos mundo, partidas e despedidas também. Não importa o que se desfez — o encontro, o relacionamento, a vida de alguém — tudo é reabsorvido de um modo ou de outro no mundo físico, emocional ou espiritual. Cabe a você escolher o que fazer, enquanto tiver o poder de decidir.

Só não esqueça de carregar consigo e bem guardado o amor que um dia você recebeu e cuidou.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 06 de dezembro de 2014.

* Nos ensinamentos de Dom Juan, há um conceito de não estar preso a uma história de vida. Para liberar-se dela, sem perder o que foi importante, é preciso uma rememoração de tal intensidade que permitiria reviver a potência de um determinado momento e registrá-lo em si mesmo. A partir de então, bastaria retornar a esse ponto de energia para se reabastecer.

Identidade difere de homogeneidade

Identidade criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 05-12-2014
Identidade*, criado em 05-12-2014

Quando se entende que o que se atraiu era algo necessário, até um empurrão que o leva adiante merece um louvado seja.
(Wellington de Oliveira Teixeira)


As vezes me irrito com certos autores de autoajuda quando promovem uma integração do tipo homogeneização.

A questão não é tão complicada quanto os nomes indicativos sugerem, caso você parta do princípio de que todos os seres possuem diferenças inerentes e que somos um conjunto de experiências diversas que se estruturam como nossa identidade.

Tal como a digital colhida para seu Registro Geral, mais conhecido como carteira de identidade, somos um conjunto de linhas cuja configuração é exclusiva.

Então, ao proporem soluções únicas para processos semelhantes, porém diferenciados, acabam por incentivar a igualdade como padrão, isto é todos, do mesmo modo, pensam e agem, absorvem suas experiências e as assimilam, integram em si os aprendizados emocionais e racionais. E não há dúvidas de que isso é ilógico e incoerente!

Todas as partes que o compõem interagem entre si e se reconfiguram a cada novo momento. É nisso que reside sua identidade: no modo como o processo se realiza, não nos elementos.

Todos passamos pelo amadurecimento corporal - da infância à velhice - mas de forma muito própria. Com esse arcabouço e seu modo de apreensão estruturamos nosso ser. Sempre ficam pontos não finalizados, conexões não tão bem feitas.

Na pele, há marcas como manchas, cicatrizes, queimaduras; na alma, dores, ausências, mágoas. Carregamos experiências e modos de aprender próprios. No fundo, qualquer tentativa de igualar é fadada ao fracasso.

Então, jogue fora esses conceitos sem qualquer base científica nem psicológica que tentam lhe dar uma receita de bolo de como viver: vá pra rua experimentar o seu modo de ser e estar no mundo e ser feliz.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 05 de dezembro de 2014.

* A digital que é a sua identidade, nada mais é do que um conjunto de linhas desencontradas, mas únicas no mundo.