Pesquisar este blog

25 de nov. de 2009

O valor da valorização

Origame da Natal by Diogo Marques
Presente que recebi de Diogo (Didigo!), há quase 20 anos atrás

'Psiu! O silêncio é importante neste momento.
Preciso ouví-lo dentro de mim.
Por onde andará aquele garoto que viveu
seus quinze anos dentro de mim?'
( 'Divagações nº 1' em Caminhos
- Jorge Laureano)

Nem sempre damos valor a algo.

E o algo que se valoriza, pode não ter valor para outrém.

Você deve aprender a valorizar algo também pelo valor que você dá a pesssoa que o valoriza.

Não sabemos o que liga alguém a algo, mas há algo nesse algo que é capaz de atrair e trazer valor pra si.

Dizem que para uma mãe, até mesmo de um sujeito criminoso, seu filho tem valor. Há um alguém que dá a ele essa energia quando tudo o mais não consegue fazê-lo.

Entender o valor de tudo deveria ser o suficiente para valorizarmos a vida em si. Mas não o é. Há momentos em que tudo perde o sentido e não conseguimos dar o valor a nada.

Sofrimento, solidão, tristeza e mágoa são sugadores das cores que vemos no mundo e, desbotado, ele perde o valor.

É necessário, então, estarmos nos comunicando sempre com fontes luminosas e coloridas para reabastecermos o nosso arsenal pessoal para, quando um desses momentos sombrios chegarem, usarmos a nossa reserva para nos sustentar a boa visão do mundo.

É um grande aprendizado saber dar o valor de cada coisa, por mais ínfima que nos pareça, mesmo quando o mundo descolore.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 25 de novembro de 2009.


* Esse pilantra, aí embaixo, era o Diogo na época em que fez o origame.

Diogo da Desembargador Lima Castro

2 de nov. de 2009

Intolerância

Tesouro, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 31/10/2009Tesouro, criado em 31 de outubro de2009

A intolerância é totalmente cultural...
Quando a cultura se apropria para a negação do outro, é preciso uma intervenção.
(Zilda Márcia Gricoli - diretora-executiva do Laboratório de Estudos da Intolerância
da Universidade de São Paulo - USP).


Intolerância. Quem consegue viver tranquilo sem a possibilidade de ser o que é?

Somos todos diferentes, mas desejamos compartilhar o que temos em comum na sociedade. Então, criamos clubes, grupos recreativos ou de estudos ou de interesses específicos e marcamos encontros, nos reunimos e trocamos ideias.

Somos capazes de fazer também grupos de discriminação, de segregação e de terrorismo. Uma ideia, uma atitude e muitos atos derivados.

Quantos sofreram por conta de um preconceito? Quantos foram segregados, forçados a viverem em guetos físicos ou sociais por pertecerem a determinados grupos étnicos, religiosos, políticos ou de inclinação sexual?

O incrível é ver como, historicamente, a sociedade aceita, sem questionar, os atos de covardia perpetrados contra eles, se omite na crítica aos agressores.

Não acho que não se possa discordar, acreditar de modo diferente e questionar. O que não entendo e nem aceito são os atos covardes em nome de qualquer tipo de crença.

Escrevi essa primeira parte, ontem. Não consegui seguir adiante e desisti.

Hoje eu acordei querendo ver um filme. Não me bastava um filme qualquer, nem mesmo um dos bons. Fiquei por cerca de 10 minutos procurando. Revi a minha coleção toda, duas ou três vezes e nenhum título me inspirava. Percebia as minhas reações e sabia, com clareza, que algo me incomodava. Talvez, uma experiência com a intolerância das pessoas estivesse me fazendo refletir sobre a capacidade humana de machucar - principalmente os semelhantes. Algo me fez parar e pensar, calmamente, ao ler cada título. Recordava o teor de cada filme, as cenas. Então parei em um da lista: O mestre da vida.

Para quem não conhece, é a história de um menino que deseja pintar ao estilo clássico - uma arte representativa - e um mestre, contemporâneo seu, nesse estilo. O primeiro era americano com ascendência alemã e o segundo um russo radicado nos E.U.A.

Conforme ia assistindo ao filme, fui percebendo que muito da intolerância que existe vem da dor e do medo. Mesmo pessoas de boa índole conseguem agir com agressividade, desrespeito. Cena após cena, o menino vai superando as indissiocrasias do velho professor: diria, na expressão popular, que engoliu muitos sapos. E, então, num determinado momento do filme, este mestre-professor se rende diante do carinho, admiração e tenacidade do jovem aluno. Ensina como nunca. Deixa fluir, como águas de rios se encontrando, uma enchente de técnicas, aprendizados conquistados e partilha da primeira criação conjunta: duas assinaturas em um mesmo quadro. Ambos, liberados de toda e qualquer distância, focam em ser aquilo que de comum havia: são apenas pintores fazendo o que mais gostam na vida.

O final do filme é um caso a parte. O velho pintor morre. Deixa muitos dos seus quadros para o seu aprendiz. Mas, nas palavras do menino, que agora tinha deixado fluir o que estava represado dentro dele há muito tempo, o presente maior foi outro: um novo olhar para a vida.

Hoje é 2 de novembro, o dia dos mortos. E, contra as expectativas de um final de semana chuvoso, é uma segunda-feira com um sol leve que ilumina mais que aquece. Clareou um pouco o céu que surgiu mais azul que o acizentado das nuvens de antes.

Não sei bem se aprendi a lição ou se superei a raiva que estava me impregnando. Mas, certamente me deu uma nova perspectiva e me relembrou o quanto somos todos falhos, em algum momento, e que não podemos levar a sério demais os atos isolados. Todos estamos num caminho de aprendizado. Em níveis diferentes, sim. Mas, quem sabe, numa mesma direção rumo ao aperfeiçoamento?

Aprender a perdoar deve ser uma das escalas principais a se fazer nessa rota. Talvez porque exija tanto que nós vejamos os nossos próprios erros mais do que o das outras pessoas.

Se for assim, acho que dei mais alguns passos no meu caminho.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 1 e 2 de novembro de 2009.


* Para o Diego de Fazenda dos Mineiros - SG/RJ, cuja lágrima, ainda agora, eu vejo saindo de seus olhos.