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31 de dez. de 2008

Ano novo, detalhes novos.

Ame e se Deixe Amar criado por Wellington de Oliveira Teixeira, em 22/12/2008
Ame e se Deixe Amar, criado em 22 de dezembro de 2008.


"Ela se virou para o lado em que brilhava o sol.
Atrás deles, ficavam a dor, a morte e o medo;
à frente deles, a incerteza, o perigo e mistérios inimagináveis.
Mas eles não estavam sozinhos."
Phillip Pullman - A Bússula de ouro.

Não é sempre que nos damos a chance de perceber que ao nosso redor exitem muitas transformações ambulantes, além daquelas que costumeiramente observamos.

Também não é sempre que observamos àquelas que ocorrem em nós mesmos ou naqueles que estão mais próximos de nós. Aliás, quanto mais próximos, menos vemos - que paradoxo, não?

Há uma certa disfunção na percepção, nesse caso, normalmente atribuída ao hábito, que bloqueia pequenas transformações e mantém a imagem global que permanece.

Parece que estamos estruturados para não perdemos muito tempo com detalhes pequenos. Talvez o cérebro use, nessas horas, algum mecanismo como o da figura e fundo em que você observa algo e tudo ao redor quase desaparece da atenção.

Porém, em alguns momentos como as datas especiais esse mecanismo parece ser desabilitado e a nossa atenção se aguça. Nesses momentos, se nos permitimos, notamos um leque de transformações que ficaram despercebidas por algum tempo. Então, supresas acontecem!, nos deparamos com fatos inusitados em alguém, nos chocamos com alguns detalhes em nós. Você sabe: uma vizinha se mudou, a criança da frente adolesceu, um sobrinho espichou, uma ruga apareceu… E é hora de refazer o repertório mental das coisas e pessoas ao nosso redor.

Talvez seja esse o motivo do costume de festejarmos a entrada de um novo período de tempo: fazemos isso com datas (dias, semanas, meses, anos), com aniversários (nascimento, noivado, casamento), inclusive com os dias mais comerciais (das mães, dos pais, dos avós, das crianças), sem falar das novíssimas paradas em datas das atitudes raciais (negra, indígena) e sexuais (gay, lésbica, bisexuais, travestis, transexuais, e sei lá o que mais!).

Arrisquei, então, verificar o caminho de algumas transformações e quase não consegui perceber o que disparou o que. Aquele algo ou situação que desencadeou aquele acontecimento ou mudança, a não ser em algo que foi realmente marcante. E, como marcante é algo muito individual, creio que devo ter deixado passar muita coisa.

Por isso, resolvi escrever esse texto para, de certa forma, desculpar-me com todos aqueles com quem não fui perceptivo o suficiente para notar as conquistas, o novo visual, a nova idade. Especialmente, àqueles que não felicitei a data comemorativa (por que inventaram tantas?).

Tento me redimir me fazendo promessas e dizendo (como em todos os anos, é claro!) que farei tudo melhor neste novo, que conquistarei todas as montanhas, que conseguirei me lembrar de todos aniversários, etc, etc, etc.

Quem sabe esse não seja o ano mais especial da minha vida? Um mundo em construção não é algo a se desprezar.

Boa idéia essa, não é?

Um brinde então!


Wellington de Oliveira Teixeira, em 31 de dezembro de 2008.



* Minha homenagem póstuma a dois amigos e companheiros de viagem que foram fazer vôos solos em uma outra dimensão: O Vinni e o Cláudio. Continuo amando vocês, meus guris!

12 de out. de 2008

Insanidade

Insanidade, criado em 12 de outubro de 2008
Insanidade, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 12 de outubro de 2008


…e o trabalho de nossa auto-reflexão é proporcionar-nos a sensação de que estamos sangrando juntos,
que estamos partilhando de algo maravilhoso: nossa humanidade.
Mas se fôssemos examiná-lo, iríamos descobrir que sangramos sozinhos; que não estamos partilhando nada;
que tudo o que estamos fazendo é brincar com nossa reflexão, manipulável e irreal, feita pelo homem.
(O Poder do Silêncio - Carlos Castañeda)

"Você é um louco, cara! Insano, insano, insano, insano, insano, insano, insano, insano!
Você é o diabo. Você é deprimente. Através essa passagem da Bíblia, pude entender melhor o seu site, que parece feito por alguém divino, mas que na verdade é cruel, fascista. Uma pessoa de má INDOLE. INCOERENTE com as suas atitudes. Pare de mentir na internet fingindo ser uma pessoa boa. Você é cruel e
sabe disso. Sua hora de pagar chegará. Por que você não fala da sua natureza oculta aqui?? Você é bipolar sabia?? Precisa de tratamento. VOCE É DOENTE!! VÁ SE TRATAR!!! crazy, crazy, crazy, crazy, crazy, crazy,crazy,crazy,"Um amigo pra sempre. Uma construção constante entre multiplicidades e possibilidades,
aglutinadas pelo amor. ?????????????????????? Coloque a mão na consciência e pense um pouco... quantas pessoas você maltratou? Você se acha muito superior né? Muito especial? VOCÊ é o próprio DIABO!!! Como pode ser tão MAU??? Tem certeza que vai para o céu?? Are you crazy men??

Esses foram os comentários que alguém fez neste blog. Creio que devo ter machucado essa pessoa. De forma involuntária ou não. Não sei. Um provérbio popular diz que ninguém consegue agradar a todos. Concordo.

Creio que o ser humano tem como desafio ser pleno, expressar-se por inteiro.Também acho que devemos tentar, nos caminhos propostos pela vida, na medida do possível e sem deixar de ser verdadeiro, evitar ofender com os nossos atos a terceiros - conhecidos ou não.

Não sou uma pessoa tão fácil de lidar. Isso é uma verdade porque eu encaro os desafios da vida de frente, quer me causem dor ou não. Em alguns momentos, quando acredito que devo, provoco o potencial de transformação de outras pessoas. E nem sempre sou bonzinho quando exponho uma ferida, uma falha, mas procuro mostrar que cada um tem seus próprios desafios a vencer.

Muitas vezes levei porradas da vida, no meu aprendizado. Algumas por não me empenhar em aprender de uma forma mais simples, outras por ir ao encontro delas por achar que era o que eu precisava para amadurecer e crescer como ser. Aprendi que a gente aprende de um jeito ou do outro - a vida não perdoa.

Quando olho para trás, vejo que acertei e errei em muitas ocasiões. Não vejo com tristeza, ao contrário, para mim são as pequenas marcas do meu processo de aprendizado pessoal.

Devo ter ferido, magoado, pessoas que o permitiram. Devo ter colaborado, ensinado e amado outros que assim o permitiram, também. O que não tenho dúvidas, hoje, é que em meu caminho eu busquei expressar-me como sou: apesar de apenas um fragmento do universo, sou, em mim mesmo, algo inteiro. E, por mais que possa desejar não atingir ninguém com os meus atos, não posso me impedir de ser quem sou. Essa, talvez, tenha sido a minha maior conquista na vida. Uma outra foi descobrir que o potencial que temos de nos permitir sermos feridos pode ser controlado: não precisamos ser apenas um alvo exposto, mas podemos nos expôr, quando quisermos.

Não por retórica, a vida é o tempo todo, para todos os seres humanos, um processo de destruição: nascemos para morrer. O intermédio é que pode ser definido, parcialmente, por cada um. Para aqueles que querem pegar a sua vida nas próprias mãos e conduzi-la na medida do seu possível, não há outra opção a não ser encarar os desafios da morte diária e usá-los para expandir a sua consciência e expressividade como ser. Certamente, algo muito delicado e difícil, num mundo onde é necessário sobreviver com normas e regras que nos ultrapassam. É muito mais fácil abrir mão dos sonhos, desejos e entrar nas rotinas diárias mascarado, fingindo estar bem.

O dia-a-dia é cheio de situações a que somos submetidos: são chefias, são comportamentos, são legislações, são medos e vergonhas que adquirimos. E, talvez a pior de todas, a imposição de abrirmos mão de fluxos de vida que nos definem em prol do pensamento de terceiros - os famosos Outros. E desde pequenos escutamos 'o que os outros vão, pensar, dizer, a seu respeito?' e tomamos isso como verdade absoluta: se não formos como os outros querem não somos bons.

E apesar de compartilhar com toda a humanidade momentos em que sou carinhoso, amoroso, o contrário também é verdade: posso ser cruel, indelicado, grosseiro, principalmente se agredido previamente. E algumas vezes já agi com dureza por puro amor: uma contradição que qualquer um que cuida de familia já viveu, porque o ser humano tem um potencial (auto-)destrutivo tão grande quanto tem para amar.

Mas como diria um educador com quem tive o prazer compartilhar o aprendizado de várias coisas: 'Cada um com o seu cada um…'.
E mesmo que isso machuque qualquer um, tento, contra todas as ordens contrárias, reafirmar no meu dia-a-dia que eu não abro mão das conquistas que fiz para chegar a ser quem eu sou. Insanidade?

Wellington de Oliveira Teixeira, em 12 de outubro de 2008.

* Há um trecho do mesmo livro da citação acima, que acabei de reler, com o qual concordo plenamente: "Eu era tão jovem e estúpido que apenas o óbvio tinha valor pra mim… Naturalmente, eu poderia ter visto tudo naquela época, mas a sabedoria sempre nos chega de modo doloroso e aos poucos."

28 de set. de 2008

o diabo também é um anjo

Anjos de tipo diferente, criado por Wellington de Oliveira Teixeira, em 28/09/2008
Anjos de tipo diferente, criado em 28/09/2008


E não é maravilha, porque o próprio Satanás se tranfigura em anjo de luz.
Bíblia - 2 Coríntios 11:14.


Não é sempre que conseguimos, mas por que não ter como alvo a transparência das emoções, a expressividade na beleza ou na feiúra dos atos, a plenitude do ser, sempre procurando, simultaneamente com isso, evitar o enfraquecimento de quem quer que seja?

As forças que vamos conquistando durante a vida são produto da experiência adquirida de muitos, em sua maioria difíceis, momentos e encontros que fazemos.

E guardados, como segredos em nossos corpos, um grupo de marcas e de sinais nos caracterizam, nos individualizam, geram a memória de um ente e historicizam uma partícula do universo - nós mesmos.

E, pano de fundo que se quer figura principal, um embate entre conceitos, preconceitos, defeitos perfeitos, um letreiro que propagandeia uma máscara que se gruda ao rosto, um resto de nós nunca desfeitos, um algo novamente velho de mente: o nosso viver demente.

Seguindo o traçado de um caminho pré-determinado, um modelo que enclausura, embota, nos empurra para um não-ser repetitivo igual a uma corrente de água em descedente correria: queda após queda.

As pequenas irrupções que conseguem alcançar a superfície já doente são cada vez mais minúsculas tentativas de expressão, signos de uma pressão, mas que não sai do sub, está sob: um pálido sonho de estar sobre os impedimentos e se mostrar.

Um poderoso mecanismo de captura das verdades individuais se perpetua, através dos seus companheiros de jornada, em olhares desviados, de sorrisos escondidos e de irônicas, mas verdadeiras, boas-vontades de todos. Sejam os amores que nos tomam para si e nos cobram por isso a nossa própria vida ou os ódios que nos aprisionam a acontecimentos, pessoas, frustrações e nos paralisam.

Como muitas coisas na vida, vemos passar e ir embora. Não desfrutamos, não aprendemos, não compartilhamos. E ficamos no eterno não, não, não. Não e não.

E quase sempre esquecemos que o diabo também é um anjo. O detalhe que diferencia é que, mesmo nas horas de mostrar a sua face mais terrível, os anjos se expressam plenos. É o diabo quem finge ser o que não é para obter a aprovação e conquistar seus objetivos.



Wellington de Oliveira Teixeira, em 28 de setembro de 2008.


* O preço a pagar-se por expressar plenamente a verdade de um ser é diretamente proporcional à imbecilidade de uma sociedade.

26 de set. de 2008

Noite de paz

Noite de paz, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 28/09/2008
Noite de paz, criado em em 26/09/2008.


E buscar-me-eis e me achareis,
quando me buscardes de todo o vosso coração.
(Bíblia, Jeremias 29:13)

Como se definiria, nos tempos atuais, a paz?

Creio que no passado talvez dissessem 'Rapaz, isso dá os panos para a manga!'. Hoje, quem sabe, um 'brô, deixa quieto, isso é frenético!'. E eu estou mais para a intersecção entre o que era e o que é. Um pouco passado, é verdade, aos quase 47 e ainda fazendo avaliações quase-previsões sobre um possível futuro bem próximo.

Caminhando por novas realidades que se constróem no dia-a-dia e cuidando não deixar de me expressar em cada ato; buscando atitudes condizentes com um cidadão de um universo ainda tão desconhecido como esse meu eu e, esse tudo a que pertenço, fragmento que sou.

Falando assim, parece-me que fiquei um tanto quanto esotérico. O que chamei de Deus se ampliou tanto, é tão maior que meus conceitos juvenis e tão verdadeiro quanto, em medida tão apaixonante quando me perspassa nos atos que manifestam o amor.

Absurdo para mim é como chamam alguns de mundinho esse espaço tão incrivelmente maravilhoso, a Gaia-Terra, mãe de tantos seres, que expressa imenso amor por todas as suas criaturas, alimentando suas almas, corpos e espírito, nutrindo o campo de possibilidades dos encontros que organiza a vida e permitindo os gestos mais vis, vãos, valendo-se apenas da atitude pedagógica onde o que se faz tem conseqüências.

Agrado-me de ver as crianças paradas, correndo, brincando, rindo, chorando, na verdade de suas expressões. Egoístas, sim, mas também tão generosas. Essa pura expressão de si é algo que me encanta, me faz avaliar as minhas próprias expressões tão impróprias, por vezes.

Chove lá fora e faz frio também. O céu está cinzento e coberto com uma pequena névoa. E eu quero vê-lo belo, como o é. Mas esbarro nos meus preconceitos a respeito: se não está azul e com sol radiante, não é belo.

E me digo, não o é pra quem? Em quantos lugares do mundo não é este o cenário que tantos fazem preces para ter? Não é a sagrada queda de água do céu que virá a alimentar a terra sedenta e os corações dos plantadores e cultivadores? A mesma que vai gerar os oasis das áreas desérticas e ressequidas? E silencio aquela fala anterior e digo Obrigado à esse ser infinito em tudo e em mim.

Ainda gosto muito do olhar adolescente que carrega a chama da vida e faísca com um fogo interior e invade outros olhos como os meus e os incendeia também. Bom ver como a vida os toma por inteiro, como são invencíveis quase imortais. Apaixonados que são, intensivos e completamente irresponsáveis nos seus gestos de amor. Tudo muito lindo, não importa o quanto digam ser perigoso.

Sou fã daqueles jovens adultos que descobrem seu poder de dirigir a própria vida não com a razão castradora da emoção, que apenas forjam uma aliança entre elas de modo a poderem ter os seus bons momentos nas condições mais favoráveis. Principalmente dos que nunca deixaram de lado os seus sonhos e acreditam nas ilusões por puro exercício de vontade de vida para além da vida, que olham para ver o para além das coisas, que captam a essência do momento e sabem que ela pertence àquele momento e não a mais nenhum e, por isso, o eternizam em si mesmos.

Ouço com muito cuidado aqueles senhores e senhoras que cuidam dos netinhos como um presente do universo e se permitem ser permissivos e pervertedores das ordens paternas para proporcionar alguns momentos de pura infantilidade para eles. E olho com atenção os que estão nas praças jogando damas, xadrez, dominós, cartas, mantendo seus relacionamentos em dia, conscientes das capacidades de seus corpos nesse momento e respeitando-as e aos seus limites. E me admiro com aqueles que trazem para o seu lado os mais novos e os colocam em contato com esse mundo maravilhoso e divertido dos jogos e por puro egoísmo, pelo prazer que proporcionam a si mesmos, os deixam ganhar algumas partidas, além daquelas que a sorte do principiante vem ofertar.

Mais ainda, me maravilho com a sabedoria, poder e amor de alguns que são os que fazem da vida um lugar belo para muitos outros; os que se dedicam à tarefa de criar as condições de aprendizado para todos; os educadores da alma que mostram o quão ilimitados somos todos nós e nos incentivam a expressarmos isso nos ultrapassando em todos os momentos; os que vêem o tudo em todos; os que provocam o desejo de liberdade e os vôos de coração, que amam plenamente e, por um algo indescritível que trazem ou construíram dentro de si, se doam à vida.

E, num certo sentido que busco dar a tudo isso, acredito que resumindo esses movimentos-sentimentos na palavra paz eu consigo passar um pouco adiante a força que atravessa o meu momento no instante em que recordo a noite anterior. Certamente, uma noite de paz. E, como me acostumei a dizer, eu Caio na PAz.


Wellington de Oliveira Teixeira, em 26 de setembro de 2008.

* Se eu morresse hoje, iria feliz por ter conseguido escrever esse texto.

31 de ago. de 2008

Natureza oculta

Natureza oculta, criada por Wellington de Oliveira Teixeira, em 31/10/2008
Natureza oculta, criada em 31 de outubro de 2008


…faço poesia não porque seja poeta, mas para exercitar a minha alma,
é o exercício mais profundo do homem.
(Clarice Lispector
- Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres)

Os dias passam por nós, num tempo que parece cada vez mais veloz. Estamos sempre agindo, agitando, agenciando algo, agregando algum valor aos nossos bens. Até mesmo o tempo de descanso é algo que tem se caracterizado pela velocidade: precisamos aproveitar o máximo de tudo o mais rapidamente possível. Parece que a contemporaneidade nos trouxe como questão principal o maximizar as ações no menor tempo possível.

No dia a dia, o que temos são paixões breves, sinopses de livros e filmes, mini-séries, produtos descartáveis e tudo que dura um pouco mais parece estar entrando na categoria dos obsoletos, ultrapassados, fora de moda.

As pessoas buscam cada vez mais encontros intensivos e para isso desqualificam o extensivo. Por que levar uma semana para fazer algo que pode ser feito no primeiro encontro?

Qual o nome mesmo daquela pessoa que ficou com você na semana passada? Do que ela gostava? Quais os seus desejos e sonhos? E o seus?

Não é questão de moralismo, de forma alguma. É apenas refletir que alguns de nós que ainda desejam um pouco de intimidade, de companheirismo, de compartilhamento de vivências estamos nos sentindo coagidos a agir de uma maneira muito estranha ao nosso ser, estamos nos permitindo um trajeto muito diferente do que nos proporcionaria uma real satisfação para não nos tornarmos estranhos em nosso próprio meio, apenas mais um elemento que não se encaixa no padrão social.

Creio que há diferenças entre as épocas nas relações interpessoais e é isso que eu quero refletir: nossa época está se tornando uma das que mais falam em inclusão e é exponencialmente excludente.

O uso das coisas e das pessoas, incluindo aí as suas habilidades, sempre existiu e não vejo como isso possa mudar seja nas relações profissionais, interpessoais ou uniões afetivas.

De uma forma assutadora todos agora estão impelidos a serem jovens, felizes, bem sucedidos, uma espécie de modelo empreendedor-conquistador.

E cada vez menos refletimos sobre nós mesmos. Refletimos os pensamentos e os desejos dos outros a nosso respeito. Respeito esse que quase não está mais disponível porque precisamos ser disponíveis cem por cento de nosso tempo para tudo e todos ao mesmo tempo.

E fica pra mim a pergunta 'Quem é esse eu que digo a todo instante e quem é esse eu que afirmam que sou, até mesmo amigos mais próximos?'.

É como uma natureza oculta que ficou tão soterrada pelo cotidiano insano que me força a ser um arqueólogo para escavar profundamente e ir encontrando pequenos sinalizadores que possam me remeter ao ser que originariamente era chamado de eu. Nessa aventura, cada descoberta me faz sentir um pouco melhor, um pouco mais feliz, um pouco mais íntegro, um pouco menos burro e espoliado de mim mesmo.

Wellington de Oliveira Teixeira, 31 de outubro de 2008.

* Resolvi postar a partir de agora algumas reflexões contemporâneas até me sentir inteiro novamente para ver meu passado passar por mim.

6 de jun. de 2008

Matheus - afilhado do meu afilhado

JEric, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 23/05/2008 JEric, criado em 23 de maio de 2008.

Sócrates: Presta muita atenção ao que vou dizer: parece-me que não apenas os contrários que não admitem jamais seus contrários, mas que, além disso, todas as outras coisas que, não sendo contrárias entre si, têm sempre seus contrários, não parece que possam receber a essência contrária à que têm, mas quando esta essência aparece, elas desaparecem ou perecem. O número três, por exemplo, não perecerá antes de se converter em número par, embora seja três?
('Fédon ou da alma' em Platão Diálogos)

Grande Matheus,

Hoje, suas medidas mais expressivas ainda estão em expansão e alguns de nós nos acostumamos a chamar de pequenos, nenéns, criancinhas àqueles nessa fase de crescimento.

E, assim sendo, agimos e pensamos e pensamos e agimos como se assim fosse: seja compreensivo conosco! Saiba uma coisa muito interessante: esse mundo é o campo de possibilidades que o farão um ser expressivo de acordo com as suas medidas reais. Não o despreze. É claro que iremos acompanhar as transformações que irão, progressivamente, lhe acontecendo com muito prazer e estaremos dispostos e colaborar, à medida em que formos necessários, nesse processo. Saiba que somos co-participantes de tudo que acontece na vida e, quando queremos, podemos compartilhar nossos pequenos campos de interseção: gostos, atividades, parentesco/amizade, e descobertas na vida. Há uma contagem estranha nessa esfera: anos de vida. Por ela, você está fazendo 1 ano. É uma idade de pouca fala e, por isso mesmo, o período em que nos atentamos para as expressões faciais e corporais. É nela que descobrimos como a vida pode ser bela num sorriso que se abre nos lábios e nos olhos ou num braço que se estende. Fique atento para não perder a chance desse aprendizado: é o melhor de todos para, mais tarde, conhecermos os pensamentos e sentimentos de alguém: todos eles se expressam, antes, nos gestos.

Ah! ainda tem uma coisa muito legal nesse mundo: há pessoas que ficam conosco, próximas ou distantes, que são/serão nossos grandes companheiros de vida, às quais damos nomes como pai/mãe, irmãos/irmãs, avôs/avós, tios/tias, primos/primas, padrinhos/madrinhas, amigos/amigas. Fique atento para não tirá-los de seus pensamentos/emoções pois são eles que nos proporcionam as maiores e melhores experiências de nossas vidas em todas as fases que ela possui.

E mais uma pequena coisa, a história sempre nos precede e nos sucede. Por isso, até mesmo um estranho como eu tem uma história com você, por que tem haver com a história de sua mãe, de sua avó, da sua tia(s-avós)/tio, prima e do seu primo-padrinho, dos quais eu sou padrinho. Viu como tudo é uma grande mistura?

Saiba que, no fim das contas, estamos todos ligados e, sempre que queremos, podemos usar essa ligação - em qualquer fase de nossas vidas - para fazermos contato, por meio de uma ponte de amizade e amor, e nos abastecermos do necessário para prosseguirmos a jornada: uma caminhada que apesar de ser única e só nós podermos percorrê-la, nada nos impede de permitirmos outros ao nosso lado.

Por isso, sinta-se à vontade, para quando quiser fazer as conexões que lhe sejam necessárias comigo: estarei à disposição e muito feliz em compartilhar meus caminhos e o que já adquiri e aprender com os seus caminhos e o que você adquirir.

Um grande abraço desse que já é um amigo seu e lhe deseja muitas felicidades e conquistas na vida.


Wellington de Oliveira Teixeira, em 23 de agosto de 2007.



* No primeiro aniversário de Matheus, filho e Tarcísio e Daniele e afilhado de Tiago A Gonçalves.

29 de mai. de 2008

Questão de tempo


Gui a olhar, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 21/01/2008 Gui a olhar, criado em 21 de janeiro de 2008.



"Minhas desequilibradas palavras são o luxo do meu silêncio…
— escrevo por profundamente querer falar.
Embora escrever só esteja me dando
a grande medida do silêncio.
Água Viva - Clarice Lispector


Meus olhos vasculham céu e mar
No horizonte buscam encontrar
Tudo o que você levou de mim
Pela noite saio a vagar
Noutro corpo busco me aninhar
Outras curvas, nova estrada vou trilhar
Mas sem você não dá…


Tomo o trem do silêncio pra me achar
Dentro em breve eu virei pra te encarar
Questão de tempo
Pra surgir um novo brilho em meu olhar
Questão de tempo
O meu anjo está comigo, minha alma sabe disso
Questão de tempo, baby: é só esperar.


Quando viu-me perdido no andar
Disse 'alô', se pôs a conversar
Estava a fim e você grudou em mim
Mas um sopro tudo pôde abalar
Minha crença vi em caos se transformar
Falta abrigo, falta vida, falta ar
Pois sem você não dá.


Wellington de Oliveira Teixeira, em 29 de novembro de 2000.



* Questão de tempo foi criado no período em que precisei me refazer, ao finalizar uma grande paixão. Ainda hoje, expressa o silêncio imenso em mim.

23 de mai. de 2008

Sky & Co.

Scorpio, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 21/11/2001. Scorpio, criado em 21 de novembro de 2001

"Não sou mais Messias do que vocês. O rio tem prazer em nos erguer à liberdade, se ousarmos nos soltar."
Ilusões - Richard Bach

A idade não te diz o que ser
Nem a mim
E no morno fim-de-tarde que dá náuseas
Onde ir?
O céu é sua companhia.


O corpo dispara em sua jornada
Pra subir
A emoção desponta, que a razão dê conta
Do sentir
O céu é sua companhia

A maldade não existe em seu fluir
Ir ou vir
Só ódio e amores, prazeres e dores
E sorrir
O céu é sua companhia


Um nevoeiro desceu lá na campina
Era o fim
Cerrou seus olhos, molhou seu rosto
Ao partir
O céu é sua companhia


E eu luto pra sustentar seus vôos
Dar-lhe solo pra decolagens e pousos
Viaje em si mas diga um sim pra vida
Porque o céu é sua companhia - você a minha!


Wellington de Oliveira Teixeira, em 26 de setembro de 2000.



* Esta música eu fiz para o Fabio Marcondes Scaico um guri cheio de questões que tornou-se meu amigo via mIRC. Hd-monio, Hd-jocker e seus outros nicks, Carol, Helena 'Luz' e a turma de Campina Grande, mais as fotos que me enviou ainda estão comigo e na minha memória.

Scaico, o Arthur_King do #Magos_e_Magia continua desejando que a vida lhe dê o muito que você merece.

Andinho

Amizade e Paz, criada por Wellington de Oliveira Teixeira em 15/09/2007.Amizade e Paz, criado em 15 de setembro de 2007.


"Quando se descobre em alguém aquela fonte inesgotável de momentos, a gente diz que encontrou um amigo".


É… bons momentos os que nós já tivemos juntos. Isso me faz recordar até mesmo discussões de ensaios e outras que no final me ensinaram a ser seu amigo.

Não posso afirmar que todas as vezes que nos encontrarmos serão motivo de sorriso, apenas. Porém, sei que ainda em nosso caminho encontraremos oportunidades de partilharmos o sorriso e a felicidade, um com o outro.

Sei que nos céus tudo se movimenta quando aqui em baixo alguém passa a amar a um irmão e talvez (quem sabe?) as canções que os pássaros entoam não sejam por causa disso mesmo. Por causa de uma amizade que se formou e quer ser demonstrada de uma forma simples - uma melodia suave que narre os bons momentos!

Destes eu sei que posso recordar muitos passeios, ensaios, solos, traduções, bate-papos, estudos e outros que pelos caminhos que Deus nos deu a oportunidade de andar, nós pudemos partilhar.

Talvez não seja só por isso, mas, sinto uma imensa vontade de que todas as minhas palavras fossem ouvidas lá no céu como uma oração de gratidão, pela felicidade que eu ganhei quando pude perceber em você um amigo e um irmão, companheiro da jornada que Deus traçou e que me traz alegria e forças para continuá-la.

Obrigado por todas as coisas que eu pude aprender com você. Espero, também, que nada no mundo possa separar-nos do amor de Cristo que está em nós e que nos fez irmãos.

Obrigado porque você serviu de inspiração para uma canção sobre amizade, amor, Deus, porque afinal de contas são sempre bons momentos.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 10 de maio de 1983.

BONS MOMENTOS

Algo tão bonito pode surgir
Quando temos bons momentos pra sorrir
Move o céu, as aves vêm cantar em gratidão
Querendo mostrar-lhe, amigo, a minha canção.

Quando lembro de pequenos festins
Que fizemos nos caminhos por aí
Ergo a Deus a oração em forma de canção
Feliz por sentir em você um amigo, um irmão
Feliz por saber que você é um amigo, um irmão.

"A amizade entre dois seres é algo que nem os mais complicados sistemas podem explicar. Ainda bem que coisas tão grandes podem ser expressas por outras tão simples: poucas palavras, pequenos acordes e um profundo sentimento de gratidão."

Wellington de Oliveira Teixeira, em 10 de maio de 1983.

* Esse foi o texto e a música que eu fiz para aniversário de Anderson Gonçalves, no período em que participava da 1ª Igreja Batista em São Gonçalo.

** Na arte a foto é de Carlos Leonardo da Silva Querino, um grande amigo.

11 de mai. de 2008

Ponto final

 Cavalo-Afeto, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 08/03/1999. Cavalo-Afeto, criado em 08 de março de 1999.


Mais
Mais sóis
do que
só.
À beira-mar - Karê Chigres .


Triste é o sonhar demais quando a gente se desilude.
A gente constrói mundos encantados demais para serem reais.
Às vezes a gente faz de conta que não sabe que é só sonho:
tem que fazer pra poder viver, tentar ser feliz.
Só que a gente quer demais,
tenta demais e acaba por sofrer demais.

Difícil querer e fingir.
Sorrir e brincar nos momentos em que se quer ir mais além.
Para além de.
Apenas ser. Quem sabe ter?
Ou crer que algo possa mudar ou nos mudar
e mudando nos dar um pouco de paz.

Olhar para não ver, temendo o querer e o perder-se.
Deixar que as sombras invadam a mente e o coração.
No fundo, dominem a paixão,
esfriem o amor, conquistem o temor
e nos faça respirar outra vez.

Silêncio mortal, erro fatal, desespero total
Ser bom o ser mal?
Não crer-se o tal, dar ponto final,
tornar-se livre.


Wellington de Oliveira Teixeira, em 06 de outubro de 1989.

Valcir com 27

Foto: Valcir Goncalves
E o mestre disse em meio ao silêncio: 'No caminho de nossa felicidade encontraremos o conhecimento para o qual escolhemos esta vida. É assim que aprendi hoje e prefiro deixá-los agora para seguirem o seu caminho como desejarem'.

Desde longo tempo o universo caminha. Caminhos infinitos para os nossos padrões são propostos. E ele os percorre passo a passo em sua jornada pelo eterno. Há explosões, destruições, novas raças, outros elementos combinados. Ele os percebe, os apreende e aprendendo sua lição segue em frente.

Caminhos são caminhos e o que difere é o modo como entramos neles e os encaramos ao percorrê-los.

O eu individual não é diferente do todo, pois o universo individual é tão amplo quanto o geral. Nele também haverá propostas de caminhos infinitos com todos os acontecimentos que possibilitarão o conhecimento.

Um caminho jamais é um caminho como uma pista de corridas, onde se pode prever os movimentos que se deve fazer para o próximo passo. É mais como um '21' onde cada lance é um risco e cada decisão define vitória ou derrota na rodada; onde a força da vontade luta contra a sorte e o acaso da seqüência de cartas embaralhadas.

Um cavaleiro sai com o cavalo para a batalha. Vai veloz pelos campos ao redor, sente a brisa tocar-lhe, seus cabelos se movem. A cachoeira ao seu lado jorra indiferente ao seu destino.

Ele vai para a peleja confiante em si, apesar do temor. São duas guerras que ele trava: a exterior, em relação aos seus semelhantes, e a outra consigo mesmo.

A cada volta uma dádiva, um conhecimento e uma força renovada, que são ampliados nos embates e nos confrontos: um preparo para o que vier pela frente.

Mas um caminho só se torna caminho se tomamos consciência de que o percorremos, senão - o que em si não tem nada de mal - só estamos dando passos a esmo.

E, então, aprendemos sempre a dar passos maiores, mais precisos, tendo forças para desbravar terras virgens, desconhecidas. Indo sempre avante, tendo como metas a liberdade e o conhecimento.

Gozando todos (e em todos) os momentos. Tirando alegria de tudo e dividindo com todos, em todos os caminhos.

Mantendo o brilho aceso, o olhar firme, uma vontade soberana e uma disposição de mente aberta.

Poder para expressar-se, poder para ser; poder para entender-se, poder para ver.

Amplidão de fronteiras, desfazendo os limites e os territórios demarcados previamente como percurso.

Ultrapassando esquemas, profecias e formas. Tornando-se um com UM. Diferenciando o diferente e descobrindo que o um é feito de todos.

Sem um eu para defender, sem uma verdade para impor; sem um desejo sem declarar, sem um dor a que se entregar.

Construindo no todo um tudo feito à partir do nada. Entendendo que o exercício da vida é o que nos torna o que somos.

E trazendo pro lado todo aquele que também quer ter um outro ao lado. E lado a lado prosseguindo a caminhar.

Há muito o que aprender.

Felicidades, Valcir.

Friends Are Friends Forever!!!


Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de setembro de 1992.


* No aniversário de 27 anos do meu melhor amigo, irmão de alma, companheiro da grande jornada e nem sei mais o que dizer. Amor e gratidão eternos por sua amizade.

Um Verso Singelo

Ansiedade Não, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 07/07/2005.
Ansiedade Não, criado em 07 de dezembro de 2005.


A minha verdade nada tem a ver com a tua. Mas ambas são importantes naquilo que representam para nossas vidas.
Jorge Laureano*

Um verso singelo

É isso que eu gostaria de fazer. Não algo pomposo. Simples como um sorriso sincero.

Não queria estar preocupado comigo quando, depois vier a lê-lo sem esse sentimento que tenho guardado com esmero, pois estranho ver-me tomado deste amor tão distante do meu intelecto, talvez, por isso, mais vero, com uma verossimelhança maior com a faceta de mim que esbanja sensibilidade e vive do que é terno.

Mas onde encontrar essa raridade nesse mundo mais próximo do sofrível e do que beira a inferno? Onde achar essa fragilidade que traz em si o brilho das pedras mais puras e a transparência que invejo?

Então me ponho a escrever, percorrendo um caminho sem o que diria ser um destino certo, tanto pelo prazer de ir quanto de buscar, e isso faz bem. Melhor que se sentir num cêrco, melhor que sentir-se impedido ou de sentir-me só, num oceano vazio imerso.

Algo como asa vai tomando corpo em mim e eu me sinto capaz de sobrevoar o que em mim é deserto, de fazer-me alçar vôos na mente e no coração, para ter uma visão mais clara do que está no térreo.

E é bom deixar-me levar nos quase-impossíveis sonhos que ainda teimam em sobreviver em meu peito, pois através deles eu posso sentir-me mais próximo dos que gosto, dos que não passaram com o inverno, e como canção, num movimento allegro, mesmo na lembrança, trazem primavera, renascimento eterno da vida, da imaginação, do afeto.

E, nessa viagem, mesmo não conseguindo achar tal verso, eu me preencho do doce sentimento de completude, uma paz que só se atinge quando se alcança o etéreo.

E meu amor me faz ver que não sendo o que eu esperava a perfeição, serão sempre aqueles que amo que me darão o impulso necessário para cruzar a barreira que nos separa do que é em si mesmo límpido e belo, porque Amigos São Amigos Pra Sempre

"…porque o tempo de uma vida não basta para se viver uma amizade!".


Wellington de Oliveira Teixeira, em 21 de abril de 1995.


* Minha homenagem a um homem que me mostrou com a sua vida o poder do amor: minha gratidão eterna.

6 de mai. de 2008

Tiago

Foto e Arte: Wellington de Oliveira Teixeira Tiago Abs Gonçalves, em 1994.

Soube hoje que você iria nascer no tempo e no espaço, dividiria esta ilusão mágica que Deus nos permite para que possamos aprender juntos.

Sua sabedoria, mesmo agora, já é tão bela e a sua experiência já é tão incrível que deve ser algo super maravilhoso. Penso que eu não consiga lembrar da minha. Viva-a tão intensamente de modo que ela fique guardada em cada célula de seu corpo que está sendo, agora, tecido para envolver a luz infinita que é você, hoje. O engraçado é que vão pensar e lhe fazer acreditar que você é ele. Talvez, por esse motivo, se torne até difícil para você desfazer a força da idéia da dimensão temporal.

Mas lembre-se disto: você é fruto de amor. De seus pais, do meu. E amor não tem limites. E da mesma forma que eu converso com você, hoje, apesar de amanhã nós nos utilizarmos de diálogos intermediados por palavras, essa comunicação vai continuar sem que a gente perceba. Melhor, sem que as outras pessoas percebam, porque nós a sentiremos…

…E a sua fala será maior, terá maior intensidade, por que a sua alma estará acostumada à minha entrelaçada e sem distinção, porque nunca houve, nem haverá qualquer separação entre nós.

E nos olhos, ainda que já meio envelhecidos deste meu invólucro, haverá aquele brilho especial, novamente, quando você já maior fôr, contra todo o caminho enredado de sua época, abrir o seu Tao de Conhecimento - que também não terá retorno - e decidir reacender o brilho do seu ser eterno na fala, nos atos e nas atitudes até ultrapassar outra vez o que lhe deram como casulo para gestar a borboleta eterna, e novamente voar para aquela Luz Infinita que estará nos esperando lá fora, na imensidão.

Com profundo e ilimitado e atemporal amor, do padrinho e companheiro de viagem pela vida.

'Porque eu bem sei os pensamentos que tenho sobre você, diz o Senhor: pensamentos de paz e não de mal, para lhe dar o fim que você espera.' (Jeremias 29:11)

'E se alguém desejar sabedoria, peça-a a Deus, que a dará em abundância e nunca lhe jogará na cara este bem que fez.' (Tiago 1:5)


Wellington de Oliveira Teixeira, em novembro de 1991.

Pra ninar Tiago

uma história linda vou contar,
fala de um país além do mar
onde moram nossos sonhos

muitas cores ficam a girar
e a luz não cessa de brilhar,
lá o sono vem em um encanto

lindos sons irão soar,
sol e lua vão dançar
e as fadas vão estar sorrindo

sei que os anjos a brincar
pr'o seu sonho vão voar
e o Tiago vai dormir tranquilo.


Wellington de Oliveira Teixeira em 21 de setembro de 1992.

5 de mai. de 2008

É nele que eu reconheço…

Inocência, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 24/11/2007. Inocência, criado em 24 de novembro de 2007

Eu conheço um planeta onda há um sujeito vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão somas. E o dia inteiro repete como tu: 'Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!' Mas ele não é um homem; é um cogumelo!
O pequeno príncipe - Antoine de Saint-Exupéry


Hoje sol e chuva abriram um caminho juntos, e o vento não quis ficar de fora. As nuvens, elas resolveram nublar o céu mas o sol, teimoso, manteve suas forças e enviou seus raios por entre elas.

Havia árvores balançando, algumas até mesmo se inclinando ante a força do ser invisível que as movia, tentando arrastá-las junto consigo.

E eu vi os embates se sucederem. A natureza mostrava seu lado guerreiro, sem que eu pudesse perceber uma sombra sequer do que chamamos de dominação ou uma força subjugando as outras.

Havia paz. Paz em mim. Não do tipo de paz expresso na tranquilidade e sossêgo total. Essa não.

Havia paz. Mas aquela do pequeno pássaro dormindo em seu ninho, instalado no tronco de uma árvore cujos galhos de debatiam fortemente.

De repente ele abre os olhos, vê o que acontece ao seu redor, ajeita-se no ninho, de forma a ficar mais protegido do vento. E é com esforço que consegue uma posição melhor. Quando conseguiu, olhou ao seu redor novamente e tranquilamente adormeceu.

E eu viajei…

Onde, antes, eu havia encontrado um olhar daquele? Onde houvera encontrado tal força e magnetismo?

Filhote, como outros que já conheci, parecendo indefeso num corpo pequeno mas com uma força interior que se expandia na hora dos desafios apenas para voltar a repousar…

Criança, que sozinha tem de encontrar caminhos, soluções para as questões que o mundo lhe propõe…

Ser eterno, cujo conhecimento além da forma e além das fôrmas sobrepõe-se, manifestando-se com um poder além dos limites…

Brilho de alma, toque de anjo, força do olhar. Sim, uma força que atravessa meu coração. Escrutina a minha alma, revela-me por inteiro.

Isso mesmo! Não é só acontecimento ao acaso, pois toca meu corpo e cria simultaneamente uma ponte entre as eternidades de nossas almas; pronuncia palavras que meu ouvido interior capta, propagando-se como um eco em direção aos conhecimentos mais profundos que me sustentam.

Há tempos que procurava uma espécie de brilho que ia iluminar meu ser, meu caminho. Olhei para estrelas, percebi seus brilhos e aprendi muito com elas. Mas não era o brilho que eu procurava.

Até que um dia os caminhos da amizade e do amor se uniram para fazer a sua parte nos rumos do universo e nos encontramos.

E aí… bem, quando você me olhou, Leonardo, o mundo se transformou. Se tornou mais infinito, mais profundo, mais perfeito. E brilhou no seu olhar.

Um brilho invulgar que até hoje é nele que eu reconheço.


Wellington de Oliveira Teixeira, em 28 de setembro de 1992.

* Para Leonardo Perrier de Faria Valentim, nos seus onze anos - primeiro da segunda década.)

4 de mai. de 2008

E se foi o tempo…

Álibe perfeito, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 05/07/2007 Álibe perfeito, criado em 5 de julho de 2007*.


Em um universo assim fragmentado não há Logos que possa reunir todos os pedaços: não há lei que os ligue a um todo…
Talvez o tempo seja isso: a existência última de partes de tamanhos e de formas diferentes que não se adaptam, que não se desenvolvem no mesmo ritmo e que a corrente do estilo não arrasta na mesma velocidade.
Proust e os signos - Gilles Deleuze

E se foi o tempo,

O seu tempo. O seu tempo se foi. E eu o vi não muito longe. Tristemente o vi, porque ainda não aprendi que é necessária a despedida para que haja reencontro. E lutei comigo mesmo porque é muito difícil abrir mão do que acreditamos ser nosso: um sonho quase que possível. Semi-possível — semi-real. E enquanto o tempo se ia, eu não quis acreditar que se ia porque não via que era o seu tempo e não o meu. E seu tempo era o que era necessário.

E por ir-se o tempo,

Era de tempo que você precisava. O tempo que reconstrói o mundo que se desfaz dentro e fora de nós: o tempo que pode ensinar o verdadeiro sentido dos nossos passos: passos de fuga ou refúgio? Tempo que mostra o refugo que precisamoss retirar da nossa alma para que não apodreça e em apodrecendo nos apodreça juntamente com ele.

E se foi o sorriso,

O seu sorriso. O seu sorriso se foi. E eu o vi não muito longe. Tristemente o vi, porque era apenas um esboço que a necessidade impediu de se tornar uma sonora risada. E não lutei mais comigo mesmo, porque é muito difícil não acreditar que temos algo que é nosso: um sorriso espontâneo. Sempre possível - sempre real; e enquanto sorria eu quis acreditar que se ia era porque eu vi que era meu sorriso e não o seu. E o meu sorriso era o que era necessário.

E por isso se foi,

Mas ao ir, abriu espaço para outro vir ocupar seu lugar. E não tomou nem se apossou do que não era seu, pois era lugar de ambos. Lugar de muitos sorrisos. Um bando de sorrisos capazes de compartilhar do mesmo alvo-objeto de sua existência. E partiu e por isso se foi: havia alguém que precisava dele. Alguém precisava voltar a sorrir.

E assim eu me fui,

Fui para que em alguém o sorriso voltasse e, em voltando, muitos sorrisos fossem de mim, por muito tempo e pudessem perdurar dentro de mim, que estava quase vazio deles quase o tempo todo.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 2 de fevereiro de 1995.

Minha imensa e especial gratidão à Denise Farias da Fonseca que ajudou ao 'meu menininho' não ter medo de tornar-se um homem que gosta de ser apenas um garoto.
* Texto na arte: trecho de Nosso fim, nosso começo, de Guilherme Arantes.

E depois largar por ai…

Grávida, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 18/09/2005. Grávida, criado em 18 de setembro de 2005.

Nada existe de mais difícil do que entregar-se ao instante.
Essa dificuldade é dor humana. É nossa.
Eu me entrego em palavras e me entrego quando pinto.
Água Viva - Clarice Lispector.

Eu gosto de brincar com as palavras, deixá-las percorrer a minha mente, correr por entre meus pensamentos, varrer o silêncio que, nos momentos em que me sinto sozinho, não é o que me dá tranquilidade;

Eu gosto de falar para dar voz a minha razão e calar para dar voz aos meus pensamentos;

Eu gosto dos intranqüilos movimentos que fazem as vogais, as consoantes, as sílabas, as seqüências de letras perante meus olhos e dentro de meus ouvidos, que refletem-se com ecos cautelosos dentro/fora de mim, gerando gestos gentis, gélidos ou geniais, mas sempre com vívidas expressões;

Eu gosto de deixar-me levar pelas proposições que me vêm a cada encontro: são brancos, negros, mulatos, cafuzos, mamelucos, gente careta ou maluca, tradicional ou pós-pós qualquer coisa, que só olham pra trás e/ou que fitam horizontes, por que gosto de tipos e dos tipos, diferença estampada nos movimentos, nos olhares, a cada reencontro;

Eu gosto de compartilhar vida, de celebrar todos os momentos, eu gosto sentir-me acessando fontes novas a todo instante: sou uma figura inquieta que quer passagem, quer conquistas, quer sonhos, quer estar aí pro que der e vier;

Eu gosto de ser e estar, mesmo sem crer nesse 'eu' que repito tanto a todo momento, talvez porque eu queira ter um 'eu' de estimação pra criar e depois largar por aí numa estrada qualquer da vida….


Wellington de Oliveira Teixeira, em 28 de setembro de 1995.

* Gratidão eterna à Rosilda Dias de Freitas que me ofertou o livro Água Viva usado na composição de sua monografia (os muitos momentos que compartilhamos ainda são lembrados com carinho!).

2 de mai. de 2008

Eu...

Pensando em você, criado por Wellington de Oliveira  Teixeira em 23/08/2007.
Pensando em você, criado em 23 de agosto de 2007.


Sou um ser concomitante:
reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro,
o tempo que lateja no tique-taque dos relógios.
Água Viva - Clarice Lispector.


estive pensando em você,

não fui muito prevenido, não; deixei que meu pensamento fosse encontrá-lo e, mesmo em pensamento, não tentei atrair demais o seu pensamento. Todos tem o direito de não querer ser incomodado;


estive separando alguns textos para você,

não fui muito diretivo, não; escolhi alguns que lhe permitissem estudar e até mesmo se aprofundar, fiquei com eles na intenção de repassá-los para você, se quisesse. Todos tem o direito de recusar qualquer coisa, se não quiser recebê-la;


estive a sua procura,

não fui a muitos lugares, não; sabia onde encontrá-lo, e mesmo assim, apenas me coloquei na posição onde sempre sou encontrado. Todos tem o direito de não querer ir ao encontro;


estive sentindo uma dor estranha,

nada muito definido, não; apenas uma sensação de exclusão, de afastamento, que me foi tomando, aos poucos, por que eu pensei nela e ao pensar fui permitindo ser incomodado; uma sensação de inutilidade das minhas ações, que foi me paralisando aos poucos, porque eu não recusei aceitá-la; uma sensação de abandono, de ter sido esquecido em algum recanto sem valor no Universo, porque acreditei que eu estaria longe de você, se você quisesse.


me vi fugindo de mim, fingindo pra mim, traindo meu ser,

para não sentir essas sensações-decepções. A outra parte pode nos partir mais do que a divisão que se dá em uma alma e a necessidade da busca da outra metade, que nos completa.


me vi escrevendo sobre mim mesmo,

para parar de me trair os ideais, a busca, a potência e o fluxo da vida, que é pleno em si mesmo e nada deve paralisá-lo.
para parar com as fugas, fingimentos, pois quando se faz isso consigo mesmo, está-se fazendo com a sua metade, as outras pessoas ao redor, a humanidade, a Alma do Mundo: a Deus.


me vi escrevendo para você,

para parar de me machucar com esses pensamentos;
para parar de fazer coisas que não são do seu interesse;
para parar de lhe procurar;
para parar de me deixar sentir coisas que não mereço;
para acabar com fugas, fingimentos e traições a mim mesmo;
para não escrever só para deixar de sentir dor.


Wellington de Oliveira Teixeira, em 12 de dezembro de 1998.

30 de abr. de 2008

Peralta Celeste (saudade do Bruno)

Vai com os anjos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 13/11/2000*
Vai com os anjos, criado em em 13/11/2000*


Peralta:
menino travesso, traquinas.

Quem te conheceu sabe disso, guri.

O céu deve estar desesperado, não é? (pode contar pra mim…)

Sabe,

Sorriso pode ser coisa boa, mas o seu é coisa rara: ao mesmo tempo que encanta e cativa, desarma. Qualquer um que tentou ralhar com você sabe disso. (tô mentindo, cara?)

E mesmo sabendo disso, foi tão bom receber um…

Obrigado!

Por que? Por você ser sempre você.E se acha que vou esquecer as suas artes, pode desistir, mas vou aliviar – como sempre… – e vou falar de outro dom especial seu que certamente todos os amigos chegaram a conhecer: o carinho (quem recebeu um abraço, um beijo ou piscar de olho que confirme!)

Divinamente inspirada essa mistura que faz de você alguém sem igual, dessas que por onde chegam deixam logo a sua marca de maneira indelével como essa que guardo comigo e provoca essa manifestação.

Certamente falta não é a palavra pra ser usada. Duvida? Então pense comigo: como se pode sentir falta de alguém que está tão presente nas lembranças, nos sentimentos e nas marcas nos corpos que sentiram o seu toque? E quer saber mais? Pois bem, aí vai: nós nos eternizamos em todos aqueles que nos amam. Está preparado para aturar todos nós de uma vez só, todos os dias? Espere, então, para ver quando estivermos todos do outro lado da cerca… aí vai fazer mais sentido ainda as palavras que dizíamos na roda de amigos:

No Limit!

porque não haverá nenhum para nos separar.

Até lá, continue armando por aí e Cai na Paz, Bruno, porque Amigos São Amigos Prá Sempre!!!

Wellington de Oliveira Teixeira, em 13 de novembro de 2000.



*com acréscimos em 30/04/2008

Há muito tempo atrás eu amei

Revelando aos poucos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 02/12/2007
Revelando aos poucos, criado em 02 de dezembro de 2007

Há muito tempo atrás eu amei. Fui tomado pelo amor. Tudo o que eu fazia era em função desse amor. E, mesmo percebendo sentimentos semelhantes no ser amado, não foi possível concretizar com tranqüilidade esse amor. Houve dúvidas, medos, fugas, momentos de desespero e sofrimento. Poucos momentos de paz. Mas, cada um que acontecia era suficiente para criar um desejo inesgotável que só se saciaria com um novo encontro pleno. E a tortura recomeçava. E, na expectativa, escrevia músicas, textos, poemas; tocava violão, piano, flauta; regia conjuntos, corais, congregações; ia montando as peças de um quebra-cabeças para que o vínculo dessa ligação pudesse ser mais forte que as dificuldades pessoais

Olhares se buscavam a cada momento. O corpo se inquietava na expectativa daquele brilho especial que fulminava, que enchia de energia, que transformava o ambiente. E era incrível como, de repente, o ambiente que antes estava vazio com duas mil pessoas, agora tornava-se completo com uma só, por que surgiu o sorriso do encontro. Contido, recatado e pleno de certeza com relação à expectativa que tinha gerado, da certeza de saber ser o único que poderia gerar aquela transformação no outro. E, mesmo do alto e distante, ele vinha como flecha certeira, fulminante para produzir sua mágica: justaposição de olhares – linha direta com a alma: um carinho; paralelo de sorrisos – linha direta com um corpo que anseia o aproximar-se, o tocar: um beijo. E o sorriso vem maroto, safado, casto e ingênuo, simultaneamente. E são olhar e sorriso relâmpagos: duram apenas segundos. A exposição seria fatal. Na galeria da vida, quem se expõe paga um preço alto

O amor foi um processo em turbilhão, conduzindo nossas vidas ao encontro do inexplicável, do inesperado do infinito entre a esperança e o desespero, entre as certezas e as dúvidas, entre a loucura e a razão

Era muito legal e, às vezes, muito confuso também. À quem dar satisfações? Com quem compartilhar os fantasmas que viviam dentro de nós? A quem recorrer senão a nós mesmos? É certo que cada um falou um pouco do que sentia com alguém muito próximo. Mas não bastava: era muito sentimento, muito desejo para a tentativa de se transmitir. Até hoje as palavras não me vêm quando tento explicar o que acontecia. Tudo só ficava explicado no momento da cumplicidade do encontro. Era o momento da entrega. Ali, abríamos mão do eu em função de um eu que éramos nós. A completude só podia ser vivenciada enquanto juntos, enquanto entregues um ao outro, mesmo no fugidio instante que escorria muito rápido por entre nossos corpos. O tempo do copo de vinho era o tempo da expectativa de um ônibus; o tempo de um almoço era o tempo de correr para o trabalho. E a ânsia por esses momentos era total. Causava uma inquietação, quase que um certo desespero

E, ainda assim, o tempo do amor era só dele mesmo. O único dono de tudo. Era tempo estranho e alheio a tudo: prolongava-se enquanto eu apreciava seu corpo sob a água do chuveiro, quando tocava parte por parte dele, suavemente, com a ponta de meus dedos. Era como se tudo estivesse se passando em câmara lenta, fosse um lapso no tempo oficial e no biológico. Era o momento sagrado. Ali eu era deus e era eterno.

Só que nem sempre se pode ser deus. E, de repente tudo caia por terra: o tempo da correria chegava. Estávamos atrasados, precisávamos correr, arranjar desculpas, tentar marcar o próximo encontro – que nunca acontecia como se definia ali. Na vida de cada um, havia muitos outros elementos a serem considerados, que não apenas aqueles que se tentaram controlar.

E havia, também, as suas dúvidas. Cada encontro pleno trazia junto a si um período de conflito em relação ao que se vivera. E era preciso um período de retração para dar conta das inquietações com relação àquilo que se aprendera no convívio com os outros – família, igreja, sociedade – que se opunha àquilo que se aprendera com a própria vida – o amor não tem objetos pré-definidos: ele chega, toma conta e fim.

Com as dúvidas, a fuga. Você marcava encontros para não ir. E, a cada desencontro, eu ficava tomado de desespero, de ira, de tristeza. Marcava-se uma impotência, no lugar de uma plenitude natural, nos encontros. Era uma falta que se manifestava contra as expectativas geradas pela antecipação às alegrias do encontro. Àqueles que se cativam é cobrado um preço: o próprio cativeiro. O aprisionamento aos atos do outro. Uma certa lei de reação imediata, que não podemos controlar, à qualquer ação do objeto do desejo. E, contrariamente à lei da física, em que a reação vem na mesma medida que a ação, a reação gerada por seus atos era surpreendentemente mais forte, criando gestos, atitudes e práticas impensadas, incontidas e intempestivas. Em contrapartida, você já estava sob o domínio da angústia, do conflito e não via outra saída senão a fuga. E esta gerava uma violência contra si mesmo, contra a sua interioridade, contra seu desejo mais profundo. Gerava também a certeza de estar magoando o objeto amado.

E era como se houvesse uma caçada. Era preciso que eu pudesse prever suas ações para que pudesse desfazer seus efeitos. E me vi, em alguns momentos, criando uma cerca para impedir a sua fuga. E, se conseguia, a força do seu desejo de fugir se expandia. Até que, o que tentou foi gerar em mim um desejo de desistir daquele amor, para que se fizesse mais fácil o vencer seu próprio amor e seu poder, já que ficaria solitário naquele amar. Mas ele se lhe mostrava indestrutível. E não havia outro meio senão o ceder à sua força. Era imperativo um novo encontro. Ao fim de tudo, por fim, você conseguiu o que queria: eu desisti do querer, do estar e do amar. Prossegui na vida, com um certo vazio e você teve que lidar sozinho com o amor que tentou destruir e as conseqüências que ele veio a cobrar de você pelo seu ato.

Só que a alternância entre um momento de êxtase e de milhares de angústia havia deixado, dentro de mim, uma marca. Sombra, de início, à uma cicatriz evidente, ao final, se tornou um aviso de alerta para que eu não repetisse mais aquela experiência. Nunca mais me permitiria passar por aquele sofrimento outra vez. E, durante muito tempo, ela foi polida para que brilhasse sempre que o coração desejasse experimentar um amor tão intenso quanto o que foi vivido. E funcionou. Me permiti paixões pequenas – um substitutivo ao amor – que me trouxeram momentos de grande prazer. E, se percebia um movimento em direção a algo mais profundo, eu me fazia recordar cada momento de dor passado, anteriormente, e me fechava em milhões de defesas. Apesar disso uma paixão especial se insinuou e tomou forma dentro de mim. E eu percebi que era capaz de silenciá-la e não torná-la evidente. Muito mais tarde, quando já controlada dentro de mim, falei sobre ela com a pessoa por quem me apaixonara, sabendo que não iria ter maiores conseqüências: a paixão aparecera, apenas em alguns momentos, em uma ou outra manifestação de carinho.

E, nesse período, amigos não faltaram. Toda a carga de sentimento e ações que o amor não podia expressar era dirigida aos que estavam próximos de mim. Fui dedicado, cuidadoso. Criei maneiras muito distintas de me aproximar e de cultivar os encontros. Fui um grande amigo de todos os que compartilhavam comigo a proximidade. Me tornei o confidente, o conselheiro, o ajudador de todos os momentos. E recebi, em troca, muito carinho e dedicação por parte de todos. Não havia inimigos. Não havia os menos atendidos.

Aprendi muito com cada um dos amigos. Vi minhas fraquezas espelhadas em muitos rostos. Vi minhas qualidades se expressarem em muitos momentos diante deles. Me fortaleci e fui apagando, sem querer, o brilho da marca de dor que carregava. Ela foi se desbotando, até se tornar uma sombra pálida, que poucas vezes conseguia ter minha atenção.

Um dia, porém, vi você retornando. Chegou para matar saudades. E eu me vi diante daquele ser que eu amara, um dia, agora tomado da certeza de que não havia como vencer seu amor e sentindo-se incapaz de lutar contra a sua própria solidão. Sofrera muito nas tentativas de novos encontros. Esgotara a sua força. Sentia-se descaracterizado. Não tinha mais como negar que se perdera ao abrir mão do amor que o tornara alguém especial. E queria tentar novamente. Queria ser amado. Queria ter de volta aquele ser que o tornara forte, que o conduzira ao mais profundo de si mesmo – como nas suas próprias palavras eu o ouvi dizer.

E vi as marcas que a dor produzira naquele ser outrora tão amado. Os anos de fuga cobraram seu preço. Os anos de fingimento cobraram sua cota da energia de vida, enfraquecendo-o. O brilho da esperança e do desejo, jogado numa cartada só: tentar encontrar o que havia sido perdido.

É certo que me entristeci. Era uma pena ver alguém que tinha sido tão especial naquele estado. Mas nada havia a fazer. Não possuía a capacidade para fazer o mundo voltar atrás e trazer de volta toda a plenitude dos meus sentimentos. E, estava incapaz de gerar – por mim mesmo – aquele amor.

Tentei, a um pedido seu, dar-lhe um último momento de prazer. Mas, não houve como. Meu corpo se negava a possuir um outro que o ferira tanto.

Ali, me despedi de você, de seus caminhos.

E, agora, enquanto coloco nas páginas essa história, deixo para o mundo, aquilo que antes carregava dentro de mim: me permito ser livre para amar novamente. Inclusive, sofrer novamente. Sei que se não fui hábil numa primeira tentativa, não quer dizer que em outras isso se repetirá. Corro riscos, é certo. Mas vejo-me com um novo olhar. Sou uma nova expressão de mim mesmo. Criei meu arsenal de coragem para encarar, de frente, o que a vida me propuser. Tenho vontade de me recriar todos os dias, sem que isso me desfigure. Do passado, guardo uma recordação do que me vi capaz de vivenciar: forças de extrema beleza; faces de mim mesmo que não veria se não tivesse me permitido amar. E, mesmo que isso tenha acontecido há muito tempo atrás, sei que o potencial que essas forças produziram está vivo dentro de mim. E creio que estou pronto para liberá-las.

Vou fazer trinta e sete anos. Que bom que isso esteja me acontecendo. Estou seguindo em direção a um desconhecido: meu futuro. E estou feliz.

,Wellington de Oliveira Teixeira em 09 de novembro de 1998.

29 de abr. de 2008

Meu ser e meu não-ser (se reinventando)

 Desprotegido, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 05/11/2005. Desprotegido, criado em 05 de novembro de 2005.

Meus investimentos no terreno do não-ser parecem surtir efeitos em quem se encontra ao meu redor. Meu não-sou-eu tem o poder de cativar, encanta muita gente. E a minha brincadeira ganha conteúdo porque ajuda. É, isso mesmo! Ajuda. Transforma pensamentos enrijecidos pelo costume, permite a ruptura de alguns padrões que estavam aprisionando.

Na noite passada, eu estava especialmente inspirado na minha performance: usei e abusei de exemplos de como a vida poderia não-ser e gerar algo novo.

Vou, antes que alguém chame o meu não-ser de falsidade e eu não deixe claro meu modo de agir, tentar ir encaminhando meu discurso para o esclarecimento.

Encontrei algumas pessoas com caminhos tão diversos e com idades tão distantes entre si e me permiti ser um ponto de convergência entre elas. Fiz intervenções na vida de um através de questionamentos à vida de outros que estavam juntos na roda de conversa e esta ação foi gerando posicionamentos diversos, estruturando formas de pensar diversas e, em muitos casos, capturei aquele sorriso de canto dos lábios se formando que sinalizava as mudanças. E cada um que ia se satisfazendo ia saindo um pouco mais leve, um pouco mais feliz, um pouco mais esclarecido, com um percurso novo a seguir.

Vi alguns reencontros entre brigados, um encantamento ser manifestado com olhares e palavras diretas entre dois dos participantes e, conforme ia a madrugada embora, minha satisfação crescia, o nível de cerveja no meu sangue igualmente. Estava ficando naquele estado intermediário entre a sobriedade e a embriaguez. E, certamente, isso ajudou a minha performance. Fui cuidadoso com todos, generoso com alguns, carinhoso com uns poucos e fui audacioso com raros. E, quando o amanhecer se aproximava, aproximei-me de casa, despedindo-me de um ex-estranho que participou de um pouco mais de duas horas de conversa e com quem travei um bom combate contra o medo de ser o que não-se-é. Por fim, o sorriso de paz chega e ele se vai. Posso me encaminhar para casa, um pouco cansado, bastante triste e sentindo-me muitíssimo solitário. Melhor ir dormir. E, por três horas, descanso e, novamente, me levanto para um desencontrar-me com meus afilhados em algum ponto qualquer de São Gonçalo. Volto para casa e descanso mais três horas para ir participar com familiares de um agradável almoço - mais atividades, sorrisos, torcidas numa transmissão televisiva de futebol.

Retornando para casa, decido ver um filme após uma boa dose de café - necessário para não dormir durante a sua exibição de Ray na minha tv. Decisão correta: momentos de puro deleite com a arte cinematográfica. Um banho, para retirar de mim o dia que termina e gestar um novo dia, e decido escrever um pouco – essa tem sido uma atividade que me proporciona um pouco de paz-de-espírito – para, no meio do caminho, em contato telefônico com meus afilhados, esclarecer os fatores do desencontro. E mais um pouco de paz me preenche: tempo da delicadeza é o que me toca ao ouvir nas caixas acústicas do meu Expanium conectado via usb ao computador (por que tantos têm um certo desacordo com a tecnologia?). E, quando penso nisso, digo para mim mesmo, esse é um assunto que deve ficar para outra hora. Basta poder aproveitar, do modo como eu fiz, os recursos que eu tinha e, na tela do meu computador, ver projetados meus pensamentos, conduzidos por uma vontade de compartilhar esses momentos com um alguém cuja defesa racional não o impeça de viver um bom caminho, mesmo que estranho como esse.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 12 de outubro de 2005.