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25 de ago. de 2015

É preciso estender a visão de mundo

Visão de mundo, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 25-08-2015.
Visão de mundo, criado em 25-08-2015.

32. E o mestre disse em meio ao silêncio:
"No caminho de nossa felicidade encontraremos o conhecimento para o qual escolhemos esta vida. É assim que aprendi hoje e prefiro deixá-los agora para seguirem o seu caminho como desejarem."
(Richard Bach — Ilusões. As aventuras de um messias indeciso, p.25-26)

Às vezes preciso rir de mim mesmo, tenho bons motivos para isso: vario, flutuo, me desencontro uma boa parte das vezes. Assemelho-me, do atual ponto de vista, como as ondas do mar em dia ensolarado e ventoso — pode até ser algo lindo de se observar; mas em outros momentos, a percepção pode ser bem diferenciada, especialmente quando estou lidando com os processos de sobreviver e conquistar obstáculos ou intempéries.

Nem melhor nem pior que ninguém, até acredito que há processos de desenvolver a vida bem mais ricos que o meu e que me encantam. Pessoas capazes de dar nó em pingo d'água no enfrentamento de suas questões (e a de outros, simultaneamente).

Eu já adotei o modo aprendiz nesse jogo da vida. Nele, capitanear os rumos é algo bem complicado, mas necessário. Em algum momento é preciso deixar o banco da escola e ir praticar. Então, procuro estagiar e buscar experiências e experimentações com outros que possuem o mesmo objetivo; criar grupos de interação que me permitam produzir e absorver desenvolvimentos.

Quando reflito sobre o quanto fui isolacionista, até me surpreendo com essa prática atual — não foi a idade que a trouxe, disso tenho certeza; foi a vivência e a transformação da vivência em aprendizado. Aqui e ali, me obrigo a um encontro comigo, sozinho, para ver os resultados. Me debruço sobre os rabiscos produzidos, os altos e baixos do terreno conquistado e o alcance que a nova energia conquistada na caminhada me permitirá ir, na próxima aventura. Gosto tanto que adotei a nomeação de poder pessoal (encontrada nos ensinamentos de Dom Juan, um xamã da tribo Yaqui) para essa força propulsora da vida.

Por fim, faço uma arguição em nível bem profundo: Qual a força de vontade me guia? As propostas e práticas que adotei produziram caminhos de liberdade ou de aprisionamentos? Continuo em paz comigo e com o percurso que faço? Compartilho com outros guerreiros os seus e os meus modos de superação, sem invadir-lhe a jornada pessoal?

Só após responder cuidadosa e verdadeiramente a essas questões eu me permito seguir nessa busca de ampliar a absorção e a difusão desse espectro de energia luminosa que torna a vida algo melhor para todos. Há realidades e planos de realidade, todas com potencia para expansão ou desperdício da força que se tem. Uma coisa já faz parte do meu reservatório de conhecimentos: para ir adiante, vivendo com plenitude, é preciso estender a visão de mundo, interagir e unir forças*.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 25 de agosto de 2015.

* Este pode ser considerado um modus operandi da natureza da evolução. São consideradas espécies evolutivamente complexas, aquelas capazes de autoconsciência. Reconhecer-se no espelho tem sido o método de avaliação dessa capacidade. Primatas, golfinhos, orcas e elefantes compartilham com os humanos essa capacidade.
Em comum, essas espécies demandam um grande período de cuidado dos pais e uma vivência social posterior, resultando em desenvolvimento de emoções e entendimento da alteridade (eu e o outro). Diferentemente de espécies cuja relação social é totalitária (abelhas, formigas ou cupins possuem estratificação social), a evolução da inter-relação amplia a criação das conexões complexas que denominamos amor.

24 de ago. de 2015

Por um pouco de ulterioridade

Ulterioridade, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 24-08-2015.
Ulterioridade, criado em 24-08-2015.

O mundo é o seu caderno, as páginas em que você faz suas somas.
Não é a realidade, embora você possa exprimir a realidade, ali, se quiser. Você também tem a liberdade de escrever tolices, ou mentiras, ou rasgar as páginas.
O pecado original é limitar o Ser. Não o faça.

(Richard Bach — Ilusões. As aventuras de um messias indeciso, p.103-104)

Calma, amigo, aquele momento que a escuridão desce e cobre a visão tem duração e, daqui a pouco, a luz irá se insinuar o suficiente para produzir o ponto de referência tão necessário. É que chegou o momento em que é fundamental parar. O olhar deve se inverter, o dentro chama, aliás, grita.

E não importa onde você esteja, não se apoie em nenhuma estrutura que você já construiu, exceto sua plenitude. Sentir-se engolfado pelo nada não é algo sui generis, mas repetitivo e periódico: não perceber ou ignorar os avisos direcionando para adiante, ocupar a (tão em voga atualmente!) zona de conforto, que o seduziu, invocar o princípio da anterioridade… nada disso funciona mais.

A vida não é mar de cores o tempo todo — isso exigiria um nível de iluminação que seguramente a maior parte desse universo humano não conseguiu acender interiormente. Mesmo que apenas um daqueles mitos que nos levam adiante, aquilo que no senso comum é o irrealizável, o inalcançável, um ideal; nunca duvide de que é possível referenciar-se no adiante para construir um atual mais efetivo e pleno.

É que a vida sem esse senso de ulterioridade*, de possibilidades a serem atualizadas é um tremendo pé-no-saco (ou nos seios). Veja quantos juízes da vida e dos outros passeiam pelo mundo, ouça ou leia quantos discursos que transmitem apenas o ódio. Pessoas carregadas de um sofrimento interno tão grande que me comove.

Não quero fugir da responsabilidade de estar no aqui e no agora, de mim mesmo ou da dor necessária. Não é disso que se trata essa vontade de ulterioridade. Porque faz parte da vida, desde que nascemos, essa benção e maldição simultâneas do esforço para a conquista, do aprendizado da superação e a satisfação da conquista.

Certamente, lá na frente, também haverá muito choro, muito adeus, muito de tudo que nos é permitido como ser humano. É que, quando o muito do que causa dor vem e por muito tempo, é preciso um pouco de alívio imediato. Uma respirada durante o processo de ser engolfado por ondas potentes de experiências da vida.

Todos necessitam de um toque de diversão — induzido, se necessário — quais pequenos pedaços de felicidade que podem ser escolhidos como os proporcionadores da momentânea tranquilidade. Deserto demais enlouquece, cega, mata. E a vida exige equilíbrio: quando tudo escurece demais, é preciso produzir um ponto de clareza; e quando tudo está claro demais, é preciso produzir uma sombra de dúvidas. Só sujeitos enfraquecidos em seu poder de expressividade acreditam em tudo o que é dito; só sujeitos imbecilizados pela prepotência acreditam que sabem tudo. É preciso buscar constantemente o mais adiante e renovar a vida.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 24 de agosto de 2015.

* Usar memória e inteligência visando reflexão sobre o futuro. O possível de acontecer depois, que está além de, situado do lado de lá do aqui.
Produzir uma percepção instantânea relativa à capacidade de aprofundar-se, de prosseguir, diretamente conectadas às possibilidades que poderão ser atualizadas no posterior, no além deste momento.

22 de ago. de 2015

Além da inferioridade de estimação

Inferioridade de estimação, criada por Wellington de Oliveira Teixeira em 18-08-2015.
Inferioridade de estimação, criado em 18-08-2015.

O senso comum
  • faz coincidir causa e intenção: subjaz-lhe uma visão do mundo assente na ação e no princípio da criatividade e da responsabilidade individuais.
  • é prático e pragmático: reproduz-se colado às trajetórias e às experiências de vida de um dado grupo social e nessa correspondência se afirma fiável e securizante.
  • é transparente e evidente: desconfia da opacidade dos objetivos tecnológicos e do esoterismo do conhecimento em nome do princípio da igualdade do acesso ao discurso, à competência cognitiva e à competência linguística.
  • é indisciplinar e imetódico: não resulta de uma prática especificamente orientada para o produzir; reproduz-se espontaneamente no suceder cotidiano da vida.
  • aceita o qu; existe tal como existe: privilegia a ação que não produza rupturas significativas no real.
  • ;
  • é retórico e metafórico: não ensina, persuade […]
(Boaventura de Souza Santos — Um discurso sobre as ciências)

A marca da ignorância humana está em acreditar que rebaixando outro ser alguém se torna melhor. Erroneamente atribuída à classe mais pobre, essa atitude vem sendo ensinada e adotada por elites imbecis que buscam artifícios para suplantar concorrentes — todos são potenciais ocupadores de seu lugar, inimigos a serem combatidos.

Perdoem-me a parte do exagero e, talvez, o preconceito, já que há exceções. Mas exceções só confirmam a regra.

Não é genético, é produzido por séculos de ensinamentos equivocados onde superar é destruir o outro. Uma simples observação da natureza bastaria para entender que a seleção dos mais aptos tem como finalidade fortalecer para perpetuar o grupo. É uma competição, sim. Não para esmagar.

Interpretar como humilhação atrapalha absorver a verdadeira ideia propiciada pela competição: é preciso melhorar o uso das habilidades pessoais. O conceito é generalizável, vale para a construção do mais belo, mais durável e mais sustentável, também.

O poder da observação, da renovação e da avaliação crítica que os melhores resultados permitem são ignorados. Por bons motivos? Claro que não! Ensinados a focar a perda e ignorar o aprendizado, um egoísmo sem nexo ganha a dianteira. Há equilíbrio no universo: algo se retira, algo é reposto; em vez de perdas, há transformação. Esse conceito em nível mais pleno fica prejudicado por uma vaidade que não leva a nada.

Sentimentos de inferioridade impedem o aperfeiçoamento, mas há prazer em cultivá-los, como se fossem animalzinho de estimação. Não fosse assim, por que a insistência em magoar-se quando se é superado em um determinado momento? De crianças a adultos, de pensadores a atletas; vai além quem aprende com seus erros (*).

Pode parecer piegas, mas não o é de forma alguma: igualitarismo de recursos cedeu lugar à necessidade da carta na manga não ligada a qualidades individuais. Dúvidas? Pense nos atuais jogos olímpicos: quem tem melhores equipamentos ou tecnologias à disposição tende a vencer a competição. Afinal de contas, quem venceu? O atleta ou os tecnólogos? Vitória num evento não reflete diretamente capacidades pessoais. O fariam se os recursos estivessem disponibilizados indistintamente, já que em condições iguais sobressaem os mais aptos, tornando-se exemplos para os outros, estímulo à superação.

Reflita a esse respeito. Ao invés de mestres, são necessários gestores de ego. O atual fluxo que rege as sociedades modernas produz pessoas ressentidas, maldosas e práticas contaminadas por uma ideologia perversa. Em algum momento, por desvio da natureza, adotou-se uma subjetividade rancorosa: o outro torna-se um inimigo que precisa ser derrotado, desqualificado, destruído. Há prazer e ilusão de que isso torna alguém melhor.

É por isso que ocupar o primeiro lugar é tornar-se o mais detestado. Significa isolamento e sofrimento. Os famosos e suas rotas suicidárias: drogadicção, consumismo desenfreado, desconfiança em proporção exacerbada por causa do dinheiro, poder e fama. Seu troféu? O pedestal da infelicidade.

A maior e pior marca do enraizamento interno desse processo são profissionais e educadores que não atuam visando que aprendizes os superem — para os mestres no passado, a incontestável comprovação de mais altas habilidades de fazer era transmitir.

Una-se a mim, porque é hora reverter esse quadro. Imagine todos potencializando todos, coletivamente. Os que vencem determinado obstáculo ensinam seus métodos de superação e aprendem novos. Em novo slogan, solidariedade é sinônimo de felicidade. O efeito do uso do velho ensinamento (ao próximo como a si mesmo) é benéfico e evidente: um mundo que se transforma por ultrapassamentos benéficos a todos.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 22 de agosto de 2015.

* Boaventura defende no texto já que a ciência Moderna produziu conhecimentos (o cientista é um ignorante especializado) e desconhecimentos (o cidadão comum é um ignorante generalizado), a Pós-moderna deve conectar todas as formas de conhecimento, mesmo o prático ou vulgar do cotidiano, anteriormente ridicularizados. Mas destaca, ao reabilitar o senso comum, a necessidade de contribuir para o seu enriquecido por meio de um diálogo permanente com o conhecimento científico.
Um olhar acurado sobre a cultura e prática populares permite novos aprendizados às ciências. Sob o crivo da razão, seu funcionamento e reprodução são mais eficazes. Dessa visão, novos elementos renovaram nosso cotidiano: de artesanatos e perfumes ao uso de fibras de plantas na construção de casas ecológicas e resistentes.

20 de ago. de 2015

Liberta, libera e humaniza

Libertação e liberação, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 19-08-2015.
Libertação e liberação, criado em 19-08-2015.

Ao longo dos anos, a combinação de “intervenções humanitárias” mal pensadas e mal conduzidas com políticas restritivas e discriminatórias de gestão de fluxos migratórios e de refugiados pela União Europeia vem provocando a morte de milhares de seres humanos no Mediterrâneo, e também vem afogando a todos nós num mar de hipocrisia. Nesta triste fábula da política contemporânea, os únicos heróis são aqueles que conseguem sobreviver às guerras, à intolerância, à política europeia, às ondas e à nossa apatia.
Eu quero que prevaleça o direito de voar dentro das possibilidades individuais, alienando as negativas imediatas, os 'nãos' que constantemente se sobrepõem à vida. O monstro da desumanidade aprendeu a camuflar-se e embrenhou-se nas pequenas coisas consideradas ingênuas ou inocentes. Ele não precisa dar um bote, já se enraizou no superficial e aprofunda-se diariamente no social sob o pseudônimo de legalidade. É legal deixar morrer!

Uma cineasta alemã descreveu, numa entrevista, que enquanto viajam em cruzeiros caríssimos, afortunados observaram pequenos barcos de imigrantes sofridos, destituídos de suas mínimas condições de vida, obrigados a deixar o que lhes constituiu a vida para trás. Ajuda? Solidariedade? Claro que não!

Há uma reação europeia incrível a estes imigrantes: querem evitá-los a qualquer custo. Esquecem que são pessoas e possuem um direito fundamental a qualquer terra no mundo, porque todas as terras foram ocupadas desse modo: migração constante. A terra não pertence, ela é direito de todos os seres humanos. Só inumanos, tornados assim pela ganância e pela massiva construção de uma subjetividade conectada ao consumo e valorizada apenas pelas posses, não aceitam o fato.

Novamente, a organização de bolsões de ocupação pela Europa. Não bastam as favelas ou guetos do mundo, as regiões sem ação mínima do Estado para permitir condições dignas de vida.

Minha questão não é de pena. É um grito de alerta e uma exigência de respeito à humanidade que está sendo retirada de seres humanos. O estrangeiro é só um ser humano nascido em outra terra. Não são desocupados, não são bandidos. Muitos foram colocados à margem do consumo, despossuídos de si. Vivenciaram a desintegração de suas famílias, ficaram alienados de tudo, em nível tal que o conceito de vida vai se desbotando — diante da eminência da morte, a consciência será um luxo efêmero, que acabará assim como tudo o mais.

Sua dor deveria nos mobilizar para pressionar os governos a uma ação verdadeira de enfrentamento à pressão de empresas globais que não querem perder a facilidade da obtenção das riquezas das nações — estes, sim, verdadeiros homicidas e sanguinários ditadores.

Sou descendente de imigrantes que vieram expulsos de seus lares por conta da guerra — o modo de enriquecimento dos que produzem o mercado da balística e da morte. No Novo Mundo, encontraram no norte fluminense solo para plantarem, ensinarem a farmacêutica, cuidarem dos partos de seus vizinhos, e construírem cidades, desenvolverem a musicalidade e a espiritualidade. O sobrenome da família até recebeu honraria de Câmara de vereadores de Serro Frio pelo desenvolvimento trazido e compartilhado.

A miscigenação é capaz de, contra tudo o que possa desqualificá-la, produzir transformação positiva. Já fomos conhecidos como um povo que gentil, hospitaleiro, atencioso com todos os estranhos. Pena que o imperialismo comercial e financeiro nos ensinou o egoísmo, o pisar no outro para ser melhor. Não sei nomear o que isso tornou muitos — estes que atualmente são maioria dentre os que fazem discursos de ódio e xenofóbico*. Não há outra alternativa, senão reconstruir nossa humanidade por uma contraposição clara à hegemonia do financeiro sobre a vida.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 19-08-2015.

* Xenofobia
medo, aversão ou profunda antipatia em relação aos estrangeiros, desconfiança em relação a pessoas estranhas. Ocorre a partir das percepções de um grupo em relação aos externos: por medo da perda de identidade, por suspeição acerca de suas atividades, via agressão ou desejo de eliminar qualquer presença que possa produzir impureza racial. Seu alvo, além de pessoas de outros países, inclui outras culturas, subculturas, sistemas de crenças ou características físicas. Mais profundamente, é o medo do desconhecido, mascarado como aversão ou ódio, gerando preconceitos.

18 de ago. de 2015

Aos profetas de si mesmo

Delineando futuros, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 17-08-2015.
Delineando futuros*, criado em 17-08-2015.

Pode até ser que o seu corpo e as demais características físicas do mundo que você está captando no momento sejam uma ilusão, mas é impossível que a sua capacidade de pensar sobre essa suposta ilusão também o seja. […]
Você pode tagarelar por horas a respeito do espectro luminoso e dos comprimentos de onda da luz visível, mas estará basicamente perdendo o seu tempo – a explicação jamais será suficiente para transferir a experiência de enxergar cores para mente dessa pessoa.
(Reinaldo José Lopes — O que é a consciência? Em: 11 maiores mistérios da natureza, cap.06 p.108-111)

Figurar um sonho é como delinear os acontecimentos do futuro, ser um profeta de si mesmo. Traços pessoais que ficam ocultos dos padrões sociais produzem condições para incluir o que quer que seja, ou quem, em locais e acontecimentos atemporais. Rememorações ou antecipações adaptadas cujo desfecho invariavelmente tende para onde vai nosso desejo.

Intriga o fato de que, nesses devaneios, não há intervenção do inesperado, do inusitado, do imprevisto. Mas não é de todo inexplicável, se pensarmos que não podemos controlar os fluxos dos acontecimentos, os elementos que se constituem como um destino.

Alguns apelam para a superstição onde cara ou coroa, uma carta na mesa, a leitura de um prognóstico zodiacal decidem o próximo passo. Outros na força de atração, o necessário sempre vem ao nosso encontro. A grande maioria, talvez, não se dá conta da mistura realizada para construir seus processos.

Os mal entendidos atonam e a superfície dos encontros tornam-se contaminadas com opacidades, névoas, distorções visuais, auditivas, intelectuais e, especialmente, emocionais. Desfazemos processos bem construídos pelos ruídos presentes nas inúmeras formas de comunicação. Elevamos a insegurança à categoria de permanente.

Não me entenda mal: há medos que são construídos por fatos, não obstante, a insegurança constante é um produto de nossas próprias deliberações sobre o que fazer diante dos desafios. Como em milhares de anos na natureza, perigo produz dois tipos de reações: enfrentamento ou fuga. Apesar desse estabelecimento natural, apenas a um passo de realizar algo importante, nos enrolamos em nossas próprias considerações agenciadas pelo medo: não é que todo futuro seja incerto, mas, qualquer futuro é perigoso ou mortal.

Palco excelente para os salvadores, os aproveitadores, os manipuladores e toda uma leva de mal elementos que assumem para você a responsabilidade da decisão e determinam o caminho a ser seguido. Se é possível abdicar de decidir por si, a responsabilização pelas suas decisões, a culpa, sempre será de alguém que não você. O raciocínio é perfeitamente certo, mas por outra via: não há mais você, por que o você desapareceu no processo e há apenas uma entidade, um morto-vivo ambulante no lugar do alguém.

Deixa de ser estranho o fato de eu acreditar que caminho por cemitérios em cada lugar que vou ou encontros que faço. É impossível dialogar com o que restou desse ser em um nível mínimo de trocas.

Assume-se tentar um papel de promotor ou restaurador das condições favoráveis ao pensamento e à vida ou vive-se no isolamento destinado aos seres pensantes que não adotaram a coletividade como elemento propulsor de caminhos individuais. E para minha tristeza imensa, eremitas e vozes que clamam em desertos predominam, ainda hoje.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 18 de agosto de 2015.

* Pense no seguinte: a capacidade de absorção do que há ao seu redor constitui sua forma de moldar o mundo. Sua percepção está diretamente conectada à fração de raios de luz que incidem nas superfícies que você seja capaz de reter ao observar. Esse é um construto onde a consciência resultaria da capacidade de atentar para determinados fenômenos (internos ou externos) e gerar um modelo cognitivo.
Assim, os pequenos ajustes ou redirecionamentos cognitivos seriam uma forma de individualização. Mais, de geração de mundos diferenciados.

13 de ago. de 2015

Sobre príncipes, conexões e fluxos

conexões e fluxos criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 13-08-2015.
Conexões e fluxos*, criado em 13-08-2015.

[…] disse o pequeno príncipe: eu procuro amigos. Que quer dizer "conectar"?
— É algo quase sempre esquecido — disse a raposa.
— Significa "unir fluxos"…
— Unir fluxos?
— Exatamente — disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não sou energizado por ti. E tu também não és energizada por mim. Não passo aos teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu te conectas comigo, poderemos energizar um ao outro. Serás para mim um encontro único no mundo. E eu serei para ti um encontro único no mundo…
— Começo a compreender — disse o pequeno príncipe.
— Existe uma flor… eu creio que ela se conectou comigo… […]
— A gente só conhece bem as coisas com as quais se conectou — disse a raposa.
(Wellington de Oliveira Teixeira — transgressão do texto de O Pequeno Príncipe, p.66-67)

A mágica existe, mesmo que apenas transparente, quase invisível. Como o suporte que se dá perto ou distante. É como uma presença quase imperceptível que segura na mão e sustenta, uma determinada forma de energia que flui ao seu redor e em você, pois o envolve com amor.

É preciso mudar o nível do olhar para que se consiga ver que há mundos e cada um tem camadas e fluxos. Mas, como bolhas de sabão que se encantam e se unem para voar juntas, seres humanos podem fazer encontros em nível tão intenso que seus casulos conseguem compartilhar seu conteúdo.

Conexões não são laços, não criam uma imposição de responsabilidade eterna sobre quem se permite participar delas.

Ser companheiro de jornada é algo constituído por absoluta voluntariedade de cada um dos participantes que buscam energizar-se mutuamente de forma positiva. Isso não é ser bonzinho todo o tempo: críticas e questionamentos são uma forma de incentivo para o ultrapassamento. Uma exigência fundamental é ser capaz de deixar que os pés do outro busquem seu próprio equilíbrio, mesmo sob o risco doloroso de vê-los escorregar ou se machucar no trajeto.

Afinal é para isso que existe a vontade: aquele desejo especial de estar lá quando não é possível, de ser o apoio ou o ponto de equilíbrio invisível. Ao mesmo tempo preparar-se; gerar condições para, aos poucos, não ser mais necessário para criar o ambiente seguro ao redor; para deixar voar.

Processo doloroso, reconheço. Totalmente necessário para cada participante. Se você não percebe o seu desenvolvimento nesse processo, há algo errado. Amor é fluxo potencializador de mão dupla. Talvez por isso, seja a forma mais elevada de construção de ser que a humanidade alcançou.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 13 de agosto de 2015.
* A fotografia base da arte foi tirada em Triunfo, distrito de Macaé-RJ, em janeiro de 2015. O modelo é o meu neto João Lucas, meu Pilantrão.

** Este texto é especialmente dedicado ao Lucas Prét e a seus pais Ana Flávia e Luis Cláudio — verdadeiros companheiros no meu percurso de vida.
Em 2012, escrevi Lucas: uma nova história começa, muito feliz por saber da vinda dele. Hoje, me preparando para aproveitar um final de semana comemorativo com toda a sua família, senti o desejo de expressar a minha forma de ver esse processo. Mais: identificar esse fluxo que me atravessa e me conecta a pessoas tão maravilhosas.

11 de ago. de 2015

Culpa, medo e fuga

Culpa, medo e fuga, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 10-08-2015.
Culpa, medo e fuga*, criado em 10-08-2015.

É preciso entender a diferença entre responsabilidade e culpa.
Culpa é o sentimento originado da ideia de que as coisas têm que acontecer como a pessoa quer.
Responsabilidade é assumir que você é responsável por suas atitudes.
(Paulo Sérgio Guedes — psicanalista e psiquiatra, autor de Sentimento de Culpa)

Não conheço ninguém que diz nunca ter tentado escapar — de todas as maneiras imagináveis, inclusive transferindo a responsabilidade do fato para outra pessoa — quando ficou completamente exposto por algo feito que não correspondia ao esperado ou socialmente aceitável. E, caso alguém me dissesse o contrário, bem… creio que não acreditaria assim de cara, especialmente quando já me permiti olhar para as crianças ao redor, na hora de alguma encrenca.

Provavelmente, você está no lado dos que afirmam que o medo e a fuga estão constantemente na ordem do dia do ser humano e, talvez, já tenha se questionado sobre o que nos leva a atuar dessa maneira. Evidente que há a tradicional resposta religiosa: somos pecadores, etc. Sendo sincero, esse tipo de resposta — mesmo se verdadeira — não pode bastar. Por isso, a psicologia busca esclarecer quais mecanismos nos levam a agir assim; quais são as propensões internas, os motivadores externos e as experiências pessoais que constroem tal comportamento.

Dizem que o primeiro homem já agiu de tal forma e que herdamos seu DNA da culpa e do medo das consequências. Na alegoria, fugiu da responsabilidade de ter comido algo proibido culpando a mulher; esta culpou à serpente que — mesmo sendo possível dividir a responsabilidade, não o fez — a assumiu. Não adiantou muito, todos foram penalizados.

Analisando o mito, a culpa, o medo e a fuga originam-se em uma sobredeterminação, uma ordem que nos impede de reagir ao necessário ou ao desejo. Lembre-se que desejo pertence à esfera do que ocupa a mente, não apenas a do que se pode ver. Sabem disso todos os que já se imaginaram em situações distintas do possível, inclusive as proibidas.

No entanto, há pessoas que escapam desse mecanismo. Agem sem culpa, para o bem ou para o mal. Alguns muito poucos, não conectados aos controles sociorreligiosos, fazem uma vida baseada na ética. Porém, os presos aos descontroles — incluindo alguns sociopatas e assassinos em série —, sem culpa alguma, atuam de forma antiética, antissocial ou desumana.

No cotidiano, há casos mais simples, como os das pessoas que não se importam em usar de falsidades para autopromoção ou a promoção de uma ideia que as beneficiarão — mentiras, propagandas e postagens falsas nas redes sociais viralizam. Há os que o fazem por dinheiro, entendendo ser apenas um trabalho o enganar outras pessoas. E são bem recompensados por isso. Aliás, dentro do capitalismo selvagem, há sempre vagas sobrando para pessoas assim. Na política, nem se fala, é prerrequisito.

Vivenciamos um período onde o contrassenso assume feições incríveis: níveis de hipocrisia máximos dão status e enriquecem. Quem questiona ou age de forma contrária é desprezado. Não terem mais ética ou não mais se sensibilizarem é lamentável. O pior é haver espaço na sociedade para tal e isso ser reforçado positivamente — especialmente por quem prega o contrário.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 11 de agosto de 2015.

* O que é sentido como sentimento ou introspectivamente observado como estado da mente são estados do corpo, que são produtos de certas contingências de reforçamento. As contingências podem ser muito mais facilmente identificadas e analisadas do que sentimentos e estados da mente e, ao voltar-se para elas como coisas a serem mudadas, a terapia comportamental aufere uma vantagem especial.
Esta é a posição behaviorista: volte aos eventos ambientais precedentes para explicar o que alguém faz e, ao mesmo tempo, o que essa pessoa sente enquanto faz alguma coisa. Para cada estado sentido e designado pelo nome de um sentimento, presumivelmente existe um evento ambiental anterior do qual esse estado é produto. A terapia comportamental se interessa mais pelo evento antecedente do que pelo sentimento.
Os estados corporais resultantes da ameaça da punição são nomeados de acordo com sua fonte […]. Quando a punição advém […] do governo fala-se em culpa […]. Um modo de fugir é confessar e sofrer a punição, mas quando não é claro o comportamento sobre o qual uma punição atrasada foi contingente, a fuga pode ser difícil. Contingências aversivas meramente acidentais geram inexplicáveis sentimentos de vergonha, culpa ou pecado; e, então, as pessoas tendem a procurar um terapeuta em busca de ajuda para fugir deles.

(Burrhus Frederic Skinner — Can Psychology be a science of mind? p.101-109).

6 de ago. de 2015

Espaço para transformações internas

Espaço interno, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 04-08-2015.
Espaço interno, criado em 04-08-2015.

Vazio
  1. sem o seu conteúdo habitual:
    Da passeata, restam latas vazias e cansaço.
  2. desocupado:
    Estão tornando o país uma casa vazia: sem móveis ou boas recordações.
  3. sem sua carga
    No metrô, vagões vazios carregavam alguns poucos protestantes.
  4. sem atividade humana
    Depois dos protestos, ruas vazias da cidade tinham as marcas de quem passou.
  5. sem algumas de suas qualidades primordiais
    A má política e a corrupção deixaram como consequência jovens vazios de ideais.
  6. sem força, efeito ou significado
    Com discursos vazios, as falas dos parlamentares não encontram eco na população.
  7. conjunto sem elementos (Matemática)
    O conjunto de números naturais múltiplos de pi é vazio.

Vou direto ao assunto: não dá para ser uma estrutura monolítica* se quisermos ter espaço para transformações internas. É preciso que os blocos ou pedaços de cada fase que vivemos tenham a chance de surgirem, de repente, e aflorarem ou emergirem ou voarem. Somos sim, uma pequena colcha de retalhos, alguns muito bem costurados, outros nem tanto.

É claro que é saudável manter uma estrutura firme que sustente essa vivência dos velhos costumes, mas ela precisa ser capaz de anexar o inusitado. O esperado de cada um pode e deve dialogar com o ainda não conquistado, com o que está em vias de ser em nós. Tipo quando você entra para um curso de formação qualquer, por exemplo, aprender marcenaria. Mesmo possuindo algum talento, é preciso aparar as arestas por dentro, tal como se faz com a madeira cá fora. Nesse processo, algumas práticas menos eficientes devem ceder lugar a outras que permitem ao potencial sua expressão máxima. Vale para tudo na vida, esse raciocínio.

Então, como há em tudo o que se conhece no mundo, é preciso identificar aquelas brechas — o espaço que se diz vazio — e adotá-las. Por elas irá fluir os elementos necessários. Nelas se constituirá a forma que será agregada àquela que se tornou básica, núcleo do ser.

O inusitado nos visita, aguarda um encontro e possivelmente ser absorvido. Isto pode acontecer ora por aprendizado, outra por sensibilização emocional ou espiritual. Como um sopro inspirador, como um fluxo de água a se deslizar, como algo a se escalar, como uma mistura a ser produzida para se constituir novas formas.

Só nas vivências percebemos quais experiências nos são necessárias naquele exato momento.

Destacar uma parte de si a cada momento é uma arte; dar expressão para ela de um modo satisfatório, mais ainda. O receio deve apontar para aqueles pontos de enrijecimento. São estes que se partem quando a estrutura se modifica. É preciso maleabilizá-los.

Ser humano é estar em contínua e infinita transformação, até que todas as possibilidades se esgotem para essa etapa ou ocorra um término repentino. Qualquer dos casos, nos conduz a desejar e buscar uma vivência plena, e esta só ocorre quando há evolução, desenvolvimento, crescimento e a percepção e satisfação de ter construído algo melhor para si e para o mundo: uma coisa chamada plenitude.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 05 de agosto de 2015.

* O homem é um animal segmentário. A segmentaridade pertence a todos os extratos que nos compõe. Habitar, circular, trabalhar, brincar: o vivido é segmentarizado espacial e socialmente.
(Gilles Deleuze e Félix Guattari — Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia, p.83)

[…] somos mantidos numa espécie de escravidão. A verdadeira liberdade está em um poder de decisão, de constituição dos próprios problemas: esse poder, 'semidivino', implica tanto o esvaecimento dos falsos problemas quanto o surgimento criador de verdadeiros.
(Gilles Deleuze — Bergsonismo, p.9)

5 de ago. de 2015

Por um desejo de clarificar a mente e o coração

Clarificando, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 02-08-2015.
Clarificando, criado em 02-08-2015.

Iluminação
para além do fenômeno visual, tem o sentido de obtenção de sabedoria, capacitação ou compreensão que possibilita maior clareza sobre algo. Duas vias de pensamento quase que conflitantes — conceito religioso (iluminação espiritual) e secular ou laico (iluminação intelectual) — geram confusão sobre as propostas de quem a usa.

Dizem que até que exorcizemos nossos fantasmas não é possível expressar-se plenamente. Queria poder negar. Na dúvida, a gente se esforça.

Quando a necessidade produz algo indecifrável, é porque não conseguimos fortalecer de modo suficiente o desejo de clarificar a mente e o coração. Assim, na tela ficam suplantadas as flores, as quedas d'águas, as areias e as pedras. Desvia-se o olhar da tela para a beleza do luar buscando ajuda. É preciso admitir que dessa vez não consegui contemplar meus próprios fluxos nele. Melhor deixar passar algumas noites antes de retornar-se ao projeto.

Que tal trocar a paleta, mudar as intensidades, dessaturar* as cores até que o acinzentado quase extingua a tonalidade original? É preciso. É fundamental. O sofrimento pelo que se não pode alterar é inexorável.

Como se demonstra um pensamento para quem não ousa pensar? Mesmo sem agir, iniciar uma prática avaliativa bastaria tentar produzir algum nível de crítica. Quando é pela sigla do cifrão que se emolduraram as paisagens da vida — pode ser por posicionamentos de aceitação tácita ou passividade —, o preço imenso da perda das próprias verdades pessoais será cobrado. É essa rede de sustentação de hipocrisias que, mais que prometer, já iniciou um tsunami varrendo lógicas fundamentais à vida: um humano vale menos que coisas.

A insistência é um modo de resistência. Então, sobre a obscura tela, rabisca-se rotas desviantes esforçando-se para trazer qualquer nível de coloração. Borrifa-se esperança, promovendo-se um pouco de iluminação.

Quem sabe o mórbido torne-se apenas triste? Quem sabe ocorra uma chance de se ver alguma pequena fresta de beleza ou encantamento capaz de desfazer a acidez da vida? Quem sabe esse pequeno movimento alcance solidariedade e reduza o peso algoz da planificação dos modos de vida ou a absurda unificação de vozes para gerar a imposição dos velhos absolutos?

Já que a maioria esqueceu-se que muitas das práticas atuais foram inventadas e usadas para dominação de qualquer divergência, diferença ou inconformidade, será melhor evitar dizer não? Talvez, mas se ao praticarmos um modo mais humanizado de ser, essa ideia consiga ser expressiva, surja como um sim contundente para outras vias de expressão, talvez, assim, consigamos ultrapassar essa tão em voga hegemonia hipócrita.

Wellington de Oliveira Teixeira, entre 03 e 05 de agosto de 2015.

* Saturação designa a pureza de uma cor, a intensidade de tom de determinada cor. O grau de saturação determina a diferenciação de outras de idêntico matiz (amarelo pálido ou vibrante e chamativo, etc.). O processo de dessaturação retira a tonalização de cor, deixando uma tonalidade acinzentada em seu lugar.

Dissipando tensões

 criado por Wellington de Oliveira Teixeira entre 30-07 e 01-08-2015.
Dissipação, criado entre 30-07 e 01-08-2015.

[Trecho do diário de Maria…]
Outras pessoas pensam exatamente o contrário: entregam-se sem pensar, esperando encontrar na paixão as soluções para todos os seus problemas. Colocam na outra pessoa toda a responsabilidade por sua felicidade, e toda culpa por sua possível infelicidade. Estão sempre eufóricas porque algo de maravilhoso aconteceu, ou deprimidas porque algo que não esperavam terminou destruindo tudo.
Afastar-se da paixão, ou entrar-se cegamente a ela — qual dessas duas atitudes é a menos destruidora?
Não sei.
(Paulo Coelho — Onze minutos, p.100)


É preciso reconhecer que, apesar da importância dos momentos pessoais de solidão, como tudo que ultrapassa o equilíbrio, a dose exagerada costuma gerar modos doentios de pensar e agir. Os reclusos e isolados involuntariamente por muito tempo podem, inclusive, adotar seu opressor como um benfeitor, apenas por sua presença, mesmo quando esta ocorra somente no momento da agressão*.

Quando sentem um nível extremo de medo de serem sozinhas, algumas pessoas são capazes de aceitar barbaridades de qualquer um que aceite estar ao seu lado. Geralmente, são pessoas que perderam toda a autoestima.

É preciso entender que muitos processos de desenvolvimento durante a infância e adolescência são realizados sob supervisão de pessoas com sérios distúrbios psíquicos e emocionais. Acaba por se tornar um círculo vicioso que propaga a prática: a agressão passa a ser vista como uma forma de manifestar o amor.

Ações agressivas podem ocorrer em muitas outras áreas da vida pessoal: as sobrecargas acumuladas são passadas adiante nos gestos obscenos, na aspereza do tom de voz, no xingamento, nas brigas que podem provocar traumatismos ou mortes — não é exceção a prática atual de postagens com discursos de ódio. Por isso, é fundamental denunciar os abusos para que os agressores possam ser tratados, já que estão descontrolados ou doentes.

Para manter a saúde psíquica, é preciso encontrar uma via de escape para dissipar as tensões. Evitar o contato com os outros visando se dar a chance de controlar a raiva é um caminho importante. Buscar uma diversão ou lazer com amigos, outra. Há quem se exercite, faça yoga ou luta marcial. Não tanto quanto um bom sexo, jogar um futebolzinho nos finais de semana também tem esse poder de acalmar ou diminuir a tensão.

Serve para todos, mas especialmente para quem vivenciou situações semelhantes, o aprender a desenvolver sua autoestima e a força interior que o permita superar os desafios da vida. É essencial descobrir e aprender novas formas de se relacionar e se expressar, também.

Há o entendimento entre os especialistas em comportamento de que, se há níveis exagerados de tensão, há também boas energias dentro da gente que podem nos equilibrar. É preciso potencializá-las para que alcancem prioridade em nossas ações e reações. A máxima que pode guiar nossos pensamentos, sentimentos e atos é manifestar o amor, a si mesmo e ao próximo. Essa máxima precisa deixar de ser apenas uma teoria ou expressão religiosa e tornar-se definitivamente uma pratica cotidiana.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 01 de agosto de 2015.

* Síndrome de Estocolmo é um estado psicológico particular onde uma pessoa, submetida prolongadamente à intimidação, adota sentimentos de simpatia, amor ou amizade em relação ao seu agressor. É um termo ainda leigo, uma vez que não consta das patologias psiquiátricas listadas no DSM-5. Com poucas publicações, até mesmo pela dificuldade de se fazer pesquisas sobre o tema, alguns especialistas ainda afirmam não haver informação científica suficiente para classificá-la como um distúrbio da mente.
** A base desse texto foi estruturada num bate-papo com o amigo Marcos Diego Araújo Lima.

1 de ago. de 2015

Uma escalada de acontecimentos surpreendente

Efeito escalar, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 31-07-2015.
Efeito escalar*, criado em 31-07-2015.

São cinco os atributos do guerreiro. Quatro pertencem ao conhecido:
  • dominar o espírito quando alguém está pisando em você chama-se controle;
  • juntar informação, enquanto estão batendo em você, chama-se disciplina;
  • paciência é esperar calmamente — sem pressa, sem ansiedade. Trata-se de um simples e alegre adiamento do que é devido.
  • sentido de oportunidade é a qualidade que governa a liberação de tudo o que está contido.
Controle, disciplina e paciência são como um dique por trás do qual tudo é represado. O sentido de oportunidade é a abertura do dique. Agir com raiva, sem controle e disciplina, não ter paciência, é ser derrotado.
A vontade, o quinto elemento, pertence à outra esfera, o desconhecido, e é sempre reservado para uma confrontação extrema, quando os guerreiros estão diante do esquadrão de fuzilamento, por assim dizer.

(Carlos Castaneda — O fogo interior, p.29-42 — texto resumido para facilitar)

É que sem querer, sem consciência da amplitude dos efeitos, sem a percepção de um contexto ampliado, sem mais nem menos, somos quem toca a superfície da água e gera a ondulação sem fim. Apenas um toque, talvez motivado por exclusiva necessidade pessoal de sorver uma gota d'água ou pelo encantamento com a própria imagem refletida numa superfície límpida.

Dizem que há uma certa governabilidade sobre tudo, mesmo que sem imposição. Determinado momento, as condições existem, estão propícias, você encontra-se no vértice das forças aglutinadoras e, então, a atração por aquela ação o toma, torna-se uma necessidade imperativa e acontece. Foge à nossa capacidade discernir suas variáveis componentes. Assim, por falta de outra melhor, elegemos uma razão para ser a verdadeira apenas por nos dar uma certa qualidade de satisfação, mesmo que não dê conta de absolutamente nada a respeito do acontecimento.

Encontros são assim: paladares, aromas, sonoridade e determinada atração visual se reúnem e nos impulsionam ao toque que sobredetermina tudo: o que toco me modifica e, como mágica, sua superfície fica dotada de um pouco de mim mesmo, dessa parte de mim capaz de alterar suas propriedades e iniciar uma escalada de acontecimentos surpreendente.

E a transformação ocorre para muito além do que sequer imaginaríamos ser possível ou mesmo que pudéssemos ser capaz de produzi-la.

Se o mundo era composto por quatro elementos (água, terra, fogo e ar) e estados — fluido, sólido, plasma (ou combustível) e gasoso (ou volátil) —, eu queria encontrar o quinto elemento que desse sentido às uniões. Tinha que haver uma quintessência, como elemento cósmico propulsor necessário para as conexões funcionarem e gerarem um fluxo de transformações como as do ciclo das mudanças de estado (do gasoso para o líquido ou sólido que sofrem a vaporização, e reiniciar tudo). Acredito ser o amor essa força que gera coesão, criação, transformação das partes. Ele age de forma universal e impessoal: funciona em tudo e em todos; promove os encontros e estes uma sequência de transformação.

Povos antigos usavam um pentagrama para simbolizar esses encontros capazes de gerar consequências num fluxo infinito. Em determinado momento tornou-se algo mítico e depois místico. Por fim, foi banalizado e categorizado como diabólico — porque para um determinado misticismo a estrela deveria ter seis pontas, uma sobreposição de dois triângulos, um superior e outro inferior, um divino e outro humano.

Essa imposição de valores no mundo ocidental é muito comum. Para dar um status superior ao que se propõe, ao invés de se demonstrar suas qualidades, desqualifica-se outras potenciais formas, que poderiam ser privilegiadas. Algo na constituição das nossas sociedades carrega uma incrível e terrível capacidade — o fato de querer produzir razão, argumentos e convencimento pode ser substituído pela imposição (física ou psicológica), a tal da hegemonia.

Mas, como tudo, a pressão a que se submete algo ou alguém é represada até um determinado ponto. A partir dele a superfície se racha e ela vaza. Defino o processo como doentio, em função da capacidade humana de avaliação e de produzir condições favoráveis às simbioses, isto é, aqueles encontros em que as partes sempre saem enriquecidas e transformadas para melhor.

Tudo bem, é apenas uma boa utopia. Mas, como todas, possui a capacidade de ser o elemento irradiador da superação de uma realidade e de um modo ineficaz de ser e estar nessa esfera azul, que pode ser minúscula mas é muito profícua e incomensurável em função de suas possibilidades.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 31 de julho de 2015.

* É considerado Efeito escalar quando o tamanho relativo de uma variável ou evento se transforma em fator de grande influência nos resultados ou consequências. Dentre os exemplos estão os movimentos expansivos e circulares da energia escalar; as velocidades e a questão da instantaneidade; efeito túnel dos átomos; energia potencial gravitacional.
Efeito borboleta é um termo que se refere à dependência sensível às condições iniciais dentro da teoria do caos. Este efeito foi analisado pela primeira vez em 1963 por Edward Lorenz. Para ilustrá-lo contamos a história da borboleta que, sob determinadas condições, se batesse suas asas no oriente, causaria um terremoto no ocidente.
Se desejar, leia o texto Efeito Pic-tá, onde tento mostrar o efeito escalar da solidariedade.