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7 de nov. de 2015

A arte da Resistência

Resistência, criado por Wellington de Oliveira Teixeira entre 06 e 07/11/2015.
Resistência*, criado entre 06 e 07/11/2015.

Hoje você é quem manda: falou, tá falado, não tem discussão. A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão, viu?
Você que inventou esse estado e inventou de inventar toda a escuridão; você que inventou o pecado esqueceu-se de inventar o perdão.
Apesar de você, amanhã há de ser outro dia! Eu pergunto a você onde vai se esconder da enorme euforia; como vai proibir quando o galo insistir em cantar, água nova brotando e a gente se amando sem parar.
Quando chegar o momento, esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro! Todo esse amor reprimido, esse grito contido, este samba no escuro.
Você que inventou a tristeza, ora, tenha a fineza de desinventar: você vai pagar e é dobrado cada lágrima rolada nesse meu penar.
Apesar de você amanhã há de ser outro dia. Inda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria. Você vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença e eu vou morrer de rir que esse dia há de vir antes do que você pensa.
Apesar de você amanhã há de ser outro dia, você vai ter que ver a manhã renascer e esbanjar poesia. Como vai se explicar vendo o céu clarear de repente, impunemente; como vai abafar nosso coro a cantar na sua frente.
Apesar de você amanhã há de ser outro dia: você vai se dar mal, etc. e tal.
(Chico Buarque — Apesar de Você)

Pela primeira vez, desde que eu comecei a produzir expressões de meus pensamentos e sentimentos em imagens, joguei fora o arquivo original com todas as camadas e efeitos estruturados, que me permitiria reproduzir em níveis diferentes o mesmo arquivo.

Inconscientemente, assim que gerei o arquivo compactado dessa imagem, me veio uma palavra e um sentido para descrevê-lo: resistência é uma ação, não um ato passivo de deixar-se suportar algo aguardando o momento em que a fonte da agressão se enfraqueça. Apesar de uma estratégia possível, viável em muitas situações, é desejável apenas quando é necessário recuperar-se de um desgaste imenso.

Uma outra maneira de agir é, enquanto os dentes sugadores do brilho de sua vida agem, ultrapassar a dor e achar ao seu redor um modo de quebrá-los ou de destituir seus donos da possibilidade de continuar a sugá-lo.

Pode parecer algo do padrão Mate, não morra!, mas não é. O objetivo é o de impedir uma agressão, não o de atacar. Faz toda a diferença a atitude que cerca e produz um ato.

É preciso continuar criando hinos à liberdade. Enquanto houver resistência, mesmo que tão pequena como a que se vê diante da massificação social; da modelação de pensamentos; da produção de raivosos discursos que, em si, não levam à mudança das causas motivadoras e da quase total apatia em relação a busca de questionamentos (basta de frases prontas!) haverá o surgimento de uma pálida forma de ser potente. Isso já seria o suficiente para não perdermos de vez a batalha pela vida plena.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 07 de novembro de 2015.

* Na década de 1970, em plena Ditadura Militar, artistas buscavam modos de driblar a censura. Pela falta de liberdade de expressão, analogias eram utilizadas. Apesar de você representa uma das músicas proibidas de execução nas rádios brasileiras pelo governo do general Emílio Garrastazu Médici. Ao final do governo de Ernesto Geisel, desconhecendo o conteúdo crítico, Clara Nunes a regravou — o suficiente para que o Exército a obrigasse a se apresentar nas Olimpíadas do de 1971, compensando o mal-entendido.
O FATO
Em Fev-1971, em nota na sua coluna, o jornalista Sebastião Nery (Tribuna da Imprensa) afirmou que o filho dele e seus colegas cantavam "Apesar de Você" como se estivessem cantando o Hino Nacional. Resultado:
  • o jornalista foi chamado para depor na polícia,
  • ao compreender a mensagem implícita, foi vetada a execução pública da canção;
  • os oficiais do regime invadiram a sede da Philips e destruíram as cópias restantes do disco.
  • o censor que aprovou a canção foi punido.
Os oficiais do governo não acharam a matriz da gravação para destruí-la, permitindo a reedição da versão original da gravação. Diz-se que, quando indagado num interrogatório sobre quem era o "você" da letra, Chico afirmou "É uma mulher muito mandona, muito autoritária" — hoje todos sabem o seu nome: Ditadura.

18 de out. de 2015

Sob óticas diferenciadas

Sob óticas, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 18-10-2015.
Sob óticas, criado em 18-10-2015.

O filósofo escocês David Hume (1739), em seu Tratado da natureza humana faz uma formulação — chamada de Guilhotina ou Lei de Hume — que tornou-se clássica: como podemos passar de uma afirmação descritiva sobre como as coisas são no mundo (uma afirmação "é") para uma afirmação prescritiva que nos diz o que deveria ser feito (uma afirmação "deve")? De forma mais resumida, como podemos derivar um "deve" de um "é"?
O filósofo inglês G. E. Moore em sua obra
Principia Ethica (1903) chama de falácia naturalista identificar conceitos éticos com conceitos naturais […] Termos éticos, tais como "bom", são propriedades "não naturais" — propriedades simples e não analisáveis, acessíveis apenas por meio de um senso especial de moral conhecido como "intuição" […] Para aumentar a confusão, afirmar que o fato de algo ser natural (ou não natural) oferece base suficiente para supor que esse algo também é bom (ou ruim).
Talvez o mais simples e mais importante dado sobre a ética seja puramente lógico. Refiro-me à impossibilidade de derivar regras éticas não tautológicas… de afirmação de fatos." (Karl Popper, 1948)

(Ben Dupré — 50 ideias de filosofia que você precisa conhecer, cap. 12, A Guilhotina de Hume, p.52-53 — resumido)
Princípios regem nossa forma de pensar e agir, mesmo quando não nos damos conta deles. É que a moral é constituída de pequenas decisões que agem como uma pedra num fluxo de água, desviam o curso. Me permitam invadir um campo do qual não sou especialista, a filosofia. De Platão à Kant — para citar alguns nomes consagrados ocidentalmente —, e ainda hoje, muitos desenvolvem pensamentos que tentam dar conta de pormenores que se tornaram obstáculos gigantes para a realização de julgamentos por parte da humanidade.

Pense que cada situação cobra antecedentes, antes da tomada de decisões. Uma delas é: o fim pode justificar os meios enquanto houver algo que justifique o fim (Leon Trotski, 1936)? No cotidiano, inocentes são sacrificados para que outros sejam salvos. É o caso do avião de passageiros, com uma bomba que vai explodir em uma cidade com milhares de pessoas. Vejamos o curso de pensamento a ser adotado pela tripulação:
  • Um dos pilotos acredita que ações tem valor em si mesmas, são certas ou erradas. Agir corretamente é algo incondicional, independente de consequências. É algo imperativo. Matar pessoas inocentes é intrinsecamente errado. É necessário continuar, aterrissar e manter a consciência tranquila de não ter matado voluntariamente ninguém.
  • O outro, que a ação correta deve ser julgada pelas suas consequências — os fins justificam os meios. O melhor é explodir o avião no ar, longe da cidade, sacrificando todos no seu interior mas salvando um número de outras vidas muito maior.
Agora pense: se algum fundamentalista ou ideólogo político ou fanático religioso diz que determinada ação, mesmo com um fim inapropriado, é correta — "infiéis, judeus, negros, homossexuais, adúlteros, fornicadores, devem morrer!" — algo que recorrentemente acontece na história; o que aconteceria? Uma vida, qualquer que seja, vale menos que outras? Tanto para os Deontologistas como para os Consequencialistas ações estão sob determinada ótica, ética, ou determinismo moral.

O modo de se perceber a vida e seus acontecimentos interfere com nossas práticas, não apenas em casos radicais. No entanto, não nos propomos avaliar crítica e previamente os valores que adotamos*; por isso, quando encaramos situações complicadas, acabamos ficando à mercê do senso comum momentâneo. Pode até minorar a questão justificando que a maioria fez assim mas isso certamente faz perder a individualidade, ignorar a responsabilidade pessoal por suas ações, cauterizar a consciência.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 18 de dezembro de 2015.

* Ben Drupé nos apresenta algumas posições éticas:
Absolutista: certas ações são certas ou erradas sob quaisquer circunstâncias;
Consequencialista: ações podem ser consideradas certas ou erras usando como referência puramente sua efetividade em alcançar certos fins desejáveis ou certas condições;
Deontologista: ações são intrinsecamente certas ou erradas, sem considerar suas consequências; um significado particular costuma ser vinculado às intenções de um agente e às noções de deveres e direitos.
Naturalista: conceitos éticos podem ser explicados ou simplesmente analisados quanto aos "fatos da natureza" que podem ser descobertos pela ciência, mais frequentemente os fatos sobre a psicologia humana, tais como o prazer.
Não cognitivista: moralidade não é questão de conhecimento, pois não se ocupa absolutamente com os fatos; ao contrário, julgamento moral expressa as atitudes, emoções, etc. da pessoa que o faz.
Objetivista: valores e propriedades morais existem independente de qualquer humano que o apreenda; afirmações éticas não são subjetivas ou relativas a qualquer outra coisa, e podem ser verdadeiras ou falsas, se refletirem corretamente a maneira como as coisas se situam no mundo. Conceitos éticos são metafisicamente reais.
Subjetivista: há fatos éticos, mas estes não são objetivamente verdadeiros ou falsos; o valor não tem seu fundamento na realidade externa, mas em nossas crenças sobre a realidade, ou em nossas reações a ela.

12 de out. de 2015

Uma duvidazinha cai bem

Moto-contínuo, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 11-10-2015.
Moto-contínuo, criado em 11-10-2015.

Homem também pode amar e abraçar e afagar seu ofício porque vai habitar o edifício que faz pra você.
E no aconchego da pele na pele, da carne na carne, entender que homem foi feito direito, do jeito que é feito o prazer.
Homem constrói sete usinas usando a energia que vem de você.
Homem conduz a alegria que sai das turbinas de volta a você.
E cria o moto-contínuo da noite pro dia, se for por você.

E quando um homem já está de partida,
da curva da vida ele vê que o seu caminho não foi um caminho sozinho
porque sabe que um homem vai fundo e vai fundo e vai fundo, se for por você

(Chico Buarque e Têtes Raides — Moto-contínuo)


Um pouco de dúvida sempre cai bem, em qualquer aspecto da vida. Conhecido como princípio fundamental da ciência, a prática de não estabelecer verdades absolutas tem sido o moto-contínuo* do conhecimento. Aprendizado digno dessa nomenclatura não é feito de reprodução do estabelecido, isto é cópia. Mas, durante séculos uma verdade absoluta na Educação foi 'Obedeça: decore e repita'; na indústria, 'Não pense. Faça!', refletido na atual propaganda de produto esportivo, 'Just do it!'.

Para reverter esse quadro, muitos tornaram-se páreas em sua época. É que as Instituições antigas exerciam sua crença na prática da normatividade dos modos de ser e estar no mundo — toda e qualquer diferenciação poderia retirar esse poder, logo precisava ser eliminada. Esse modo de atuação é o padrão do fundamentalismo. Na sociedade contemporânea muitos adotam esse modo de repetir sem questionar antecipadamente.

Certamente, a responsabilidade não recai apenas sobre os atuais replicadores (talvez, as maiores vítimas dessa lavagem cerebral), afinal, diante de tantas questões sem respostas no atual nível de desenvolvimento da humanidade — intelectual, emocional e espiritual —, é mais simples adotar uma certeza qualquer em seu lugar. Na contramão desse movimento, há oportunidades muito maiores para efetuar uma desconstrução desse modelo e o julgo decorrente dele.

O movimento do pêndulo precisa ser recordado: tudo que estica muito para um lado, rapidamente retorna para o lado oposto. O questionamento das práticas fundamentalistas permitiu o surgimento da sociedade pós-moderna. No entanto, o que deveria ter renovado o conceito de liberdade acabou desfazendo qualquer embasamento para a vida, tornando-a flácida, fluida, incipiente, estabelecendo em seu lugar a desvalorização instantânea de tudo.

Lição absorvida da natureza e apresentada em símbolos há milênios, tudo se encaminha para o equilíbrio. Não estou propondo retornos ou desqualificando a transformação. Alerto para reutilizarmos a dúvida, também, para esse modo de ser e estar. O exercício contínuo da crítica é capaz de impedir que os novos modos adotados se tornem aprisionadores, como foram muitos dos que o antecederam.

O atual deixar-se levar, tornando-se reflexo de maiorias, nada mais é que reposicionar o pêndulo no extremo oposto. Apesar de disfarçado, o fundamentalismo permeia o atual padrão de diferenciação dentro de uma ordem. Por exemplo, escolher um modelo de roupa dentre os ditados pela moda, repetir as verdades ditadas pelo meio de comunicação disponível, adotar costumes que são fortalecidos em mídias… Não basta simplificar como errado ou ruim. Antes de tudo, é preciso conscientizar-se de que, como tudo, é apenas uma opção dentre as muitas que você deve avaliar criticamente antes de decidir adotar.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 12 de outubro de 2015.

* Cientistas avaliam máquinas de moto-contínuo (ou de movimento perpétuo) referindo-se a atuais leis da termodinâmica a serem violadas:
— fornecer ao exterior maior energia (sob a forma de trabalho ou calor) que a consumida.
— ter rendimento de 100%, inviabilizado pela impossibilidade da transformação total do calor obtido em trabalho.
— eliminar totalmente atrito e dissipação, mantendo-se em movimento perpétuo; um dispositivo de estocagem perpétua de energia (não um gerador).

8 de out. de 2015

Enredados

Enredados, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 08-10-2015.
Enredados, criado em 08-10-2015.

Enredar
prender ou ficar preso em situações ou lugares intricados; embaralhar, emaranhar;
Complicar, tornar obscuro, armar intrigas e enredos, comprometer;
Complicar-se, deixar-se envolver em, comprometer-se: enredar-se em atividade ilícita.

Não é um costume geral, visto que geralmente precisamos lidar apenas com acontecimentos do dia ou bem próximos. Visualizar probabilidades no futuro é denominado construir cenários. Como base, é claro, é preciso ter em mãos os melhores dados disponíveis na atualidade. Há uma grande tendência para algo? O que aconteceria, num espaço de um mês ou um ano, caso essa tendência se concretizasse? Entendeu a lógica?

O mundo que percebemos como verdadeiro nada mais é que um filtro dentre muitos possíveis. Alguém noticia um ataque. Você lamenta os efeitos de um bombardeio em determinado lugar, culpabiliza terroristas, expressa sua raiva em mensagens que aliviam seus sentimentos de impotência. Bem… essa é a prática mais comum, da maioria das pessoas.

Mas — um pouquinho de teoria da conspiração* ajuda, aqui — e, se por um acaso, o evento foi produzido pelas pessoas que proferem discursos indignados com o propósito de culpabilizar seus adversários? A tal história de plantar provas, de agentes secretos, de empresas bilionárias querendo obter tesouros naturais a baixo custo e ampliar ainda mais sua lucratividade e domínio no mercado?

O conjunto e a qualidade da informação que se obtém pode ser o determinante de muitas avaliações, mas, a imensa maioria das pessoas aceita o que é apresentado como verdade. E se, por um acaso, houver outra interpretação discordante ou conflitante em alguns pontos, o que fazer?

O aprendizado da crítica é fundamental, mas não somos em nenhum momento estimulados a fazê-lo, apenas a aceitarmos sem questionar o que nos é dado ou determinado — a tal da obediência. Talvez isso seja algo extremamente difícil de admitir, uma vez que é feito com a maior das boas intenções, mas, familiares ou amigos mais próximos tentam coibir qualquer prática de pensamento diverso do dominante. Mesmo visando nosso bem-estar, estão apenas contribuindo para nos tornarmos escravizados por quem aprendeu as manhas e as articulações fora do domínio da regras estabelecidas. Por isso, esses que usam de engodo para nos enredar estão dominando o mundo.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 08 de outubro de 2015.

* Teoria da conspiração é uma tese desenvolvida para esclarecer um fato (histórico ou atual) tomando como base a ideia de que ele resultou de um plano secreto, desenvolvido e levado a efeito por indivíduo, empresa ou grupo de conspiradores poderosos. Na ficção, acabam sendo identificados como uma Sociedade secreta", Governo paralelo ou grupos paramilitares que agem à margem da lei, com ou sem conivência dos governantes.

3 de out. de 2015

Motivação para a destruição de ícones

Iconoclastia, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 03-10-2015.
Iconoclastia, criado em 03-10-2015.

Iconofilia
sentimento que promove a construção de imagens como protótipos referenciais ou adoração.
Iconoclastia
a arte de desconstruir ou destruir imagens iconográficas ou reputações.

Durante séculos, nossos ancestrais produziram ícones, imagens com representações físicas de conceitos ou sentimentos de uma pessoa ou grupo. Esses elementos de coesão social foram deificados e adorados. Seu imenso número revelava a diversidade de pensamentos e referenciava um determinado povo.

Com a ascensão do cristianismo e a política romana de aproximação deste com judaísmo visando maior controle social no Império, houve certa redução no uso de imagens. Só que o imperador bizantino Leão III iniciou o processo visando a imposição de um modo único de cultuar com a destruição irrestrita de mosaicos, afrescos, estátuas de santos, pinturas, ornamentos nos altares de igrejas, livros com gravuras e inumeráveis obras de arte. Só no Segundo Concílio de Niceia, os iconoclastas foram excomungados.

O entendimento dessa forma de atuação pode ser ampliado. É que o processo pode ser associado a uma produção social de desconstrução de figuras representativas, heróis, modelos. A nova iconoclastia* tem que processos que visam:
  • desfazer os referenciais impostos durante períodos político militar ditatoriais;
  • a desvalorização de uma empresa objetivando ter controle financeiro ou compra a preço reduzido;
  • o desgaste com objetivos político eleitorais;
  • gerar um repúdio a grupos minoritários;
  • criar condições de adoção de práticas anteriormente inaceitáveis.
Atualmente, em diversos lugares do mundo esse novo nível de ação se repete, na proporção da expansão do fundamentalismo. Ataques a elementos iconográficos de valor histórico inestimável se sucedem, motivados por intolerância. São catedrais, museus e tudo o mais que carregue um diferencial em relação ao modo que se quer determinar como o correto.

Há um diferencial importante entre propagar uma ideia, defendê-la, buscar adesões e agir contra quem pensa diferente. Religiões sempre buscaram neófitos via pregação de seus princípios. Quando isso é feito respeitando a vontade de pessoas que não pensam da mesma forma e não adotam seu modo de pensar, é gerado um ambiente harmonioso e inclusive propício para mudanças de pensamento e práticas. Quando a imposição toma a frente, nada de bom ocorre. Quem não aprende com a História e suas lições, incorre nos mesmos erros — ou acerto, segundo os armamentistas — que aqueles que há milênios geram guerras e mortes sobre a face da terra.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 03 de outubro de 2015.

* Quando um povo não é estimulado a desenvolver um pensamento crítico, seja por falta de estímulos educacionais ou por imposição de regimes autoritários, geralmente ocorre um processo de apropriação sociocultural. Nele, a desconstrução de valores locais é prioridade, do contrário, haverá resistência aos novos modos de pensar e agir que se quer implantar.
O Brasil vive um momento sui generis em sua história, forças de direita e esquerda num embate ferrenho tentam defender e propagar seus ideais e valores. A grande questão que se apresenta é que a mídia hegemônica no país tem seu lado e se posiciona diferenciadamente em relação aos fatos:
— encobrimento, silêncio, criação de elementos de distração quando lhe convém, isto é, quando os problemas são relacionados aos seus aliados.
— estardalhaço, manipulação da verdade, ampliação indevida do problema, quando se relaciona aos adversários.
Esse procedimento, vindo de veículos informativos importantes desqualifica a imprensa nacional e implica na necessidade de um estatuto que democratize as comunicações e impeça esse domínio por parte de apenas seis famílias.

Nuances do controle social

Homogeneização, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 02-10-2015.
Homogeneização*, criado em 02-10-2015.

O desafio para a educação é a construção de uma concepção na qual a unidade seja concebida como plural. O enfoque nessa pluralidade ou interculturalidade do povo brasileiro enfatiza a relação, o intercambio de visões de mundo que formam a unidade da nação. Educar para a multiculturalidade e para o diálogo intercultural torna-se compromisso fundamental de todo projeto educativo, especialmente em contexto brasileiro.

É evidente que a forma de iluminar um fato — o que ocorre quando alguém apresenta uma consideração — de algum modo interfere nas outras opiniões. É como na iluminação de um palco, onde o uso de focos com diferentes graduações de cores, direcionados para determinados pontos, produz efeitos diversos. Quanto mais hábil o iluminador, maior o efeito que ele consegue produzir sobre quem assiste ao espetáculo. Os excepcionais conseguem que você se abstraia da realidade, completamente tomado pela cena.

Efeito semelhante ocorre quando se expõe pessoas a uma única corrente de pensamento: absorve-se aquela forma de pensar e de agir, sem uma real avaliação das questões. É fundamental, então, gerar espaço para múltiplas ponderações, de modo que a aproximação de uma opinião pessoal ocorra num grande espectro de opções. Deveríamos nos conscientizar de que sem a capacidade de produzir críticas consistentes, é inadmissível adotar qualquer que seja a proposta. Questionamento é o que permite a individualização da tomada de decisão. Mas vivenciamos décadas de homogeneização sociocultural onde promoveu-se padrões únicos de como se vestir, falar, agir, transar. Complicou ultrapassar o despreparo para opinar ou decidir.

Pense comigo. Há gerações o povo brasileiro é exposto a uma dominação cultural que substituiu os valores tradicionais com base exclusivamente no modelo vendido pelos meios de comunicação. Isso ocorreu quando passamos a ser expostos a maior parte do dia, desde a infância, às propagandas e aos conteúdos definidos por empresas multinacionais. Adotamos o que os enlatados americanizados nos ensinaram: a vestir apenas o jeans, camisetas e tênis; a comer a péssima alimentação fast-food, usar e consumir agrotóxicos de alta periculosidade (as consequências para a saúde estão lá e aqui), para ilustrar apenas alguns frutos da homogeneização.

Creio que você conseguirá perceber o quanto isso afetou nossa formação ao transpor esse raciocínio para os conteúdos intelectuais, os discursos morais ou éticos e a visão de valor próprio. O que foi adaptação? O que foi apropriação? O que foi aprendizado e desenvolvimento? O mundo mudou e continuará mudando. De tudo o que há nele, quais são as melhores práticas e pensamentos disponíveis?

Dependerá de sua resposta o modo como você viverá e desenvolverá a educação das novas gerações. Não é algo pequeno ou simples. Exige superar todas as formas de rigidez de pensamento e de práticas, abrir espaço para as que são mais eficientes e que permitirão a riqueza interior e a sustentabilidade da vida no planeta.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 02 e 03 de outubro de 2015.

* A padronização de discursos influencia o modo de pensar e agir no cotidiano. Veja alguns dos exemplos:
  • A integração promovida pela telefonia celular e a Internet reduziu as distâncias mundiais, consequentemente, a difusão e apropriação de hábitos. Interesses financeiros dominantes promovem exclusivamente determinados modismos (na música, no vestiário, nos cabelos…) que acabam gerando homogeneização cultural.
  • O Colonialismo, como forma de globalização, priorizou a ocupação de territórios (continentes americano e africano). A do final do século XX priorizou a fragmentação das fronteiras e atuação das empresas transnacionais. Ambas promoveram pobreza e exclusão social. The Corporation é um documentário canadense sobre os efeitos da globalização no mundo (um paletó vendido por 178 dólares, nos EUA, remunera com apenas alguns centavos de dólar o filipino que o fabricou). É possível uma globalização justa para todos, que garanta liberdade, diversidade, pluralidade não apenas para alguns?
  • Eventos importantes nos afetam (a morte de quem busca refúgio da guerra em seu país, terremotos e tsunamis, atentados à bomba em diversos países), mas estão sendo banalizados e nos tornamos, cada dia mais, emocionalmente refratários. Inclusive ao genocídio de uma população marginal (pobre, negra, jovem e periférica) que ocorrem especialmente em São Paulo e Rio de Janeiro.

30 de set. de 2015

Sintonia com a plenitude.

Sintonia, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 30-09-2015.
Sintonia, criado em 30-09-2015.

Distonia
Distúrbio neurológico que promove contração involuntária e espasmos; afeta locais específicos (músculos, membros) ou o eixo corporal. Inclui Tremores, cãibra, deterioração da escrita e dificuldade ou incapacidade para manusear objetos (caneta, flauta ou tacos de golfe.
Uma forma comum é que acontece com quem ficou muito tempo em pé numa fila e, de repente, a perna treme, mas há casos bem mais graves.

Um mundo confuso gera confusão, em alguns momentos ocorre uma ego ou sócio distonia, que pode ser entendido como um desacordo entre as questões internas e externas de um indivíduo ou deste com o seu meio. Se isso acarretar inação ou imobilismo poderá gerar depressão. Já aconteceu de entrar num processo semelhante e ser surpreendido com uma mensagem ou contato revigorante *.

É tão bom quando alguém sintoniza sua necessidade momentânea e age, mesmo sem racionalizar. Logo a seguir me alertei: 'Não espere que isso aconteça sempre!'. Momento de conspiração entre seres é um alívio que a Ordem proporciona ao guerreiro que, apesar de uma vida de lutas, se fragiliza.

Nada se mantém inabalável — toda a natureza flutua em estações ou ciclos: fraqueza ou fortaleza, suavidade ou intensidade e outras oposições são apenas modos que o núcleo dos seres vivencia em seu desenvolvimento. As máscaras momentâneas utilizadas nas interações não dão conta da totalidade, mas podem ser expressivas ao refletirem características pessoais. O silêncio, o não dito, o ocultado são como uma pausa que invariavelmente modifica o fluxo da música.

Ser pleno é viver conscientemente a impossibilidade humana de expressão de todas as potencialidades simultaneamente e de modo diário. Brilhos tem efeitos surpreendentes, mas com duração. A mesmice, a repetição, a imutabilidade gera adaptação e tédio, produz distonia. Só na transformação o frescor da plenitude se mantém.

Sintonize os fluxos ao seu redor, permita-se vagar por momentos, vivencie alguns instantes de ócio. Faça-os por nada, não defina resultados prévios. Experimente o não fazer e, aos poucos, seus efeitos (como os da pausa na música) se insinuarão até que se manifestarão de fora para dentro e de dentro para fora — se quer uma analogia, é como um fluxo de respiração que energiza a sua vida e o mantém vivo.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de setembro de 2015.

* Há coisas cujo valor não pode ser medido em preço. Como a mensagem que recebi em 1996, que finaliza com essas frases:
Mas, neste momento apesar de nossos corpos limitados pela distância (talvez, seja até por isso) eu conseguiria gritar sem medo para você: EU TE AMO! Pois como não poderia amar alguém que me mostrou caminhos que nunca sonhei trilhar, mundos que eu nunca sonhei explorar e coisas que nunca sonhei descobrir.
Espero que você se contente com meu amor, pois é a coisa mais pura e verdadeira que eu tenho para lhe dar.
Eu te amo, amigão!
Friends are friends forever!!!

29 de set. de 2015

Superficialidades, mas intensivas

Amálgamas, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 29-09-2015.
Amálgamas, criado em 29-09-2015.

Se lhes perguntassem, os habitantes de Leônia, uma das cidades invisíveis de Ítalo Calvino, diriam que sua paixão é 'desfrutar coisas novas e diferentes': A cada manhã eles 'vestem roupas novas em folha, tiram latas fechadas do mais recente modelo de geladeira, ouvindo gingles recém-lançados na estação de rádio mais quente do momento'. Mas a cada manhã 'as sobras da Leônia de ontem aguardam pelo caminhão de lixo' e cabe indagar se a verdadeira paixão dos leonianos na verdade não seria o 'prazer de expelir, descartar, limpar-se de uma impureza recorrente'. Caso contrário, por que os varredores de rua seriam 'recebidos como anjos' mesmo que sua missão fosse 'cercada de um silêncio respeitoso' (o que é compreensível: 'ninguém quer voltar a pensar em coisas que já foram rejeitadas')?
Pensemos…
Será que os habitantes de nosso líquido mundo moderno não são exatamente como os de Leônia, preocupados com uma coisa e falando de outra? Eles garantem que seu desejo, paixão, objetivo ou sonho é 'relacionar-se', mas será que na verdade não estão preocupados principalmente em evitar que suas relações acabem congeladas e coaguladas?
Estão mesmo procurando relacionamentos duradouros, como dizem, ou seu maior desejo é que eles sejam leves e frouxos […] postos de lado a qualquer momento?
(Zygmunt Bauman — Amor Líquido, p. 13)

Um paradigma não superado por outra via de pensamento, a proposição de sutis toques ou contatos superficiais, lidar com instáveis estruturas, permitir a fugacidade de interesses — a tal da metamorfose ambulante — reflete no mundo interno a incessante transformação do mundo externo.

Diverge de algumas práticas: no plano político, não se coligar nem aderir a qualquer causa; no plano das relações, na exposição completa dos recônditos da alma em redes sociais; no campo amoroso, aos CSSs (casais semi-separados). Só para esclarecimento, supostamente, CSSs são revolucionários que romperam a sufocante bolha do casal, seguindo caminhos próprios dedicando-se tempo parcial. Tudo separado e encontrando-se apenas para fazer alguma atividade de lazer seguida de um sexo casual — a evolução ao ficar junto.

Identifico na atualidade a aposta no eclético. A rigidez das formas, dos modos, dos conceitos não atrai mais. A fluidez das misturas em tempo ínfimo desconstrói qualquer adesão a estruturas específicas. Não me oponho a isso, questiono o que fazer com essas coisas que formam um bloco de massas aglutinadas uma sobre as outras, sem qualquer sentido, inclusive o prazer da montagem. Superficialidades não intensivas visando superar o tédio: apenas ajuntamento.

Penso no conceito social de amálgama: mistura ou fusão de coisas ou pessoas distintas para formar um todo. É como formar um grêmio, um time, uma equipe para produzir ou desenvolver práticas de lazer ou outras. A tal da mistura perfeita de eus promovida por amizade ou amor permitindo um rico processo de compartilhamento de vivências, riquezas de experiências e incorporações de diferenças.

Nenhuma amálgama precisa ser uma apropriação de sua subjetividade, pode ser algo pleno em cada momento. É que quando se desqualificam as possibilidades de absorção de novos modos de ser e estar, manipula-se individualidades a viver sob a sufocante determinação das classes que comandam o jogo das generalizações momentâneas: vista-se, fale, ande, vá a determinado lugar. Tudo assim, desconexo. Igualzinho aos produtos com prazo de substituição pelo novo modelo*, você não precisa vivenciar intensivamente as coisas, basta seguir a onda.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 29 de setembro de 2015.

* Conceito de Obsolescência programada que move a indústria do lucro incessante.

27 de set. de 2015

Viver sem ilusões, nem desiludido

Lentes, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 27-09-2015.
Lentes, criado em 27-09-2015.

Os jornais são aparelhos ideológicos cuja função é transformar uma verdade de classe num senso comum, assimilado pelas demais classes como verdade coletiva - isto é, exerce o papel cultural de propagador de ideologia. Ela imbute uma ética, mas também a ética não é inocente: ela é uma ética de classe.
(Antônio Gramsci)

Uma das lições aprendidas com a miopia — pena que, no meu caso, demorou a ser detectada — é que não dá para simplesmente acreditar no mais aparente. Ano após ano, busco reavaliar o grau e aprimorar a qualidade das lentes que uso para que eu alcance um nível de visão mais acurado.

Transpondo ao nível intelectual o conceito, não dá para nos prendermos aos absolutos, ao contrário, temos que submeter qualquer verdade atual às mais duras provas de reavaliação utilizando de novos métodos, estabelecendo novos princípios e formas para a análise crítica.

Todos (ou quase) desenvolvemos um quê de preguiça científica, alimentados pelos discursos prontos e, invariavelmente, somos desestimulados de questioná-los. Por conta dessa miopia intelectual, esquecemos de avaliar: quem decide, seleciona, estrutura o que recebemos como verdades? O que se omite, desqualifica ou não se aprofunda em prol destas?

Num mundo onde o que se divulga e o modo como é feito é capaz de manipular pensamentos e sentimentos induzindo a práticas nefastas, não deveríamos estar constantemente preocupados com essa questão? Não seria sensato, mais do que desejarmos, exigir fontes diversas e divergentes de raciocínios para que pudéssemos compará-los, criticá-los, antes de adotarmos quaisquer pontos de vista?*

Ao me contrapor a muitos raciocínios hegemônicos — aqueles que são divulgados pela grande maioria dos meios de comunicação — tento, mesmo entendendo ser em uma escala infinitesimal, promover um novo olhar, mais crítico, argumentativo, avaliativo das posições e contraposições. Sobretudo, que evita ataques pessoais e, em últimas das consequências, os preconceitos, as injúrias e as agressões (já reparou como é comum a quem perde a razão partir para o ataque pessoal?).

Como ponto simples em favor desse pensamento, diria que é lógico supor — já que são apenas cerca de seis famílias que controlam a mídia nacional — que os pontos de vista político, financeiro e social de uma determinada elite, certamente não abrangerão uma campo mais vasto ou avaliarão positivamente conceitos que podem questionar seu poder e manipulação sobre o povo. Disse simples? Perdão!

Wellington de Oliveira Teixeira, em 27 de setembro de 2015.

* Gramsci dizia que o desafio da modernidade é viver sem ilusões, sem se tornar desiludido. Que coisa difícil de efetivar!

26 de set. de 2015

A versão atualizada de Mamom

Detalhamentos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 12-09-2015.
Detalhamentos, criado em 12-09-2015.

"Sou um socialista, Jesus também era. Essa é a nossa doutrina."
Alguns defendem […] que todo o crescimento econômico, favorecido pelo livre mercado, consegue por si mesmo produzir maior equidade e inclusão social no mundo. Esta opinião, que nunca foi confirmada pelos fatos, exprime uma confiança vaga e ingênua na bondade daqueles que detêm o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico reinante. Entretanto, os excluídos continuam a esperar.

Para cada herói centenas ou milhares de ordinários marcham. Pelo menos é assim que tem se considerado e atuado no mundo dos comandados. Um é medalhado enquanto o resto é explorado.

Claro que, por conta disso, sempre haverá aqueles que se indispõem a esse sistema de valorização, haverá protestos e, como a história comprova, revoltas. Em algum momento da vida, me perguntei: Para que, se no final das contas é só para trocar quem encabeça?

É preciso educar para a liberdade, para o bom questionamento, para a criação de uma cultura colaborativa. Sem a mudança dos paradigmas que aceitamos, que fomos induzidos a aceitar, isso nunca acontecerá. Um desses paradigmas atuais é o Mercado. Tudo por e para ele. Uma espécie , literalmente, dinheiro que, na literatura pagã ou cristã, é o desviador da construção da verdadeira comunidade e da adoração.

Entidade maligna, parte da trindade de satanás, ao lado de Lilith, é citado em Paraíso Perdido e em Fausto, John Milton ele é o construtor de um palácio com veios de ouro ardente para Satã, e ganha o sentido de ouro e a representação da ganância.

Na bíblia, logo após a oração do Pai Nosso lê-se: Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom. (Mateus 6:24)

Respeitosamente, muitos evitam a questão. Mas não dá para pregar como boas novas os ensinamento de um líder comunitário judeu que acabou sendo crucificado por ser subversivo e ensinar o enriquecimento individual. Paradoxo ou não para você, o que ele ensinou não tem nada a ver com o atual discurso religioso dos discípulos e pregadores do Mamom: um egocentrismo baseado no sucesso financeiro e imposição de suas vontades à divindade cristã, estabelecida na barganha, no quanto mais dinheiro você dá para a instituição religiosa mais rico você fica; o bem-aventurado é quem possui riquezas e pode ostentá-las.

Daquelas raízes que nomearam os primeiros grupos como cristãos (o cuidado uns com os outros e o compartilhamento voluntário das próprias capacidades e coisas para sanar as necessidades individuais alheias) o que restou se tornou insignificativo para que se possa ousar usar o mesmo nome. Exortar* significa "animar, incentivar, estimular", e é isso que eu faço em relação a mudar seu ponto de vista. Trabalhe com o nós, o nosso, com o coletivo, com o comunitário, com aquilo que visa o bem comum. Reparou que na oração ensinada por Jesus e a mais repetida no mundo inteiro, a terceira pessoa do plural é a tônica? Antes de ensiná-la (Bíblia — Mateus 6:8-13), ele faz um alerta: "Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes. Portanto, vós orareis assim: "
Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu;
O pão nosso de cada dia nos dá hoje;
E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores;
E não nos conduzas à tentação; mas livra-nos do mal;
porque teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre.
Amém!
Wellington de Oliveira Teixeira, em 26 de setembro de 2015.

* Encontrei um sítio na internet (Cristão confuso, mais um zé) cujo lema é "Questione a fé cega, e você confundirá os que creem assim. Mantenha-se crendo e os céticos não entenderão.". Na única página que vi, encontrei algo bem interessante — As 5 expressões evangélicas mais sem sentido usadas nas igrejas: 5- Exortar; 4- Levita; 3- Profeta; 2- Unção e 1- Ato profético. Leia e avalie o porquê.

25 de set. de 2015

Um mundo de gradações

Extrapolando, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 25-09-2015.
Extrapolando*, criado em 25-09-2015.

Extrapolar
Ultrapassar os limites conhecidos (ou polos); ir ou situar-se além de; exceder.
Ampliar o domínio, estender a validade ou generalizar buscando validar ou comprovar novas inferências ou hipóteses.

Mesmo sendo necessário em várias situações posicionar-se por um lado ou outro, confirmar ou negar, excluir ou adicionar, nossas decisões não dão conta completamente de uma simples questão: há camadas ou tons.

Socialmente, tentamos criar conceitos plenos, verdades, base sólida para lidar com acontecimentos e para direcionar nossa decisão ou prática. Dentro do possível, um caminho válido para não estacionar diante do que se atrai para si ou do que vem ao nosso encontro.

Mas não devemos ignorar que entre um ponto e seu oposto há gradações que reúnem quantidades diferenciadas dos extremos. O tal do mundo cinzento entre o preto e o branco, a intensidade entre a ausência ou a presença da luz, apenas para citar exemplos visuais e mais fáceis para gerar associações.

No período de desenvolvimento de uma criança, é preciso aos poucos ir retirando as proibições em prol do aprimoramento da sua capacidade de decisão. Crianças geneticamente são estruturadas para ultrapassar os limites, do contrário, não haveria aprendizado ou desenvolvimento como espécie.

Na prática, em vez de um 'Você vai cair', seria bem melhor um 'Cuidado, é perigoso'. Demanda um pouco mais de tempo e atenção e, é claro, dar explicações**.

É que todos precisam da transição entre o desconhecido e o conhecido, entre o medo e a segurança, entre a irresponsabilidade e a responsabilidade por suas decisões. E isso não ocorre por que fez 12, 18 ou 21 anos, é algo que flui aos poucos dependendo dos estímulos recebidos e das respostas obtidas.

Pessoas bem resolvidas são as que, experimentando, descobriram seu modo certo de fazer (cada um tem o seu!) e foram extrapolando a estrutura para outras situações, reduzindo a necessidade de supervisão. Jamais estaremos livres dos riscos, por isso, aprender a gerenciá-los é tão fundamental. Isso tem que ser estimulado desde a mais tenra idade.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 25 de setembro de 2015.

* Tomo como base o conceito de que o ser humano essencialmente deseja a superação, essa vontade de potência definida por Espinosa como fundadora do ser (Ética, IP34). Isso só ocorre e se desenvolve por meio de suas interações (ou encontros) e elaborações.

Eu reafirmaria que, tal como os argumentos de Nietzsche contra a causalidade deveriam ser lidos como argumentos contra a causalidade externa em favor da causa interna, o ataque à essência é o ataque a uma forma externa de essência. A vontade de potência é a essência do ser. […] É verdade que cada um confia em uma noção de essência, em ambos os casos é uma essência histórica, material e viva, uma essência superficial que nada tem a ver com as estruturas ideais e transcendentais que são usualmente o centro dos argumentos 'essencialistas'.[…]
A fundação do ser, portanto, reside tanto em um plano corpóreo quanto mental, na dinâmica complexa do comportamento, nas interações superficiais dos corpos.
(Michael Hardt — Gilles Deleuze - Um aprendizado em filosofia, nota de rodapé 9, p.84-85)

** Há no sítio português Companhia de STJ vários estilos de perguntas — esclarecendo os porquês — que podem ser utilizados por professores ou mesmo pelos pais, visando um aprendizado mais amplo para as vivências.

21 de set. de 2015

Um vértice num vórtice

Vértice no Vórtice, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 21-09-2015.
Vértice no Vórtice, criado em 21-09-2015.

Vértice:
ponto que liga uma aresta a outra, quina de um sólido, uma ponta, o ponto oposto mais afastado da base de uma figura.
A altura máxima atingida por algo que se eleva ou o ponto mais alto de (algo); ápice, cume, culminação.
Vórtice:
movimento forte e giratório; remoinho, turbilhão; o centro de um redemoinho, um furacão, um ponto de sucção em espiral.
O vórtice surge devido a diferença de pressão de duas regiões vizinhas.

É muito complicado lidar com intempéries, todos sabem. Quando a natureza visibiliza seu poder, para além de belo, pode ser extremamente perigoso estar exposto à sua ação. É perigoso viver, certamente, uma vez que somos parte da natureza e participamos de sua capacidade destrutiva.

Conforme os elementos vão sendo adicionados, o conjunto de elementos que integram determinado evento pode se completar e complementar, iniciando a sua manifestação. Se soubéssemos avaliar quais elementos e em qual ordem, poderíamos antecipar sua ocorrência.

A ciência busca entender os processos naturais, isso inclui nossos pensamentos e sentimentos. As variáveis são imensas, as interferências entre elas de igual monta e isso dificulta tudo. Já aprendemos a detectar quais são os elementos e os tipos de interação entre vários deles. Isso nos conduziu a uma era de tecnologias de planejamento e de prevenção.

No entanto, o próprio uso do controle pode ser um elemento disparador de novos fatos e isso pode acelerar a escalada dos níveis de intervenção. Por isso, a cautela sempre foi e será uma atitude indicada em qualquer situação. Ser cauteloso não significa ser inerte, imóvel ou receoso de agir. É preferir avaliar cuidadosamente o máximo possível de possibilidades antes de decidir.

Quando se constrói referenciais firmes, mesmo que as situações se tornem complicadas, haverá um ponto a que se apegar. É como a ideia de vértice, aquele ponto de encontro que une duas retas (como na letra V). Se tudo girar e se misturar alcance o centro do vórtice e permaneça nele até que tenha condições de avançar ou agir, novamente.

Dizem que, de tempos em tempos, precisamos de uma sacudida para não desistirmos de avançar por preguiça ou desânimo*. Construa seu caminho de modo que ao aparecer um tufão, encontre um vértice em seu vórtice e saia mais sábio e mais fortalecido por ele.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 21 de setembro de 2015.

* Na Física, reconhecemos a natureza dinâmica do universo não só quando nos voltamos para as pequenas dimensões — para o mundo dos átomos e dos núcleos — mas igualmente quando nos voltamos para as grandes dimensões — para o mundo das estrelas e das galáxias. Através de nossos poderosos telescópios, observamos um universo em permanente movimento. Nuvens rotatórias de hidrogênio contraem-se para formar estrelas, aquecendo-se nesse processo até que se tornem fogos candentes no céu. Atingindo esse estágio, elas continuam a girar, algumas delas lançando material no espaço, que se movimenta em espirais e se condensa em planetas girando em torno da estrela.
Enfim, passados milhões de anos, quando quase todo o seu combustível de hidrogênio foi consumido, uma estrela se expande e se contrai novamente no derradeiro colapso gravitacional. Esse colapso pode envolver explosões gigantescas e pode até mesmo fazer com que a estrela se torne um buraco negro. Todas essas atividades — a formação de estrelas a partir de nuvens de gás interestelar, sua contração e posterior expansão e seu colapso final — podem ser observadas em algum ponto dos céus.
As estrelas em rotação, contração, expansão ou explosão aglutinam-se em galáxias de diversas formas — discos planos, esferas, espirais, etc. — que, uma vez mais, não são imóveis, mas giram. Nossa galáxia, a Via Láctea, é um imenso disco de estrelas e gás girando no espaço como uma roda de dimensões imensas, de tal forma que todas as suas estrelas — inclusive o Sol e seus planetas — se movem em torno do centro da galáxia.
(Fritjof Capra — O Tao da Física, p.150-151)

16 de set. de 2015

A ira pira e inspira


A ira inspira, criado em 13-09-2015.

ira
cólera, raiva, indignação, desejo de vingança. A ira é um impulso momentâneo positivamente utilizado quando a motivação é uma injustiça. Quando reprimida, torna-se raiva (ou ódio), emoção destrutiva para quem a sente e para quem é objeto dela.
A imaturidade no lidar com esse sentimento gera o desejo descontrolado de vingança, sentimento de desonra e indignação; por fim, dominada por pensamentos negativos, a pessoa comporta-se de maneira feroz, animal, destrutiva.

Não permita que a ira domine depressa o seu espírito, pois a ira se aloja no íntimo dos tolos.
(Biblia — Eclesiastes 7:9)

inspirações… Inspirações… inspirações…

Precisei refletir sobre os discursos e práticas incentivadores do ódio que se ampliam no país e no mundo. Do que percebi, discursos falseados de razão, preconceitos e boatos espalhados por robôs da internet (programas automatizados ou perfis falsos) tornando-se inspirações para o mal.

A primeira coisa que chama a atenção é a ira que carregam, expressam e disseminam. Um projeto de descarregar frustrações sem se dar o trabalho de elaborar a questão. Não à toa, irmãos gêmeos, pai e filho, estrangeiro e crianças pobres — para citar apenas exemplos bem recentes — acabam sofrendo, geralmente por grupos covardes que dão vazão ao seu ódio.

A segunda, está relacionada aos problemas de ordem psicológica* que demonstram ter — alguns em grau elevado — quando se expressam. Suas desordens mentais são aparentemente ignoradas por quem eles atraem para, juntos, executarem ataques sem motivo aparente.

São fluxos de ar retidos que incham a pessoa, alteram o semblante e endurecem a expressão facial, atiçam o sangue nos olhos e obscurecem a razão. São textos desconexos que pretendem apenas o ataque e não melhorar algo. São imagens escolhidas ou trabalhadas para trazer o pior à tona.

Continuo tentando, após reunir os dados disponíveis, entender a fonte da inspiração, a força motriz desses eventos tão atuais, dessa sombra obscurecedora que paira na mente de tantos, esse retorno à Idade das Trevas. Confesso que, por mais desenvolvida que seja a lógica utilizada ou a qualidade dos textos que os analisam, não vislumbro como dar conta do que está aí e isso me atemoriza.

Inércia ou inação não contribuem para a mudança para melhor. Criei, então, uma imagem para competir com essa onda, afirmando outra inspiração. É como aquela história dos dois lobos, lembra? Qual você alimenta?

Wellington de Oliveira Teixeira, em 16 de setembro de 2015.

* A dificuldade relativa ao controle do impulso agressivo, manifesto por reações explosivas não planejadas e desproporcionais ao fator desencadeador, está relacionada ao Transtorno explosivo intermitente (TEI) que alia causas biológicas às psicossociais em sua origem.
Portadores do transtorno perdem a sua razão numa espécie de apagão do cérebro que é seguido de um descontrole. A percepção da iminência do que está para acontecer existe, mas isso não impede — como acontece em pessoas mais saudáveis — de usar de gestos obscenos, ameaçar, xingar ou gritar por conta da demora em um atendimento no caixa; de expressar uma crise de fúria que leva a jogar fora ou quebrar algo; em alguns casos, algo pior, uma vez que relatam, de forma figurada ou não, o desejo de matar alguém, a necessidade de ferir ou atacar.
Popularmente conhecidos como sujeitos de “pavio curto” (termo que ilustra o fato de serem explosivos), eles relatam que esses sintomas são precedidos de pensamentos raivosos e níveis crescentes de tensão, excitação, palpitações e aperto no peito. Por fim, encaram seus atos e as consequências com vergonha, culpa e arrependimento.

13 de set. de 2015

Abatimento

Abatimento, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 13-09-2015.
Abatimento*, criado em 13-09-2015.

Já não tem como voltar atrás,
nem acertar o que já foi demais; só por nós dois, eu sei que não dá.
Daqui há pouco o sol vai partir
e eu vou ficar parado como um barco que procura um farol pra se guiar.
Partir sem lugar pra chegar
é como ter que ir e não poder nunca mais voltar…
Fugi, fui deixando você e me perdendo de mim:
é tão difícil enxergar o fim!

(Flávio Venturini — Navios)


O acinzentado do céu ajuda essa sensação de estranhamento, um não saber bem o que se quer, como aquele momento que se vivencia ao abrir a porta da geladeira. É uma certa indecisão, estar entre um lugar ou outro, e não conseguir decidir entre o ir e o ficar. Limbo. Nuvem que paira e não diz bem a que veio.

O intervalo que permite um repouso após a convulsão de sentimentos, os pensamentos embaralhados, as recordações inexatas que são promovidas quando ocorre o distanciamento, a despedida, a viagem de ida sem retorno. Uma cena de filme onde todos torcem para a personagem se virar e olhar, pois o futuro, o feliz para sempre, está logo ali, à distância de um beijo.

Diz-se que alguém está abatido quando entra nesse estágio. É que a base da palavra induz a recordar dos abatedouros, do lugar dos sacrifícios, da falta de esperança e de possibilidades futuras provocada pelo golpe do destino.

Esse esvaziamento das energias, esse esmaecimento das cores, certamente pode ser relacionado à ausência da luz que se apagou, do sorriso desfeito, do amargo retido e dos sonhos tragados — para quem fica. Não sei dizer bem o que, para quem vai. Mas como toda viagem, ao se cruzar as fronteiras, um novo mundo nos aguarda. Talvez uma nova língua, novos costumes, novos encontros. A novidade com todos os percalços e construções possíveis.

Estou novamente atravessando um período de luto. Dia a pós dia superando a pressão no peito, reerguendo meus escudos, fortalecendo minhas determinações. Assim como a vida é um presente, a morte é um futuro certo. Há motivos relevantes para se dar um tempo e refletir, intensificar as marcas deixadas pela vida exaurida. Mas permitir-se a dor não é um ato de entrega ou desistência. É reprisar as boas oportunidades que a vida concedeu nos encontros efetuados e resíduos que permaneceram.

Eu sei que isso soa melancólico demais, mas é necessário: algo assim como esse dia, lindo e triste.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 13 de setembro de 2015.

* Custei muito para conseguir produzir esse texto. É como uma espécie de despedida para o amigo 'brasileiro quase mexicano' com quem compartilhei boas aventuras e risadas, Carlos Leonardo da Silva Querino (eu o chamava de Caleo, por conta de Smallville, a série que assistimos juntos). Ele morreu no dia 08-SET. Certamente levou uma parte de mim consigo e eu vou me esforçar para honrar a sua parte em mim.

4 de set. de 2015

Mesmo se o redemoinho capturar e revolucionar

Redemoinho, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 04-09-2015.
Redemoinho *, criado em 04-09-2015.

Olhos que conseguem encontrar o lado bom das coisas,
mesmo quando o bom não está disponível.

(Amy Grant — Father Eyes)


Gostaria de elevar-me, fluir, ultrapassar as formas, descobrir um modo de contato.

Fosse possível nesse momento, perguntaria: foi (o necessário; uma vontade soberana; a expressão de ser…)?

É que eu acredito que, mesmo se o redemoinho capturar e revolucionar até não mais poder, e eu e todos ao redor ficarmos com os olhos areados, mareados, molhados… ainda assim, a força de vida poderá ser projetada, um desejo se tornará uma vontade plena, alcançando o infinito, realidades diferenciadas.

É que surge a hora de exigir a sabedoria ao extremo, evitar dar razões em prol do entendimento que ultrapasse a lógica do possível, afirmar todas as forças que percorreram a substância, iluminar a força escura que captura para um outro fluxo de percepção e realidade.

Cada ser tem um tempo de expressão que a qualquer momento pode ser surpreendido, expandido ou encurtado. Mas estar no olho do tornado é assustador, até para um expectador.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 04 de setembro de 2015.

* Meu amigo Carlos Leonardo (Caleo) foi hospitalizado em urgência, e encontra-se em estado grave. Todos foram surpreendidos. Então, nesse momento, minha força desejante é para que sua vida possa se expressar em sua totalidade: o super-homem vencendo a Kriptonita.

2 de set. de 2015

A catedral da riqueza e da dor

Catedrais da dor, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 30-08-2015.
Catedrais da dor, criado em 30-08-2015.

Eu não sei se é o céu ou o inferno, qual dos dois você vai ter que encarar; e foi pra não lhe deixar no horror que eu vim para lhe acalmar.
Se o pecado anda sempre ao seu lado e o demônio vive a lhe tentar, chegou a luz no fim do seu túnel, minha filha, o meu cajado vai lhe purificar.
Para os pobres e desesperados e todas as almas sem lar vendo barato a minha nova água benta: três prestações, qualquer um pode pagar.
O sucesso da minha existência está ligado ao exercício da fé, pois se ela remove montanhas também traz grana e um monte de mulher.
"Pois eu transformo água em vinho, chão em céu, pau em pedra, cuspe em mel: pra mim não existe impossível!." (pastor João e a igreja invisível)
(Raul Seixas — Pastor João e a Igreja Invisível)

Você pode firmemente tentar desenvolver algum sentido para o mundo, para os abusos cometidos por seres humanos sobre outros. Talvez, essa seja a única coisa sensata a fazer para se manter alguma sanidade em meio a tanta loucura e desordens — naturais ou produzidas — para cooptar seus sentimentos, pensamentos e vontades: seu ser.

Alguns dos pouquíssimos agentes financeiros poderosos derrubam países com uma orquestrada saída de investimentos. Para o retorno, só exigem uma considerável elevação dos lucros que terão às custas da população local.

Algumas das poderosas farmacêuticas utilizam-se da produção de leis para impedirem qualquer medicamento que cure verdadeiramente uma doença — o custo da manutenção de um tratamento vitalício que produz uma estabilidade de vida enriquece extremamente mais.

O domínio dos preços de mercado dos alimentos, inclusive em países considerados desenvolvidos ou no supermercado bem próximo, é algo que dá náusea, produz desnutrição e miséria humana — mas faz-se de forma simples, jogando-se fora uma quantia imensa que é chamada de excedente. Claro que os lucros poderiam ser superiores ao ter seu preço reduzido e ser vendido em quantidades, claro que iniciativas de doação de produtos com validade próximas do fim são esquecidas.

É preciso ignorar que isso gera subprodutos como armamentos, segurança, polícias e guerras. A vida humana é apenas fonte de renda para esses que se utilizam de um poder conquistado através dos tempos com apropriações de terras, com o desenvolvimento de doenças com agrotóxicos, entre outros, com subempregos e escravidões modernas, com um mercado fácil para os tráficos de órgãos para transplantes, de corpos para a prostituição e práticas indizíveis.

Foi criada uma nova forma de religião. Em sua catedral, a adoração é ao dinheiro; o seu louvor, a desesperança; seu ensinamento, a dor; sua pregação, o mercado. Não resta humanidade detectável, apenas a sede de poder e domínio. Para sua ostentação e glória, a indução a um modo decadente de ser que é endeusado, manipulando-se a percepção das pessoas pela comunicação mundial*.

Quer saber o mais triste: a maioria aplaude e afirma ser este um bom caminho, o ensina e o reproduz. Se isso não é insanidade, me internem, certamente o maluco sou eu**.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 02 de setembro de 2015.

* Os meios de comunicação esmeram-se em torná-los desejáveis, imitáveis. Seres humanos de origem simples abrem mão do alimento para comprar produtos de marca, iludidos com a promessa do status. A busca desenfreada de lucros está produzindo o impensável: de um lado 0,9% da população e de outro o resto. Já parou para pensar que toda a riqueza do mundo está dividida igualmente entre os dois? Aceitamos a invasão de países, resultado de forjadas e praticadas ações terroristas, pois isso facilita a apropriação de suas riquezas. É fácil utilizar-se de discórdia na população, incitar revoltas ou disputas políticas para eleger capachos do poder financeiro […]. E tudo isso 'passa batido', não é?

** Raul Seixas produziu críticas de uma forma muito interessante, quebrando com os parâmetros convencionais. Uma delas está em Quando acabar, o maluco sou eu!
Toda vez que eu olho no espelho a minha cara, eis que sou normal e que isso é coisa rara (a minha enfermeira tem mania de artista, trepa em minha cama, crente que é uma trapezista).
Eu não vou dizer que eu também seja perfeito, mamãe me viciou a só querer mamar no peito — quando acabar, o maluco sou eu!
O russo que guardava o botão da bomba H tomou um pilequinho e quis mandar tudo pro ar (Seu Zé, preocupado, anda numa de horror, pois falta um carimbo no seu "tito" de eleitor) — quando acabar, o maluco sou eu!
Não bulo com governo, com polícia, nem censura; é tudo gente fina, meu advogado jura. (já pensou o dia em que o papa se tocar e sair pelado pela Itália a cantar?) — quando acabar, o maluco sou eu!
Quando acabar, o maluco sou eu!
Eu sou louco, mas sou feliz. Muito mais louco é quem me diz (eu sou dono do meu nariz em Feira de Santana ou mesmo em Paris!) — quando acabar, o maluco sou eu!
É, a coisa tá feia…

Ultrapassamentos e ressignificações

Ressignificações, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em  01-09-2015.
Ressignificações*, criado em 01-09-2015.

Somos criaturas limitadas, forjadas pela evolução, súditos das leis da natureza, como tudo o mais que existe no cosmos. Nossa vontade é puxada de lá e de cá, de todos os lados, pelo peso dos genes, do ambiente, da imprevisibilidade do mundo. Mas, em algum lugar, nas brechas do possível, ainda dá para moldar nossa vontade, ao menos de vez em quando. Se existe um músculo que precisa ser exercitado sempre, é esse.
(Reinaldo José Lopes — O livre arbítrio existe? Em: Os 11 maiores mistérios do Universo, cap.10, p.189)
Aprendemos a crer e a desenvolver ou modificar uma crença. Esse fato está extremamente conectado à capacidade humana de vislumbrar, imaginar, antecipar e construir. Cada prática no presente é impregnada do aprendizado com o passado e de um ideal, um medo e um prazer no futuro. Vivemos num limbo temporal.

Desse modo, a adaptação estruturou o corpo humano: nas funcionalidades do presente é possível detectar os desenvolvimentos de características diferenciadas em função das novas realidades. Esse pensamento é válido especialmente nas mudanças que estão sendo promovidas pela utilização de novas tecnologias.

Essa mutabilidade é um desafio a ser encarado pela humanidade. Por exemplo, a manipulação genética e embrionária está traçando um rumo diferenciado dos processos básicos da reprodução. A antiga disputa entre espermatozoides, em prol da melhores qualificações para o novo ser, fica em segundo plano quando é possível fertilizar in vitro, corrigir processos estruturais ou determinar características.

Esse e outros temas assustam. Mas o medo reduz-se quando entendemos que há sempre algo a aprender com o novo. Exige-se, no entanto, o desenvolvimento de uma ética capaz de lidar com cada nova transformação. Ela será o instrumento necessário para uma transição mais tranquila entre o modo antigo e os novos.

Se vai ser possível gerar uma nova raça, não sei. Sonho com a manutenção dos princípios fundamentais que — aos trancos e barrancos, discórdias e guerras — produziram as relações sociais pacíficas. Se nos basearmos apenas nos indícios atuais, como o ressurgimento global de correntes extremistas e dos fundamentalismos, estamos longe de poder acreditar no ultrapassamento da barbárie.

No entanto, ampliam-se os atos, antes isolados, que mobilizam pessoas de diversos países em prol de melhoria da qualidade de vida para todos e da preservação dos recursos naturais. É desta ressignificação da humanidade que surgem os movimentos que podem nos conduzir ao cidadão do mundo: um novo modo planetário de ser e estar e agir em prol da vida.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 02 de setembro de 2015.

* A Psicologia e a Neurolinguística, aliadas, permitiram uma nova forma de tratamento conhecida como Programação Neurolinguística (PNL). O método prioriza o uso da habilidade humana de atribuir significados: um significante possui significados, como num dicionário. A terapia tenta gerar a ressignificação, processo em que o indivíduo desenvolve sua compreensão sobre as circunstâncias da vida e altera o seu modo de perceber determinadas vivências. De forma consciente, é possível produzir sentidos diversos, mais positivos ou satisfatórios, para eventos traumáticos, gerando resiliência. Isso resulta em novas práticas de vida e reconduz ao equilíbrio emocional.

25 de ago. de 2015

É preciso estender a visão de mundo

Visão de mundo, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 25-08-2015.
Visão de mundo, criado em 25-08-2015.

32. E o mestre disse em meio ao silêncio:
"No caminho de nossa felicidade encontraremos o conhecimento para o qual escolhemos esta vida. É assim que aprendi hoje e prefiro deixá-los agora para seguirem o seu caminho como desejarem."
(Richard Bach — Ilusões. As aventuras de um messias indeciso, p.25-26)

Às vezes preciso rir de mim mesmo, tenho bons motivos para isso: vario, flutuo, me desencontro uma boa parte das vezes. Assemelho-me, do atual ponto de vista, como as ondas do mar em dia ensolarado e ventoso — pode até ser algo lindo de se observar; mas em outros momentos, a percepção pode ser bem diferenciada, especialmente quando estou lidando com os processos de sobreviver e conquistar obstáculos ou intempéries.

Nem melhor nem pior que ninguém, até acredito que há processos de desenvolver a vida bem mais ricos que o meu e que me encantam. Pessoas capazes de dar nó em pingo d'água no enfrentamento de suas questões (e a de outros, simultaneamente).

Eu já adotei o modo aprendiz nesse jogo da vida. Nele, capitanear os rumos é algo bem complicado, mas necessário. Em algum momento é preciso deixar o banco da escola e ir praticar. Então, procuro estagiar e buscar experiências e experimentações com outros que possuem o mesmo objetivo; criar grupos de interação que me permitam produzir e absorver desenvolvimentos.

Quando reflito sobre o quanto fui isolacionista, até me surpreendo com essa prática atual — não foi a idade que a trouxe, disso tenho certeza; foi a vivência e a transformação da vivência em aprendizado. Aqui e ali, me obrigo a um encontro comigo, sozinho, para ver os resultados. Me debruço sobre os rabiscos produzidos, os altos e baixos do terreno conquistado e o alcance que a nova energia conquistada na caminhada me permitirá ir, na próxima aventura. Gosto tanto que adotei a nomeação de poder pessoal (encontrada nos ensinamentos de Dom Juan, um xamã da tribo Yaqui) para essa força propulsora da vida.

Por fim, faço uma arguição em nível bem profundo: Qual a força de vontade me guia? As propostas e práticas que adotei produziram caminhos de liberdade ou de aprisionamentos? Continuo em paz comigo e com o percurso que faço? Compartilho com outros guerreiros os seus e os meus modos de superação, sem invadir-lhe a jornada pessoal?

Só após responder cuidadosa e verdadeiramente a essas questões eu me permito seguir nessa busca de ampliar a absorção e a difusão desse espectro de energia luminosa que torna a vida algo melhor para todos. Há realidades e planos de realidade, todas com potencia para expansão ou desperdício da força que se tem. Uma coisa já faz parte do meu reservatório de conhecimentos: para ir adiante, vivendo com plenitude, é preciso estender a visão de mundo, interagir e unir forças*.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 25 de agosto de 2015.

* Este pode ser considerado um modus operandi da natureza da evolução. São consideradas espécies evolutivamente complexas, aquelas capazes de autoconsciência. Reconhecer-se no espelho tem sido o método de avaliação dessa capacidade. Primatas, golfinhos, orcas e elefantes compartilham com os humanos essa capacidade.
Em comum, essas espécies demandam um grande período de cuidado dos pais e uma vivência social posterior, resultando em desenvolvimento de emoções e entendimento da alteridade (eu e o outro). Diferentemente de espécies cuja relação social é totalitária (abelhas, formigas ou cupins possuem estratificação social), a evolução da inter-relação amplia a criação das conexões complexas que denominamos amor.

24 de ago. de 2015

Por um pouco de ulterioridade

Ulterioridade, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 24-08-2015.
Ulterioridade, criado em 24-08-2015.

O mundo é o seu caderno, as páginas em que você faz suas somas.
Não é a realidade, embora você possa exprimir a realidade, ali, se quiser. Você também tem a liberdade de escrever tolices, ou mentiras, ou rasgar as páginas.
O pecado original é limitar o Ser. Não o faça.

(Richard Bach — Ilusões. As aventuras de um messias indeciso, p.103-104)

Calma, amigo, aquele momento que a escuridão desce e cobre a visão tem duração e, daqui a pouco, a luz irá se insinuar o suficiente para produzir o ponto de referência tão necessário. É que chegou o momento em que é fundamental parar. O olhar deve se inverter, o dentro chama, aliás, grita.

E não importa onde você esteja, não se apoie em nenhuma estrutura que você já construiu, exceto sua plenitude. Sentir-se engolfado pelo nada não é algo sui generis, mas repetitivo e periódico: não perceber ou ignorar os avisos direcionando para adiante, ocupar a (tão em voga atualmente!) zona de conforto, que o seduziu, invocar o princípio da anterioridade… nada disso funciona mais.

A vida não é mar de cores o tempo todo — isso exigiria um nível de iluminação que seguramente a maior parte desse universo humano não conseguiu acender interiormente. Mesmo que apenas um daqueles mitos que nos levam adiante, aquilo que no senso comum é o irrealizável, o inalcançável, um ideal; nunca duvide de que é possível referenciar-se no adiante para construir um atual mais efetivo e pleno.

É que a vida sem esse senso de ulterioridade*, de possibilidades a serem atualizadas é um tremendo pé-no-saco (ou nos seios). Veja quantos juízes da vida e dos outros passeiam pelo mundo, ouça ou leia quantos discursos que transmitem apenas o ódio. Pessoas carregadas de um sofrimento interno tão grande que me comove.

Não quero fugir da responsabilidade de estar no aqui e no agora, de mim mesmo ou da dor necessária. Não é disso que se trata essa vontade de ulterioridade. Porque faz parte da vida, desde que nascemos, essa benção e maldição simultâneas do esforço para a conquista, do aprendizado da superação e a satisfação da conquista.

Certamente, lá na frente, também haverá muito choro, muito adeus, muito de tudo que nos é permitido como ser humano. É que, quando o muito do que causa dor vem e por muito tempo, é preciso um pouco de alívio imediato. Uma respirada durante o processo de ser engolfado por ondas potentes de experiências da vida.

Todos necessitam de um toque de diversão — induzido, se necessário — quais pequenos pedaços de felicidade que podem ser escolhidos como os proporcionadores da momentânea tranquilidade. Deserto demais enlouquece, cega, mata. E a vida exige equilíbrio: quando tudo escurece demais, é preciso produzir um ponto de clareza; e quando tudo está claro demais, é preciso produzir uma sombra de dúvidas. Só sujeitos enfraquecidos em seu poder de expressividade acreditam em tudo o que é dito; só sujeitos imbecilizados pela prepotência acreditam que sabem tudo. É preciso buscar constantemente o mais adiante e renovar a vida.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 24 de agosto de 2015.

* Usar memória e inteligência visando reflexão sobre o futuro. O possível de acontecer depois, que está além de, situado do lado de lá do aqui.
Produzir uma percepção instantânea relativa à capacidade de aprofundar-se, de prosseguir, diretamente conectadas às possibilidades que poderão ser atualizadas no posterior, no além deste momento.

22 de ago. de 2015

Além da inferioridade de estimação

Inferioridade de estimação, criada por Wellington de Oliveira Teixeira em 18-08-2015.
Inferioridade de estimação, criado em 18-08-2015.

O senso comum
  • faz coincidir causa e intenção: subjaz-lhe uma visão do mundo assente na ação e no princípio da criatividade e da responsabilidade individuais.
  • é prático e pragmático: reproduz-se colado às trajetórias e às experiências de vida de um dado grupo social e nessa correspondência se afirma fiável e securizante.
  • é transparente e evidente: desconfia da opacidade dos objetivos tecnológicos e do esoterismo do conhecimento em nome do princípio da igualdade do acesso ao discurso, à competência cognitiva e à competência linguística.
  • é indisciplinar e imetódico: não resulta de uma prática especificamente orientada para o produzir; reproduz-se espontaneamente no suceder cotidiano da vida.
  • aceita o qu; existe tal como existe: privilegia a ação que não produza rupturas significativas no real.
  • ;
  • é retórico e metafórico: não ensina, persuade […]
(Boaventura de Souza Santos — Um discurso sobre as ciências)

A marca da ignorância humana está em acreditar que rebaixando outro ser alguém se torna melhor. Erroneamente atribuída à classe mais pobre, essa atitude vem sendo ensinada e adotada por elites imbecis que buscam artifícios para suplantar concorrentes — todos são potenciais ocupadores de seu lugar, inimigos a serem combatidos.

Perdoem-me a parte do exagero e, talvez, o preconceito, já que há exceções. Mas exceções só confirmam a regra.

Não é genético, é produzido por séculos de ensinamentos equivocados onde superar é destruir o outro. Uma simples observação da natureza bastaria para entender que a seleção dos mais aptos tem como finalidade fortalecer para perpetuar o grupo. É uma competição, sim. Não para esmagar.

Interpretar como humilhação atrapalha absorver a verdadeira ideia propiciada pela competição: é preciso melhorar o uso das habilidades pessoais. O conceito é generalizável, vale para a construção do mais belo, mais durável e mais sustentável, também.

O poder da observação, da renovação e da avaliação crítica que os melhores resultados permitem são ignorados. Por bons motivos? Claro que não! Ensinados a focar a perda e ignorar o aprendizado, um egoísmo sem nexo ganha a dianteira. Há equilíbrio no universo: algo se retira, algo é reposto; em vez de perdas, há transformação. Esse conceito em nível mais pleno fica prejudicado por uma vaidade que não leva a nada.

Sentimentos de inferioridade impedem o aperfeiçoamento, mas há prazer em cultivá-los, como se fossem animalzinho de estimação. Não fosse assim, por que a insistência em magoar-se quando se é superado em um determinado momento? De crianças a adultos, de pensadores a atletas; vai além quem aprende com seus erros (*).

Pode parecer piegas, mas não o é de forma alguma: igualitarismo de recursos cedeu lugar à necessidade da carta na manga não ligada a qualidades individuais. Dúvidas? Pense nos atuais jogos olímpicos: quem tem melhores equipamentos ou tecnologias à disposição tende a vencer a competição. Afinal de contas, quem venceu? O atleta ou os tecnólogos? Vitória num evento não reflete diretamente capacidades pessoais. O fariam se os recursos estivessem disponibilizados indistintamente, já que em condições iguais sobressaem os mais aptos, tornando-se exemplos para os outros, estímulo à superação.

Reflita a esse respeito. Ao invés de mestres, são necessários gestores de ego. O atual fluxo que rege as sociedades modernas produz pessoas ressentidas, maldosas e práticas contaminadas por uma ideologia perversa. Em algum momento, por desvio da natureza, adotou-se uma subjetividade rancorosa: o outro torna-se um inimigo que precisa ser derrotado, desqualificado, destruído. Há prazer e ilusão de que isso torna alguém melhor.

É por isso que ocupar o primeiro lugar é tornar-se o mais detestado. Significa isolamento e sofrimento. Os famosos e suas rotas suicidárias: drogadicção, consumismo desenfreado, desconfiança em proporção exacerbada por causa do dinheiro, poder e fama. Seu troféu? O pedestal da infelicidade.

A maior e pior marca do enraizamento interno desse processo são profissionais e educadores que não atuam visando que aprendizes os superem — para os mestres no passado, a incontestável comprovação de mais altas habilidades de fazer era transmitir.

Una-se a mim, porque é hora reverter esse quadro. Imagine todos potencializando todos, coletivamente. Os que vencem determinado obstáculo ensinam seus métodos de superação e aprendem novos. Em novo slogan, solidariedade é sinônimo de felicidade. O efeito do uso do velho ensinamento (ao próximo como a si mesmo) é benéfico e evidente: um mundo que se transforma por ultrapassamentos benéficos a todos.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 22 de agosto de 2015.

* Boaventura defende no texto já que a ciência Moderna produziu conhecimentos (o cientista é um ignorante especializado) e desconhecimentos (o cidadão comum é um ignorante generalizado), a Pós-moderna deve conectar todas as formas de conhecimento, mesmo o prático ou vulgar do cotidiano, anteriormente ridicularizados. Mas destaca, ao reabilitar o senso comum, a necessidade de contribuir para o seu enriquecido por meio de um diálogo permanente com o conhecimento científico.
Um olhar acurado sobre a cultura e prática populares permite novos aprendizados às ciências. Sob o crivo da razão, seu funcionamento e reprodução são mais eficazes. Dessa visão, novos elementos renovaram nosso cotidiano: de artesanatos e perfumes ao uso de fibras de plantas na construção de casas ecológicas e resistentes.

20 de ago. de 2015

Liberta, libera e humaniza

Libertação e liberação, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 19-08-2015.
Libertação e liberação, criado em 19-08-2015.

Ao longo dos anos, a combinação de “intervenções humanitárias” mal pensadas e mal conduzidas com políticas restritivas e discriminatórias de gestão de fluxos migratórios e de refugiados pela União Europeia vem provocando a morte de milhares de seres humanos no Mediterrâneo, e também vem afogando a todos nós num mar de hipocrisia. Nesta triste fábula da política contemporânea, os únicos heróis são aqueles que conseguem sobreviver às guerras, à intolerância, à política europeia, às ondas e à nossa apatia.
Eu quero que prevaleça o direito de voar dentro das possibilidades individuais, alienando as negativas imediatas, os 'nãos' que constantemente se sobrepõem à vida. O monstro da desumanidade aprendeu a camuflar-se e embrenhou-se nas pequenas coisas consideradas ingênuas ou inocentes. Ele não precisa dar um bote, já se enraizou no superficial e aprofunda-se diariamente no social sob o pseudônimo de legalidade. É legal deixar morrer!

Uma cineasta alemã descreveu, numa entrevista, que enquanto viajam em cruzeiros caríssimos, afortunados observaram pequenos barcos de imigrantes sofridos, destituídos de suas mínimas condições de vida, obrigados a deixar o que lhes constituiu a vida para trás. Ajuda? Solidariedade? Claro que não!

Há uma reação europeia incrível a estes imigrantes: querem evitá-los a qualquer custo. Esquecem que são pessoas e possuem um direito fundamental a qualquer terra no mundo, porque todas as terras foram ocupadas desse modo: migração constante. A terra não pertence, ela é direito de todos os seres humanos. Só inumanos, tornados assim pela ganância e pela massiva construção de uma subjetividade conectada ao consumo e valorizada apenas pelas posses, não aceitam o fato.

Novamente, a organização de bolsões de ocupação pela Europa. Não bastam as favelas ou guetos do mundo, as regiões sem ação mínima do Estado para permitir condições dignas de vida.

Minha questão não é de pena. É um grito de alerta e uma exigência de respeito à humanidade que está sendo retirada de seres humanos. O estrangeiro é só um ser humano nascido em outra terra. Não são desocupados, não são bandidos. Muitos foram colocados à margem do consumo, despossuídos de si. Vivenciaram a desintegração de suas famílias, ficaram alienados de tudo, em nível tal que o conceito de vida vai se desbotando — diante da eminência da morte, a consciência será um luxo efêmero, que acabará assim como tudo o mais.

Sua dor deveria nos mobilizar para pressionar os governos a uma ação verdadeira de enfrentamento à pressão de empresas globais que não querem perder a facilidade da obtenção das riquezas das nações — estes, sim, verdadeiros homicidas e sanguinários ditadores.

Sou descendente de imigrantes que vieram expulsos de seus lares por conta da guerra — o modo de enriquecimento dos que produzem o mercado da balística e da morte. No Novo Mundo, encontraram no norte fluminense solo para plantarem, ensinarem a farmacêutica, cuidarem dos partos de seus vizinhos, e construírem cidades, desenvolverem a musicalidade e a espiritualidade. O sobrenome da família até recebeu honraria de Câmara de vereadores de Serro Frio pelo desenvolvimento trazido e compartilhado.

A miscigenação é capaz de, contra tudo o que possa desqualificá-la, produzir transformação positiva. Já fomos conhecidos como um povo que gentil, hospitaleiro, atencioso com todos os estranhos. Pena que o imperialismo comercial e financeiro nos ensinou o egoísmo, o pisar no outro para ser melhor. Não sei nomear o que isso tornou muitos — estes que atualmente são maioria dentre os que fazem discursos de ódio e xenofóbico*. Não há outra alternativa, senão reconstruir nossa humanidade por uma contraposição clara à hegemonia do financeiro sobre a vida.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 19-08-2015.

* Xenofobia
medo, aversão ou profunda antipatia em relação aos estrangeiros, desconfiança em relação a pessoas estranhas. Ocorre a partir das percepções de um grupo em relação aos externos: por medo da perda de identidade, por suspeição acerca de suas atividades, via agressão ou desejo de eliminar qualquer presença que possa produzir impureza racial. Seu alvo, além de pessoas de outros países, inclui outras culturas, subculturas, sistemas de crenças ou características físicas. Mais profundamente, é o medo do desconhecido, mascarado como aversão ou ódio, gerando preconceitos.