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25 de jan. de 2016

Nonsense faz todo o sentido

Nonsense, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 17-01-2016.
Nonsense, criado em 17-01-2016.

Sócrates: Se imaginais que, matando homens, evitareis que alguém vos repreenda a má vida, estais enganados; essa não é uma forma de libertação, nem é inteiramente eficaz, nem honrosa; esta outra, sim, é a mais honrosa e mais fácil: em vez de tapar a boca dos outros, preparar-se para ser o melhor possível. Com este vaticínio, despeço-me de vós que me condenastes.
(Platão — Defesa de Sócrates)


O nonsense*, o que nos faz ficar confundidos por não haver referenciais imediatos e prontos para dar conta da questão ou acontecimento é algo fundamental a artes e ao pensamento.

O padrão, a norma e o estabelecido não nos fornecem nada além do óbvio — que nem sempre pode ser considerado eficiente —, é apenas reprodução social. É o rotineiro, é o mais do mesmo. Tem seu valor quando bem usado, mas não é tudo o que existe.

Diariamente encontramos situações anômalas, fora da medianidade ou normalidade. Muitos as ignoram na maioria das vezes. Alguns poucos conseguem perceber nelas um potencial parcialmente oculto e avançam no processo de absorve-las.

Então, um dia, alguém aponta uma e afirma a sua importância — uma quebra de paradigmas — a partir de então, muitos a aceitam e a justificam mesmo que alguns não consigam libertar-se das padronizações anteriores.

Maurits Cornelis Escher era extremamente hábil nas ilusões de ótica com elementos geométricos. Muitos ficam fascinados pelo modo como usou o absurdo para criar arte e, certamente, sente seu pensamento ser provocado ao observar suas obras.

Com uma obra tão provocadora, Escher demonstrou que é uma opção viver apenas na mediocridade, ser mediano, dentro da norma. É possível entrar nesse movimento da mente que ultrapassa a razão, que sensibiliza, que extrapola o esperado. E este é um grande desafio para quem deseja sair do lugar comum, tornar sua vida criativa e especial.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 25 de janeiro de 2016.

* essa expressão inglesa denota algo sem sentido, contra-senso ou absurdo, disparatado, sem nexo. Algo surreal. As Obras de Escher fazem do plano uma superfície de planos que causam um curto circuito nos padrões visuais esperados.

16 de jan. de 2016

Um ventinho favorável

Vento Favorável, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 11-10-2015.
Vento Favorável*, criado em 11-10-2015.

Mas chegou um dia que Chiang desapareceu. Estivera conversando tranquilamente com todos eles, exortando-os a nunca deixar de aprender, de treinar e de esforçar-se para compreender mais o princípio invisível e perfeito de toda a vida. Mas, enquanto falava, suas penas tornaram-se mais brilhantes, cada vez mais brilhantes, e, finalmente, tão brilhantes que nenhuma gaivota pôde mais olhar para ele.
— Fernão — disse, e essas foram as últimas palavras que pronunciou —, continue a trabalhar no amor.
Quando conseguiram olhar novamente, Chiang havia desaparecido.

(Richard Bach — Fernão Capelo Gaivota, p.59)


Sabem muito bem disso tantos amantes dos esportes, profissionais ou amadores. um empurrãozinho e se alcança a melhor corrente, curva, onda, direção, o alvo.

Pra muitos, apenas o acaso. Alguns guerreiros incansáveis, porém, se aprimoram em distinguir o mais leve sopro ao seu redor e aprendem a usá-lo em seu favor. Estrategistas consumados de uma arte muito antiga, o aperfeiçoamento pessoal.

As melhores conquistas são aquelas que, primeiramente, nos aprimoram e também nos mostram que a sorte para um principiante ou para um veterano é fundamental, também.

E justamente aqueles que entenderam os princípios da incerteza da existência, em sua vida — nós não temos o controle de tudo! — que desenvolvem a sua curva de aprendizado utilizando tudo a sua disposição, criativamente. Há talento nisso, sim. Mas um árduo trabalho para torná-lo eficaz, eficiente e excelente. Um instrumento a ser utilizado a qualquer momento, em qualquer situação.

Compreender esse raciocínio não é muito difícil, mas permita-me dizer que o que me encanta mais nesse processo é que ele não é exclusivamente pessoal, é interpessoal. Quase sempre, após alcançarmos nossas pequenas vitórias diárias esquecemos dos agradecimentos. Houve tantos — parentes, amigos, amantes — que deram a sua pitada de boa sorte e incentivo de modo a que conseguíssemos alcançar nosso objetivo…

Aprendizado não se torna completo sem os momentos de retribuir, de usá-lo para tornar a vida (a nossa e a de quem nos rodeia e — quem sabe? — a do mundo) um pouco melhor e agradável. Uma pitadinha de felicidade que se torna o embrião de uma nova fase de vida que é compartilhado e se expande de uma maneira encantadora. Um pequeno brilho, mas que ilumina o suficiente para evitar o abismo em que se cairia adiante.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 16 de janeiro de 2016.

* Obrigado, meu Pilantrão, por ter tornado esses dias tão intensos e iluminado a minha vida.

2 de jan. de 2016

Avançar o máximo possível

Avançar o possível, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 27-12-2015.
Avançar o possível, criado em 27-12-2015.

Fernão Capelo Gaivota viveu solitário o resto dos seus dias, mas voou para muito além dos Penhascos do Fim do Mundo. Sua única mágoa não era a solidão, e sim que as outras gaivotas se recusassem a acreditar na glória do voo que as esperava. Recusavam-se a abrir os olhos e enxergar.
E ele aprendia mais a cada dia.[…]

(Richard Bach — Fernão Capelo Gaivota, p.26)

Perdemos, temos que ultrapassar, deixar para trás, gerar novas referências, há situações completamente fora de nossa esfera de controle, é a vida.

Tudo isso é verdade. Só não use isso como desculpa esfarrapada para não tentar, para não se esforçar em um nível bem maior que o anterior por preguiça, por desatenção, por não querer perder tempo. Sinceramente, o mais comum dos modos que adotamos.

É fácil ver exemplo disso, especialmente quando observamos a criação de crianças: abandona-se o melhor pelo mais prático ou menos exigente. Desde o tipo de alimentação oferecido à participação na sua escolarização ou educação como ser humano e cidadão do mundo.

Só que, ao mesmo tempo em que facilita por não exigir envolvimento pleno, cobra de nós uma entrega imensa — a do desenvolvimento pessoal, nosso e de nossas crianças, adolescentes e jovens.

Superar não é fácil. Superar-se, então, é algo incrível. Mas não se pode esquecer que é isto o que se faz desde o nascimento, num aprendizado árduo que machuca e ao mesmo tempo fortalece, proporcionando um desenvolvimento em todos os níveis.

Cada ser humano (novo ou velho) precisa escapulir da bolha protetora do igual a todos e do senso comum, mas isso não deve ser um processo ingênuo. Cada saída deve preparar melhor para a próxima, por reflexão e análise sincera do que foi ou não conseguido na tentativa — um processo pedagógico que deve ser utilizado em si e em quem está sob a sua responsabilidade —, uma espécie de evolução das estratégias.

Isso é realizar a plenitude diariamente, desconstruindo as armadilhas externas ou internas, ser inteiro no que se faz — em tudo o que se faz. Certo, é um pouco utópico mas, se você analisar com franqueza, todos precisamos de um pouco de utopia. Sonhos são necessários para conseguirmos avançar o máximo possível, do contrário nos robotizamos e nos alienamos do processo de viver.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 02 de janeiro de 2016.

Do mesmo autor de Ilusões, a aventura de vida desta gaivota foi uma leitura que expandiu meus horizontes de pré-adolescente e tornou-se uma leitura que de tempos em tempos sinto a necessidade de revisitar. Uma dica: há uma nova versão, completa, que inclui uma quarta parte.