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26 de jun. de 2016

Reacender-se interiormente

Reacender-se
Reacender-se interiormente*, criado em 26-06-2016.

Nossas ideias, que são tudo a que temos acesso direto, formam um impenetrável 'véu da percepção' entre nós e o mundo exterior. […] É apenas restabelecendo uma ligação direta entre o observador e o objeto externo que o véu pode ser rasgado e o cético vencido.
(Ben Dupré — O véu da percepção, p.16-17)


A marca da ignorância caracteriza os [des]propósitos na vida de qualquer indivíduo. Para os que vão alcançando um campo mais ampliado de visão, ela se manifesta na compreensão do quanto há mais para se aprender e a finitude da forma humana a se contrapor. Para a imensa maioria, é um estado rudimentar de entendimento que estreita a visão da realidade em que vivem.

Mesmo sábios, alguns desistem. O que entenderam ou o que não conseguiram absorver determina uma rota de fuga. Em muitos dos casos, suicidária — uma forma de evitar os conflitos inerentes às vivências do que consideram ser a sua realidade. Os abusos diários de alienação o demonstram.

Ter o propósito inflexível de acender cada vez mais o campo de energia alimenta a vida é algo tão raro, mas tão raro, que foi necessário criar mitos, parábolas, contos, para que o conceito pudesse subsistir: superação é algo possível e necessário.

Os fluxos, as forças, as ondas que constituem o movimento do mundo são um mistério que alguns desejam e tentam desvendar ou, pelo menos, encarar, e tornam isso um alvo para a caminhada nessa esfera de vida.

A veracidade desse desejo concomitante com a firme disposição de seguir nesse sentido é o que pode conduzi-los ao inconcebível, no presente.

Acredito plenamente que conforme caminhamos, aprendemos, nos transformamos gradualmente e — como que de repente — compreendemos que a nossa percepção de mundo se desfez e uma outra realidade foi alcançada: engatinhamos e aprendemos a andar sonhando com o correr e o voar.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 26 de junho de 2016.

* Nossas impressões sensoriais, o modo como apreendemos a realidade (via audição, olfato, paladar, tato e visão) podem não ser um retrato fidedigno do que existe, por serem apenas uma representação dela. Platão oferece o mito da caverna para tentar demonstrar esse pensamento, colocando prisioneiros humanos numa caverna subterrânea onde vêem apenas as próprias sombras ou a dos outros, pela iluminação gerada pelo fogo: o conhecimento do mundo sendo uma sombra da realidade do que existe, devido aos vários tipos de limitações a que estamos submetidos. Uma contraposição entre a ilusão e o conhecimento, o campo do existir e do ser.

19 de jun. de 2016

Paradigma recorrente

Recorrente, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 19-06-2016.
Recorrente, criado em 19-06-2016.

Não duvido, por exemplo, que a mecânica de Newton representa uma melhoria em relação à de Aristóteles e que a de Einstein representa uma melhoria em relação à de Newton como instrumentos para a solução de problemas. Mas não vejo na sua sucessão um caminho coerente de desenvolvimento ontológico.
(Thomas S. Kuhn (*), citado por Ben Dupré Em Mudanças de paradigmas, p.143 )


Determinadas questões podem tornar-se uma representação do medo e, diante delas, fraquejamos. Quantas mãos atadas ou testas suadas diante da prova escolar, da seleção para a Universidade Pública ou para um emprego, confirmam. Algumas são [re]correntes.

Insegurança é um fator indispensável para ativar os centros de avaliação que possuímos e simultaneamente o poder decisório do encarar ou escapar. Desqualificar um mecanismo que é indissociável aos seres vivos é ignorar seu papel, desde a preservação da vida até na composição de estratégias vencedoras de uma realidade adversa.

Nas artes, quando se identifica elementos-chaves ou palavras que reaparecem com frequência na obra de um autor, deve-se propor uma avaliação: é preguiça (repetição de algo que funcionou antes) ou demonstra o 'ainda' não se alcançou — possui outros contextos, afirmando um processo em desenvolvimento para a sua superação?

Nas religiões, pensamentos místicos se referem a recorrência como carma, algo que em diversas vivências é preciso superar para evoluir.

Há casos onde a recorrência desmascara a covardia, a preguiça, a vontade de impotência (ela existe sim: 'ignorância é uma benção!').

Na vida, o processo de aprendizado é uma determinante e a transformação adaptativa ou superativa é uma imposição da natureza. Ignorar tal fato é sofrer consequências dolorosas — 'o que não se aprende pelo amor, a vida ensina pela dor'. Espécies se extinguiram por conta dessa verdade.

Todavia — e como aprecio quando leio isso — não se obtém solução diversa repetindo-se os mesmos procedimentos ou práticas. É preciso permitir uma abertura ao inusitado, ao diferente, ao adverso, ao estranhamento. Do que vestir a o que falar, quem acolher, experimentar é a porta que abre a passagem para a novidade: a mudança de paradigmas.

Mas não é um vale tudo acrítico. Como tudo na vida, deve estar sob o crivo de uma avaliação crítica. Por isso, esta deve estar sob constantemente aperfeiçoamento e aliada à consciência ética e moral — ainda somos seres sociais.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 19 de junho de 2016.

* Artigos que permitem uma introdução interessante sobre as Ladeiras escorregadias proposta pelo Thomas S. Kuhn encontra-se em O legado de Thomas Kuhn após cinquenta anos e Síntese de A Estrutura das Revoluções Científicas, de Thomas Kuhn

4 de jun. de 2016

Efervescências produtivas

Efervescências produtivas, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 04-06-2016
Efervescências produtivas*, criado em 04-06-2016.

O mundo grego é um mundo em que a lei vem sempre em segundo lugar; ela é a potência secundária em relação ao logos que abrange o todo e o refere ao Bem. […] Parece que a consciência moderna do antilogos impôs à lei uma revolução radical. Na medida em que ela rege um mundo de fragmentos não totalizáveis ou totalizados, a lei se torna primordial; ela não diz mais o que é bom, mas é bom o que diz a lei.
(Gille Deleuze — Proust e os Signos, p.130)


Insistir e reproduzir o mesmo é algo antinatural, o modo da natureza agir é produzir novos equilíbrios pelo encontro de elementos parciais e diferenciados, que podem ser de composição ou de decomposição, de união ou de separação, de fortalecimento ou enfraquecimento.

Me encanto de ver um comprimido de vitamina C na água, as pequenas bolhas que, lá do fundo, vão alcançando a superfície. O desgaste do comprimido foi necessário: gerar é [re, de]compor — é assim 100% dos processos que ocorrem nos seres vivos e no mundo mineral.

Sob um olhar atento, processos sociais são nascedouros: circunstâncias, práticas e seus efeitos promovem a gestação do necessário — sementes que abrigam a transição e efetuam a transformação.

Moralizar ou valorizar previamente, além de atrapalhar, deforma a visão do acontecimento. Não se entristece por células da pele, da unha, do cabelo descartadas. Inclusive, isto é a reafirmação da vida: novas composições entre os elementos, surgimento do diferenciado e manutenção das condições para a sua perpetuação.

Agir pedagogicamente é identificar, na fonte, as potencialidades, suas condições e apenas interferir para interceptar as forças que as podem degradar ou enfraquecer.

Não imponha seus conceitos, suas valorizações, suas formas de conquista. Foram úteis e fundamentais à você. Reflita cuidadosamente: cabe ao aprendiz ser dono de seu processo de maturação, não ao mestre determiná-lo.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 04 de junho de 2016.

* efervescência
1.evolução de um gás borbulhante em um meio líquido, por efeito de diminuição da pressão ou de ação de um agente químico.
2. ato ou efeito de ferver; ebulição, fermentação.
3. fig. inquietação do espírito; comoção, excitação.