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3 de nov. de 2014

Conto de fraldas

Conto de Fraldas criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 02-11-2014
Conto de Fraldas*, criado em 02-11-2014.

Era de modo diferente de outrora que a essa altura pensava a respeito das criaturas humanas. Havia no julgamento menos intelecto, menos orgulho, mas, em compensação, mais calor, mais curiosidade, mais simpatia. […] A vaidade, a cupidez, o ridículo que os dominavam perdiam para ele sua comicidade, encontravam explicação, tornavam-nos até mesmo dignos de respeito. O amor cego que a mãe tributasse ao filho; o orgulho estúpido, obcecado, de que um pai presunçoso se enchesse em face do filhinho único; o desejo desvairado, furioso, de possuir joias, de ser admirada pelos homens, tal como o experimenta uma mocinha garrida – todos esses instintos, todas essas infantilidades, ambições e ânsias, impulsos simples, irracionais, porém invencíveis na desmedida força e na pujante vitalidade, cessavam de apresentar-se aos olhos de Sidarta como mera criancice. Chegava ele a entender que os seres humanos viviam em função dessas coisas e que justamente elas os capacitavam para proezas incríveis, permitindo-lhes fazer guerras, empreender viagens, suportar tudo e resistir a sofrimentos sem fim.
(Hermann Hesse — Sidarta)


Atualmente, eu inicio as atividades diárias tentando me oferecer um tempo para um desjejum calmo. Em minha vida corrida, literalmente, eu já precisei correr muito para conseguir realizar minhas tarefas de estudos e trabalho.

Dona Theonas, uma das mais abnegadas pessoas com quem tive a oportunidade de conviver e aprender, ralhava, mas entendia. E, de um modo inexplicável, conseguia atender às necessidades dos que estavam ao seu redor, mesmo com prejuízo próprio momentâneo. Só hoje entendo sua descoberta de que a alegria que lhe seria proporcionada, em momento posterior, valia a pena.

Semelhante oportunidade de transcender, algumas pessoas amigas, próximas ou distantes, est[ar]ão encarando. A abnegação, como a citada antes, entrou em suas vidas disfarçada com o formato de uma barriga expandida ou de uma visita ao lar da cegonha. É importante frisar que a adoção pelo coração da nova figura se faz em ambos os casos.

Dá trabalho (ufa, e como!), quase nos exaure. E, quando se pensa em desistir, um pequeno reflexo de sorriso faz brotar a força sobre-humana que consolida a recarga interior e faz o futuro brilhar e iluminar o momento atual.

São muitos os nomes individuais, mas todos podem ser condensados na palavra filho. Assim, também, são diversas as maneiras de lidar com o processo de desenvolvimento da figurinha - inclusive aceitar tranquilo o arrancar dos seus cabelos por dedinhos minúsculos, especialmente por parte de alguns mais iniciantes.

Vejo, incentivo, promovo o situar-se no processo e incluí-lo no conjunto de elementos que realizam o sonho de ser e estar pleno. Planejado ou presente surpresa, esse encontro com as novas possibilidades provavelmente o fará sair do si atual e avançar para um outro muito mais amplo de capacidades. É que, quando uma pessoa descobre que a vida sempre dá um jeito de expandir-se, eu digo que ela encontrou o seu sonho de fraldas.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 03 de novembro de 2014.

* Permitam-me dedicar especialmente para o Arthur, filho à caminho do meu sobrinho Weberson Thomaz Teixeira - que, em função dele, transforma diariamente o valor das moedas em quantidade de fraldas.

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