Pesquisar este blog

23 de fev. de 2018

Alien Em Ação

AlienEmAção, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 23-02-2018.
AlienEmAção *, criado em 23-02-2018.

Alienação
Do latim alienare, tornar alguém alheio a alguém. Sociologicamente relaciona-se aos processos onde diversos fatores sociais geram o alheamento do indivíduo, induzindo seu alijamento ou exclusão da sociedade. É um estado que interfere na capacidade dos indivíduos de atuarem e de pensarem por si próprios, inconscientes de seu papel na vida.


Alien, de alguns tempos para cá, tornou-se um modo de dizer um ser extra-terrestre. Mas essa denominação qualifica os que ficaram alienados de sua humanidade, manipulados a ponto de perderem a sua identidade: possuídos pela midiotia ou pela opinopatia – principais monstros que atuam impunemente em nosso meio ambiente –, entraram em processo de despersonalização.

Alguns, injetaram as regras do Deus mercado, sem dó nem piedade, em si mesmos: e daí se crianças estão sendo escravizadas, se guerras destroem lares iguaizinhos aos seus, se idosos morrem sem atendimento? Alienados não se importam com outras vidas.

Outros, festejam as desgraças alheias como se fossem suas vitórias: um complexo de inferioridade tão gigantesco que vive do 'gozar com o pau dos outros' ao endeusar famosos midiáticos e desqualificar qualquer um ao seu redor.

Em todos eles, verdades manipuladas são antolhos, como os usados em animais, que impedem visualizar o seu contexto. Cérebros lavados com propagandas massivas e repetitivas – produzidas para impedir qualquer outra forma de se perceber a própria realidade e de se inserir em seu próprio contexto de vida – os obrigam a apenas reproduzir, em tudo, o que lhe é determinado.

Talvez seja por isso que insistem tanto em ir contra o que é de Direito da Humanidade. Eles não se incluem mais nessa categoria: robotizados, não conseguem mais exercer a sua empatia e não mais se identificam com a felicidade ou tristeza do outro.

Os novos monstros, como nos filmes de ficção e terror, surgem do interior das pessoas, após sugar tudo o que permitia a sua vida como um ser humano. Da alienação, o que resta é uma carcaça, um morto-vivo, um ser desalmado, um juiz da vida alheia para quem qualquer resquício de felicidade, no outro, é motivo para a desqualificação, o rancor, o ódio e, ao final, o próprio sofrimento.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 23 de fevereiro de 2018.

* A tripulação da espaçonave comercial Nostromo é despertada de suas cápsulas crio-sono, durante o seu retorno para a Terra, a fim de investigar um pedido de socorro de outra nave. Ao adentrá-la, encontram um ninho com ovos alienígena. De um deles, uma criatura salta e deposita seus ovos em um dos tripulantes ao asfixiá-lo, deixando-o em estado de coma. Essa é a temática de Alien - O 8.º Passageiro, de Ridley Scott. O texto é uma alusão a esse envenenamento que domina e escraviza visando a reprodução da desumanização, hoje em curso no país e no mundo.

12 de fev. de 2018

Reformas e reformulações

Reformulação, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 12-02-2018.
Reformulação *, criado em 12-02-2018.

O resultado disso tudo é que vou ter que criar um personagem — mais ou menos como fazem os novelistas, e através da criação dele para conhecer. Porque eu sozinho não consigo: a solidão, a mesma que existe em cada um, me faz inventar. E haverá algum outro meio de salvar-se? senão o de criar as próprias realidades? Tenho força para isso como todo o mundo — é ou não é verdade que nós terminamos por criar uma frágil e doida realidade que é a civilização? essa civilização apenas guiada pelo sonho. Cada invenção minha soa-me como uma prece leiga — tal é a intensidade de sentir, escrevo para aprender. Escolhi a mim e ao meu personagem — Ângela Pralini — para que talvez através de nós eu possa entender essa falta de definição da vida. Vida não tem adjetivo. É uma mistura em cadinho estranho mas que me dá em última análise, em respirar. E à vezes arfar. E às vezes mal pode respirar. É. Mas às vezes há também o profundo hausto de ar que até atinge o fino frio do espírito preso ao corpo por enquanto.
(Clarice Lispector — Um sopro de vida - Pulsações, p.19)


Os motivos são diversos: desde uma nova cosmética a um conserto emergencial e inadiável. Mas, cada vez que a sua casa entra em reforma, o mundo vira de ponta a cabeça, chega a ser desesperante. Invariavelmente. O pensamento me veio à tona em função de um estufamento de quatro peças no piso da sala.

No entanto, só quem não verificou os resultados de transformações estaria incapacitado para entender que melhorias exigem um processo de mudanças, de uma simples realocação de móveis e utensílios até a reconstrução das estruturas – camada de sustentação mais profunda, o interior de tetos, paredes e pisos.

Em qualquer caso, é preciso se aconselhar com um especialista, verificar a qualidade dos produtos a serem utilizados, preparar uma operação meticulosa de organização a fim de evitar estragos em outras áreas. Tudo isso tem seu custo versus benefício a ser avaliado e nunca deve ser procrastinado.

Não esqueça de colocar a placa de 'Cuidado! Em obras.' para alertar quem se aproxima de que a situação é sensível e, mesmo bem administrada, há riscos imediatos.

Vidas em reformulações carregam todos esses aspectos, também. Em especial, em circunstâncias que fogem ao controle. Nessas horas, diga ao desespero — 'Já sei. Trate de segurar as pontas porque não tem como evitar'. E vá em frente. Substitua, por uma mais bonita, as peças defeituosas; escolha um acabamento que traga uma sensação de novidade e não esqueça de incluir uma ou duas peças novas na decoração final.

Assim, ao final de toda a limpeza, após sentar e respirar fundo, extremamente cansado, permita-se ver o resultado positivamente. Por enquanto, as intempéries se acalmaram, as questões estão sendo resolvidas (de vez em sempre virão outras, né?). Vida é transformação, uma regra inflexível que não impede você de incluir um toque de beleza e comemorar a vitória, ao final de cada uma.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 12 de fevereiro de 2018.

* Reformulação, a imagem que ilustra esta postagem é resultado da desestruturação do processo de criação da imagem utilizada na postagem anterior Brincar de viver e ser feliz e visa trazer à tona toda essa desconfiguração momentânea pela qual passamos em vários momentos da vida e a angústia que traz os redemoinhos de incertezas, as peças defeituosas e todo o processo de reforma interior.

9 de fev. de 2018

Brincar de viver e ser feliz

Nadar criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 09-02-2018.
Nadar *, criado em 09-02-2018.

Quem me chamou? Quem vai querer?
Voltar pro ninho, Redescobrir seu lugar, Retornar e enfrentar o dia a dia, Reaprender a sonhar!
Você verá que a emoção começa agora – agora é brincar de viver.
Não esquecer: Ninguém é o centro do universo e assim é maior o prazer.
Você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim
– continua sempre que você responde sim à sua imaginação; à arte de sorrir, cada vez que o mundo diz não.
E eu desejo amar todos que eu cruzar pelo meu caminho:
como sou feliz, eu quero ver feliz quem andar comigo.
Vem!

(Guilherme Arantes/John Lucien — Brincar de Viver)


Monstros existem porque somos capazes de gerá-los. Toda vez que tentam discordar, eu reafirmo: tudo depende apenas do nível em que somos afetados ou nos permitimos ser tocados pela insensibilidade e pela ausência de referenciais.

Sombras de coisas muitos boas podem assustar e a incapacidade de visualizar a realidade das coisas é capaz de ativar os mecanismos de defesa mais profundos e primitivos em cada um. A fragilidade também gera monstros.

O isolamento ou a solidão involuntária vai instalando o terror conforme o tempo passa e ela não é desfeita: o enlouquecer pode ser o monstro alimentado por um processo de ausência de qualquer tipo de presença.

Mas o que mais assusta é quando a insensibilidade impede os sentidos de atuarem e gerarem os estímulos que são capazes. Tudo fica cinza, inodoro, sem sabor, som de uma nota só e o toque não produz o choque de emoções: a vida incapaz de mover-se para produzir encontros e a reação que eles produzem.

É bom saber que todo monstro tem seu ponto fraco, também. Pode ser que não o encontremos nas primeiras tentativas. Então, é só não desistir porque, em algum momento, a luz volta a colorir tudo ao redor e seu brilho invade as profundezas do oceano da alma e a traz à tona para brincar de viver e ser feliz.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 09 de fevereiro de 2018.

* Uma das atividades que mais apreciei em toda a adolescência era nadar. Isso contra os reveses que me causava, por conta de uma otite crônica que me acompanhou desde que nasci e me provocava dores lancinantes. De certa forma, ficou como um registro em mim de que o prazer de viver tinha os seus percalços e de que eu nunca deveria me negar o que me era essencial e, sim, encontrar um modo de driblá-los.

6 de fev. de 2018

A razão é obstinada pela continuidade

Obstinação, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 06-02-2018.
Obstinação *, criado em 06-02-2018.

Momentos radicais exigem muito mais que a radicalidade: a calma, a clareza e a estratégia. A vida ganha permanência exatamente pela capacidade da transmutação: contextos diversos, estruturas diversas, via transformação.
(Wellington de Oliveira Teixeira — Ser Pensante by Well)


A energia alimenta o movimento e a mudança. Ela é um elemento transformador que adquire muitas formas, desde o calor que emana da madeira em chamas até a velocidade da água que escorre morro abaixo. Ela pode se transmutar de um tipo em outro. Mas a energia nunca é criada ou destruída. Ela sempre se conserva como um todo.

(Joanne Baker — Conservação de energia, p.8)


A maioria dos mitos adotados pela humanidade tenta reproduzir a noção de para sempre ou de eternidade. Não nos conformamos com as parcialidades, incompletudes e finitude. Mas o infinito nada mais é que uma longa sequência de acontecimentos e das expressividades que estes estimulam nos seres.

Não acredito em vazios: vácuos estão repletos de forças tão minúsculas e invisíveis que escapam à percepção ordinária; certamente, até mesmo daquela capaz de perceber as camadas constituintes da Ordem. Essas Partículas-Nano-Degraus são as peças recambiantes de um lego universal, que se reestruturam em infinitesimais partículas de tempo. A permanência é fruto de uma ilusão da razão, que é obstinada em se adaptar para manter a percepção de substância, constância, continuidade.

Esse conjunto de forças preponderantes da vida são tão maleáveis e recombinantes que podem se tornar absolutamente tudo no esfera da percepção. É bem possível que se escondam em algum recanto bem resguardado da alma em um dia como esse, com um céu silencioso e cinza com tonalidades de chumbo.

Fruto de uma invasão dos recônditos protegidos pela razão ou da atuação de uma força interna de atração inconsciente, não importa. As forças da vida exigem desintegrar absolutamente tudo o que está estabelecido para recompor as partes em um outro formato ou nível: a transformação é o tom maior da natureza.

Reagindo a sua atuação imperiosa, recorremos a uma certa nostalgia – essa sensação de estranhamento que, em alguns, se manifesta como tédio ou irritação e, em outros, como uma saudade ou tristeza. Diante dessas sensações, até mesmo o compositor Renato Russo recorreu ao 'e o que sinto não sei dizer'.

Essa afetação pelo instante de ausência do brilho de vida – da inexistência de um elemento disparador da vontade de ir para a rua e para as pessoas – ocorre em circunstâncias e momentos diferentes para cada um, mas em todos. A situação parece ser uma constante humana, que se constitui com elementos de interposição entre o que, na falta de conceitos mais esclarecedores, denominamos de interior e de exterior ao ser.

Há, porém, um outro paradigma na vida individual: tudo que passa pela vontade consciente abre o campo das opções. O maior deles é o da afetação: é possível escolher como reagir aos estímulos que nos atingem. Tudo que tem a potência de se tornar um bloqueador dos sorrisos do rosto e da alma também pode ser entendido e assimilado como produtor ou estimulador da resiliência, do aprendizado e, finalmente, constituir uma permeabilidade mais elaborada e eficiente para encarar os encontros que, fatalmente, iremos efetuar.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 04 de fevereiro de 2018.

* A energia que capacita outros modos de ser também proporciona o alcançar novos níveis, em espiral ascendente. A força que torna inflexível uma vontade exige acumular o aprendizado de muitas mudanças de táticas. Se o alvo é importante, o processo de transformação que permite alcançá-lo deve ser valorizado na mesma medida: este é o conceito da transmutação aplicado ao corpo e à alma.