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30 de set. de 2009

Nudez de alma


misturadedesenhosdeoutros, foi feita em 31-08-2009 misturadedesenhosdeoutros**, foi feita em 31-08-2009.

"Posso voar mas não posso controlar o corpo
Que sorri para o mundo, escuta a música
Faz a dança e cativa sem parar."

Pós TPM - Dirty Fastfood*
(http://dirtyfastfood.blogspot.com/pos-tpm.html)


Que minha arte não me represente, mas me apresente; que não seja marcas que eu fiz, mas minhas marcas que ousei deixar vir à tona e tonalizar a tela; o meu próprio voo de descobrir nas misturas e formas iniciais a ideia que sobressai e ganha plano e me força às mudanças e alterações no que já estava dado - até que eu perceba que apenas um dado no todo e não algo estabelecido como um todo.

E me deixo levar, inventar, descobrir e redescobrir porções, criar camadas sobre outras e efeitos sobre efeitos até que algo em mim olha e vê e sabe que disse algo e que, por isso, me disse.

Então é só inventar uma moldura e não deixar que ela modele todo o caminho traçado e domine a conquista feita com o processo da descoberta.

É melhor ficar sem cobertura, nem cercas. Só de vez em quando, pra dizer que uma ideia se fechou por alguns instantes. E, depois, me permitir modificá-la, restabelecer o vínculo apenas para permitir que fluxos outros tenham vez, talvez os que não tiveram voz no primeiro embate, no primeiro encontro, no primeiro olhar.

E por que não? Há mais olhares possíveis pra cada cena, sempre, como há mais de uma forma de ler, tocar, cantar, escrever, sonhar.

É só um voo. E vôos são as coisas mais difíceis da vida: raridade hoje em dia, porque voo é o encontro de você com a vida, é a expressão de tudo que se armazena e se guarda e se destila. Voo é o encontro consigo mas num plano superior, onde se consegue tudo. Voo é o momento em que nada lhe toca, nada lhe detém, nada lhe contém, nada desvia você de você. E é o momento em que não havendo nada mais para acrescentar, basta crer. Crer que a plenitude se instalou e proporcionou a um ser o se tecer sem temer o vir a ser, o devir e o se desfazer. Por que é bom me dizer, me desdizer, para que haja um novo dizer sobre mim: alteridade em mim, novidade em si, uma nova idade para se viver.

Risco, sim, porque é arriscado viver, se sustentar no fio da teia de uma aranha, mas sem se prender, sem se perder, nunca se esconder, talvez, se proteger.

Um pouco de exposição, mas sempre a ação, sempre a expansão e a busca pela captura do instante do seu olhar, para provocar e fazer fluir e para passar adiante o que me provocou de início.

E torcer para que a construção seja outra, distinta e tão potente quanto a minha e aninhe outras questões: um processo sem fim que se irradia e ilumina quem quiser ser elo e se permitir ser verso ou qualquer outra forma de expressão.

Quem sabe uma nudez de alma, a luz da aura para poder sorrir?


Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de setembro de 2009.


* Uma pessoa que eu amo a maneira como se expõe e que, da mesma forma que se joga largada, se permite uma consistência de ser e estar.
** Espero ter em breve o nome do autor do anjo e da foto para fazer os créditos da minha mixagem.

6 de set. de 2009

Realidade da ficção

garotas (med_gallery_412_190124.jpg, obtida em www.imagemdefundo.com.br
garotas (med_gallery_412_190124.jpg), de www.imagemdefundo.com.br **

"Se você treinar para ser uma ficção por algum tempo, compreenderá que os personagens de ficção às vezes são mais reais do que pessoas de carne e osso e corações pulsando."
(Ilusões - Richard Bach).


Como quase sempre acontece quando eu vejo um bom filme, me sinto compelido a avaliar a vida como um todo. Sim, o que chamo de ficção me remete sempre ao que chamo de realidade.

Não preciso que no final dos créditos esteja escrito que aquela é uma obra de ficção e que os fatos, personagens, acontecimentos são apenas uma história possível. Até mesmo em obras baseadas em fatos reais. Toda realidade não é mais que uma interpretação.

O modo como percebo os acontecimentos do meu dia a dia fazem dele o que ele é, nada mais que isso. É como um dia de sol radiante quando eu estou muito triste: não me diz nada de sua beleza.

Me recordo uma vez em que fui para a Região dos Lagos, aqui no RJ, e fui caminhar e correr na praia. Pensamento a mil, sentimentos à flor da pele e uma vontade imensa de me ultrapassar e à dor que eu estava sentindo: rejeição e incompreensão não são algo que se possa viver facilmente. Me recordo que, depois de aproximadamente 40 minutos correndo pela beira da praia, me toquei que o sol estava se pondo e criando reflexos fantásticos na superfície da água do mar que tocava a praia. Cansaço, distração, oxigenação no cérebro? Não sei bem o que me fez ver com outro olhar aquilo que já estava olhando. Também me fez parar, observar tudo ao meu redor, entender um pouco o meu lugar naquele mundo fantástico que eu podia vivenciar. Sentei-me na areia e fiz uma prece em agradecimento pela oportunidade recebida. Foi o suficiente para ultrapassar a dor. Louvado Seja!

Depois de algum tempo em cartaz, finalmente, assisti ao Quem quer ser milionário? uma viagem pela Índia e seus contrastes sociais. A história do Jamal e sua perseverança ao se manter fiel ao seu amor e, contra todos os obstáculos, ir ao seu encontro.

Prosseguir em direção a um alvo com persistência não é uma marca registrada do mundo atual onde tudo é passageiro, tudo é substituível, tudo é para apenas uma estação.

Outro filme que me fez refletir a esse respeito foi o Prova de Fogo. Nele um casal às vésperas de um divórcio, vive experiências inusitadas quando o pai do marido, propõe para ele cerca de 40 dias de espera que seriam preenchidos com tarefas de um pequeno manual. Aos poucos a transformação da visão do imediatismo se desfaz em prol de uma mais voltada para a plenitude do encontro e do amor.

Estou refletindo a esse respeito: a velocidade dos encontros não precisa ser estabelecida pela falta de paciência com o dia a dia. Seria possível ter uma outra ótica sobre nossas motivações.

De certa forma, o que proponho como questão, para ser pega com carinho*, é que a realidade é múltipla dependendo da nossa percepção. E basta um pouco de vontade para a observarmos sob um outro prisma.

Quem sabe a ficção não é mais fatual do que a realidade?


Wellington de Oliveira Teixeira, em 06 de setembro de 1998.

* obrigado por me ensinar a falar assim, Denise Farias, tem sido muito importante pra minha vida.
** Pela primeira vez posto uma arte não feita por mim, mas que eu gostaria de parabenizar o autor. Só não consegui. Deixei, então, o endereço de onde achei. Parabéns, autor!