Em O fogo interior e O presente da Águia*, Don Juan propõe que o universo é constituído por feixes de energia. Um ser é gerado quando alguns desses feixes são retidos por um casulo de energia. Ao ocorrer uma sincronização entre feixes contidos no interior dos seres com outros de mesmo tipo em estado livre no universo, uma abertura é gerada no casulo energético do ser. O local onde ela ocorre é chamado ponto de aglutinação. Fruto da sintonia, surge a consciência.
Como tudo, o casulo perde — aos poucos ou rapidamente — sua consistência até se desfazer, determinando a morte do indivíduo e a dispersão dos seus feixes de energia no universo. A consciência produzida durante a vida do ser é consumida neste processo.
Há uma raríssima possibilidade de diferenciação. A dos indivíduos que, com seu aprendizado e experiência, acumularem energia pessoal, de nível tal, que os permita sincronizar todos os seus feixes simultaneamente, retendo sua consciência mesmo após a morte do corpo: a liberdade total.
Tudo que surge certamente findará. Para viabilizar um nascimento é necessário incluir em sua receita a semente da morte como um elemento estrutural. O tempo é diferenciado. Como comparar a duração de vida de um inseto e o de uma estrela, os mundos infinitesimais e os incalculáveis, nesse mesmo cosmo?
Correndo o risco de usar uma expressão estranha, abril abriu algumas cascas, expondo antigas feridas da alma. Territórios já explorados em tantas outras oportunidades voltam a causar insegurança e, em certos momentos, medo.
Há diversos processos associados à ideia de fim permanente de uma consciência. O pós morte gera a ausência, que é uma forma de presença que estamos longe ainda de assimilar. Conviver com a sensação de perda permite usá-la para adquirir mais experiência, não torná-la algo fácil ou aceitável. Então, repito: é preciso encarar os fantasmas e aceitar sua companhia durante os momentos em que a solidão quer usurpar tal encontro.
Busque os rastros de sua passagem para reacender a mágica dos encontros. Da marca que sela na alma um momento, um gesto ou um sentimento retirar a mesma potência que a fonte permitia: uma foto tornando-se a eternização do instante; a sonoridade de uma música, ou de uma voz, o enlevo.
Em vez do recolhimento ao silêncio e a aceitação passiva da dor — mesmo que com lágrimas —, é preciso celebrar a vida e a transformação de tudo em um todo. A energia que movia um foi apenas transferida para mover outro. Ela pode ser usada para se construir, por coesão de todas as partes que a compõe, a plenitude e, talvez, a evolução.
Correndo o risco de usar uma expressão estranha, abril abriu algumas cascas, expondo antigas feridas da alma. Territórios já explorados em tantas outras oportunidades voltam a causar insegurança e, em certos momentos, medo.
Há diversos processos associados à ideia de fim permanente de uma consciência. O pós morte gera a ausência, que é uma forma de presença que estamos longe ainda de assimilar. Conviver com a sensação de perda permite usá-la para adquirir mais experiência, não torná-la algo fácil ou aceitável. Então, repito: é preciso encarar os fantasmas e aceitar sua companhia durante os momentos em que a solidão quer usurpar tal encontro.
Busque os rastros de sua passagem para reacender a mágica dos encontros. Da marca que sela na alma um momento, um gesto ou um sentimento retirar a mesma potência que a fonte permitia: uma foto tornando-se a eternização do instante; a sonoridade de uma música, ou de uma voz, o enlevo.
Em vez do recolhimento ao silêncio e a aceitação passiva da dor — mesmo que com lágrimas —, é preciso celebrar a vida e a transformação de tudo em um todo. A energia que movia um foi apenas transferida para mover outro. Ela pode ser usada para se construir, por coesão de todas as partes que a compõe, a plenitude e, talvez, a evolução.
Wellington de Oliveira Teixeira, em 26 de abril de 2015.
* Livros de Carlos Castanheda que narram os ensinamentos de Don Juan.