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26 de abr. de 2015

A semente da morte integra a vida

Semente criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 26-04-2015.
Semente, criado em 26-04-2015.

Em O fogo interior e O presente da Águia*, Don Juan propõe que o universo é constituído por feixes de energia. Um ser é gerado quando alguns desses feixes são retidos por um casulo de energia. Ao ocorrer uma sincronização entre feixes contidos no interior dos seres com outros de mesmo tipo em estado livre no universo, uma abertura é gerada no casulo energético do ser. O local onde ela ocorre é chamado ponto de aglutinação. Fruto da sintonia, surge a consciência.
Como tudo, o casulo perde — aos poucos ou rapidamente — sua consistência até se desfazer, determinando a morte do indivíduo e a dispersão dos seus feixes de energia no universo. A consciência produzida durante a vida do ser é consumida neste processo.
Há uma raríssima possibilidade de diferenciação. A dos indivíduos que, com seu aprendizado e experiência, acumularem energia pessoal, de nível tal, que os permita sincronizar todos os seus feixes simultaneamente, retendo sua consciência mesmo após a morte do corpo: a liberdade total.


Tudo que surge certamente findará. Para viabilizar um nascimento é necessário incluir em sua receita a semente da morte como um elemento estrutural. O tempo é diferenciado. Como comparar a duração de vida de um inseto e o de uma estrela, os mundos infinitesimais e os incalculáveis, nesse mesmo cosmo?

Correndo o risco de usar uma expressão estranha, abril abriu algumas cascas, expondo antigas feridas da alma. Territórios já explorados em tantas outras oportunidades voltam a causar insegurança e, em certos momentos, medo.

Há diversos processos associados à ideia de fim permanente de uma consciência. O pós morte gera a ausência, que é uma forma de presença que estamos longe ainda de assimilar. Conviver com a sensação de perda permite usá-la para adquirir mais experiência, não torná-la algo fácil ou aceitável. Então, repito: é preciso encarar os fantasmas e aceitar sua companhia durante os momentos em que a solidão quer usurpar tal encontro.

Busque os rastros de sua passagem para reacender a mágica dos encontros. Da marca que sela na alma um momento, um gesto ou um sentimento retirar a mesma potência que a fonte permitia: uma foto tornando-se a eternização do instante; a sonoridade de uma música, ou de uma voz, o enlevo.

Em vez do recolhimento ao silêncio e a aceitação passiva da dor — mesmo que com lágrimas —, é preciso celebrar a vida e a transformação de tudo em um todo. A energia que movia um foi apenas transferida para mover outro. Ela pode ser usada para se construir, por coesão de todas as partes que a compõe, a plenitude e, talvez, a evolução.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 26 de abril de 2015.

* Livros de Carlos Castanheda que narram os ensinamentos de Don Juan.

21 de abr. de 2015

Luz das estrelas

Luz das estrelas, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 21-04-2015.
Luz das estrelas, criado em 21-04-2015.

Luz do sol,
que a folha traga e traduz em verde novo,
em folha, em graça, em vida, em força, em luz…
Céu azul,
que venha até onde os pés tocam a terra
e a terra inspira e exala seus azuis…

(Caetano Veloso — Luz do Sol)


Observar o céu é reconhecer o poder da ilusão. Ilusão fruto da realidade.

Aprendi na série Cosmos* que a caminhada da luz da lua à terra demora uns 3 segundos e a do sol uns oito minutos-luz. Visualizamos os astros com retardamentos diferenciados. Será que a minha manhã é mais atrasada que minha noite?, brinco comigo mesmo.

Imagine agora a luz de uma estrela bem pequena que seja possível de se ver com o céu sem nuvens. E se, nos milhares de anos que a sua luz leva para percorrer a distância dela à terra, ela deixou de existir? Viajo com essa estrela - atualmente luz sem corpo - que dá um toque especial a minha noite e transforma meu momento. Uma presença espiritual?

Tento articular questões que permitam assimilar a situação em diversos níveis. Muitos olharam o céu antes de mim e preferiram estudá-lo e referenciá-lo a suas vidas diárias. Mesmo em seus primórdios a humanidade aprendeu a relacionar suas mudanças com a realidade que vivia. Disso, resultou a preservação da espécie humana, mas também milhões de mitos que insistem em ignorar os fatos científicos em prol de uma leitura menos literal.

Especulo não ter sido a sua intenção, ao brilhar, atuar sobre mim, simplesmente era de sua natureza. Só isso já me ensina que ações possuem potência e podem repercutir mesmo quando a intenção é apenas a de ser pleno. Se está morta, mas continua afetando, essa luz que vejo pode ser considerada seu espírito vivo atuando. Os atos de um ser pleno permitem o ultrapassamento de sua estrutura.

Bem, expandir ideias é algo saudável, ajuda a ultrapassar o mesmo de sempre. Do temor dos raios ou dos eclipses (continuamente associados ao fim-do-mundo) ao aprendizado a respeito de sua formação há um grande passo. Mas, de forma alguma, essa caminhada precisa retirar a poesia que existe em tudo o que nos cerca, nem mesmo a espiritualidade que transmitem.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 21 de abril de 2015.

* A série Cosmos: Uma Odisseia do Espaço-Tempo apresenta um documentário científico que dá continuidade a série de 1980, apresentada por Carl Sagan. O físico Neil deGrasse Tyson nos conduz aos universos micro e macro que, apesar de rigorosamente científico, é de linguagem simples e não tira o encantamento pela natureza de quem assiste e aprende.

14 de abr. de 2015

Consumo que nos consome

Consumidos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 14-04-2015.
Consumidos, criado em 14-04-2015.

A alienação é a principal dimensão do consumismo, está na base da compra desvinculada da necessidade e do desconhecimento em relação ao valor de compra e de uso.
(Juliana Spinelli Ferrari — Consumismo, artigo em Brasil Escola)

Nossa escuridão alcançou níveis insuportáveis. Estamos escravizados de inúmeras maneiras e cada vez pedimos por mais e mais escravização*. O olhar precisa estar preso à tela para impedir que, ao olhar ao redor, nos situemos nesse mundo. Para alguns, ignorar já não é mais opção, tornou-se necessidade, do contrário a imobilização os toma. A desolação já nos encontrou na forma de fundamentalismos, de desagregação, de obsessões, da exploração, da manipulação, das apropriações e desapropriações da vida.

E, é claro, é preciso bloquear a visão do sangue que escorre no mundo e entra pelas nossas casas. Mesmo sendo de irmãos e irmãs submetidos às torturas e mortes, lentas ou rápidas, destituídos de sua própria humanidade.

Diariamente, a terra clama. Seu grito reflete a dor de todos os seres que abriga. Um dia ela sacudirá de sua superfície o causador dessa dor, não é preciso nenhuma profecia apocalíptica para perceber isso.

Entorpecer a consciência não produz o mesmo efeito de antes, é preciso aumentar a dose da droga ou encontrar uma mais forte. A escalada não é infinita e, logo, a overdose nos encontra. Contraditório como a vida, não dá para se alienar, mas é preciso alguma forma de alienação.

E no meio dessa confusão, mar revolto das ilusões e das falsas promessas de vida encantada e feliz oferecida pela posse de bens fúteis e obsolescentes, vamos para as ruas exalando o novo perfume, roupa nova e aparência e ego inflados pelas propagandas. Cada um é um príncipe ou princesa a espera da tal noite reluzente.

Antes de sair, empurra-se para bem fundo, no baú das incompletudes, o gosto amargo do vazio. Copos, fumaças, pós, picadas ou pílulas recobrem a vida com um manto de brilho e cores artificiais. Aposta-se na oportunidade única que se oferece para ser feliz e, com brilho nos olhos, compartilha-se a negação dessa miséria toda por uma noite ou por um dia. Quem sabe é o relacionamento vai permitir escrever no status 'amor pra sempre'? Amanhã, quando o efeito terminar, basta trocar. Parece doloroso, e é. Mas tem sido a escolha de muitos quando a outra opção é encarar a vida fora das telas e vitrines.

Cada ato que ultrapassa a covardia e a aceitação cabisbaixa do que aí está — como se fosse intransponível ou intransformável — nos torna mais aptos, mais capazes, mais fortalecidos para dar novas cores ao mundo, com sonhos pessoais e metas para o bem comum, não ilusões fabricadas para enriquecimento de quem a produz e o próprio empobrecimento físico e espiritual.

Inventar uma forma de vivência diária onde seja possível compartilhar as mazelas e inquietudes, produzir transformações onde se está e, quem sabe, mais adiante. É isso o que é preciso para se adicionar cor à vida, não apenas fabricar sonhos de consumo para ser consumido por eles. É uma decisão pessoal e exige muita força de vontade. Mas é possível!

Wellington de Oliveira Teixeira, em 14 de abril de 2015.

* Mais uma dose? — É claro que eu estou a fim. A noite nunca tem fim. Por que que a gente é assim?
(Barão Vermelho — Por que que a gente é assim?)

10 de abr. de 2015

Estrelas-guias geram buracos-negros

Estrelas e buracos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 10-04-2015.
Estrelas e buracos, criado em 10-04-2015.

Uma sugestão: promova boas recordações, se permita um pequeno túnel do tempo onde você resgate dos acontecimentos o poder que eles possuem de serem eternos em seus efeitos; faça isso sem abdicar dos novos acontecimentos que o cercam no exato momento em que você viaja ao passado. Como? Conte uma história de vida para alguém, uma que o inspire a ir adiante. O que você vive pode ser exclusivamente seu, mas pode efetuar muito mais quando compartilhado.
(Wellington de Oliveira Teixeira — Saudosismo ou saudade*)


São tão estranhos esse amor com desejo de infinitude, essa vontade poderosa de alcançar o inominável e reconstituir as teias do destino, essa forçada quietude da fala — expressa com o silêncio, mas soando alto e ecoando sem fim na cabeça e no coração.

Por que, em zilhões de estrelas-guias, justamente a ordem foi para a minha se desfazer e gerar em mim um buraco negro por pulsar seu brilho e calor onde jamais voltará a ser vista por quem mais a desejava ver?

Saudade e dor jamais deveriam formar par, deveriam ser proibidas de emitir seu gélido sopro e assentar moradia em qualquer canto da alma, não deveriam poder instigar o voo sem conceder uma par de asas.

E eu fico aqui, um terráqueo engolidor da água salgada que foi destilada no fundo da alma, que por pressão interna extravasou e escorreu na face que mirava o horizonte perdido em busca do perdido para o horizonte.

Imagino que talvez algum novo tipo de sonho permita coincidências. Quem sabe do meu com o seu? Quem sabe esses nossos corpos sonhadores encontrem-se por aí, numa esquina do universo?

Até lá, breve ou nunca, vou mirar o vazio que ficou no céu enquanto ele se manifestar em mim, vou imaginar o improvável e quase impossível reencontro enquanto encontro nas marcas do corpo e da alma os signos de sua passagem tão radiante em minha vida.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 10 de abril de 2015.

* A citação é um trecho do texto Saudosismo ou Saudade que encontra-se completo nesse blog no endereço http://bigwzh.blogspot.com.br/2014/04/saudosismo-ou-saudade.html

9 de abr. de 2015

Encare a autoinsuficiência

Autoinsuficiência criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 09-04-2015.
Autoinsuficiência, criado em 09-04-2015.

Colaboração difere de cooperação pois é uma filosofia de interação e um estilo de vida pessoal. Cooperação é uma estrutura de interação projetada para facilitar a realização de um objetivo ou produto final. A Aprendizagem Colaborativa, como filosofia de ensino, ultrapassa técnicas para a sala de aula. Visa uma menor intervenção do educador e, por consequência, propiciar mais responsabilidade ao estudante.
Um exemplo é reunir em pequenos grupos alunos de níveis diferenciados de performance para alcançar uma única meta. Incentiva-se um modo relacional que respeita e destaca as habilidades e contribuições individuais; o compartilhamento de autoridade e a aceitação de responsabilidades nas ações do grupo.
Como premissa, a construção de consenso por meio da cooperação entre os membros do grupo, contrapondo-se à ideia de competição, na qual alguns indivíduos são melhores que outros.
Os que adotam a filosofia da Aprendizagem Colaborativa aplicam seus conceitos em qualquer relacionamento: em sala de aula, reuniões de comitê, com grupos comunitários, dentro de suas famílias e com outras pessoas.

(Ted Panitz — A Definition of Collaborative vs Cooperative Learning*)


Por mais que busquemos segurança no que temos, desejamos ou fazemos, não há como manter esse estado sempre. Estruturalmente somos constituídos por parcialidades, incompletudes, impossibilidades. Mas, diariamente, entramos em um processo de negação insana desse fato. Assumimos práticas, discursos, ideias que tentam projetar uma autonomia que não temos para refletir. Produzimos uma holografia de nós — a aparência — e nela pautamos nossa vida. No fim das contas, só nos resta crer estar fazendo o melhor.

Vivemos de expectativas, de sonhos e de crenças. O dia amanhece ensolarado, com promessa de luzes e cores e sentimentos incríveis. De repente, o céu nubla as cores desbotam e a tempestade cai. Por que tentamos forçar que os sentimentos permaneçam inalterados?

Construímos a vida comprometidos com princípios que, apesar de genuínos, são incapazes de abarcar a realidade. Nossos sentidos são incríveis, nosso cérebro capaz de pensamentos complexos… mas tudo isso é gerenciado por uma razão frágil, incapaz de dar conta dos mundos micro e macro existentes. Por que insistir no controle de tudo e em determinar verdades?

Encontros que ganham intensidade e ocupam extensas áreas de nossas vidas são estabelecidos como eternos — é bem verdade que sem as ilusões ninguém vai adiante; sem a promessa do prazer (em qualquer momento que seja) paramos — mas tudo se resume ao nosso esforço pessoal.

A originalidade humana é a de constituir, reformular nossa visão de mundo; do indefinível ao supostamente conhecido, gerar a energia que impulsiona indivíduos, pequenos grupos sociais ou a humanidade. Uma energia esplêndida que, caso não fosse cooptada por interesses alheios, já teria elevado nossas capacidades em prol do bem comum.

Diariamente, direcionamos nossas capacidades para a produção de riquezas, quase que exclusivamente de cunho financeiro. As interconexões estão marcadas pelo signo do cifrão. Qualificamos alguns, desqualificamos a maioria (os semelhantes a nós!). Viramos capatazes dos novos senhores intercontinentais porque isso nos dá a ilusão de proximidade com esse poder. Reproduzimos seu modo de nos subjugar e perpetuamos seu poder. Educamos crianças desse modo, apenas para satisfazer ao mercado de trabalho.

É o medo de encarar a nossa autoinsuficiência. Fomos programados culturalmente a viver na individualidade e no egoísmo e a temer o compartilhamento**. Esquecemos que foi a colaboração que nos trouxe até aqui. Sem que expandíssemos por compartilhamento os conhecimentos, as capacidades e habilidades individuais, a produção atual em todas as esferas estaria muitos graus abaixo.

A era da internet pode estabelecer a colaboração como o elemento mais prioritário à raça humana se conseguir suplantar o ensino aprendizagem reprodutor. Se ninguém sabe tudo, então, por que não reunir aquilo que se sabe para o conhecimento seja estruturado por acréscimos? O sequenciamento do DNA humano é apenas um exemplo do que já conseguimos com colaboração e os avanços para o bem de todos podem alcançar muito mais. Mas continuamos aprisionados à ideia de suficiência individual. A quem interessa isso?

Wellington de Oliveira Teixeira, em 09 de abril de 2015.

* Esse é apenas um resumo dos principais tópicos. O texto completo encontra-se em:
http://ccti.colfinder.org/sites/default/files/a_definition_of_collaborative_vs_cooperative_learning.pdf

** A cooperação na relação mestre e aprendizes ou na produção de bens para sustento familiar foi substituída pelo controle das atividades de produção a partir da ascensão do capitalismo e o fordismo. Com ele, a individualização e a especialização definiram uma nova rota no aprendizado onde entender e participar de um todo não tinha mais utilidade, nem deveria ser incentivado.
Com o advento da internet, sistemas colaborativos especializados surgiram e foram aprimorados, facilitados pelo surgimento da Web 2.0 e da disseminação de licenças livres.

7 de abr. de 2015

Discursos contaminadores

Contaminadores criado por Wellington de Oliveira Tixeira em 04-04-2015.
Contaminadores*, criado em 04-04-2015.

Se o poder fosse somente repressivo, se não fizesse outra coisa a não ser dizer não, você acredita que seria obedecido? O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só como uma força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma saber, produz discurso.
(Michel Foucault — Microfísica do Poder, p.8 )


Contaminados nós já estamos há muito tempo. Especialmente a partir da promulgação da lei do Gerson, os brasileiros, visando levar vantagem em tudo, produziram uma sociedade onde o individualismo sobrepujou o valor da coletividade. Essa reprodução tupiniquim da máxima do capitalismo americano — pisar em todos para o ser o número um — interfere diretamente em nossas vidas.

Nosso país foi alvo fácil para os conglomerados e multinacionais engolidores de pequenas empresas, do artesanato e da agricultura familiar. Já somos reféns. Eles definem tudo: da marca que estará disponível para a venda até o seu preço. Isso vale para energia, comunicação e extrativismo, também. A concorrência tornou-se apenas um acordo entre empresários — os mesmos que investem em campanhas políticas para controlar a legislação do país e obter lucros vergonhosos.

O poder se concentra em poucas mãos. Sabia que apenas seis famílias controlam os meios de comunicação dominantes no país. E se não sair no jornal ou na televisão não é verdade, certo? Em época de redes sociais, há grupos formados para forjar ou falsificar informações, gerando confusão; há propagadores de discursos de ódio e promotores de preconceitos sociais.

Não se iluda: tudo é em função do financeiro. Se há corruptos, há corruptores. Só que você xinga um político corrupto, mas não o seu corruptor — eu me pergunto sempre o porque disso! Empresários que constroem riquezas ilícitas com o dinheiro público, corrompem, além dos representantes da população, os gananciosos e sem escrúpulos.

Ser humilde é não pisar em ninguém e não abaixar a cabeça para ninguém. Só que contaminaram nosso sangue com a subserviência, com o desejo de ser capacho. Quem eleva a voz e promove o discurso contra eles?

Dinheiro não torna ninguém melhor que ninguém, mesmo que possa até comprar pessoas. Mas quem tem preço não tem valor. É preciso criar uma sociedade onde ninguém precise se vender, ou vender seu voto, ou vender a saúde e o tempo em família em troca de um salário indigno. É preciso tirar de nosso DNA o tal do jeitinho brasileiro.

Sabemos que poder financeiro corrompe, que destrói vidas, que denigre a imagem de quem não se corrompe e que, por fim (senão já de início) mata. Contra esse tipo de poder somente unindo forças, somente coletivizando as questões, somente produzindo informações esclarecedoras e denunciando as farsas.

Ninguém terá uma vida tranquila enquanto houver ao seu redor pessoas padecendo. Assaltos, assassinatos, violências são fruto de péssimas condições de vida, mudar isso tem que ser a preocupação e o objetivo de pessoas e governos.

Pense que apenas 1% da população detém os mesmos recursos, ou mais, que os 99% restante. Se esta parcela tão grande passar a pensar e a se posicionar — e não mais se submeter — a transformação é possível. Basta abandonar os discursos que injetaram em nossas veias e contaminou nossas vidas.

Podemos mudar a realidade, se mudarmos a nossa mente, se deixarmos de acreditar que é algo impossível. Se olharmos o próximo com amor e não com ódio.
Wellington de Oliveira Teixeira, em 07 de abril de 2015.

* o vermelho da imagem está diretamente ligado a cor do sangue, não faça falsas suposições.

4 de abr. de 2015

Demasiado

Demasiado criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 04-04-2015
Demasiado*, criado em 04-04-2015.


E quem adivinha algo das consequências que se alojam em toda suspeita profunda, algo dos calafrios e angústias do isolamento, aos quais toda incondicional diferença de olhar condena os que são acometidos dela, entenderá também quantas vezes eu, para descansar de mim, como que para um temporário auto-esquecimento, procurei abrigar-me em alguma parte — sob alguma veneração ou inimizade ou cientificidade ou leviandade ou estupidez: e também porque, onde não encontrei aquilo de que precisava, tive que conquistá-lo artificialmente, falsificá-lo, criá-lo ficticiamente para mim (… e que outra coisa fizeram jamais os poetas? e para que existiria toda a arte no mundo?).
Mas do que eu precisava sempre de novo, com a maior das premências, para minha cura e auto-restabelecimento, era da crença de não ser o único a ser assim, o único a ver assim — uma mágica premonição de parentesco e igualdade de olho e de desejo, um repousar na confiança da amizade, uma cegueira a dois sem suspeita e pontos de interrogação, um gosto pelas fachadas, superfícies, pelo perto, pelo próximo, por tudo o que tem cor, pele e aparência.
…Basta, eu vivo ainda; e a vida não foi inventada pela moral: ela quer engano, ela vive de engano … mas não é que já recomeço e faço o que sempre fiz, eu velho imoralista e passarinheiro — e falo imoralmente, extramoralmente, "para além de bem e mal"? —

(Nietzsche, Coleção Os Pensadores — p.63-64, negritos meus)


A imprevisibilidade assume o mais provável dos próprios comportamentos, no entanto, quantas vezes alguém chora ao assistir pela enésima vez o mesmo filme? Comportamentos esperados, porque modelados, só são estratégia para aqueles que os construíram.

Nos treinamentos de equipes, ensinam que o elo mais fraco é o que mais determina o sucesso ou fracasso de qualquer projeto, mesmo que muitos acreditem que a capacidade dos mais fortes conseguirá relevar essa fraqueza. A questão é ignorar que corpo e mente estão incluídos nessa consideração.

Extremamente cuidadosos com aspectos considerados especiais, relegamos à obscuridade os outros. E a margem do rio que ficou sendo entulhada de pequenos e desprezíveis pedaços desvia o curso original do rio e inunda as supostas áreas importantes, destruindo todo o esforço e resultados.

Sentimentos estão entre os elementos de nossa composição que nos conduzem para as ações mais desqualificadas, juntamente com os falsos raciocínios. Com o senso comum nos guiando interna e externamente, a limitação é a constante… até o momento em que o copo está cheio e não dá mais para engolir…

Estrategistas consumados em práticas repetitivas e cotidianas, ingenuamente acreditamos ter controle sobre as emoções. Grandes personagens da história repetem o mesmo erro. Sem perceber, não por que querem. Evidentemente, ninguém consegue manipular todas as variáveis se o caos é o elemento predominante da vida. Um dia a dor ou a raiva se apresentam, apoderando-se da situação e nos colocando de joelhos perante a impotência. Ou a perda.

Em um fluxo de vida podemos encontrar boas práticas, até mesmo, algumas delas extensíveis a outras pessoas. Avalio como principal a de motivar a avaliação crítica ao decompor em fatores algo que parece um monólito ou inteiriço. Mais. Ousar perceber a sua inclusão no contexto, o quanto se é suscetível a tais elementos.

A estratégia de vida nada mais é do que um conjunto de avaliações que fazemos em determinado contexto. Nenhum discurso enrijecido pode ser considerado bom em si, porque, já de cara, esconde e tenta impedir a transformação que ocorre em tudo e em todos.

Tenho medo de qualquer discurso que se vale do 'pra sempre', que dá uma única resposta para todos, que não nos alerta para nossa motivação (egoísta, por padrão) e nos ensine a desconfiar daquelas mais belas intenções. Não porque serão sempre ruins, mas para aprendermos a ser vigilantes e a identificar tudo o que foi apropriado sem passar pelo crivo da crítica.

Verdade é algo que se constrói para depois se estabelecer. Tem duração, pois os elementos disponíveis, atualmente, poderão receber acréscimos que alterem seu significado.

Uma vez assisti o filme 'Fé demais, cheira mal'. Pode parecer hilário, mas um alerta muitíssimo sério.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 04 de abril de 2015.

* Tudo que é excessivo, supérfluo, desregrado ou abusivo.
Nietzsche afirmou ser o homem um criador dos valores que preferiu esquecer que eram uma produção sua para torná-los transcendentes, eternos e verdadeiro: valores demasiado humano.

2 de abr. de 2015

Remendo puído

Remendo puído criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 01-04-2015
Remendo puído, criado em 01-04-2015.

É verdade que às vezes, não muito frequentemente, as regras morais colidem e você ofende alguém, independente da decisão que toma. Mas o mundo não é um lugar perverso porque as pessoas não conhecem a diferença entre o certo e o errado. Nove entre dez vezes, o caminho certo está bastante claro, a não ser por uma coisa.
— Que seria?
— Que não é do interesse ou desejo das pessoas fazer o que é certo. Nunca houve um moralista que pudesse dizer qualquer coisa mais clara do que a Regra de Ouro… trate os outros como você gostaria de ser tratado. Tudo mais na moralidade são só firulas ou mentiras.
[…] Imamuel Kant. Filósofo. Já morreu. Ele dizia que se você quiser saber se suas ações são morais, deve universalizá-las.
— Não sei o que significa.
— Se quiser saber se uma ação que você está para empreender é errada, deve se perguntar: e se todos se comportassem assim?
…Se você se visse diante da sua morte e da morte de sua família pela mão dos Redentores, ou de alguém como eles, quem você iria querer que ficasse entre vocês e eles: eu ou Imamuel Kant?

(Paul Hoffman — O bater de suas asas, volume 3 da trilogia A mão esquerda de Deus, pp. 266-269)
Quando alguém se decide pelo ódio, nenhum argumento contrário faz sentido. Todos os preconceitos são produzidos dessa maneira: incitando-se o ódio. Aquele que estava adormecido em alguém por sofrimentos passados ou aquele que, nesse momento, atua no seu coração.

Você se assustaria com o que é possível produzir em um ser humano usando esse recurso. Ditadores, a história (transmitida ou vivenciada) nos ensina se tornaram os tiranos que foram usando desse recurso. Sociedades inteiras mobilizadas numa predeterminada direção por interesses político financeiros escusos e acobertados.

E os discursos repetidos mecanicamente assomam o consciente, após tanto ser internalizado, remendos puídos tomam o lugar da verdade. Verdade absoluta, como muitos líderes religiosos de todos os tempos usaram para manipular a população. Docilizados, ovelhinhas indo para o matadouro caladinhas.

Não à toa, até hoje, são os ingênuos que tem a sua fé cooptada por sepulcros caiados para dizer "Queremos Barrabás!".

Wellington de Oliveira Teixeira, em 02 de abril de 2015.

Nota: Não há erro na grafia do nome do filósofo — fictício nesta obra.