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30 de abr. de 2014

Reviravolta

Reviravolta, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 30-04-2014.
Reviravolta, criado em 30-04-2014.

s.f. Ato ou efeito de desfazer a volta;
giro ou volta sobre si mesmo, firmando-se apenas em um dos calcanhares;
volta rápida, pirueta, contravolta: o ginasta fez uma reviravolta.
Mudança brusca: reviravolta de opiniões.

(http://www.dicio.com.br/reviravolta/)


Hoje eu escolhi focar nos momentos felizes de pessoas conhecidas, amigas e ver como a vida é diversificada: estonteantemente capaz de produzir felicidade nas situações onde prevalece uma tristeza.

A bem da verdade, acredito que é mais uma capacidade humana de determinar a dosagem que se permitirá vivenciar de cada uma - a cada momento.

Sim, às vezes precisamos desviar o foco da nossa atenção, por alguns momentos, de determinados aspectos da realidade. Ela pode ser bastante dura, especialmente naquelas situações de grandes dificuldades que envolvem você e uma pessoa amada.

Há um determinado desgaste, que surge nesses casos, que ultrapassa o cansaço físico. Ele mina com as certezas e seguranças e corrói a esperança. Isto é, se não houver o devido cuidado e respeito a si mesmo.

É certo que somente encarando o desafio poderemos ultrapassá-lo. Mas é certo, também, que focar um ponto apenas, por muito tempo, provoca uma visão turva ou nebulosa.

Então, equilibrar-se nessas horas é precisamente dosar o foco no alvo, permitindo-nos um descanso de tempo em tempo para que, ao voltar, a visão esteja mais liberta e possa perceber e avaliar os detalhes, novamente.

Para ampliar a analogia, é ousar criar uma nova perspectiva, fazer um giro sobre si mesmo e dar uma reviravolta.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de abril de 2014.

* Adorei saber que é o Mathias quem está a caminho, Mariana!

23 de abr. de 2014

Ladrilhos e fragmentos


Ladrilhos, criado em 22-04-2014.

Parte da genialidade de Einstein consistiu em perceber que embora as colisões ocorram com muita frequência,
como as moléculas são muito leves, colisões isoladas não têm efeito visível.
As mudanças de direções observáveis só ocorrem quando, por pura sorte,
as colisões numa direção particular forem preponderantes[…].
Quando einstein fez as contas, descobriu que, apesar do caos no nível microscópio,
havia uma relação previsível entre os fatores[…].

(Leonard Mlodinow - O andar do Bêbado: como o acaso determina nossas vidas, p. 178)


É possível não se gostar da ideia, mas somos um apanhado de ladrilhos sobrepostos em uma superfície que não é plana, nem um pouquinho, e, por mais que a gente queira, não se complementam bem. Tem tortuosidades, reboco aparente, partes descascadas, infiltrações e tudo o mais que garante a não homogeneidade, apesar de a apresentarmos como tendo.

Como o núcleo da terra, estamos em ebulição constante que liquidifica todo o material absorvido e o transforma, com um gasto considerável de energia.

De vez em quando, a mistura não se dá facilmente e ocorrem reações turbulentas que, de tão violentas, extravasam à superfície. Exatamente como os vulcões. Conforme o tempo passa, a massa se esfria e solidifica, criando uma nova carcaça. Assim se transforma a face visível.

Essa é a versão natural dos acontecimentos. Excepcionalmente, porém, esse processo também acontece provocado por tempestades emocionais que remexem com nosso conteúdo interior como num caldeirão de bruxa. Por ser um processo súbito, os raios de grande intensidade e velocidade penetram a superfície e, como os que provocam as trovoadas ensurdecedoras, atraem a nossa atenção.

Dependendo da capacidade de administrar suas consequências — um processo que pode ser demorado, doloroso, mas sempre revelador — a descaraterização da superfície ocorre e alguns não se reconhecem mais. É o surgimento de um novo eu, fundido como ferro ao fogo.

O que revelará, só se mostrará após o tempo de resfriamento. Para quem é cuidadoso consigo mesmo, talvez (quem sabe?), se houver dedicação cuidadosa ao processo de aparamento das arestas e polimento de sua superfície, a modelagem possa ser realizada de acordo com o perfil que sua vontade determine.

Em todos os casos, não há retorno quando acontece. A transformação ocorre e os ladrilhos se modificam, ou se perdem.

Somos um mundo rico em transformações de microescala. Fragmentos copiando a ordem natural da natureza cósmica. Afinal, nossas partículas não são tão diferenciadas de nós perante o todo.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 22 de abril de 2014.

Vulcanismo é um fenômeno geológico que ocorre do interior da Terra para a superfície, quando há o extravasamento do magma em forma de lava, além de gases e fumaça e é resultado das características de pressão e temperatura contidas no subsolo.
(Brasil Escola)

Por se tratar de um processo que ocorre em uma escala temporal mais lenta, durante o processo de fragmentação natural as espécies tendem a se adaptar às transformações da paisagem; em contrapartida com o forte aumento do intensivo processo de fragmentação gerado pelas atividades humanas, a perda estrutural e qualitativa de habitat tem aumentado o número de espécies ameaçadas.
(R. B. Primack - Essentials of conservation biology)

17 de abr. de 2014

O plausivel

Plausível, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 17-04-2014
Plausível, criado em 17-04-2014.

Quero lhe contar como eu vivi e tudo o que aconteceu comigo.
Viver é melhor que sonhar e eu sei que o amor é uma coisa boa, mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida
de qualquer pessoa.
Por isso cuidado meu bem: há perigo na esquina! Eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens.
Para abraçar meu irmão e beijar minha menina na rua é que se fez o meu lábio, o seu braço e a minha voz…

(Como nossos pais - Belchior)

Senso comum é o conhecimento irrefletido, tradição.
O senso crítico é baseado na crítica, na reflexão, na pesquisa e no pensamento:
o raciocínio busca comprovação antes de emitir uma avaliação ou realizar uma conclusão.




Uma vez, uma professora universitária me disse que sem uma taça de vinho, nada do que escrevia parecia verdadeiro, recendia a uma casca de verniz social. Bem, na opinião de quase todos os trabalhadores que anseiam por um happy hour ou pela cerveja da SEXta-feira, tudo certo.

Não ousem me dizer — quem não teve a oportunidade de experimentar o relaxamento que uma taça de vinho ou umas duas cervejas proporcionam — que isso seja falso. Como, também, não é falso dizer que não se deve tomar decisões no meio do fogo cruzado das emoções.

Tristes são as histórias de jogadores compulsivos que dizem ser o seu dia de sorte; daqueles que dizem que irão apenas beber mais uma dose; ou daqueles que… recuso-me a continuar. O que importa para minha questão é que a emoção apenas não determina o que fazemos, tudo é uma história de vida. São os pequenos acontecimentos que se acumulam e transformam-se num gigante a ser vencido.

Davi e Golias? Café pequeno.

Alegoria ou fato histórico, jamais irá detalhar a realidade diária de cada um de nós, o enfrentamento de dificuldades, o silêncio engolido com a garganta seca, o surrealismo dos padrões sociais: Negamos! Afirmamos! E, se nos dermos conta, nada daquilo se referencia àquilo que nos torna seres humanos. Nem mesmo a dor. Nem mesmo o prazer.

Sentir-se no meio do furacão? Brinca comigo, não. Com tantas pessoas despejadas, famintas, destituídas da humanidade, é mais do que ridículo recorrer às nossas novelinhas pessoais. Coitados dos mexicanos quando recebem os créditos! Juro (e não se deve jurar!) que a vida produzida socialmente, falsamente, manipulada pelos controles e descontroles de cada um de nós é algo inócuo. Inofensivo. Apenas uma proposição necessária adotada quando não há outra opção: máscaras sociais da madame e do patrão; do operário e do ladrão.

E todos somos responsáveis, tentando desesperadamente ignorar a culpa ou a responsabilidade de não interferirmos nesse modelo social anacrônico, de não sermos agentes de transformação social.

Como os nossos pais (agradeço as palavras de Belchior e a voz da Elis Regina) repetimos, reproduzimos. Somos máquinas copiadoras. Transformadoras? Não se faça rir.

Mas, quando eu vejo meus netos ou meus sobrinhos-netos me questiono: O que realmente eu estou deixando para eles? Que parte de mim eles irão — por opção — avaliar, reproduzir, acreditar?

Um dia eu disse para o meu filho: 'mesmo que eu seja completamente contra o que você faça, jamais irei deixar de amá-lo'. Registrem isso, porque verdades são raras no mundo. Hoje, eu digo com clareza: 'isso jamais me fará abrir mão de mim mesmo, é parte de mim.'. Maturidade? Talvez. Certamente, um aprendizado sobre as relações humanas.

Teve alguém que ousou dizer que teria que ser do mesmo modo que para mim mesmo, a manifestação do meu amor. E eu aposto nele e naquelas palavras. Todo o resto é produção cultural, social. Precisa ser reavaliado (com extremo cuidado, eu sou primeiro a dizer!).

Numa época em que participei de um grupo que queria acessar modos mais plenos do que entendíamos ser adoração (eu era membro de uma estrutura religiosa), a primeira coisa que ficou clara era que era preciso modificar algumas das práticas cristalizadas e solidificadas em bases de tradição ou costumes de época. Antes disso, porém, um 'bando' de adolescentes — era assim que eram qualificados — entendeu que a transformação só aconteceria se eles se envolvessem, investissem naquilo que acreditavam, que se dispusessem a participar do modo que achavam que podiam. Tenho o orgulho imenso de dizer: eles o fizeram!

Mas agora eles cresceram e dizem que a realidade é outra. Será?

Sabe o que impede de agirmos hoje do mesmo modo? Acomodação. A mesma que faz um país inteiro se submeter. A mesma que corrói os ânimos, as reivindicações. A mesma que nos torna reprodutores, nunca produtores. Seres domesticados. Ânimos sem fôlego. E perceba bem, Animo e Fôlego são palavras especiais, sem elas não há existência humana.

Talvez, por isso — e me perdoem o pessimismo — a maquinização dos nossos desejos, a homogeneização de nossas características e o desrespeito às nossas diferenças tenham se tornado a herança para as novas gerações.

Imbecilizados?

Idiotizados?

Certamente, destituídos do possível, do viável, adotamos tristemente o plausível.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 17 de abril de 2014.

* Não esperem de mim, tão cedo, outro desabafo assim.

A arte de dividir-se

Dividir-se, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 16-04-2014
Dividir-se, criado em 16-04-2014.

Não se descobre o absurdo sem ser tentado a escrever algum manual de felicidade. "Mas como, com umas trilhas tão estreitas?" No entanto, só existe um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce forçosamente da descoberta absurda. Ocorre do mesmo modo o sentimento do absurdo nascer da felicidade. "Acho que tudo está bem", diz Édipo, e essa fala é sagrada. Ela ressoa no universo feroz e limitado do homem. Ensina que tudo não é e não foi esgotado. Expulsa deste mundo um deus que nele havia entrado com a insatisfação e o gosto pelas dores inúteis. Faz do destino um assunto do homem e que deve se acertado entre os homens.
(Albert Camus - O Mito de Sísifo)***

Exemplos diários de dissociação incluem veículos de comunicação destacando estresse pós-traumático de soldados que retornam de guerra, vítimas de estupro acometidos de amnésia sobre os detalhes e, na Justiça, o problema de definição de responsabilidade sobre os atos, nos casos de Transtorno Dissociativo de Identidade (múltiplas personalidades). **


Alguém pode me dizer como se faz divisões sem que haja resíduos, sobras, restos? Imagino que é por causa deles que, durante a noite, meu cérebro não pare (mas será que algum momento ele para?).

Um pedido: não me fale de consciente e inconsciente. Pelo amor de Freud! Quociente é o resultado da divisão. E se os sujeitos não são inteiros, vai sobrar para alguém um resto. Geralmente, amargo para engolir.

Quando alguém me diz que tem que dividir-se em dois para dar conta de suas tarefas, eu entendo. A figura propõe multiplicar ou dobrar a capacidade de resolução. E quando alguém me diz que está dividido, eu entendo. A figura propõe menos da metade da capacidade.

Ilógico? Pode ser, mas eu lhe garanto que a atenção de uma pessoa que está dividida não atinge a metade exata de suas tarefas, uma recebe menos que a outra de maior interesse. Essa é uma avaliação de senso comum, isto é, não está embasada na exatidão ou cientificidade. É uma atestado de sua existência por detecção e comprovação de um fato: é algo que acontece, realmente.

Imagine os alunos e trabalhadores que estão doidos para irem embora, na véspera do feriadão (é o seu caso?). A menina ou o menino que, em vez de realizar suas tarefas, divaga. Bem, aqui a divisão do tempo parece se prolongar, demora a passar, os ponteiros do relógio não estão favoráveis ao resultado desejado.

O que me provoca nesse processo é o fato de sermos capazes de produzir um outro de nós mesmos — ou algo muito próximo disso — nessas horas. Há pessoas que são capazes de repetir o que estavam dizendo, mesmo com a atenção totalmente fora de onde estavam. Outros, como em reuniões decisivas, que enquanto ouvem um argumento, já estão estruturando os contra-argumentos necessários para outra situação - simultaneamente. Fisicamente muito distantes do lugar em que estão o pensamento e a emoção: dissociados.

Buscando formulações menos avançadas, estou pensando especificamente em como fico dividido, em alguns casos, para tomar decisões. A velha e já manjada briguinha entre razão e emoção. É que estar de fora de uma situação dessas facilita o olhar mais frio e crítico. Mas estar dentro… bem… não é nada fácil.

Uma hora ou outra, estaremos contra a parede, com a corda no pescoço, pois não dá para ser um joão-bobo ou o grande boneco inflável que se mexe ao vento ('bonecão do posto tá maluco, tá doidão'!). Situação em que, não fosse o sofrimento estampado, seria risível.

Todo mundo sabe como pode ser paralisante esse embate dentro de si. Afinal de contas, ninguém quer perder ou se machucar. E a matemática da divisão diz que ela é o contrário da multiplicação e representada por uma fração. Ninguém quer ficar fracionado.

Já viu um divisor de sinal de antena? Ele tem uma entrada e várias saídas. E tem uma tarefa ingrata. Sua função é potencializar o sinal que cada saída receberá para não degradar a imagem resultante, mais ou menos o milagre da multiplicação.

Enquanto não houver uma rachadura completa ou uma soldagem bem feita, vale as tentativas. Dessa vez vou tentar uma 'viagem astral'. Meditar e ir aonde meu coração manda. Não vou contestá-lo. Mas, depois, vou segurar a onda com a minha razão. Ela sempre corre atrás da emoção, no meu caso, apesar de toda a minha racionalidade.

Então tá decidido: o jeito é equilibrar a situação porque se eu não tomar um partido, acabarei partido, igual a esse texto. O pior é que já tem muitos pedaços que restaram de outras divisões espalhados dentro de mim.

É preciso ser um artista para se manter inteiro, não é? Alguém tem um cola-tudo para emprestar?

Wellington de Oliveira Teixeira, em 17 e 18 de abril de 2014.

* Sobre divisão matemática, leia:
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/matematica/divisao-o-inverso-da-multiplicacao.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Divis%C3%A3o

** A Ação de dissociar na
Física: Desagregação de moléculas.
Química: Decomposição reversível dos corpos.
Psiquiatria: Ruptura da unidade psíquica, que constitui um dos principais sintomas psicóticos, notadamente da esquizofrenia. (Amplie seu conhecimento em http://www.psicosite.com.br/tex/sod/dis003.htm)

*** CAMUS, Albert - O Mito de Sísifo - http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/clubedeleituras/upload/e_livros/clle000131.pdf

15 de abr. de 2014

Eu queria que o tempo pudesse voltar dessa vez

Tempo, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 15-04-2014.
Tempo, criado em 15-04-2014. (clique para ampliar.)

Eu te desejo muitos amigos (mas que em um você possa confiar) e que tenha até inimigos pra você não deixar de duvidar.
Quando você ficar triste, que seja por um dia e não o ano inteiro, e que você descubra que rir é bom mas que rir de tudo é desespero.
Desejo que você ganhe dinheiro - pois é preciso viver também - e que você diga a ele (pelo menos uma vez)
quem é mesmo o dono de quem.
Desejo que você tenha a quem amar...

[Amor pra recomeçar - Barão Vermelho]

Não preciso de modelos, não preciso de heróis. Eu tenho meus amigos e quando a vida dói eu tento me concentrar num caminho fácil.
Sou eu mesmo e serei eu mesmo, então. E eu queria que o tempo pudesse voltar dessa vez.

[Comédia romântica - Legião Urbana]


Hoje, eu estava lendo uma postagem no facebook da Margareth Marcelo, onde havia uma reclamação em relação às viradas de tempo. Eu me solidarizo com a questão que ela apresentou. Para ser bem sincero, cada vez que o tempo vai mudar, meu corpo antecipa e reage com rinite alérgica. Não é nada, nada bom! Mas, como cantavam The Fevers na música Mar de Rosas, Nem sempre o sol brilha, também há dias em que a chuva cai. O jeito é relaxar e beber água. Mas uma cervejinha ou um vinho também caem bem. Para falar a verdade, cerveja combina com todos os tipos de tempo. Se fosse música eu diria 'em qualquer dia, em qualquer hora…".

Percebi que estou recorrendo a tudo quanto é música que eu recordo. Música me faz bem. Música me ajuda a superar alguns momentos, reavivar outros, imaginar vários.

A primeira música que ganhei de alguém — um costume, da época, de ter uma trilha sonora com alguém de quem você gostava (amor ou amizade!) — foi Your Song interpretada pelo Al Jareau. Digo até hoje: totalmente deslumbrante e mágica e a melhor música da minha vida! Pudera: a letra é do Sir Elton John e a voz é a de alguém cuja garganta era considerada uma orquestra completa pelos críticos de todos os estilos (assita os vídeos pelos links para ter a noção do que digo). À Valéria Thuller minha gratidão eterna por ter me acordado às 06h da manhã e me feito escutar ao telefone a versão de estúdio dessa música (And you can tell everybody, this is our song).

Mas, como dizem, águas passadas não movem o moinho. Então, prossigo recordando na trilha da minha vida outras músicas maravilhosas (aproveite para recordar a da sua vida!). Faz muito bem e ajuda a perceber que as coisas mudam, a vida segue adiante, o sofrimento passa - como tudo na vida.

Mas, sabe quando bate aquela pontada estranha, exatamente naquele dia que estava nublado mas resolveu trocar a trilha para 'Deixa chover, deixa a chuva molhar…', ou 'chove chuva, chove sem parar…'? Pois é, fui sorteado. Inundou lá dentro e acho que vi um monstrinho se aproximar da superfície.

Vou preparar uma massa no capricho, selecionar um vinho levemente frutado e me permitir saboreá-los assistindo a um bluray no meu novo home theather (é bom ser carinhoso consigo mesmo) para superar, novamente, o que me incomoda. Mas nada de afogar as mágoas.

Nem sempre, mas hoje eu desejei cantar como o Renato Sou eu mesmo e serei eu mesmo, então. E eu queria que o tempo pudesse voltar dessa vez.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 15 de abril de 2014.

* Al Jarreau - Your Song.
Versão de estúdio: https://www.youtube.com/watch?v=9tmsOJyRR94
Ao vivo! está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=OH7xg5Eoi2E&feature=kp

14 de abr. de 2014

Quando a vida se desbota

Desbotando, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 14-04-2014.
Desbotando *, criado em 14-04-2014.

Mas quando a noite chega e eu não tenho mais pra quem fingir, só eu sei o que isso dói.
Eu te vejo sorrir demais e esse olhar que pode tudo.
E eu nem sei se acho graça ou não, porque eu sei, eu sei que lá no fundo,
sempre que a noite chega e você não tem pra quem fingir
Sempre que a noite chega, você queria tanto alguém igual a mim.
E a gente acaba a noite sempre assim:
bebendo orgulho e solidão, chorando em frente a televisão, mantendo silêncio pra ninguém ouvir.
Pra ninguém ouvir. Shh…

(Silêncio - Heróis da Resistência)


Quantas vezes você já viu fotografias do amanhecer? Geralmente, apresentadas com frases que realizam uma ode ao dia ensolarado que se inicia, definido como um espetáculo da natureza. Evidente que a luz tem um poder incrível de avivar as cores e suas tonalidades, destaca inclusive as áreas sombreadas. Em muitos, produz, também, o mesmo efeito nas emoções.

Quem já apreciou um aquário de peixes ornamentais provavelmente vai lembrar de como as cores de um peixe embelezam determinado local. Os que são iluminados, mais ainda.

Não sou biólogo, mas já aprendi que, no mar, quanto mais profundo se vai mais escassa é a iluminação, assim, deve ser extremamente difícil avaliar a coloração dos peixes - se é que ela existe.

Carl Jung também considerava esse fato com relação à psique e questionava: de quais instrumentos dispomos para alcançar determinadas áreas dentro de nós mesmos nesta busca da compreensão de quem somos e o que desejamos? O quanto eles podem colaborar para destacar os elementos encobertos até mesmo de nossa consciência?

É preciso ter clareza de que há diversos níveis de situações. Em algumas delas devemos ser bastante cuidadosos, inclusive buscar ajuda profissional para encará-las. Uma delas é quando ocorre níveis crescentes de depressão.

Se eu tivesse que explicar depressão, sem usar os termos mais específicos, diria que é um processo que ocorre e reduz, em nós, os sentimentos positivos em relação à vida; desbota o colorido que embelezava as coisas ao nosso redor. E, mesmo que esteja tudo maravilhoso, não conseguimos compartilhar dos sentimentos de todos. Nos tornamos um peixe sem cor no aquário.

Nas várias vezes em que me dispus a participar de um processo colaborativo ou psicoterápico, me deparei com a mesma questão: é importante não complicá-lo, mas é preciso facilitá-lo sem banalizar.

Se encontro questões mais superficiais - no sentido de apreendidas com mais facilidade - no dia-a-dia, evito utilizar de instrumentos padrões. Para que 'psicologizar' nesses casos? Todos podemos fazer um exame das situações que vivemos; compartilhar questões que nos afligem; evitar enfrentamentos desnecessários; cuidar melhor de nossa saúde física e mental por meio de atividades físicas e recreativas. Estes são instrumentos que podem ser considerados terapêuticos numa forma ampla.

É porque eu gosto quando as pessoas encaram suas dificuldades e tentam por si mesmas ultrapassá-las que incentivo esse posicionamento perante a vida. Tenho consciência do poder que cada um possui de se construir e reconstruir e sou coerente com esse raciocínio. Colaboro na avaliação da situação e deixo o barco seguir seu rumo: em um mar tão grande, é quase impossível não haver peixes para pescar.

Sou muito fã das relações de amizade, mas avalio que sejam um suporte maravilhoso, desde que por alguns momentos. Processos de dependência nunca devem ser encarados como benéficos. Divida as suas questões mas não aceite ficar na situação de 'coitadinho'. Pena pode ser o pior sentimento que alguém lhe dedique.

Crie coragem, pegue seus pincéis e vá colorir a sua vida!
Wellington de Oliveira Teixeira, em 14 de abril de 2014.

* Para ver detalhes do peixinho, clique na imagem.

13 de abr. de 2014

Saudosismo ou saudade

Saudade, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 13-04-2014
Saudade, criado em 13-04-2014.

Lobo.
Eu, você, João girando na vitrola sem parar.
E eu fico comovido de lembrar o tempo e o som. Ah! Como era bom.
Mas chega de saudade.
A realidade é que aprendemos com João pra sempre a ser desafinados.
Ser.
Chega de saudade!

(Caetano Veloso - Saudosismo)


Saudosismo não é saudade.

Polêmico? Verdade! Então farei algumas considerações e espero que você as acompanhe, se possível, cuidadosamente.

Saudoso é quem permite que sinais anteriores efetuem na mente e no corpo efeitos singulares. Desculpe-me, compliquei. Tentemos ir por outra via. Imagine alguém recordando a alegria de ter carregado uma criança em seus braços e ter recebido um olhar, um sorriso e uma mão acariciando o seu rosto, em resposta. Nesse exato momento, um sorriso lhe brota nos lábios, um lágrima escorre na face e o coração diz para o dono: o mundo é lindo.

O saudosista é quem não permite que novos sinais efetuem o mesmo efeito em seu corpo, apenas os anteriores. Pela analogia, não permite que o adulto - que é aquela criança hoje - lhe promova tais sentimentos.

Um e outro recorrem ao passado como fonte de reativar forças, mas avalio que apenas um o faz de uma forma saudável. A vida é um continuum, inesgotável fonte de novos estímulos. Independente de tempo de vida, ou mesmo condição física, todos os seres vivos são capazes de se apropriar deles por meio de encontros ou de imagens mentais. Pense em alguém cego como capaz de fazê-lo por meio dos auditivos e faça outras considerações semelhantes. Creio que será o suficiente para avaliar a minha proposição.

Dizem que não envelhece quem se apropria do momento presente para projetar novos futuros. Ficam idosos, sim, e seus corpos ficam desgastados e com inúmeras questões resultantes deles, porém, tais efeitos são enfrentados de forma coerente: impedidos de extrapolar e desbotar todos os outros aspectos da vida.

Como disse, não é questão de idade, muitos jovens estão encarcerados em um passado, em uma relação anterior ou um momento cuja habilidade era notória e merecia elogios. Alguns querem permanecer na época em que lhes era permitido errar de forma inconsequente.

Não preciso fazer um compêndio para deixar claro um posicionamento: o uso do passado é uma ferramenta eficaz. Porém, como todo e qualquer bom instrumento, tem possibilidades de uso opostas. É preciso avaliar aquele que nos trará potência para a vida, momentos de prazer, elevação da alma.

Uma sugestão: promova boas recordações, se permita um pequeno túnel do tempo onde você resgate dos acontecimentos o poder que eles possuem de serem eternos em seus efeitos; faça isso sem abdicar dos novos acontecimentos que o cercam no exato momento em que você viaja ao passado. Como? Conte uma história de vida para alguém, uma que o inspire a ir adiante. O que você vive pode ser exclusivamente seu, mas pode efetuar muito mais quando compartilhado.

A vida é uma árvore com rede ramificada e interligada: raízes e galhos que se multiplicam para potencializar os seres que sustenta; distintas camadas sobrepostas que fortalecem; passado e presente numa totalidade única, mesmo que só percebamos a camada mais externa e atual.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 13 de abril de 2014.

* Saudosismo como movimento cultural português do inicio do século XX refere-se a mais do que sentimento individual, a saudade é elevada a um plano místico (relação do Homem com Deus e com o mundo, ânsia nostálgica da unidade do material e do espiritual) e corresponde a uma doutrina política e social.

12 de abr. de 2014

Desistências

resiliência, criado em Wellington de Oliveira Teixeira, em 12-04-2014
Resiliência, criado em 12-04-2014.

Denyel foi arremessado à goela do monstro. Farejou seu odor nauseante […] estava condenado, mas resistia. Deu cotoveladas e socos.
[…] Quando a bocarra se expandiu, Denyel tomou uma atitude impensada. Sem mais pedras para jogar, enfiou a mão na jaqueta e arremessou tudo o que guardava nos bolsos. […] O querubim achou que seria morto em seguida, no entanto o tentáculo afrouxou. Surpreendentemente, o corpo do monstro se agitou numa tremedeira […]tornou a se espremer, descendo ao abismo da escuridão infinita, uma passagem aberta para o universo sombrio.

(Eduardo Spohr — Filhos do Éden 2: Anjos da morte, p.450-452)

Vejo pessoas que tornam-se dependentes de obter soluções imediatas, senão jogam fora ou abrem mão. Entendo essa atitude ser fruto de uma sociedade consumista que incentiva usos temporários e rápidas desistências.

Muito se diz sobre a capacidade humana de superar. Dentre as maneiras de exaltar a resiliência está uma que propõe, para além de superar uma questão, ser capaz de reconstruir, refazer, reestruturar determinados aspectos ou partes perdidas.

Declaro-me fã deste determinado modo de entender a potência desse processo: mais do que apenas ficar de pé em meio à tempestade, tornar-se capaz de inventar - com o que disponível estiver - escudos protetores para continuar caminhando, seguindo em frente, alcançando mais um trecho para alcançar seu objetivo.

Quase sempre, quando proponho essa forma as pessoas (a maioria discretamente) dão um risinho. Não me parece ser de deboche, apenas manifestação involuntária a uma certa ingenuidade minha. Só que, nas várias vezes que busquei refazer o processo de entendimento e achar as brechas, não as encontrei. É possível. É viável. É factível.

Bem, sendo assim, por que as pessoas consideram ingenuidade? Será que o sofrimento vai deixando resíduos, que aos poucos se acumulam e produzem resistência no sentido contrário, isto é, a busca de evitar os enfrentamentos? Porque é isso o que acontece.

Uma vez eu ouvi a expressão 'tiraram o meu chão', em outras 'estou no fundo do poço' ou 'não tenho mais forças para tentar'. A impotência que elas carregam não é pequena, não é desconsiderável. Manifestam um estado ou condição humana onde a esperança se desfez, a visão de algo além se nublou, um estado emocional de esgotamento. Não à toa, pessoas assim precisam de ajuda especializada, inclusive os próprios especialistas que não estão imunes ao processo por contaminação.

Nessas horas, em vez de me focar no processo global eu me permito indicar soluções muito particularizadas e parcializadas: não tente resolver tudo de uma vez. Encontre aquele pequenino aspecto em que você ainda se proporciona um pouco de felicidade e use-o como escudo inicial. Ilumine ao redor dele outros. É como ir ao cinema com um amigo e depois passear na praça, na praia. Um prolongamento do momento bom. Isso é como formar pilares para que você possa colocar uma tampa no seu poço que, de placa em placa, vai cobrindo toda a sua superfície. Não tente encher o poço - ele é profundo. Basta tampar a sua abertura externa, construir uma ponte que o permita atravessar essa profundidade. Se você reforçá-la, diariamente, aos poucos nem notará mais que ficou detido por ela, anteriormente.

Somos seres individualmente muito incríveis. De uma potência maravilhosa. O exercício do enfrentar nos empodera mais, nos fortalece mais.

Eu descobri, também, que produzir novos encontros abre novas possibilidades, compartilhar questões permite que escutemos a nossa própria voz, deixar o sofá ou cama e caminhar faz bem.

Bem, essa é a minha visão. Há outras.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 12 de abril de 2014.

* Eu ri quando terminei a revisão do texto. Ficou parecendo texto de autoajuda. Que seja!

8 de abr. de 2014

Complicado

Complicado, criado por Wellington de Oliveira Teixeira, em 08-04-2014
Complicado, criado em 07-04-2014

Penso nisso:
se foi mal ou entendido, vai ficar mal-resolvido.
Ignoro, pois um caso deixa marcas mas não mata.
O respeito é garantido, a escolha é honrada;
Vá seguindo o seu caminho que eu vou por outra estrada.

(Outra estrada - Wellington de Oliveira Teixeira)


Não.

E dessa vez eu quis começar com uma negativa para depois me afirmar: eu não sou uma pessoa fácil, nem de se lidar! Quando o fluxo dentro de mim se esvai, sou um escorpião exposto ao mundo (que se desidrata e morre). E há quem diga que ele se suicida!

De novo, não. Rota suicidária não faz parte do meu caminho. Solidária, companheira e apaixonada, sim. Mas rotas são planejamentos que fazemos. Quem disse que o caminho deixará o traçado se materializar?

Mas sou tão insistente e persistente que ultrapasso limites, de vez em quando os meus. Também consigo ser transmorfo se a situação exigir. Largo o chão e ganho asas, deixo a casca (e tudo o que fui antes) queimar e me permito carregar apenas o essencial: as marcas que ninguém apaga, nem eu.

Lagos são bons para mergulhar. Mergulho fundo nas minhas lágrimas, se um dia foram de sangue, tudo bem, também. É um processo que chamamos de chorar. Mas seja muito cuidadoso, pois há diversas formas da água cair: pela dor física, pelo sofrimento emocional ou espiritual. Descobri, literalmente sem querer, que quando a alma não se contém a água que nos dá vida sai do corpo e leva com ela parte do desespero. Legal isso. Parece que a vida nos dá um mecanismo para nos ultrapassarmos. Superarmos o que não seria possível e, apenas por alguns momentos, nos permite gerar uma nova estratégia para seguir.

Não sei você, mas eu gosto de mudar, trocar as coisas de lugar, substituir quadros e me permitir um novo olhar ao meu redor. E faço isso extravasando o conteúdo que se estragou dentro de mim - deve ter sido por descuido! - senão o mal pode ser pior.

Também gosto de ouvir músicas. E, ao contrário de muitos, não fico remoendo nada. Música é uma estrada sonora que meu espírito aprendeu a seguir. Percorro refazendo as partes mais desgastadas. Então, como você deve ter imaginado, minha play-list ficou no repeat até eu conseguir projetar algo representativo desse momento.

E, acabei de rir de mim mesmo porque não a substituí ainda. Mas não o fiz porque tocou um trecho que eu adoro: the mountains shall be removed...

Reassisti essa semana um filme lindo (O mistério da libélula) que me impactou com a imagem desse inseto alado que no Japão é um popular símbolo poético do outono. Pontos de vista religiosos à parte, a representação da beleza de uma procura insana, da fé que movia corpo e alma, apresentados nessa obra, é emocionante. Marcou, com a questão de morte e uma nova vida, tanto que a utilizei (garanto que foi só agora que percebi o ato falho que cometi!) para me expressar imageticamente nessa ilustração.

Se eu dissesse, 'viu como eu sou complicado?' seria pretensão minha?

Wellington de Oliveira Teixeira, em 08 de abril de 2014.

* Do livro Uma Estranha Realidade, de Carlos Castaneda, destaco trechos que realmente valem a pena ser analisados:
Para ser um guerreiro, e preciso ser claro como um cristal.
Um guerreiro vive estrategicamente. Nunca carrega fardos que não suporta. Um guerreiro deve sempre estar preparado para combater.
O espírito de um guerreiro não é dado a caprichos nem reclamações, nem a vencer ou perder. O espírito do guerreiro só é dado à luta, e cada embate é a última batalha de um guerreiro sobre a face da terra. Assim, o resultado lhe importa muito pouco. Em sua última batalha na terra, o guerreiro deixa seu espírito correr solto, livre e claro. E enquanto trava sua batalha, sabendo que sua vontade é impecável, o guerreiro ri-se a grande.
Todo e qualquer ato, pode bem ser a sua última batalha. Logo, em sua vida diária o guerreiro escolhe seguir o caminho com coração. É a escolha constante do caminho com coração que torna o guerreiro diferente dos homens comuns. Ele sabe que um caminho tem coração quando é um com ele, quando sente muita paz e prazer percorrendo sua extensão.
As coisas que o guerreiro escolhe para fazer seus escudos são os itens do caminho com coração.

2 de abr. de 2014

Pontos & Perspectivas

Pontos e perspectivas, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 31-03-2014
Pontos e perspectivas, criado em 31-03-2014.

Pense em Adão e Eva como um número imaginário, como a raiz quadrada de menos um:
a gente nunca vê uma prova concreta de que ele existe,
mas quando incluímos esse número nas nossas equações,
podemos calcular todo tipo de coisa que seria impossível imaginar sem ele.

(Philip Pullman - A bússola de ouro p.341 *)


Preciso encontrar um ponto de equilíbrio, aquele que aprendi e construí como conhecimento. O problema é que, quando penso que me aproximei, ele se distancia e tenho que recomeçar do zero a busca. Fico distante.

Pois bem, eu gosto de caminhar à beira-mar e não sei bem o porque de não estar me proporcionado isso, atualmente. Sendo um pouco mais honesto, há muito tempo. Fico olhando apenas as luzes distantes, tanto que são apenas pontos na escuridão. É que as pessoas ligam as suas lâmpadas em casa durante as noites. Esse exercício está tão constante nesses últimos dias que até as distinguo das que são de postes. E olha que eu estou muito, muito longe. De mim.

Acho que estou procurando, também, uma bússola. Não a de ouro do Philip Pullman. Se bem que eu gostaria de ter um Dimom (daemon) - a personalidade de alguém que assume formas de animal - que compartilhasse pensamentos e sentimentos e me acompanhasse por aí. Quem sabe, assim, a loucura de conversar comigo mesmo incansavelmente me parecesse menos grave. Insano.

É que ao se chamar alguém assim cria-se um paradoxo: um sujeito (de)mente não seria o mais sóbrio e racional, em sanidade? Julgo que as áreas 'psi' ainda não chegaram a um acordo sobre o que é e o que não é, estão meio borderline, limítrofes ou fronteiriças. Não conseguem ultrapassar a questão e entrar para valer no novo território. Será que é por que quem foi não quis voltar ou fica como um iô-iô, num vai e volta constante? Retorno.

Talvez, apenas aprendendo a caminhar circundando a realidade, sempre retornando ao mesmo ponto, consigamos maiores esclarecimentos sobre o que se vivencia. Mas isso soa tanto repetição que me incomoda. Não gosto do andar circular. A expressão circular por aí me incomoda, prefiro um andar por aí, não é direcionado previamente. É que eu me esqueço algumas vezes de que não preciso apenas andar num círculo, posso fazer uma espiral ascendente. Com isso, mesmo que percorrendo o mesmo ponto posso estar num outro nível e avaliar sob uma nova perspectiva. Prospecção.

Ter um olhar dito mais profundo, que examina mais cuidadosa ou atenciosamente os fatos é o que me proponho todas as vezes que virtualizo meus pensamentos e sentimentos. Será que a natureza humana aprende com o universo que tudo é compartilhado equilibradamente? Bem, talvez eu esteja apenas esquecendo dos problemas que ocorrem quando um item da equação (talvez a sinalização de igual) se perde na formulação. Igual ao que me fez começar a escrever depois de desenhar. Projetar.

Um projetor é sempre alguém que tem uma proposta de iluminar algo ou dar conta de alguma questão. O exercício de projeção auxilia quando é preciso dar um tempo a si mesmo, colocar para fora algo e, ao vê-lo projetado, visualizar com mais clareza a situação em seu todo. Nem sempre dá certo, por conta do aprisionamento a ela ou do sofrimento que produz. Aí não tem jeito. É preciso retornar ao início porque é

[Preciso encontrar um ponto de equilíbrio…].

Wellington de Oliveira Teixeira, em 02 de abril de 2014.

* A Bússola de Ouro é o primeiro livro da trilogia de ficção Fronteiras do Universo (os outros são A Faca Sutil e A Luneta Âmbar), escrita por Philip Pullman. Publicado em 1995 no Reino Unido, traduzido em 2007 aqui no Brasil. Um ponto importante é a crítica à dominação por meio da religião, representada pelo Magisterium.
** É importante notar que o título original da trilogia His Dark Materials remete à matéria obscura (matéria escura ou matéria negra) que só pode ser inferida a partir de efeitos gravitacionais sobre a matéria visível, como estrelas e galáxias. Pullman epigrafa seu livro com um trecho do Paraíso Perdido de John Milton, Livro II: "[…] A não ser que o poderoso criador lhes ordene Seus materiais obscuros para criar mais mundos,[…]"

(http://pt.wikipedia.org/wiki/His_Dark_Materials)
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Mat%C3%A9ria_escura)

1 de abr. de 2014

Silêncios impostos

Covas profundas, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 31-03-2014
Covas profundas, criado em 31-03-2014

Os feiticeiros dizem que estamos dentro de uma bolha. É uma bolha em que somos colocados no momento de nosso nascimento. A princípio a bolha está aberta, mas depois começa a fechar-se, até nos ter trancafiado dentro dela. Essa bolha é a nossa percepção. Vivemos dentro dessa bolha toda a nossa vida. E o que presenciamos em suas paredes redondas é o nosso próprio reflexo.
(Carlos Castaneda - Porta para o infinito p.222)

Há, contudo, resistências a essas competentes produções de subjetividades, tentativas de se forjar e produzir territórios singulares.
[…] Duas categorias são produzidas e muito disseminadas nesses anos no Brasil: a do subversivo e a do drogado, ligadas à juventude da época. A primeira é apresentada com conotações de grande periculosidade e violência, visto ser uma ameaça política à ordem vigente; deve ser identificada e controlada. Tal categoria vem acompanhada de outros adjetivos, como criminoso, traidor, ateu, o que traz fortes implicações morais. O subversivo não está somente contra o regime, mas contra a religião, a família, a pátria, a moral e a civilização. Está contaminado por “ideologias exóticas”, por mandatários de fora.

(Cecília Maria Bouças Coimbra - Práticas 'Psi' no Brasil do 'milagre': algumas de suas produções***.)


Tentativas de esquecimento forjam no porão da alma silêncios impostos, nascimento e crescimento de monstros que fermentam pesadelos novos.

Cavernas cavadas como covas profundas escondem o grito contido, o soluço impedido e a pele lacerada.

Vento frio e cortante provoca o espirro febril e constante. As máscaras que asfixiam e se fixam nos fios da vida, esgarçados.

Velozes imagens na mente. O olhar é distante e ausente.

Sorrisos embotados, sentimentos embolados, sentidos massacrados. A aspereza dos sentimentos pendentes pede à vida um cuidado urgente.

Ferozes imagens dementes. O olhar é distante e ausente.

Da tortura e amigo distante, investiu em cabeças pensantes. Da vivência brutal, degradante, produziu pensamentos brilhantes.

Resistindo a quem mata ou prende apertando no corpo a corrente, até hoje é quem luta e defende a memória do amigo ausente.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 31 d março de 2014.

* Dedico com um carinho imenso à Cecília Maria Bouças Coimbra, que ultrapassou a Ditadura no Brasil. Sua prática como psicóloga, ex-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-RJ, professora da Universidade Federal Fluminense, minha orientadora na monitoria e pesquisa deixaram marcas e memórias belíssimas em mim.

** O desafio de tentar uma nova forma para descrever o sofrimento que a ditadura causou me assustou, novamente.

*** O texto completo encontra-se disponível em http://www.cliopsyche.uerj.br/livros/clio1/praticaspsinobrasildomilagre.htm