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28 de fev. de 2011

Quando o amor se desdobra e se multiplica.

Leandro Perrier de Faria Valentim, em 1999 - Foto by Wellington
Leandro, em 1999. *

"Cada pessoa, todos os fatos de sua vida ali estão porque você o pôs ali.
O que fazer com eles cabe a você resolver."
(Ilusões - As aventuras de um messias indeciso - Richard Bach)


Quando ele nasceu, os céus disseram que ele gostaria de macarrão e água. Só pode ser.

Era um menino, por natureza de cor morena, como ficam os que se delongam nas areias das praias, nas bordas das piscinas, nos jogos de futevolei de areia. Causava a inveja dos que se avermelham por um mínimo que fiquem expostos ao sol do Rio de Janeiro. Além disso, para a inveja de algumas meninas, suas pernas eram tão bem torneadas que lhe davam um porte atlético digno de uma escultura de Michelângelo. Era como a estátua do Davi, só que em movimento. E, com um dos mais leves olhares amendoados que se pode apreciar.

Travei conhecimento com essa figurinha num dia em que, por conta da amizade com seu pai, o ajudei a levar um bolo de aniversário para a sua casa. Ele deveria ter seus os seis anos de idade.

Por um capricho de sua natureza guardava ou demonstrava seus sentimentos de um modo muito peculiar: passeava pelos extremos. E quem não quis revolver esse vulcãozinho perdeu muito de sua personalidade surpreendente.

Também era um sedutor natural e não havia quem resistisse ao olhar triste aliado aos seus bracinhos cruzados. E esse é um capítulo longo demais para o espaço e pode aguardar um pouco mais.

O gosto pelas atividades físicas era projetado nos jogos de futebol, que não perdia. O que ele perdia, às vezes, eram litros de lágrimas e quantidade semelhante de soluços quando seu time do coração perdia. Nessas horas, o mais cruel carrasco se derretia: era impossível não querer consolar aquela criaturinha que expressava de modo tão verdadeiro seus sentimentos.

E por falar em carrasco, ele tinha o seu lado impositor, também. Qual criança não tem? Vamos a ele, então: macarrão com água.

- "Como? O que?" Acho que é isso que você está me perguntando, agora, não é? E, mesmo que pareça inconcebível, vou tentar explicar: ele não ficava sem sua dieta preferida. E ai de quem se atrevesse a lhe oferecer uma outra iguaria. A vovó dele era o seu anjo da guarda nas horas mais difíceis quando só havia um rosbife, um souflê ou outro prato, digamos, um pouco mais sofisticado.

E pra você que sussurou ou imaginou dizer pra si mesmo "_Que personalidade!" eu diria: acertou, ele possuia uma personalidade surpreendente para uma criança. Creio que é isso que me encanta até hoje, nele.

Dos seus esforços nos estudos, das suas práticas desportivas, dos encontros sociais escolares (tão lindo vestido e maqueado de caipira para as festas juninas...), são formadas as minhas memórias durante o seu crescimento.

Acompanhar alguém assim, não é fácil, pois ele é capaz de surpreender rapidamente: saltar do ouvir Oasis e outras bandas dos anos 90 para tocar violão foi uma dessas ocasiões. De repente, está aquele rapazinho aprendendo a tocar e começando a emitir algumas notas (desafinadas, às vezes) com a voz - nada de horrível para um iniciante e completamente ignorado por alguém que desconheça música.

Questões de adolescência, como as de todo rapazinho, com apoio familiar e dos amigos foi superando os problemas e desenvolvendo suas habilidades.

Mais sociável e sem abrir mão do lado intelectual, descobriu que o amor pela família e pelos amigos era apenas uma parte do poder que ocultava em si: apaixonou-se e descobriu-se amante. Viveu intensamente o companheirismo do namoro e esses momentos se perpetuaram e moldaram sua forma de agir, adiante.

No seu processo de ir ao encontro do mundo, passar no vestibular para uma federal foi decisivo: a natureza foi revisitada no seu curso de biologia.

Os novos amigos, as jornadas noturnas e as diurnas de 'gandaias', foram bons complementos que o impulsionaram nos estudos. Viagens para seminários, congressos, tudo o que possibilitava a ampliação de seus horizontes foi rapidamente absorvido. Se formou muito bem.

Seguiu em frente com pós-graduação indo abraçar tubarões em Fernando de Noronha (me assusto até com a ideia).

Bem. Como era desejado por todos ao seu redor, a sua busca profissional começou a ser recompensada. Prestou concurso e hoje trabalha em sua área de formação e tem um futuro promissor.

Do período de estudos, há uma herança muito importante. O desenvolvimento de um romance-relação que deu voltas, que o transformou e que o impulsiona até hoje.

E, foi ao receber uma mensagem eletrônica, informando que a união seria oficializada, que a história se repetiria e que o amor se multiplicaria, com a proximidade da vinda de um novo ser, que me propus fazer uma revisão histórica do meu amor por meu filhote - o modo como sempre o chamei e o tratei. Mas o desafio é grande demais e a felicidade é tanta que não há palavras para tentar expressar.

O principal é dizer que sei que uma nova jornada se inicia: sei que verei um novo brilho no olhar amendoado e doce daquele que sempre me referenciou com muito carinho.

Então, termino por aqui, esperando ter muitas e novas histórias para contar, mas faço isso informando a todos vocês que estou escolhendo uma palavra para eu batizar a minha relação com o filhote do meu filhote. É, porque eu já pensei que, até que ele me conheça melhor, talvez me veja apenas como um velhote. Mas eu sei que isso muda, pois uma coisa eu já aprendi: quando o amor é dividido e compartilhado, ao invés de diminuir ele se amplia.

E este é um paradoxo que só que tem um verdadeiro amor, como o meu, pode vivenciar.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 1ª de março de 2011**.

* Leandro Perrier de Faria Valentim, meu filhote do coração, em Peró - Cabo Frio-RJ.
** Fiquei tão ansioso que antecipei em cinco dias o texto que era para ser postado em seu aniversário. Fica bravo comigo, não, tá?

27 de fev. de 2011

Só pros sábios

Implosão, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 27/02/2011
Implosão, criado em 27/02/2011.

"A osmose pode ser vista como um tipo especial de difusão em seres vivos."
(wikipedia).
"Um guerreiro considera todas as possibilidades e depois resolve acreditar de acordo com suas predileções íntimas."
(Porta para o Infinito - Carlos Castaneda)


Há muito que foi retido,
quero tocar novamente, gerar um novo sentido,
habitá-lo o corpo e a mente.

Saudade é saudável.
Mais ainda ver-tocar, o instinto acender,
reacender o olhar,

explodir por implosão,
desabar só por cansaço, e a luz de um coração
no meu deixar um rastro.

Só você e só você
faz meu mundo renascer. Digo algo só pros sábios:
osmose é amor nos lábios.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 27 de fevereiro de 2011.

* Sempre me senti intrigado com a palavra osmose. A ideia de compartilhar algo por contato é fascinante. Hoje, baixou uma onda de poeteiro e arteiro, por pura saudade.