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21 de nov. de 2013

A spinozidade da vida

spinozidade, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 21/11/2013
Spinozidade, criado em 21/11/2013

Não é por julgarmos uma coisa boa que nos esforçamos por ela, que a queremos, que a apetecemos, que a desejamos,
mas, ao contrário, é por nos esforçarmos por ela, por querê-la, por apetecê-la, por desejá-la, que a julgamos boa".
Espinoza, Ética, parte 3 prop. 9 esc.

A cada novo dia, outra teoria clássica é derrubada. Fundamentos que nos embasaram o pensamento, construídos a partir de definições pré-estabelecidas, perderam seu poder sustentador.

Bem, muitos não gostam e nem desejam aceitar que as definições que fizer se perderão com o tempo. Talvez, por isso, a temporariedade da construção do pensamento como um enigma é o que se propõe para nós outros.

Da física e da química que aprendi no fundamental e no secundário quase nada mais resta de pé. Que bom! Não tenho que me estabelecer como base de estrutura sólida, imutável, independente da variação que se estrutura no momento.

Pego o spin como exemplo: ele definia a direção do giro de uma partícula atômica. Portanto, seu campo magnético. Mas (e físicos, por favor, me ajudem), essa é uma visão muito estreita da realidade, uma vez que o fator giromagnético depende de carga, da espécie de partícula, da vetorialização e angulação, etc.

Me permitam utilizar essa entidade matemática e suas consequências como apoio para repensar meu caminho.

Em cada época, as ondulações do mar da vida produziram as condicionantes de minha apropriação da realidade. Houve épocas em que a dor era tão poderosa que nublava qualquer tentativa de raciocínio, mas o pensamento se estabelecia e produzia o necessário. Aconteceu, da mesma forma, quando era a alegria que assomava o terreno e quando todos os meio-termos se apresentaram, também.

Quem ou o que sou está diretamente relacionado com isso. A vida é isso. Momento.

E como uma mecânica quântica, o campo magnético da vida (que eu adotei com o nome de campo de possibilidades) proporciona e propulsiona atitudes, atos e encontros.

Meus queridos amigos mais jovens têm dito que me tornei hermético e com isso tenho produzido uma escrita obscura para eles. Talvez. Mas o simples preto no branco não se estabelece mais como parâmetro para minhas interpretações da realidade.

Os gestos que meu corpo aprendeu tiveram que receber adaptações ou reconstruções. Fiz o mesmo com meus julgamentos.

O olhar que produzo, diariamente, como realidade é apenas isso: uma produção e não é algo em si. O si, aí, sou eu. A realidade em mim e para mim.

Meu mundo se expandiu a ponto de acoplar outras realidades e a diferenciação se tornou o ponto central para qualquer raciocínio.

Gosto muito da ideia dos criacionistas de que Deus não repetiu nada, produziu a diferença em si, no mundo e nos relacionamentos. A beleza que observamos e vivenciamos se sustenta nisso.

O modo como cada um se propõe a vivenciar, a partir de suas próprias construções de mundo uma determinada realidade, é algo que cabe exclusivamente a essa pessoa. Assim, nossas valorações sobre o outro, seus atos, suas características acabam se tornando nada mais que uma forma de incluirmos a sua participação em nosso mundo.

Tenho sido conhecido como um ativista, especialmente com relação à Educação que considero a pedra fundamental na abertura dos mundos existentes em cada ser. Vou para a vida, participo de discussões, enfrento cacetetes por acreditar nisso.

E agora, nessa etapa de uma jornada que me é mais surpreende por não ter que se estabelecer em instituições estruturantes, e por possibilitar as (des)cobertas e (des)construções, eu honro os vínculos estabelecidos sem os laços que aprisionam. Sou grato pelos encontros que tive e por aqueles que se estruturaram de tal forma que estão aí na ordem do mundo. E do meu mundo. Sem nenhuma obrigação ou determinação de modo.

Talvez, uma das maiores conquistas da minha vida tenha sido essa: adotar, como prática, esse respeito ao tempo do outro, do momento do outro, e de estar aberto ao encontro - quando este se apresenta como possível, viável ou necessário.

Apenas uma visão (uma dentre tantas outras) que vou adotando conforme o aprendizado do ser e sua completude o exigem. Plenitude não é mais uma palavra para mim. É um desafio que altera o meu modo operandis para ser e estar de um modo pleno nessa ordem que a Ordem me permitiu vivenciar.

Se isto servir para dar partida para um outro ou novo pensamento, fique a vontade. Compartilhar é algo que me faz bem.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 21 de novembro de 2013.

* Li na wikipedia que o Spin não possui uma interpretação clássica, ou seja, é um fenômeno estritamente quântico, e sua associação com o movimento de rotação das partículas sobre seu eixo - uma visão clássica - deixa muito a desejar.

** Baruch Spinoza foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz.