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28 de jun. de 2015

A cura para a amargura

Amargura, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 28-06-2015.
Amargura*, criado em 28-06-2015.

Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus;
que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando muitos.

Bíblia — II Samuel 2:26

Oi!
Permita-me esclarecer que imagino onde você se encontra e o que faz.
Está sentindo-se solitário ou tem alguém que o ama?
Me ensine a ganhar seu coração pois não tenho noção.
Permita-me, porém, de início, afirmar "Eu te amo!"

(Lionel Ritchie — Hello! trad. livre)

Amanheci com um sentimento de que não quero fazer parte de um mundo onde a amargura azeda o coração, gera uma acidez que corrói a ponte que permite que eu me conecte a um outro — estranhos, especialmente.

Nos meus lábios, uma canção muito antiga, da época de adolescente, que invariavelmente constrangia meu interior ao ponto de lágrimas aflorarem meu rosto: "Há um doce espírito aqui, doce presença, presença santa vem sobre nós enchendo-nos do seu poder…". Meus dedos deslizavam as teclas do piano, meus olhos úmidos não me permitiam vê-las. Não precisava, era guiado em outro nível a escolher quais deveriam suavizar todos os sons em acordo com as palavras que eram pronunciadas melodicamente, poderosamente ungidas.

Não. Não era o espírito de ódio ou amargura que assomava o recinto, interior e exterior, e reunia todos em apenas um único coração. Seria impossível para ele erguer-me a um ponto onde não havia nada mais, nada maior, nada opositor.

Tenho certeza disso: quando a paz invade, você pode estar em meio a maior tempestade que não será abalado.

E isso eu quero alcançar nas minhas práticas de vida, muito para além de discursos inócuos carregados de uma hipocrisia alienante do seu verdadeiro significado. Não quero que meus lábios expressem o que meu coração não esteja plenamente inflamado. Do contrário, não há como trazer um pouco de luz de dentro ao meu redor, para todos que me cerquem.

Eu quero usar palavras de amor para um estranho, o que importa se ele está se destruindo ou que, por suas opções, eu tendo a desqualificá-lo?

Ontem, um menino me pediu dois reais sem me dizer o porquê. Neguei. Ele foi adiante. Uma senhora sentada na mesa adiante da minha levantou-se, colocou a mão em seu ombro e o levou até o caixa do restaurante. Lembro de ter sorrido para ela, ao ver seu gesto. Ao final do meu almoço eu fui pagar a conta e pude perceber o menino sentando diante de um prato de comida e comendo com muito ânimo.

Sim, era o mesmo menino de 14 ou 15 anos que possuía uma maconha como brinco nas orelhas e para o qual não fui capaz de dar vida aos meus discursos.

A Ordem tem sua forma de agir, ela move corações que não se tornam receptáculo do ácido discurso que corrói, legitima a insensibilidade e impede um contato humano e caloroso. Não era para ser a minha vez, veio um certo sentimento de justificação. Pode até ser verdade que o coração a ser mobilizado naquele momento era outro, mas o brinde de uma lição maravilhosa foi completamente meu e foi plenamente absorvido.

A ação não agrediu os preceitos daquela senhora, embora, provavelmente, ela tenha percebido a real situação do menino. Para além de qualquer julgamento se permitiu a manifestação de um espírito que conecta corações, age em prol da transformação por meio de ações que não exigem mérito algum para a obtenção da graça.

Quem sou eu para julgar? Me é permitido algo muito superior: manifestar meu amor de um modo que a paz tenha o primeiro lugar! Mesmo que a razão apresente motivos para determinada avaliação, eu jamais alcançarei o entendimento sobre uma determinada vida, o inexplicável mistério de sua complexidade.

Há uma inexorável verdade que posso me apropriar: o que falo e como ajo são frutos do que cultivo em meu coração. Que o Espírito me inspire a tornar essa verdade algo produtivo para a vida de meu semelhante, a despeito de toda e qualquer convicção que eu tenha para a minha própria vida.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 28 de junho de 2015.

* O amargor é contagiante e impede qualquer convívio com a diferença: assimila a doçura e a destitui de sua qualidade principal. Desse modo, as ações movidas por amargura nunca alcançam o poder de melhoria. Mas condenar é precipitado. Amargura deve ser entendida pelo que realmente é: excesso de sofrimento e desamparo. Em sua versão severa, constitui-se como o elemento qualitativo que torna alguém intransigente.

Então Abner gritou para Joabe:
— O derramamento de sangue vai continuar? Não vê que isso vai trazer amargura?
Quando é que você vai mandar o seu exército parar de perseguir os seus irmãos?
(Bíblia — Hebreus 12:15)

25 de jun. de 2015

Vamos divagar devagar?

Divagar, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 25-06-2015.
Divagar*, criado em 25-06-2015.

Comunhão
Harmonia no modo de sentir, pensar, agir;
ato de realizar ou desenvolver alguma coisa em conjunto;
união ou ligação;
compartilhamento, identificação.
Ação ou efeito de comungar.
Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros.
De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus…

(Bíblia, Filipenses 2:4-5)


Eu gosto de promover um vinho, uma cerveja, um café, um filme ou um outro qualquer que reúna os amigos, companheiros na partilha dessa jornada incrível que é ser e manifestar o Ser.

Talvez porque eu vivencio um monte de coisas ao mesmo tempo por conta das necessidades tão constantes como a de ler, de escrever, de desenhar, de assistir seriados e filmes. E da que menos tenho construído oportunidades: conversar à toa.

Não lhe deve ser estranha a ideia de que divagar sobre qualquer assunto com alguém enriquece. Pena que alguns encontros são fugidios, duram muito pouco, e os assuntos ficam entrecortados por outros que se promovem 'o da vez' bem no meio do papo. Há um fluxo incontínuo nos contatos que conseguimos estabelecer para dialogar.

Reconheço que jogar conversa fora deve ser uma opção, mas não é a minha. Então o divagar que proponho é pensar colaborativamente para ter um vislumbre dos mundos que um outro conseguiu estruturar, suas vivências em função deles. Transversalizar sem nenhuma necessidade de universalizar as ideias.

Dificilmente na atualidade alguém dirá que vive em um único mundo, a não ser no da alienação. Os intercâmbios que fazemos no cotidiano dão uma mostra dessas facetas que se constituem e nos tornam diversos: simultaneamente estudantes, trabalhadores, pais, irmãos e milhões de outras configurações a que nossa personalidade esteja sendo submetida e precisa construir facetas para dar conta.

Sou um admirador dessa capacidade em contínuo desenvolvimento no ser humano. Tento ser um estudioso, melhor, um observador criterioso dela. Identifico que amplia-se o leque dessas facetas quanto mais alguém se envolva em fazer conexões sem concessões, sem querer fazer apropriações indébitas do outro e assim desconfigurá-lo.

Por conta da imensidão em cada um, meus encontros exigem lentidão do tempo exterior, o deixar rolar sem se preocupar. Me esforço para torná-lo incomum, a fim de que, ao passar, possa vagar e não correr, de modo a permitir que os pontos de convergência se (re)estabeleçam.

Nesse momento, para mim, reside o sentido e a potência do contato: o que flui de carona nas palavras e gestos promove acréscimos, mesmo quando não simultâneos; torna os instantes em comum preciosos e desejáveis; promove certo nível de irmandade que não é predefinido, que respeita o processo do outro e que se permite um grau de identificação.

Nossas singularidades se assemelham nas possibilidades inerentes a todos e na capacidade de se produzir, por vontade própria, estímulos visando a integralidade e a realização de cada um individual e coletivamente. Só isso basta para afirmar que comunhão é algo incrível**.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 25 de junho de 2015.

* Daniel Levinson afirma que "ficar vagando não é de ‘graça’ – exige recursos. Você tem que escolher como vai usá-los”. Por isso, deixar a mente vagar ao mesmo tempo em que não se esquece das obrigações futuras lhe dá tempo para explorar outros aspectos do mundo – e ficar mais inteligente. Ele está estudando agora a conexão entre os dois, e como as pessoas podem controlar isso.

** É preciso restabelecer a noção e a construção do modo solidário de viver aonde as interferências são efeito de um desejo pessoal e fruto de um contato potencializador — sempre ao encontro das necessidades individuais. De forma alguma deve ser entendido como dependência, mas fortalecimento e incentivo recíprocos. Individuação é a base do processo de coletivização que pode alcançar seu auge quando ocorre sinergia e comunhão.

20 de jun. de 2015

Entre o previsível e o predizível

Sinalizadores criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 20-06-2015.
Sinalizadores, criado em 20-06-2015.

Delfos criou um clima de piedade e de efervescência intelectual, despojando-se de suas máscaras sociais com incentivo à prática da filosofia. O oráculo de Delfos estimulou Sócrates a ensinar, definindo-o como o mais sábio dos homens para seu discípulo, Platão. Na vila, muitos lemas filosóficos ornavam as ruas:
  • Nada demais (mêdien ágan) — inculcando a medida e rejeitando o excesso;
  • Conhece-te a ti mesmo (gno^~thi seautón) — ensinando a importância da autonomia na busca da verdade (fórmula que Sócrates usará como sua) e a da introspecção;
  • Tu és (Ei~), — subentende-se como "tu também és uma parte do divino".
Como antecipador ou promotor, a presença do oráculo fez de Delfos o lugar ideal para a descoberta de si.
(com base no termo Oráculo — Wikipedia)


Um dos livros de Russel* chama a atenção, já no seu título, para o fato de a filosofia se estabelecer na intermediação entre a ciência e a religião. Pensar é não se radicalizar no que está comprovado nem nas mitologias. Caminho do meio? Também, não. É transitar entre os mundos de modo a aprender a crer para depois ver.

Há questões, a meu ver, para as quais não há, em principio, métodos de comprovação direta. Outras se exclusivisam no terreno da subjetividade como pura interpretação. Algumas poucas, de tão profundas, se estabelecem numa ordem de pura predizibilidade, como as teorias do pluriverso e das aplicações da teoria quântica. Entre tudo isso o cotidiano, as relações de amor e dor, nossa ignorância diária de nossa transitoriedade e da morte iminente.

É que entre os mundos de dimensões galáticas e os do universo invisível do micro ou mínimo, existimos. Ignorando imensamente mais do que conhecendo. E — que paradoxo insustentável — soberbamente nos considerando o centro de tudo.

Não sou antropólogo, tenho o prazer de conviver com muitos e entendi que muitas das práticas e costumes atuais se sustentam apenas em mitos. Mesmo nas das sociedades consideradas mais avançadas da atualidade.

Toda narrativa alegórica corre o risco de ser tomada ao pé da letra. Como minimizar os riscos? Além disso, muito do que é previsível não é predizível: são tanto os incapacitados a receber a mensagem, que inviabiliza qualquer tentativa. O que fazer?

Mesmo considerando o risco, o antigo método de ilustrar com elementos simples ainda hoje é válido. Há milênios contamos histórias, inventamos mitos e criamos conceitos. A partir deles, geramos práticas. Sua eficácia está em alcançar uma gama ampla dentre aqueles a quem nos dirigimos.

Só que nem todas as lições são como a do bichinho que come dente e causa dor, grandemente utilizada ao se ensinar, durante a primeira infância, a escovar os dentes.

Penso nisso e mais ainda me encanta o poder dos grandes mestres, cientistas e pensadores que nos deixaram como legado parábolas ou conceituações que nos incentivam a reavaliar a vida, suas práticas e modos de pensar. Eles anteviram condições, avaliaram contextos, estudaram propostas e alcançaram respostas que nos permitem iniciar nossa jornada de forma muito mais confortável, já que nos legaram tudo o que sua vivência permitiu.

Convivência, respeito, harmonia e coletividade foram elementos básicos para a humanidade sair da obscuridade. A partir daí, a revolução que a diferenciação por individuação sem qualificação promoveu ganha para mim o status de a etapa máxima alcançada. É que podemos aplicar o entendimento de que, por mais diferente de nós mesmos que seja, o outro é também alguém como nós.

O porquê de qualificar assim? Para mim, essa mudança no trato e no lidar com o outro pode produzir em nós a elevação para um nível que permitirá a humanidade ultrapassar-se. Da cadeia que nos mantém na estrutura animal, tornarmo-nos seres espirituais.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 20 de junho de 2015.

* Bertrand Russell — A Filosofia entre a Religião e a Ciência http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2292

18 de jun. de 2015

Desmanches e remontes

Desmanches e remontes criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 18-06-2015
Desmanches e remontes*, criado em 18-06-2015.

Em todas as operações da arte e da natureza, nada é criado:
uma mesma quantidade de matéria existe antes e depois do experimento.
Nesse princípio se baseia toda a arte da experimentação em química.
[Atualmente, o princípio foi simplificado: Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.]

(Antoine Laurent de Lavoisier — Tratado Elementar de Química)


Estar de bom humor ajuda a analisar temas difíceis ou sombrios. Lição que aprendi há muito, aprendizado é algo para ser buscado e quem aprende evita muitas circunstâncias adversas. Me permitam compartilhar esse tópico: o que ocorre quando somos desapropriados de algo? Em outras palavras, qual as consequências dos desmanches alheios à vontade consciente?

Sim, desejamos — e muito — inconscientemente. Aliás, para alguns estudiosos, só assim. No momento em que a consciência se torna sensível ao acontecimento, muito já foi absorvido ou perdido em função do que foi atraído e que nos atingiu.

Essa é uma proposição que abrange quase tudo que vivenciamos. Fazemos encontros diários com capacidade de se tornarem os transformadores do nosso mundo. É fato que, uma vez realizados, seremos outra coisa depois deles. O que, depende da composição realizada.

Dizem que há amor a primeira vista. Que é possível que, em questão de segundos, hormônios e psiquê promovam o desmoronamento do padrão de realidade cotidiano, da noção de tempo e da razão. É o tal do 'pozinho de pirlipimpim' que torna tudo mágico. Não é o meu caso, uso o exemplo para radicalizar a desestruturação que é promovida em alguns instantes da vida e que pode ser propagada para o resto dela.

Idealismos ou ilusionismos à parte, certamente há forças de atração que atuam nos encontros (e desencontros, também!) e promovem alterações drásticas em alguém. Desfeita a estruturação conquistada com enorme esforço, o que fazer? Como reagir?

Potência e vontade podem redefinir o que foi alterado, disperso ou assimilado? E aqui é preciso um olhar mais acurado: se ficamos alterados, haverá condições de reestruturação que não elimine as capacidades ou os elementos motivadores de antes?

Muito do que construímos como estrutura de vida nos potencializa, nos dá um certo nível de manipulação ou controle. Mas podem tornar-se imobilizadores em relação a novas capacidades. Seria este um caso de a razão ser sabotada pela vontade de ultrapassamento?

Sem respostas, me disponho à investigação. Como artifício, vou alinhavando ideias, produzindo questões e tentando relacioná-las com o conhecimento acumulado. Não sou do tipo que se paralisa diante de questões. Desafios estão em nosso caminho como bons instrutores, se assim o permitirmos. Se construí uma questão, certamente a resposta está a caminho.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 18 de junho de 2015.

* O conceito de desmanches está associado aos locais de receptação de carros para retirada de peças. Vendidas por preços inferiores ao de mercado, elas são remontadas em outros carros. Tanto o vender quanto o comprar peça roubada são atos ilegais. O pior prejuízo que causa é incentivar o roubo de carros, que pode vitimar até mesmo quem comprou as peças.

16 de jun. de 2015

Repetição, sim. Monotonia, não!

Repetitividade, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 16-06-2015.
Repetividade*, criado em 16-06-2015.

Meu bem às vezes diz que deseja ir ao cinema. Eu olho e vejo bem que não há nenhum problema.
E digo "Não. Por favor, não insista e faça pista. Não quero torturar meu coração…"
Garota, ir ao cinema é uma coisa normal, mas é que eu tenho que manter a minha fama de mau!
E digo não, digo não, digo não, não, não.
Meu bem, chora, chora e diz que vai embora. Exige que eu lhe peça desculpas sem demora.
E digo "Não. Por favor, não insista e faça pista. Não quero torturar meu coração…"
Perdão à namorada é uma coisa normal, mas é que eu tenho que manter a minha fama de mau!
E digo não, digo não, digo não, não, não.

(Erasmo e Roberto Carlos — Minha fama de mal)


A sequência contígua e lenta das mudanças em nós nos ilude e quase nos impede de identificar as transformações. Algo desfeito por uma das maravilhosas proposições que a adolescência nos promove: é possível, num mesmo ser, mudanças radicais.

Não deveria, mas quase sempre me frustro quando, mesmo com exemplos claros, muitos se perdem e não alcançam a ideia de que — apesar de os elementos serem os mesmos — a vida não precisa ser monótona ou repetitiva. Aquelas ideias e práticas adotadas por sua eficácia podem ter perdido a validade. Hora de rever os conceitos.

É a conexão e recombinação que constrói as identidades parciais e temporárias que todos vivenciamos do nascimento até a superação da forma. Isso que chamamos de eu é uma inconstância especial porque consegue carregar para as novas fases aquilo que denominamos de essência.

Projetar o que foi assimilado faz parte do processo. A ousadia é tornar-se artista e investir na exteriorização de novas construções internas.

Não há limites para quem não se enquadra, nem tenta paralisar a diferenciação que se constitui a cada momento. Os ritmos variam, as composições, também. Mas é possível embelezar cada momento da vida, descobrir suas potencialidades e vivenciá-las.

Até que o pó volte ao pó, dá para fazer com ele muitas construções. Imagine-se reformando sua casa. Não, isso não é uma metáfora. É isso mesmo o que acontece.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 16 de junho de 2015.

* Repetitividade, recompõe os elementos das imagens ilustradoras de 'Brinde a vida', 'Uma poção mágica cairia bem' e 'A vida em vermelho'. O objetivo era exemplificar o que acontece em nosso cotidiano: mesmos elementos, nova composição.

12 de jun. de 2015

A vida em vermelho

Vida em vermelho criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 12-06-2015.
Vida em vermelho, criado em 12-06-2015.

Estudos de psicologia das cores e da cromoterapia relacionam a cor vermelha à motivação, novidade e recomeço. Pioneirismo, persistência, prosperidade e gratidão. Expressão de reações básicas como crueldade, revolta e brutalidade.
Elementos da cor são usados em tratamento contra hipertensão, anemia e inflamações; no combate ao esgotamento e princípio de resfriado.
Na filosofia oriental a cor está ligada ao chakra chamado cóccix (na base da coluna vertebral) e conecta-se a rins, bexiga, quadris, pernas e glândula adrenal.
Em nível espiritual, à autoconsciência, à sobrevivência e aos instintos básicos de luta e fuga, estabilidade e segurança.

(Mais informações em Vermelho — http://pt.wikipedia.org/wiki/Vermelho)


Vermelho é tudo. Bem, pelo menos é só enquanto o vermelho flui pelas veias há chances de se dizer que há vida humana. Mas a vida não se presta apenas à utilidade, ela se manifesta provocante, pulsante e promotora das possibilidades. É irreverente, imprevisível, simplesmente mágica.
  • A paixão é vermelha e viva, não se subjuga aos ditames e regras sociais, acontece e pronto. Se espalha como as chamas e desfaz os controles.
  • A sedução é vermelha, brilhante nos lábios e provocante na intimidade das roupas e nos sapatos de salto altíssimos.
  • A embriaguez é vermelha nos olhos que se iluminam com a intensificação do brilho que projeta a alma, incontida, inconformada com o aprisionamento cotidiano.
  • Tudo que é urgente e é expresso de forma contundente é apresentado em vermelho: do perigo, nas placas ou sinais de trânsito, à fome, nas cores dos logotipos e ambientes de restaurantes e fast foods.
O cérebro humano reage desde a ancestralidade à cor, de forma tão marcante que acredita-se estar registrado em nosso DNA. É algo da esfera do inconsciente, do automático — reagimos sem pensar, já que o fazemos antes mesmo de conseguir racionalizar a questão.

Então, não sei você, mas nesse dia de namorados não é muito indicado mudar time que tá ganhando. Mas fuja do convencional, capriche no ambiente, nos detalhes e na inventividade.

Acompanhado ou em caça, melhor usar as mais eficientes armas disponíveis para conquistar momentos inesquecíveis. Alce voos inusitados, conquiste uma nova fronteira e promova o prazer em seu novo encontro.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 12 de junho de 2015.

* Vermelho como o céu (Rosso come il cielo) é o título de um maravilhoso filme italiano que conta a história da vida de Mirco Mencacci, renomado editor de som da indústria cinematográfica italiana, a partir das experiências de sua infância em um orfanato para crianças cegas. Indico esta resenha bem feita, onde se encontra, também, um link para o vídeo no youtube.

Outra boa indicação é o filme Amor em vermelho (Moulin Rouge!), cujo tema é a maravilhosa música de Elton John Your song, que ganha versão nova para o filme.

8 de jun. de 2015

Uma poção mágica cairia bem

 criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 08-06-2015.
poção mágica, criado em 08-06-2015.

Os excessos tentam diminuir tudo o que nos falta, sem conseguir.
Vontades fazem de um rei um escravo quando põe o mundo atrás das grades.
São as forças que nos podem matar, são fraquezas que nos podem salvar.
Erros são certos pra sermos únicos: defeitos se confundem com virtudes.
Todos precisam de um veneno pra encher a sua taça de desejo.
Todos precisam de um desejo pra encher a sua taça de veneno.
Mas com medo não se vive, com receio não se vai, com a dúvida não se arrisca, não se voa, não se cai.
Curto é o caminho dos covardes, triste é o riso dos ignorantes.
Todos precisam…

(Guilherme Arantes — Taça de Veneno)


A bem da verdade, somos quase que incapazes de determiná-los de forma precisa, por que se manifestam como uma espécie de sensação de desconforto. Tipo uma febre que surge do nada, retira o prazer das coisas, mesmo as mais desejadas, causa prostração, impõe um estado incomum e perturbador.

Por isso, me pergunto se é possível escolher o remédio — que pode envenenar ou curar, dependendo da dose — capaz de dar conta das vicissitudes da vida, o estrago interior causado pelas miríades de pequenos ou grandes problemas irresolvidos que vagueiam dentro de nós.

Uma boa dose de poção mágica cairia muito bem nessas situações, não concorda?

É claro que temos nossos próprios remédios alternativos ou paliativos que minimizam as consequências ou efeitos vivenciados nesses momentos. Para alguns, é reunir amigos e/ou familiares para um passeio no fim-de-semana, um joguinho de parcerias, a cervejinha ou outra droga — lícita ou ilícita* —, enfim, compartilhar momentos de lazer. Para outros, momentos de isolamento e descanso. Essas coisas afastam um pouco o fantasma que nos assombra, mas a questão ficou apenas pendente e retornará.

Questões urgentes não cedem tão facilmente, exigem ser encaradas. E nessa hora, amigo, não há outra opção, tem que usar aquela reserva de energia acumulada e ir para o embate. Use da razão ao máximo, investigue para descobrir quais são os elementos causadores, identifique os mais fáceis de serem superados e parta direto para eles.

Haverá, certamente, elementos que por sua complexidade poderão exigir força extra, externa. Não tenha medo de ir buscá-las em um profissional competente, especialmente nos casos onde parentes e amigos não estão capacitados para tal tarefa: ouvir conselhos não basta.

A vida pode ser muito melhor quando nos livramos de fardos desnecessários, de coisas velhas guardadas como se fossem uma verdadeira relíquia: sobras e restos apodrecidos, lixos contaminadores da alma; roupas sem uso no armário, apenas ocupando o espaço de uma novidade.

Não acumule problemas, trate-os da forma correta. Reciclagem também deve ser feita na alma. A tal da higiene mental funciona comprovadamente: se o interior ficar mais leve, mais fácil se torna o encarar novas questões, sem ser subjugado por elas.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 08 de junho de 2015.

* Seria hipocrisia da minha parte não citá-las, uma vez que produzem efeitos semelhantes. As questões do uso recreativo ou de vício englobam qualquer droga, mesmo as lícitas.

3 de jun. de 2015

Brinde à vida

Brinde à vida, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 03-06-2015.
Brinde à vida, criado em 03-06-2015.

Brindo à casa, brindo à vida, meus amores, minha família.
Atirei-me ao mar, mar de gente onde eu mergulho sem receio, mar de gente onde eu me sinto por inteiro.
Eu acordo com uma ressaca guerra, explode na cabeça e eu me rendo a um milagroso dia.
Essa é a luz que eu preciso: luz que ilumina, cria e nos dá juízo.
Voltar com a maré sem se distrair. Tristeza e pesar sem se entregar: mal vai passar, mal vou me abalar.
Esperando verdades de criança, (um momento bom como voltar com a maré sem se distrair)
Navegar é preciso senão a rotina te cansa (Tristeza e pesar sem se entregar)
Interesses na Babilônia viram nevoeiro. Poços em chamas tiram proveito
Passa, passa passageiro. A arte ainda se mostra primeiro.
Uma onda segue a outra, assim o mar olha pro mundo.

(O Rappa — Mar de Gente)


Contem conquistas como se contam derrotas, de modo tão corriqueiro que pareçam ser as únicas a acontecer.
— O fato de o corpo ter superado mais um dia, utilizando-se de todos os elementos de transformação conhecidos, não conta;

— Os inúmeros obstáculos vencidos, como distância, altura, o próprio e pesos extras carregados, não conta;

— A imensidão de seres microscópicos dentro e fora do corpo que foram manejados, aproveitando-os ao máximo para maximar a vida e impedindo as doenças, não conta;

— O enorme fluxo de informações acessadas, avaliadas, transformadas e estruturadas como conhecimento, não conta;

— O amplo espectro de sensações e sentimentos que compõem a subjetividade que ficaram sob equilíbrio, de modo ao que se chama loucura não tenha se apropriado da mente como seu território, não conta;
Um brinde ao que não se conta, diariamente, mas que, mesmo que inconscientemente, contamos para que mais um dia possa acontecer, podermos viver e reclamar do viver que é uma merda, pois nada de bom acontece.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 03 de junho de 2015.

* Por que somos bombardeados com tanta desgraça, que deixamos de ver a Graça que é viver.

1 de jun. de 2015

Embalsamados em âmbar

Embalsamados em âmbar, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 01-06-2015.
Embalsamados em âmbar*, criado em 01-06-2015.

senciente:
adjetivo masculino-feminino, originário do latim
sentiente
relativo ao que sente ou tem sensações; que é sensível.


Ideias e sentidos a serem dados perseguem a gente, são grudentos, mas eu os adoro porque não facilitam um estado de imobilidade.

Também da vida é a lógica do tempo escorregadio, aonde a criança, o adolescente, o jovem e o velho se conectam num mesmo ser. Alguns condenando-se pela descrença de si, independente da fase que vivam.

Perdão e desculpa não se igualam por conta da intenção, existente no ato do primeiro. Desculpe-se, então, pelo incontrolável, por não amar (ou não mais), por seu corpo não ser tão esperto quanto antes e siga em paz. É tão difícil aprender a viver 'com' quanto é viver 'sem'. É um pouco abrir-se ao entendimento do essencial de cada momento para cada um.

O perdão de lá só vale quando o há aqui dentro de mim: por vezes, perdoar é um ato de pedir perdão — nossa corresponsabilidade por propomos uma vida para duas. Já vi o perdão alargar horizontes ao perceber e entender e aceitar o retorno da paz a mim.

Perdoar(-se) é abrir a oportunidade de seguir novos percursos… mas, embalsamados em âmbar translúcido, alguns iludem-se, impedem-se da liberdade que há ao experienciá-lo. Sintetizar isso é imaginar um pássaro de asas abertas, imobilizado (órgãos retirados, interior empalhado), apenas parecendo vivo. Se a analogia ficou muito intricada, esclareço: isolar-se e boicotar o que há de vida e de potência — mesmo que ínfimas — é o que nos mata em vida. Esse limite somos nós que nos impomos, não a Ordem.

Aos que dizem que o tempo é implacável, gostaria de opinar diferenciado. Implacável é a vontade dos seres sencientes. Conscientizados da potência que há encerrada em cada um, deveríamos encarar como único desafio válido o expandir-se ao infinito e ultrapassar as barreiras do possível. Impossível é um nome que deram para o desconhecido, antes de perceberem que há mais, muito mais no incognoscível, mesmo para a atual condição dos seres humanos.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 1° de junho de 2015.

* Durando mais de dois meses, o processo de embalsamamento no Antigo Egito constituía de:
  • extração do cérebro pelas narinas;
  • retidas dos órgãos via incisão lateral no corpo;
  • substituição do coração por um objeto envolto com textos sagrados;
  • emergir o corpo em natrão por 40 dias (processo de desidratação das células e combate às bactérias);
  • preencher com ervas aromáticas das cavidades vazias do corpo e fechá-la.