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12 de nov. de 2017

Reformulações inesperadas

Reformulações inesperadas, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 12-11-2017.
Reformulações inesperadas, criado em 12-11-2017.

O que podemos fazer a respeito de tudo isso? Não é fácil para você fazer alguma coisa, pois tem apenas dez anos de idade. Mas você pode tentar o seguinte. A próxima vez que alguém lhe disser algo que soe importante, pense consigo mesma: “Será que esse é o tipo de coisa que as pessoas provavelmente sabem porque há evidências? Ou será que é o tipo de coisa em que as pessoas só acreditam por causa da tradição, da autoridade ou da revelação?”. E, quando alguém lhe disser que uma coisa é verdade, por que não dizer a ela: “Que tipo de evidência há para isso?”. E se ela não puder lhe dar uma boa resposta, espero que você pense com muito cuidado antes de acreditar numa só palavra.
Com amor,
de seu pai
(Richard Dawkins — O Capelão do Diago, p.726)
Por situar-se muito além do senso comum, a afetação é um fenômeno a ser investigado. O que denominamos contato (inclusive o físico) está na categoria de um dos mais difíceis elementos da vida a ser destrinchado porque — por incrível que pareça! — ele não ocorre no mundo que a física atual desvendou: detecta-se a proximidade e algo da ordem da interferência, o que ainda não está esclarecido totalmente.

Somos semelhantes a esferas de energia com um campo de força gravitacional que, se receptivo, remodela-se e registra 'ondas' emitidas por alguma fonte ('interna' ou 'externa' é apenas um modo de expressar os atravessamentos). Em que pese ser majoritariamente inconsciente, esta permeabilidade consentida aos impulsos é o que estabelece qualquer tipo de comunicação: em escala genética, passando pelos impulsos que perpassam os neurônios aos efeitos em escala macrodinâmica *.

A sensibilidade é o resultado da interação e, portanto, totalmente relacionada à maleabilidade dessa 'superfície etérea', também de ordem desconhecida. No mundo da físico-química, quanto mais enrijecido é o 'tecido' menores são as probabilidades de trocas, de absorção das diferenciações e de aprendizados (o novo, sua apreensão e seus efeitos no ser). Por isso, a permeabilidade se configura como a única possibilidade de se expor cuidadosamente ao permitir, inicialmente, apenas os fluxos administráveis e, aos poucos, expandir esse processo: as células nos ensinam isso.

Na seletividade e adaptabilidade que configuram a Ordem da vida, não há lugar para seres que não se transformam. Tornam-se excrecências que se autoeliminam por não se difundir, se propagar ou reproduzir-se: evite comparações com 'castigo' por permanecer estático: a vontade potente de vida se enfraqueceu nesse elemento específico – ocorre também nas degenerescências onde a capacidade de renovar-se reduz-se incontornavelmente. Ao fim, todo elemento é absorvido pelo sistema e se reconfigura em uma outra forma.

Antes de qualquer conclusão precipitada, é preciso entender que qualquer contexto que se supõe duradouro permite acontecimentos-surpresa: uma forma de ser inadaptada a determinado contexto pode se tornar a única a resistir diante de uma reformulação inesperada do meio – catástrofes, dentre elas. Por isso, não há espaço para quaisquer predeterminismos ou moralização da natureza. As verdades se estabelecem exclusivamente nos 'encontros' e seus efeitos, e somente os capazes de surfar nessa onda caótica se preservarão e se propagarão – e isso vale para ideias e costumes, também.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 12 de novembro de 2017.

* Li, por esses dias, a carta de um cientista para sua filha de 10 anos de idade. Reproduzo um dos trechos mais interessantes, que se complementam com a citação inicial desse artigo:
É uma pena, mas não é possível evitar que, visto que as crianças necessitam ser sugadoras de informação tradicional, elas acabem acreditando em tudo aquilo que os adultos lhes dizem, seja verdadeiro ou falso, seja correto ou errado. Muito do que os adultos dizem a elas é verdadeiro e baseado em evidências, ou é ao menos algo que faz sentido. Mas, se uma parcela do que É uma pena, mas não é possível evitar que, visto que as crianças necessitam ser sugadoras de informação tradicional, elas acabem acreditando em tudo aquilo que os adultos lhes dizem, seja verdadeiro ou falso, seja correto ou errado. Muito do que os adultos dizem a elas é verdadeiro e baseado em evidências, ou é ao menos algo que faz sentido. Mas, se uma parcela do que eles dizem é falsa, tola ou mesmo nociva, não há nada que as impeça de acreditar nisso igualmente. Ora, quando as crianças crescem, o que elas fazem? Bem, como seria de esperar, elas dizem as mesmas coisas à geração de crianças seguinte. Assim, uma vez que algo se transforme numa forte crença — mesmo que se trate de algo completamente falso e que, desde o início, nunca tenha havido razões para se acreditar nisso —, pode perdurar para sempre.
Será que foi isso o que aconteceu com as religiões? A crença de que há um deus ou deuses, a crença no paraíso, a crença de que Maria nunca morreu, a crença de que Jesus nunca teve um pai humano, a crença de que as preces são respondidas, a crença de que o vinho se transforma em sangue — nenhuma dessas crenças é sustentada por nenhum tipo de evidência satisfatória. E, no entanto, milhões de pessoas acreditam nelas. Talvez seja porque se disse a essas pessoas que deveriam acreditar nessas coisas quando elas ainda eram tão jovens que acreditavam em qualquer coisa.
Milhões de pessoas acreditam em coisas inteiramente diferentes, porque outras coisas foram ditas a elas quando eram crianças. Coisas distintas são ditas às crianças muçulmanas e às crianças cristãs, e nos dois casos elas crescem absolutamente convencidas de que estão certas e de que as outras estão erradas. Mesmo entre os cristãos, os católicos romanos acreditam em coisas diferentes do que se acredita entre os presbiterianos ou entre os episcopais, entre os shakers ou os quakers, entre os mórmons ou os holly rollers **, e todos se mostram absolutamente convencidos de que estão certos e de que os outros estão errados. Eles acreditam em coisas diferentes, exatamente pelo mesmo tipo de razão pela qual você fala inglês e Ann-Kathrin fala alemão. Ambas as línguas são, em seu próprio país, a língua correta. Mas não pode ser verdade que religiões diferentes estejam certas em seus próprios países, pois as diferentes religiões afirmam que coisas opostas são verdade. Maria não pode estar viva na Irlanda católica ao mesmo tempo que está morta na Irlanda do Norte protestante.
estão errados. Eles acreditam em coisas diferentes, exatamente pelo mesmo tipo de razão pela qual você fala inglês e Ann-Kathrin fala alemão. Ambas as línguas são, em seu próprio país, a língua correta. Mas não pode ser verdade que religiões diferentes estejam certas em seus próprios países, pois as diferentes religiões afirmam que coisas opostas são verdade. Maria não pode estar viva na Irlanda católica ao mesmo tempo que está morta na Irlanda do Norte protestante.
** Denominação depreciativa que faz referência às várias denominações religiosas em que o fervor espiritual é expresso por meio de gritos e de violentos movimentos corporais.

5 de nov. de 2017

Impactos meteóricos

Impactos meteóricos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 05-11-2017.
Impactos meteóricos, criado em 05-11-2017.

Pensamos que talvez essa "arte" seja uma chave para o entendimento de sua tecnologia. Nossa curiosidade com respeito à "arte" desse povo provocou uma reflexão sobre uma série de pontos significativos:
  1. O desenvolvimento da civilização teve uma aceleração por volta de 5 mil anos atrás quando a escrita antes apareceu na Suméria;
  2. O Povo da Cerâmica Canelada possuía a mesma capacidade mental que nós temos atualmente;
  3. A chave para o nosso rápido e moderno progresso científico é a habilidade de registrar, acessar e usar informações;
  4. Somente uma pequena parte das pessoas no mundo compreende realmente a ciência que faz nossa sociedade funcionar, e essa elite frequentemente usa o conhecimento para controlar as pessoas que não o possuam.
(Robert Lomas e Christopher Knight — A máquina de Uriel: as antigas origens da ciência, p.389 )
O temor provocado pelas forças naturais, em especial, aquelas de grande impacto na superfície da terra, produziu na humanidade uma marca de reverência. Esse nível de referência, para os cientistas atuais, é a origem das mitologias e religiosidades: 'os céus e a terra manifestando o poder dos deuses'. As consequências dessa marca precisam ser estudadas e compreendidas: há um nível de beleza nela que ultrapassa o seu mal uso.

Sensibilidades humanas, como a intuição e a espiritualidade, ainda em primórdios de estudos acadêmicos, permitirão esclarecimentos capazes de ultrapassar os charlatanismos e seu uso para controle social – registrado na história, em diversas épocas, a casta sacerdotal utilizou conhecimento científico, de acesso restrito, para manter o povo em 'cabrestos curtos'. O registro do movimento dos planetas (eclipses eram alguns dentre os meios para comprovar seu poder) foi algo que permitia tal influência.

A antropologia e outras ciências são reunidas em A máquina de Uriel: as antigas origens da ciência * (Robert Lomas e Christopher Knight) para fornecerem fortes indícios de que vários conjuntos de pedras ordenadas – estruturas megalíticas, como Stonehenge – eram observatórios astronômicos sofisticados que permitiam gerar calendários solares, lunares e planetários exatos, a medição do diâmetro da Terra e provavelmente a predição da colisão, na terra, de um meteorito, em 3150 a.C..

Os autores defendem que muito antes do que se ensina nas escolas, já havia uma civilização altamente avançada, dedicada a preparar-se para impactos meteóricos futuros, permitindo a reconstrução da civilização em um mundo destruído.

Sem ignorar polêmicas que surgem (identifico interferências fortes de uma determinada visão produzida pela maçonaria – organização da qual fazem parte os autores), as reflexões apresentadas no livro também promovem um novo nível de pensamento a respeito da formação da hegemonia da religiosidade judaico-cristã via destruição de todo o registro dos conhecimentos celta e dos druidas (rotulados como 'bruxaria' e 'demoníacos') pela casta sacerdotal-cristã.

Aprecio as propostas, avaliações e comprovações apresentadas que resgatam um pensamento muitíssimo anterior ao datado oficialmente. Difiro, aqui, da visão de que há qualquer aproximação possível entre ciência verdadeira e as religiões. A ciência é isso: não ter medo de se aventurar, escavar, escrutinar e repensar e, a seguir, constituir lógicas capazes de subsistir a quaisquer questionamentos racionais, sempre fugindo aos predeterminismos.

Se isso significa encarar aqueles que, de dentro dela, distorcem a sua vocação essencial, tudo bem: cada nova teoria, que se comprovar mais potente que a anterior, será a adotada. Doa a quem doer, as verdades científicas não são um monolítico e, sim, um processo e uma construção constante, pronto a agregar aquilo que ultrapassa o escrutínio rigoroso do que há de opinião ou tradição, em cada teoria.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 05 de novembro de 2017.

* Apesar de, em alguns momentos, a linguagem acadêmica tornar-se um obstáculo, indico a leitura do livro para quem já tem o segundo grau. Para os demais, indico uma iniciação ou noção sobre o tema do livro encontrada no vídeo Resenha - A Máquina de Uriel

3 de nov. de 2017

Aprisionamentos e fugas

 criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 03-11-2017.
Fugas, criado em 03-11-2017.

Retornemos à nossa lista dos sintomas que as pessoas atingidas pelo vírus mental da fé, e sua gangue de infecções secundárias, podem experimentar.
4. O paciente pode surpreender a si mesmo comportando-se de maneira intolerante em relação aos vetores das fés rivais, ou até mesmo, em casos extremos, matando-os ou advogando a sua morte. Ele pode se mostrar igualmente violento em sua disposição em relação aos apóstatas (pessoas que um dia abraçaram essa fé mas depois renunciaram a ela) e aos hereges (pessoas que desposam uma versão diferente da fé — com freqüência, o que talvez seja significativo, uma versão apenas ligeiramente diferente). Ele também pode se sentir hostil em relação a outros modos de pensamento que são potencialmente inimigos de sua fé, tais como o método do pensamento científico, que poderia funcionar como uma espécie de software antiviral.
(Richard Dawkins — O Capelão do Diabo, cap.3: A mente infectada, p.417 )
Humanidade e razão começaram o seu flerte há pouquíssimo tempo e os gestos ou movimentos de encontro ainda são muito tímidos. Mesmo que algumas das formas de construção de pensamentos se mostrem eficientes e potentes para expressar o aprendizado individual e coletivo, a escolha ainda recai para o assujeitamento aos discursos escravizadores*.

A ignorância, os sentimentos confusos e o medo (em seu estado primário diante das forças da natureza) são a matéria prima da constituição dos deuses. Seus porta-vozes apelam para discursos que os usam para capturar almas e ter indivíduos ou populações como serviçais voluntários. Desde os primórdios da humanidade, mitologias escravizaram corações e mentes.

Dito dessa forma, mesmo que cautelosamente, a reação coletiva é de rejeição: admitir a escravidão e buscar a libertação é algo para pouquíssimos – negação e acomodação tornaram-se amigas íntimas da parcela imensa da humanidade sem acesso ao conhecimento. As cavernas continuam sendo o lar daqueles que se algemaram ou se deixaram algemar por frases de efeito que promovem o terror perante a possibilidade do ciúme, da vingança ou do castigo de uma entidade qualquer. Submetidos a uma avaliação crítica, bastam segundos, na maioria das vezes, para esses discursos caírem por terra: mas frases repetidas incessantemente foram adotadas como 'verdades'.

Essa reflexão rejeita a submissão voluntária, aponta a sabedoria e a ciência como instrumentos de avaliação crítica e promotora da renovação humana e, em especial, as fragilidades promovidas a partir da opção pela ignorância ao invés do conhecimento.

Meu objetivo não é desqualificar ou destituir o poder da intuição, das sensibilidades espirituais e da fé: acredito que são capacidades que os seres humanos possuem de se integrar a um todo e compor as forças da vida. Mas o faço em relação aos que se usam delas para cooptarem incautos e, assim, manter seu status social e financeiro.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 03 de novembro de 2017.

* Nas palavras, bem humoradas mas ferinas, de Dawkins:
Descrever as religiões como vírus da mente é algo entendido às vezes como um sinal de desdém ou mesmo de hostilidade. As duas coisas são verdade. Frequentemente me perguntam por que me oponho tanto à 'religião organizada'. Minha primeira resposta é que também não sou exatamente simpático à religião desorganizada. Como um amante da verdade, suspeito das crenças firmemente defendidas que não encontram sustentação em nenhum tipo de evidência: fadas, unicórnios, lobisomens e todo outro elemento do conjunto infinito de crenças possíveis e irrefutáveis de que fala Bertrand Russell com sua imagem de um hipotético bule de porcelana chinesa girando em torno do Sol (ver “A grande convergência”, p. 258).
A razão pela qual a religião organizada merece franca hostilidade é que, diferentemente da crença no bule de Russell, ela é poderosa, influente, isenta de impostos e, além disso, sistematicamente transmitida a crianças que não têm idade suficiente para se defender.a Não forçamos as crianças a passar seus anos de formação memorizando livros lunáticos a respeito de bules. As escolas subsidiadas pelo governo não excluem as crianças cujos pais dão preferência a outros formatos de bule. Aqueles que acreditam no bule não apedrejam os ateus, os apóstatas, os hereges e os blasfemos em relação ao bule, até levá-los à morte. As mães não obrigam seus filhos a desistirem de se casar com shiksasb [Termo pejorativo que designa as mulheres não judias] cujos pais acreditam em três bules em vez de em um único bule. As pessoas que servem o leite primeiro não dão tiros no joelho daqueles que servem primeiro o chá. (Idem, p.344)