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28 de jun. de 2009

Eu me acostumei...

Desfazendo-se em redemoinho, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 28 de junho de 2009
Desfazendo-se em redemoinho, criado em 28-06-2009

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

(Soneto de Separação - Vinícius de Moraes)

O grande barato da vida é que ela é uma caixinha de surpresas instantâneas - quando menos você espera, algo acontece e o bicho pega. Mas, afinal de contas, quem não gosta de ser supreendido? Tudo bem que - e nisso estamos de acordo - a preferência é por surpresas agradáveis, o que nem sempre acontece, né?

Controle é algo tão desejado nessa hora, mas tão distante das vias de fato…

Dentro de nós há um redemoinho e parece que todo o arsenal de que dispomos falha quando tentamos retomar a direção do caminho. Onde a luz do fim do túnel finalmente irá despontar? E quantas oportunidades serão necessárias para identificarmos e tentarmos nomear o que sentimos?

A impressão pra mim é que isso soa muito piegas e eu estranho ter escrito desse modo. Mas o que fazer se é o modo que se identifica mais com as questões que vieram à tona num não dito descoberto?

Cobertura pela omissão não é o mesmo que mentira, soa mais como proteção. Então, opto por crer na positividade da ação, via bondade.

Um final de semana que poderia ter sido semelhante aos outros me embaraçou, literalmente, os pensamentos a ponto de não conseguir fazer nenhuma lógica nem dar sentido aos fatos.

Sou um escorpião que ascendeu ao aquários mas não deixou de lado a intensidade dos sentimentos e a vontade de um retiro, sempre que possível, ao invés de um ataque. Mas o consumo de mim mesmo nunca será minha primeira opção se puder consumir o que quer que me desgaste usando a escrita e o desenho como meio de extravasar e racionalizar - pelo menos por alguns momentos - até que o redemoinho perca a sua intensidade máxima e eu já consiga vislumbrar o real ou visualizar o cotidiano (que nem sempre andam juntos, diga-se de passagem!).

Um tempo atrás escrevi sobre o peixe e o escorpião (http://bigwzh.blogspot.com/2008/04/o-peixe-e-o-escorpio.html) e avaliei que esses mundos não foram feitos para se misturarem, mas que eu tentaria me esgueirar para vislumbrar o outro lado. Isso foi em abril de 2005 e foi o resultado de anos de encontros anteriores e reflexões.

Depois disso, meu exercício ficou muito mais interessante: não apenas vislumbrei, mas adentrei a este outro mundo. Descobri potencialidades, vi transformações, me tornei cúmplice de um processo de individuação e, agora, sinto-me parte deste mundo.

Certo, ele não é o meu mundo, mas faz parte dele e, como qualquer parte, pode ser retirada do todo cabendo uma única questão principal: o ser sobrevive sem essa parte? E, você, que é inteligente, me perguntará se consigo distinguir de qual ser estou falando, de mim ou do outro. E fico num círculo vicioso tentando esclarecer a questão e, para sair dele, só por esse momento, direi que com relação aos dois.

Fiz uma descoberta, a partir da experiência: um escorpião não sobrevive por muito tempo nas águas profundas sem abrir mão do que o torna ele mesmo e assimilar as possibilidades do peixe. Não é impossível, mas muito improvável, manter-se pleno de si mesmo após isso.

Então, antes que aquilo que sou se desfaça, desfaço do nós o nó que permitia o plural. Hora de experimentar-me só.

Fica uma questão, dentre outras - a mesma que o atingiu há alguns dias - o que nos fez nós e o que nos manteve assim? E por falta de uma resposta melhor, disse 'eu me acostumei'…

Wellington de Oliveira Teixeira, em 28 de junho de 2009.

Para mim o redemoinho é o modo como as possibilidades da vida fazem um encontro conosco e produzem o novo

7 de jun. de 2009

Fluxos versus Fases

Well-OutrosFluxos foi criado por Wellington de Oliveira Teixeira, em 03/05/2009 Outros Fluxos criado em 03 de maio de 2009.

"Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma."
(Antoine Lavoisier)


Para mim, a perfeição é o processo, diário, de quem sempre segue adiante.

Vivemos muitos momentos na vida biológica. Da concepção à morte entramos e saímos em fases diferenciadas que nos modificam do momento anterior: nascimento, infância, pré e adolescência, juventude, maturidade, velhice, que são os períodos que se espera que todo o humano viva.

E para traçar essa linha histórica de alguém pedimos auxílio às ciências e descobrimos genes, células, glândulas e outros elementos que comandam a função vital são todos programados para nos prepararem para percorrer essa linha do tempo, nos fazer morrer, ao final.

Todos os que não tropeçam prematuramente na morte, neste intervalo, passamos por isso com mais ou menos angústias, incertezas, temor.

Em geral queremos avançar na escala até o momento em que percebemos que adiante se encontra a escala descendente e a decadência. A partir de então queremos retardar o avanço para nos eternizar.

Geramos, por forças externas e internas, modelos para nos guiar e até tentamos nos assemelhar a eles. Mas os heróis são, na maioria das vezes, apenas uma tentativa de lidarmos com os nossos fracassos.

Quando penso a vida, tento me liberar do pensamento das fases. Em seu lugar me proponho pensar os fluxos. Fluxos não são fases. Não são estruturados, acontecem a todo momento.

Fluxos não são categorias, apesar de podermos pensá-los com auxílio de oposições: fluxo de tristeza e de alegria, ânimo e de desânimo, de força ou de fraqueza, por exemplo. Em resumo, fluxos de composição ou decomposição.

São os fluxos que geram em nós a busca de novos encontros e, por isso, nos levam adiante. E ao pensar nisso, imagino que sejam eles os responsáveis pelo nosso caminho.

Novidade de vida é algo que se processa a todo momento, mas não alcançamos, necessariamente, essa percepção de forma simultânea: uma questão com o sincronismo entre atenção e domínio de si.

Acredito que, mesmo com essas precariedades, somos lançados pelos fluxos às transformações e toda transformação precisa de energia para ser consolidada, nem que provenha da desconstrução do material original, o que, às vezes, causa uma certa dor e uma sensação de perda. Mas, como aprendemos já há muito tempo: nada se perde, tudo se transforma.

Sendo assim, o que nos impede de ultrapassar o estabelecido pelas fases e, exercitando uma vontade soberana de novos encontros com a vida - em muitas dimensões e arranjos -, conquistar o que se denominou de fronteiras pessoais e interpessoais?

Cai na PAz e Vá em frente. Amigos São Amigos Pra Sempre!!!

Wellington de Oliveira Teixeira, em 7 de junho de 2009.

Para Pablo, após a sua nova tatuagem.