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26 de set. de 2014

Reações ou redemoinhos

Redemoinhos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 26-09-2014.
Redemoinhos*, criado em 26-09-2014.

Não ter mais alguém muito querido fisicamente presente
não nos impede de recordar e celebrar o tempo compartilhado.
Fazê-lo, com gratidão pela oportunidade que nos foi permitida do convívio,
honrará o sentimento que temos, acalmará nossa saudade,
e perpetuará as marcas deixadas em cada um de nós.

Wellington de Oliveira Teixeira


Uma questão aflorou hoje: se não somos iguais, por que esperar as mesmas reações de outra pessoa?

Há sempre um modo inusitado de reagir capaz de surgir, dependendo das circunstâncias, pelo modo como os fatos embolam dor e algo planejado para adiante. Há momentos em que sonhos e medos se reúnem num único instante numa combinação explosiva que não exige vazão imediata ou nos desagregarão.

Presenciar ou vivenciar algo assim traz de imediato a imagem de um redemoinho que pegou alguém e lhe retirou a noção de espaço e tempo, desfazendo, por alguns instantes, a própria personalidade.

Refazer-se após a reviravolta é de suma importância. Também o é, situar-se com calma e ir se fortalecendo diante dos elementos disparadores, até conseguir superá-los. Um processo assim, tão dolorido, certamente não é simples, por isso não se deve exigir a mudança de imediato.

Um tempo ou dois é o necessário para se reelaborar, gerar outras referências e reprogramar-se. Entenda que é preciso ter serenidade e saber que, pouco a pouco, o rumo da vida retoma, e se consegue ir em frente, realizar os sonhos, mesmo que não da maneira desejada de início. Não é sempre assim nesta vida?

Mas devemos sempre entender que poderá haver muitas outras surpresas ainda. Momentos felizes ou tristes sempre nos encontrarão e precisamos nos preparar para curti-los ou enfrentá-los.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 26 de setembro de 2014.

* Envolver-se é algo lindo, mas cobra seu preço: podemos ser tomado por um redemoinho de emoções.

19 de set. de 2014

Rotular é tornar o pontual a referência.

Senhor de si, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 19-09-2014
Senhor de si, criado em 19-09-2014.

Transcender
Os espaços, uma a um, devíamos
Com jovialidade percorrer,
Sem nos deixar prender a nenhum deles
Qual um pátria.
O Espírito Universal não quer atar-nos
Nem nos quer encerrar, mas sim
Elevar-nos degrau por degrau, nos ampliando o ser.

(Hermann Hesse - O jogo das contas de vidro, p.447)


Sem sua ousadia não há o que esperar da vida. Estou falando de forma direta, não alegórica ou metafórica. Desde que haja alguma forma de construção, há o possível, o viável, a invenção de si. São eles que se opõem ao estruturado, ao modelado e conduzem à ausência e ao vazio.

Essa espera não no sentido de esperança, ainda que, de algum modo, possa abarcá-la se entendida como projeção, como sonho, como elemento transformador por produzir mobilidade.

Um momento ímpar está acontecendo, em todas as épocas, em diversas esferas da vida, onde quer que os seres humanos estejam se transformando e buscando por mudanças. Costumes e práticas apenas são os indicadores de algo a que se opõem e se agitam grupos de pessoas indocilmente, envolvendo-se numa luta contra a mesmice.

E muito do que se vê pode ser considerado exagero, forçação de barra, imposição - principalmente se percebido de um ponto de vista mais tradicionalista. E aqui se resume a polarização, o antagonismo que tem levado ao extremismo pontual. Sim, é pontual. Mesmo com tanta propaganda querendo rotular todos por conta da ação de uns muito poucos.

Mesmo quando você age de forma mais exacerbada, vez ou outra, isso não dá a ninguém o direito de tachá-lo descontrolado. Se todos tem seus momentos assim, isso não pode torná-lo referência.

Então, por que os meios de comunicação (e muitos os que os reproduzem) tacham pejorativamente pessoas ou movimentos sociais que trazem uma reformulação do padrão que eles ditam? Dos brincos e tatuagens, aos cortes de cabelo e estilos de vestir - quase sempre acompanhados de linguajar, formas de musicar e poetizar novos -, toda era é uma nova era que modifica a anterior.

Desnecessário o gigantismo da tentativa de contê-la, quaisquer que sejam as vias. A repetição do Assim é o certo, quase sempre vem acompanhada da ignorância de que esta também foi uma prática nova. Não se pretende arrazoar, esclarecer, apenas determinar. Surgem vozes iradas, clamando o fim do mundo - há séculos fazem isso! - criando novos apocalipses para amedrontar e controlar. Baseados em que? Costumes.

O mais indelével dos direitos humanos, o ser senhor de si mesmo, quer-se dominado. O maior medo é, se mudar, as vozes que ditam o certo e o errado perderão seu poder. Tentam esconder o fato de que as rupturas sempre acontecerão e que é possível harmonizar o novo com o antigo, há espaço para ambos.

É preciso ousadia, repito, para abrir as asas, saltar no vazio e desconhecido, para descobrir a maravilha que é o voo. O menor dos insetos alados sabe disso. Mas, por mais que muitos dos antigos e os novos-antigos citem as águias, os condores em alegorias da transformação que permite a ampliação da potência de vida pessoal, continuam preferindo as caixas, os ninhos, as asas deformadas por falta de uso. E não admitem que os outros tentem. Fazem isso, ameaçando: 'vai, mas não volta'; se fizer isso, não será mais meu …'; 'isso é coisa de …'; 'filha minha …'; e muito mais.

Antes que eu me esqueça, ao exemplificar as forças conservadoras não é necessário citar qualquer grupo ou prática: todos temos a semente dela em nosso interior, também. Ser cuidadoso é dialogar, avaliar as questões, alinhar os prós e os contras. É se dispor ao apoio do seres que se individualizam. Esse processo eles o percorreram de qualquer forma, agora ou depois, apoiados ou solitários.

E quando uma nova forma de estar em sociedade ocorre, ela é assimilada aos poucos e torna-se parte do antigo modo. Entender e superar tal processo sem gerar mais seres podados, enrustidos, mal-amados, rancorosos, vigiadores do alheio é um desafio imenso.

A vida exige que o ser aflore. E quando o processo de vir à tona ocorre, nada o impede. Pode-se podar todas as manifestações, viver protegido ou escondido, tentar iludir-se ou aos outros. É uma opção. Mas há outra: pode-se lutar para se manifestar de forma única, também.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 19 de setembro de 2014.

* […] Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida.
Na parede da memória, essa lembrança é o quadro que dói mais.
Minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.
Você pode até dizer que eu tô por fora ou, então, que eu tô inventando.
Mas é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem.
(trecho de 'Como nossos pais' - Antonio Carlos Belchior)

14 de set. de 2014

Coisa de momento

Coisa de momento, criado por Wellington de Oliveira Teixeira entre 10 e 14 -09-2014.
Coisa de momento*, criado entre 10 e 14 -09-2014.

A noite de sábado começava, era a primeira vez que passeava sozinho em Zurique e
aspirava profundamente o perfume da liberdade. A aventura espreitava-o em cada esquina.
O futuro tornava-se de novo um mistério. Voltava à vida de solteiro,
essa vida que anteriormente estava certo de ser o seu destino,
pois era a única em que poderia ser tal qual era realmente.
Vivera acorrentado a Tereza durante sete anos – ela havia seguido com o olhar
todos os seus passos. Era como carregar bolas de ferro amarrada nos calcanhares.
No momento, subitamente, seu passo estava mais leve. Quase voava.
Estava no espaço mágico de Parmênides: saboreava a doce leveza do ser.

(Milan Kundera - A insustentável leveza do ser, p.35-36)


A gente diz coisas sem se dar conta da extensão daquilo que dissemos.

Coisa de momento: dimensionado pelo êxtase que atravessou corpo, alma e espírito; que traz à tona o que nunca consegue aflorar além de parcialmente; que faz a palavra humano ganhar verdadeiro sentido. Genuinamente pleno, inescapável, indubitável. Mas, como tudo que é de ordem superior, é como um flash imenso que oblitera tudo o mais que se encontra além do foco do nosso olhar.

Depois, com o que chamamos de realidade do dia a dia, aquela magia se esvai por termos que usar os básicos sentidos da sobrevivência. E entramos novamente na matrix para termos as experiências comuns e ansiarmos enormemente por uma nova oportunidade de ultrapassarmos o invólucro que englobou a força vital e nos separou da ordem universal.

Particularidades nos tornam indivíduos, com todo o preço que se paga por isso, em especial a perda da conexão que nos integra ao todo.

E a gente sobrevive depois de conseguir uma fagulha para nos reincendiar, por um lapso temporal mínimo, e assim propulsionar a sequência dos momentos que se constitui o cotidiano. Só que somos capazes de um espectro muito maior; a amostra grátis que aqueles momentos nos proporcionam confirmam.

Então, isso é seguir em frente: ignorar a eternidade que nos cerca e nos assume em cada gesto. Certamente, seria loucura tentar dar conta dela nesse corpo tão maravilhoso mas tão reduzido ainda no uso de suas capacidades. Por isso, ansiamos experimentar a química fantástica que os sentimentos produzem alterando todos os padrões cerebrais — milhões de vezes superior ao que qualquer droga conseguiria — e vivenciarmos a irrealidade.

Só por isso, mais outra e outra vez, que, continuamente, resolvemos acreditar no eu, na ilusão das percepções. Tudo o mais é reduzido a apenas fantasia de um momento.

A eternidade aqui não valeria um único sequer momento sem este instante mágico, onde se reúne tudo o que se é até que o eu desaparece ou consegue se ultrapassar.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 14 de setembro de 2014.

* As pequenas experiências de plenitude ampliada, simultâneas da nulidade do eu, como no êxtase físico ou espiritual, são fundamentalmente o que permite a perpetuação da vontade de produzir novos encontros.

8 de set. de 2014

Vida é o pleno desequilíbrio

Ponto de desequilíbrio, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 08-09-2014
Ponto de desequilíbrio, criado em 08-09-2014.

Não existe um problema que não ofereça uma dádiva para você.
Você procura os problemas porque precisa das dádivas oferecidas por ele…
Valorize suas limitações, e, por certo, não se livrará delas.

(Richard Bach - Ilusões - as aventuras de um messias indeciso, p.62 e 82)


Vida é o pleno desequilíbrio onde estabelecemos um equilíbrio provisório, em que não devemos acreditar totalmente.

A arte de perceber os ventos contrários como uma força capaz de nos impulsionar é um dos maiores aprendizados que temos. Os deslizantes da água, terra e ar confirmam isso.

Na infância, e por muito anos depois, são os apoios que recebemos que nos ajudam a estruturar a base de assimilação dos elementos necessários para seguir adiante. Alguns alcançam a fase de transformação e de individualização consciente, entendendo que devem ir soltando, ponto por ponto, do mais simples ao mais difícil de abrir mão, os antigos apoios em função de construir os novos e próprios.

A vida age e obriga, quando ignoramos esse fato. Em toda a natureza há exemplos claros desse processo, em que é necessário o desapego e o enfrentamento das dificuldades. No entanto, enganam-se os que acreditam que esse processo é, obrigatoriamente, solitário. Não o é. Apenas o aprendizado e sua absorção o é. É possível criar estratégias e agir coletivamente. Deixar de lado apoios e criar referenciais.

Assim, ao invés de olharmos para a área da vida que atualmente está desbotada e desarrumada - por conta dos acontecimentos que nos deslocam, nos descentralizam e nos sacodem -, devemos utilizar como guias ou auxiliares, nesse momento de movimento desequilibrado, os referenciais que nos embasam.

Não tente pegar tudo simultaneamente. Defina o mais imediato e importante e assuma-o como prioridade. Agende, antecipadamente, os próximos e necessários passos, não permitindo que as questões exigidas por eles se tornem pr(é)ocupações que o atrapalhem agora. Foque no hoje. Dê o melhor de si no agora. Pense que, quando chegarem os outros itens, a realidade terá se transformado - e você com ela.

Não é possível assumir a dor, a responsabilidade e os outros elementos inerentes à experiência de vida de outra pessoa - por mais próxima e amada que seja! - mas podemos ser solidários. E devemos deixar isso bem claro.

É isso que tento fazer com essas reflexões junto ao meu sobrinho Weberson (que, nesse momento, tenta corajosamente ocupar os papéis de filho cuidadoso, de neto amoroso e de, em breve, papai e provedor) e ao meu filho Paulo Roberto (em fase de mudanças familiares importantes, inclusive de casa).

Todos nós, vendo esses desafios, estamos respeitosamente permitindo que vocês os enfrentem e decidam o momento em que é necessário alguém ao lado. Seja como companhia para relaxar ou alguém para ajudar a traçar novas rotas, porque, para amar não precisa chamar.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 08 de setembro de 2014.

* Ninguém sabe qual é o calo, onde se encontra e como dói, além da própria pessoa. Por isso, devemos deixá-la decidir como tratá-lo.

2 de set. de 2014

Minha profissão de fé

Fé, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 26-08-2014.
Fé, criado em 26-08-2014.

Guardando o mistério da fé numa consciência pura.
(Bíblia - 1 Timóteo 3:9)
É válido para muitas pessoas a tentativa de provar a existência ou não de um deus, ou deuses. Seus pontos de vistas, a partir de pressupostos pessoais ou de fé são inquestionáveis. O mesmo preceito deveria valer para que não se tornem uma imposição para outros modos distintos de avaliar, de crer, que também são inquestionáveis.

Avalio que exista a fé por adesão, aquela que adota ao se observar, ouvir, avaliar pressupostos ou práticas de pessoas ou grupos; como também por intuir um caminho por conta de vivências, na tentativa de encontrar um fluxo que permita a própria espiritualidade expandir.

Baseado nesse simples conceito, há quem construa uma janela escancarada e usada para cooptar neófitos. Uma espécie de vale tudo para você adotar um determinado lado. Práticas cada vez mais bizarras (e concordo que essa visão e avaliação são minhas!) vão assumindo territórios antes delineados por uma certa formalidade menos excêntrica.

Não. Não discordo de que antigos rastafaris usem sua forma de cantar, mover, falar, vestir para pronunciar sua nova maneira de encarar o mundo da fé; que os rouqueiros, fanqueiros, repentistas (rappers, incluídos), forrozeiros e adotantes de qualquer outro estilo ou prática musical manifestem, com a forma mais expressiva para si, uma transformação na vida. O blues, o jazz, o clássico também o foram e criaram a maneira que até pouco tempo atrás era a dominante nas instituições religiosas cristãs. Alguns grupos decidem barrar novidades, fortalecer o tradicionalismo, algo também válido, uma vez que é a sua forma de expressão.

A visão que possuo de acolhimento das diferenças me exige um esforço enorme para ultrapassar conceitos e preconceitos adquiridos quando da adoção de minha forma de expressar fé. Sempre posso discordar, mas respeitar. Isso não impede avaliar a coerência interna e externa na formalização das práticas de fé, cujo trunfo maior é não apenas falar e ensinar, cobrar ou reprimir. A prática diária a expressa de forma contundente: se digo que amo mas não cuido, a fé é invalidada por não se manifestar, seu objetivo maior.

Fé é para tornar um ser mais seguro, mais hábil em lidar com as experiências da vida, para aperfeiçoar os modos de relacionar-se pessoalmente ou em grupo. É produzir, com o modo de agir, investimentos no mundo que o rodeia em prol de equilíbrios maiores.

Fé é fundamento, não fundamentalismo. É estruturação interna, é dar razões à si mesmo, é a busca por integralidade, plenitude e aperfeiçoamento.

Alguns confundem um relacionamento com o divino com a fé. Essa correlação não é verdadeira. O divino é e se expressa em si e por si, sem a nossa ajuda. O ato de se permitir vivenciar o divino ultrapassa a fé, pois é uma conexão não limitada pela possibilidade de expressão.

Fé, então, é um modo de entendimento sobre o divino baseado em sua experiência pessoal, primeiramente, cuja adoção de formalizações é possível, mas posterior. Isso é o que me propõe uma atitude respeitosa e cuidadosa com aquilo que ilumina o interior de uma outra pessoa. Isso é o que me permite, também, questionar as formalizações. Toda instituição é isso: instituir, constituir, determinar, definir. As religiosas não escapam dessa percepção. Nenhuma instituição pode dar conta, ou determinar caminhos para a fé de alguém. E aquelas que incentivam o cuidado, o amor, o aprimoramento dessa conexão inexplicável, devem ser vistas com bons olhos.

Mas, e digo isso com muita certeza: Toda utilização da fé, com propósitos escusos é hedionda, pois mexe com o mais sagrado em cada um de nós. Isso eu repudio, isso eu combato. E essa é a minha profissão de fé.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 02 de setembro de 2014.

* Acredito na religiosidade não institucionalizada, a que carrega o sentido de expansão espiritual, a que integra os seres com base e sustentação no amor, no respeito às individualidades.
Penso que, em cada época, as formalizações irão mudar juntamente com os costumes e práticas de uma sociedade.
Independente de tempos de liberação ou de controle, o que vale é a apropriação, em si, do sagrado e a expressão com propriedade do que se efetua com essa conexão. À medida que ocorre maior iluminação interna, maiores níveis de expressividade da fé acontecem.
Fé é o que nos capacita ao aperfeiçoamento. O amor, à unidade. E fica sempre aquela ponta de esperança que, um dia, chegaremos todos lá.