Pesquisar este blog

5 de mar. de 2017

Amores transcendentes

Transamores criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 05-03-2017.
Transamores *, criado em 05-03-2017.

A coragem de viver: deixo oculto o que precisar ser oculto e precisa irradiar-se em segredo.
Calo-me.
Porque não sei qual é o meu segredo. Conta-me o teu, ensina-me sobre o secreto de cada um de nós. Não é segredo difamante. É apenas esse isto: segredo.
E não tem fórmulas.

(Clarice Lipector — Água Viva, p.59)


Determinado tipo de amor transcende idade e nos acompanha, não importa quantas outras paixões ou amores guardemos no peito. Sobrevive às pequenas tiranias pessoais de ambas as partes, às tempestades e calmarias, à agitação e ao tédio. Permanece.

Como um 'apesar de', retorna. Causticante ou brisa leve de recordações, obriga a discernir que só o que atravessa, irrompe e ultrapassa os escudos, as morais, o medo, vale.

Dramatiza, sim, mas não se torna um dramalhão. Se o fizer, destituiu-se de sua essência, foi envenenado. E resta ao culpado o remorso, as incompletudes e os vazios em cada ócio. Estes geram o ódio refletido em qualquer um próximo.

Amor é amor, mas para obter a aceitação na ordem do dia, o mais comum é que se aceite simulações, simulacros, invenções sociais e infelicidades noturnas que se embrenham na gente, reconfiguram a mente, produzem um ser dependente.

Amor começa no por si mesmo. Aí, ele estimula a ir em frente e buscar um novo ponto de referência. Ele ensina que na ordem dos encontros há muitos tipos de amor e que qualquer um deles produz plenitude e potência. Não há mistérios, não há mágicas, sem tentar não se encontrará. Plante a semente da coragem, construa o ambiente para o seu desenvolvimento. Encare o mundo e deseje. Deseje ser pleno e participar de outras plenitudes. Um segredo: amor atrai amor.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 05 de março de 2017.

* Intriga-me haver tantos obstáculos, carregados ou produzidos na hora, que impedem um encontro mais produtivo entre as pessoas. Deve haver alguma forma de prazer nesse jogo de ocultação de si mesmo.
Mas adoto o conceito de que uma conexão é como uma ponte que supera o hiato que as águas do rio estabelecem entre as margens. O rio da vida se efetuando, constrói margens mais fortes e a capacidade de sustentação da ponte.
Adoro jogos de palavras. Brincar com diversos conceitos. Ficam ocultos apenas para quem não se dispõe a observar.

2 de mar. de 2017

Sobre riscos e riscados

Riscos e riscados, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 28-02-2017.
Riscos e riscados *, criado em 28-02-2017.

Se você fabrica sorvetes de frutas, não pode saber no começo do ano como será a colheira, e por isso não sabe com quantas laranjas poderá contar. Se a colheita for fraca, o preço das laranjas vai subir bastante, mas se a colheita for abundante, os preços vão cair por causa do aumento na oferta de laranjas. Você pode decidir que não quer correr riscos e fechar um contrato para comprar suco de laranja em determinada data do verão por um preço fixo. Você abre mão da oportunidade de economizar caso a colheita seja boa (ou de perder caso seja ruim) em troca da segurança de pagar um valor determinado. Na outra ponta da transação, o agricultor também tem o risco mitigado, garantindo alguma receita para o ano.
(Edmund Conway — O risco dos negócios, p.16-127)


Diferentemente das rotas suicidárias, a vida precisa ter sentido, e este precisa ser construído em sintonia com o próprio ser, motivações pessoais, sonhos e necessidades. Esquecer isso, de imediato, é o mesmo que saltar num abismo. Não é ato de fé, mas é a própria falta dela: o visível é apenas um dos elementos para a escolha e, talvez, o menos determinante.

Quem não entende do riscado, arrisca desconhecendo os riscos. O duplo sentido parece ser bem claro.

É prática comum às grandes empresas, contratar especialistas nesse campo para definir regras e procedimentos obrigatórios para todos na corporação — minimizar os riscos, mais que salvar vidas e impedir acidentes, reduz multas, indenizações e linha de produção interrompida.

No prática interpessoal diária, há riscos que acolhemos em função de julgar que os outros possuam um potencial destrutivo maior. Ao contrário de empresas, cujo risco é racionalizado, quase sempre escolhas pessoais se guiam por intuição ou costume, mais que por razão. O fator determinante é o que se crê. É preciso haver fé, até mesmo para se fazer um sorteio, uma aposta, na hora de decidir.

Obras de ficção (filmes, livros, artes em geral) têm capacidade de transmitir conceitos, que podem ser apropriados, caso a capacidade momentânea do expectador esteja alinhada: observar passados, projetar futuros, meditar sobre o presente são fluxos que nos percorrem, nos motivam, nos ensinam. Inclusive, desconstroem anteriores.

Destinos são traçados a partir das escolhas. Quais escolhas nos dotarão de condições para ir ao encontro da plenitude no próximo momento? Ao final das contas, entre todas as questões, talvez essa seja a mais necessária a ser avaliada ao optar, com ou sem riscos.

O salto de fé só deve ser tentado após o máximo de preparo. É como uma olimpíada. Treina-se muito, segue-se à risca as melhores práticas, só então arrisca-se tudo. Sucesso não é a medalha no peito. Se esta vier, que as lições aprendidas no caminho estejam bem assimiladas. Sempre haverá um novo desafio a ser ultrapassado mais adiante. O maior de todos sempre será ultrapassar-se.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 28 de fevereiro e 02 de março de 2017.

* Conway expõe outro pensamento interessante, referente a se ignorar o traçado, os passos trilhados anteriormente: 'Os seres humanos são criaturas emocionais, podendo passar rapidamente do otimismo ao pessimismo e vice-versa. […] A experiência humana também é um fator importante. Alguns dizem que as sementes de uma crise financeira são plantadas no ano em que se aposenta o último banqueiro a vivenciar a crise anterior. Noutras palavras, quanto mais pessoas se esquecem das consequências duras de uma crise, maior a probabilidade de erros semelhantes serem cometidos novamente, gerando outra bolha.' (O Ciclo Econômico, p.131)