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28 de fev. de 2016

Interagir visando se fortalecer

Expansão, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 27-02-2016.
Expansão*, criado em 27-02-2016.

Se numa determinada sociedade há muitos indivíduos que vivem submetidos às relações que não combinam com a sua natureza, é evidente que, durante a maior parte da vida, eles tenham um constrangimento cada vez maior da sua potência de agir e de pensar, e tornam-se cada vez mais ignorantes dos afetos que são capazes, excedendo, muitas vezes, a capacidade de serem modificados; além disso, por viverem tristes e impotentes, estão muito vulneráveis aos afetos de ódio, ira, vingança e outras paixões nociva […].
(Amauri Ferreira — Introdução à Filosofia de Spinoza, p.82-83)


Alguns se confundem com frases do tipo 'Corpos são substâncias com propriedades e capacidades que interagem entre si'. Facilito: tudo que existe, para sobreviver, se relaciona de acordo com as condições do momento. Sentir fome e sede ou amor e ódio fazem parte da vida. O diferencial é como cada ser age ou reage, impelido por esses estímulos.

Com o esforço ao máximo no uso da capacidade de raciocinar (identificar e ordenar os elementos) e de pensar (criar estratégias) ganha-se maior autonomia, isto é, não se deixar levar pelas correntes do senso comum, evitar os assujeitamentos, superar as forças que enfraquecem a própria potência de vida.

Pode parecer banal, sem valor, mas qualquer encontro que se faz tem o poder de fortalecer ou enfraquecer, alegrar ou entristecer. A plenitude está em realizar os encontros de modo a retirar deles maior potência para a expansão de si mesmo e tornar-se feliz.

A disposição mental, psicológica e espiritual funciona como a base, o pano de fundo, para tudo que acontece no cotidiano: decidir encarar o que vier como uma forma de tornar-se mais pleno — não importa o preço exigido —, é o que permite evitar a dualidade do tipo é do bem ou é do mal.

O que isso tem a ver? Seres pensantes buscam sempre novas interações e encontros com o poder de fortalecê-los, mesmo com o que causa uma dor momentânea. E é esse tipo de entendimento que os diferem de quem vive a vida responsabilizando os acontecimentos ou culpando os outros pelo que vive ou deixa de viver.

A vida não é controlável, mas é uma escolha ou decisão individual o modo de reagir perante o que for encarado.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 28 de fevereiro de 2016.

* O conceito de expansão em Spinoza está muito ligado ao de curtir a vida. É possível lutar contra o enfraquecimento ou a tristeza. Esse é um dos maiores atos criativos da humanidade: entender e se assenhorar dos acontecimentos da vida e não se deixar subjugar nem querer julgar o que quer que seja, a não ser para acatar algo que compõe consigo mesmo e fortalece ou rejeitar algo que não compõe e enfraquece seu ser.

23 de fev. de 2016

Conquistas que evoluem

Desenvolvimento, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 23-02-2016.
Desenvolvimento, criado em 23-02-2016.

A liberdade é uma daquelas coisas sobre as quais quase todo mundo concorda. É importante, é algo bom e é um dos ideais políticos mais importantes – talvez o mais importante. A liberdade é também uma daquelas coisas sobre as quais quase todo mundo discorda. Quanta liberdade devemos ter? É preciso restrição para a liberdade florescer? Como pode a sua liberdade para fazer uma coisa entrar em acordo com a minha liberdade para fazer outra coisa?
(Ben Dupré — Liberdade positiva e negativa in 50 ideias de filosofia que você precisa conhecer, cap.44, p.180)

Antigas lendas de povos indígenas narravam que o ser humano possuía características internas de algum animal tais como força, perspicácia, sutileza, doçura, encanto, beleza e o que mais que pudesse qualificar o modo se expressavam. Incentivam seus filhos a aprender com o desenvolvimento dos animais, comparando-o com seu próprio processo, a sua evolução interior; a identificar que alguns processos eram quase imperceptíveis, outros eram drásticos — independente do tempo que levavam para se efetuar.

Cada sociedade gera formas de incentivar o indivíduo a ser um sujeito do seu processo de vida: de conceitos, afim de estabelecer caminhos de fortalecimento e desenvolvimento pessoal; aos ritos de passagem, para avaliar seus sucessos.

O diferencial entre o que ocupa o lugar de motrizes, aceleradores, redutores ou equilibradores das mudanças (psicologia, religião e convívio social, dentre outros) está no modo e nos elementos de apoio utilizados. Devem ser avaliados como inestimáveis, a menos que se tornem impeditivos à realização pessoal ou obstáculos no processo de alcançar a plenitude do ser.

Em comum nos processos de desenvolvimento: para poder evoluir, há elementos que serão deixados para trás. O apego demasiado ao ser anterior, resultado das conquistas do passado, trava a busca de novas potencialidades. Novas e melhores conquistas caracterizam um potencial ampliado.

Atualmente, para alcançar esse objetivo, acredito ser mais efetivo ensinar a questionar, a produzir críticas amplas e embasadas ao invés de adotar verdades prontas do senso comum. Certamente, isso não induz a desrespeitar tradições, mas ampliá-las em entendimento e possibilidades. Um exemplo disso é o uso sustentável das florestas, da pesca e de outras atividades artesanais bastante tradicionais. Eliminadas as práticas predatórias, indivíduo e sociedade se beneficiam.

Em uma sociedade que aposta no mercado, num desenvolvimento ilimitado é muito estranho que o desenvolvimento pessoal esteja tão desqualificado e separado da plenitude individual, que só valha para o que produz mais potencial financeiro. A aposta no PIB (Produto Interno Bruto) se perde quando pensamos na FIB (Felicidade Interna Bruta)*, um conceito que vem crescendo entre aqueles que ultrapassaram o mercado tradicional e estão criando um mundo mais saudável onde ser é mais do ter e onde um benefício para todos supera o que é para um único indivíduo.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 23 de fevereiro de 2016.

* Minha sugestão é que você acesse ao sítio Felicidade Interna Bruta, onde há uma introdução ilustrada ao conceito.

21 de fev. de 2016

Na proximidade do irrecuperável

Quase irrecuparável, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 21-02-2016.
Quase irrecuparável *, criado em 21-02-2016.

Você poderia me ensinar a voar assim?
— Claro, se você quiser aprender.
— Quero. Quando podemos começar?
— Agora mesmo, se desejar.
— Eu quero aprender a voar daquele jeito – disse Fernão, com uma estranha luz brilhando em seus olhos. — Diga o que tenho que fazer.
Chiang falou devagar, observando com bastante atenção a gaivota mais jovem.
— Para voar tão rápido como o pensamento, para ir a todos os lugares que existem — respondeu –, você tem que começar sabendo que já chegou lá…
O macete, de acordo com Chiang, consistia em Fernão deixar de se considerar preso dentro de um corpo limitado, com 1,10 metro de envergadura de asa e um desempenho que poderia ser marcado com uma carta de navegação. O macete era saber que sua verdadeira natureza vivia, tão perfeita como um número não escrito, em toda parte e ao mesmo tempo no espaço e no tempo.

(Richard Bach — Fernão Capelo Gaivota, p.56)


A inveja gera o ser que não se é — um simulacro. Provavelmente, você vivenciou em sua infância aquela tradicional dualidade entre o ser o valentão e o ser o nerd, ou outra oposição semelhante. Se você evoluiu, entendeu que ameaçar alguém não é uma questão de poder agredir, é mais relacionado a ser, ao expressar-se pleno.

Ser é mais forte e efetivo do que o desejar ser porque, quando algo torna-se inalcançável como projeto, a inveja de quem o consegue sem esforço pode tornar-se uma obsessão. Quando imaturos, dificilmente conseguimos elaborar tal fato — ainda quando as circunstâncias são desfavoráveis. Lidamos da melhor maneira possível com o que nos foge ao controle, encaramos o que nos é possível no momento.

A natureza estabelece geneticamente duas respostas em cada corpo: ataque ou fuga. Não houve nenhuma derivação até que o ser humano ultrapassou a barreira do natural, estabelecendo uma nova marco, o da estratégia. Diferentemente dos animais predadores, que dominam a rotina de suas presas, somos capazes de constituir práticas, instantaneamente, baseados apenas no acúmulo de informações, mesmo que não repetitivas. Isso nos tornou os seres mais perigosos da face da terra.

Fomos além. Enquanto animais atingem apenas o físico, podemos destruir o que habita o interior do outro, mesmo de quem é fisicamente mais forte. Inventamos o sarcasmo, as humilhações e ultrapassamos as agressões. O uso da espionagem e da trapaça nos constituiu como seres que, quando não obtém algo pelas próprias capacidades, impedem que o outro o alcancem. Sorrindo para eles.

Um novo patamar de avaliações se estabeleceu e nos levou a julgar o caráter dos outros baseados no de origem: todos são capazes de oferecer seu pior aos outros. Após a transposição dessa linha divisória, o sagrado que havia na honra, na palavra e na promessa foi transgredido, destituído de sua capacidade de valor em si.

Depois nos tornamos simulacros, simuladores de humanos, seres cuja essência se reformula somente por interesses. Praticamente destituídos da humanidade, tentamos reencontrar um retorno, um modo de restaurar a potência do ser pleno. Ainda bem, a plenitude é algo sempre em construção, não algo pronto e acabado a ser comprado em antiquários. Exige um preço. E este é a reconstrução dos valores em si. Isso não significa restaurar os antigos — foram eles que nos enganaram e nos elevaram a esse patamar de coisas —, mas restaurar a potência de ser feliz com o que se é e não com o que o outro define ser o bom ou o melhor para nós mesmos. Mais. Entender que o diferente o é em si. E deve continuar a sê-lo.

Estabelecer como uma luta válida e agradável ajudar a construir a plenitude do outro é o novo desafio que precisamos encarar. Talvez assim, consigamos gerar aliados fortes o suficiente para nos auxiliarem em nossa própria tarefa de ser o melhor que podemos. Seres plenos e felizes podem tornar o mundo muito melhor que seres dominados, constrangidos, destituídos de sua potência como ser. Só não entende isso quem se perdeu de forma muito próxima do irrecuperável.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 21 de fevereiro de 2016.

* Algumas pessoas abrem mão da admiração — um elemento que nos promove a vontade de de mirar num possível melhor e na possibilidade de ultrapassamento —, tomados pela inveja, sentimento que leva a querer destruir o elemento que lhe causa um sentimento de inferioridade. Um leva a uma rota de experimentações próprias e descobertas; o outro, a um abismo dentro de si, que atua como prisão e apaga a visão do que e de quem se é. Não se vai de um a outro repentinamente. No caso da inveja, é mais como um deslizar, só que em ladeira abaixo, até um ponto onde não parece mais haver retorno.

20 de fev. de 2016

Dicionarizando o relacionamento

Dicionarizando, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 20-02-2016.
Dicionarizando*, criado em 20-02-2016.

Disseste uma coisa bonita, Adso, agradeço-te. A ordem que nossa mente imagina é como uma rede, ou uma escada, que se constrói para alcançar algo. Mas depois deve-se jogar a escada, porque se descobre que, mesmo servindo, era privada de sentido.
(Umberto Eco — O nome da Rosa, p.553)


É de uso corrente, que uma corrente pode prender alguém, até mesmo uma corrente elétrica. Difere da água corrente que expressa liberdade e fluidez. Lembra-se da infância, quando mandavam vestir a camisa por causa da corrente de vento que resfriava?

A palavra — corrente, no parágrafo anterior — ganha sentidos diversos de acordo com o contexto em que for usada. Essa multiplicidade de sentidos é essencial à arte, à música, à poesia. À vida. Dar sentido a algo que foi dito pode ser uma tarefa extremamente difícil, mas é um desafio à altura dos que não aceitam a limitação.

Esse entendimento deveria embasar os encontros visando a construção de relacionamentos. Ao mesmo tempo em que é fundamental haver diálogo e exercer críticas construtivas, é preciso ter um instrumento para evitar interferências indevidas e o desrespeito ao outro. Falas invasivas e desqualificadoras produzem a desconstrução de um relacionamento.

É preciso esclarecer ou dar novos sentidos às falas, formas, aos gestos e às práticas, ressignificando-os e ampliando o dicionário particular de cada um para torná-lo coletivo. Chamo isso de dicionário relacional.

Certamente, no início poderá haver um certo engessamento. Há momentos em que o signo precisa ter apenas um significado. Combinar o que significará determinado vocábulo ou expressão vai retirá-la do mal dito, do mal entendido, do confuso. Mas entenda bem, isto é algo a ser feito em comum acordo.

Primeiro, e mais importante, é preciso determinar uma expressão ou palavra que faz tudo parar, congela o mundo. Ela será usada nos casos onde, mesmo não havendo a intenção, alguém se sentir agredido. Forçar o diálogo levará ao ponto em que só o ódio fluirá. Melhor afastar-se, dar um tempo, deixar esfriar.

Coisas ou situações que por um instante parecem valer muito, após alguns instantes perdem a sua importância. Outras sem importância, quando cultivadas ou expressas na mágoa ou no ódio, tornam-se suficientes para destruir vidas. Portanto, inicie esclarecendo o que causou o mal estar, só depois retorne ao diálogo. Avançar nesse processo é fazer o encontro ser pleno e íntegro, um exemplo de superação a ser recordado durante toda a vida.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 20 de fevereiro de 2016.

* Notas

19 de fev. de 2016

Relacionamentos assombrosos

Assombração, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 30-10-2015.
Assombração, criado em 30-10-2015.

Imbuia-se daquela visão. Imaginava-se a si próprio a jazer assim, igualmente exangue, igualmente extinto, e ao mesmo tempo lhe voltavam à memória os dois rostos, o seu e o dela, ambos jovens, de lábios rubros, de olhos ardorosos. Inteiramente o penetrava a sensação do presente e da simultaneidade, a sensação da eternidade. Nessa hora, Sidarta percebeu claramente, com maior nitidez do que nunca, que toda a vida é indestrutível e cada instante, eterno.
(Hermann Hesse — Sidarta, p. 98 )


Nossa percepção é formada inicialmente pelos estímulos captados pelos sentidos que ficam gravados interiormente. Não como uma uma reprodução simples como fotocópia, carimbo, gravura ou fotografia do elemento estimulador. O que assimilamos é o efeito do estímulo externo e do que ocorre dentro de nós naquele instante. Eles se combinam para gravar uma imagem daquele acontecimento. Cada momento é único, isso gera a singularidade, isto é, cada indivíduo expande diferenciadamente a sua genética.

A capacidade de relacionar essas imagens internas — imaginação ou memórias — é o que permite a construção da razão e da emoção*. Um processo que se repete dentro de nós a vida toda ao tocar, saborear, ouvir, cheirar e ver mas, especialmente, nos primeiros anos de vida. Assim é construído o núcleo do que definimos como eu.

Apesar da razão e emoção serem frutos da organização daquilo que foi absorvido, passamos a acreditar que são absolutamente verdadeiras. Não o são. São apenas fantasmas (como as imagens projetadas nas telas de cinema ou da televisão) e, como tal, mesmo sendo capazes de restituir em parte, não podem reconstruir a totalidade, o original. É, portanto, uma visão pessoal e tendenciosa.

Agora que você sabe isso, entenda que quando nos apaixonamos por alguém, esquecemos que foram as imagens formadas pelos contatos que estabelecemos com esta pessoa que nos tornaram seres apaixonados e que há um grande abismo entre o ser da imaginação e o real.

Nada impede, porém, de tentar usar o convívio para construir uma imagem mais acurada, mesmo que parcial e momentânea (seres saudáveis transformam-se diariamente, não se esqueça!). É um desafio que exige uma vontade soberana de ampliar a percepção do outro dentro de si. Ao encarar esse desafio, é possível a constituição de relacionamentos mais propensos a serem prazerosos e duradouros. Sem sombra de dúvidas, muito diferente da constituição de um contrato de relacionamento duradouro ou eterno que acaba virando uma história de fantasma e de assombração, até a morte.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 18 de fevereiro de 2016.

* Emoções sinalizam de forma potente e rápida os acontecimentos, permitindo a reação ao ambiente. Por outro lado, comunicam (in)voluntariamente o que se passa internamente. São, por assim dizer, as formas de se mover ou agir diante da realidade.

18 de fev. de 2016

Embalagens deslumbrantes

Embalagens deslumbrantes, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 21-01-2016.
Embalagens deslumbrantes, criado em 21-01-2016.

As pessoas tendem a ajudar membros do próprio grupo social. Assim, somos mais propensos a ajudar pessoas visivelmente pertencentes do mesmo grupo étnico, religioso, linguístico e demográfico do que a ajudar um membro de outro grupo. Estudos interculturais tendem a mostrar que pessoas de culturas coletivistas tendem a ajudar mais que pessoas de culturas individualistas. Outra constatação refere-se à palavra em espanhol simpatico, que significa "amigável", "prestimoso", "educado". Alguns estudos demonstram que as pessoas de países falantes do espanhol e de países latino-americanos demonstram o nível mais elevado de altruísmo.
(Adrian Furnham — Abnegação ou egoísmo in 50 ideias de psicologia que você precisa conhecer, cap.26, p.109)


É imprescindível tornar a própria vida algo valioso, não por reflexo biológico de autodefesa mas por um profundo sentimento de respeito por esta tão incrível jornada a que somos desafiados a encarar.

Permita-me afirmar: variamos em todos os aspectos, portanto, concordância não será o mais forte elemento a que devemos nos apegar. No entanto, a construção de acordos nos mais ínfimos detalhes da vida pode nos estender a capacidade de conectar e realizar trocas realmente potencializadoras com tudo ao nosso redor.

Dos grandes desafios, ultrapassar o egoísmo barato — aquela opção por destruir tudo para que só reste uma única opção: você! —, torna-se algo mais que desejável, fundamentalmente necessário. É que podemos construir vínculos, deles extrair força nos momentos de maior debilidade, neles constituir um terreno de autoaprendizado e desenvolvimento mútuo.

O campo dos encontros deveria merecer uma atenção extraordinária de nossa parte, mas nos perdemos nos detalhes e não no seu fundamento: nas trocas realizadas encontramos o alimento para corpo, alma e espírito. Focar criticamente a qualidade do que absorvemos, nos capacitará a rejeitar aquilo que nos prejudica, mesmo que venha em embalagens deslumbrantes.

Adquira o sentido de que nem tudo o que dói machuca: atritos refinam, impactos fortalecem, críticas são aliadas de quem deseja evoluir, o desgaste corporal de alguns momentos promove o fortalecimento de toda a estrutura, o vazio e a falta de visão ou perspectiva, abrem espaço para a inspiração, a reflexão e a meditação abrem as portas a um novo nível de espiritualidade.

Para além desses despóticos ou doentios* seres que a rotina, a mesmice, a paralisia, o dinheiro e tantas outras coisas mais tentam nos transformar, podemos emergir e aspirar um novo e revigorante ar limpo — basta nos rodearmos do essencial à vida: o amor.

Não é demais repetir. Inicie consigo mesmo, compartilhe com os mais próximos. Desse aprendizado, expanda ao máximo essa potencialidade de reunir, unir e de tornar-se espetacularmente mais do que um sobrevivente na vida. Senhor de si, do seu caminho e participante consciente, invista em sua interferência positiva no mundo — afinal, é o único que você tem, e quanto melhor ele for melhor para você mesmo.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 18 de fevereiro de 2016.

* Ausência de empatia Os psicopatas têm inevitavelmente relações problemáticas. Parecem incapazes de amar ou desenvolver amizades profundas por uma série de razões. Manifestam uma ausência quase completa de empatia, gratidão e altruísmo. São egoístas, sem qualquer senso de abnegação. E, o mais importante, parecem não compreender as emoções alheias. Mostram-se absolutamente ingratos pela ajuda e pelo carinho recebido dos outros. Os outros são vistos como uma fonte de lucro e prazer, e os psicopatas não se importam em lhes causar desconforto, decepção ou dor. As necessidades alheias são triviais demais para eles.
(Adrian Furnham — Lobo em pele de cordeiro in 50 ideias de psicologia que você precisa conhecer, cap.6, p.30)

13 de fev. de 2016

Assujeitar-se é opção

Sujeito, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 13-02-2016.
Sujeito*, criado em 13-02-2016.

Só a leve esperança, em toda a vida, disfarça a pena de viver, mais nada,
nem é mais a existência, resumida, que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada, sonho que a traz ansiosa e embevecida,
é uma hora feliz, sempre adiada e que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos, árvore milagrosa que sonhamos toda arreada de dourados pomos existe, sim:
mas nós não a alcançamos, porque está sempre apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos.

(Vicente de Carvalho — Velho tema)


Na possibilidade de gerar futuros existe planos, estratégias, inércia. Esta última a mais comum, muito bem expressa com o "Deixa a vida me levar. Vida, leva eu…".

Nos dois outros casos, o envolvimento consigo em busca de esclarecer para si mesmo o desejável e o necessário faz-se obrigatório.

Alvos ou metas amplas para a vida precisam estar relacionados ao que torna alguém pleno, não a aparências — estas sempre serão impostas de fora.

Mesmo sendo complexo, aprenda a diferenciar assujeitar-se de ser o sujeito do próprio caminho. A partir daí, a luta tem motivação, forma, direção, sentido. Mais. A Alegria.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 13 de fevereiro de 2016.

* Quando nossa razão se torna capaz de ser vivida por nós afetivamente, isto é, quando experimentamos que conhecer é mais forte do que ignorar e que o conhecimento é a força própria de nossa alma, nossa atividade racional se torna alegria.
Ora, a atividade racional não depende de causas externas, mas exclusivamente da força interna de nossa razão. Assim, uma razão forte é alegre e uma razão alegre é forte: com ela se inicia a passagem afetiva e cognitiva que nos leva da paixão à ação, da servidão à virtude.
Em outros termos, passamos da paixão à ação, da servidão à liberdade transformando as paixões alegres e as desejantes nascidas da alegria em atividades de que somos a causa. A virtude é a força para ser e agir com liberdade.
(Marilena Chauí, A filosofia Moral in introdução à filosofia, pag.277)

12 de fev. de 2016

Vazios configuráveis

Vazios configuráveis, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 12-02-2016.
Vazios configuráveis, criado em 12-02-2016.

Os psicólogos reconhecem que os custos irrecuperáveis (*) podem afetar as decisões devido à aversão à perda. O preço pago no passado acaba sendo visto como uma referência para o valor presente e futuro, embora o preço pago seja e deva ser irrelevante. Desse modo, esse seria um comportamento não racional. As pessoas ficam presas ao passado, tentando compensar decisões ruins e recuperar as perdas.
Estudo clássico avaliou apostadores e patrocinadores de cavalos, antes e depois da aposta realizada. A hipótese dos pesquisadores se confirmou: depois de comprometer $US2, as pessoas ficavam mais confiantes de que a aposta se pagaria.

(Adrian Furnham — Quando você já investiu demais para desistir, p. 126, OBS: o último parágrafo foi resumido)


Muitas pessoas com relacionamento estável desconfiam de novas configurações na vida. Evitam tentar o diferenciado, o inusitado. Quem sabe, por trás disso, uma crença no encaixe perfeito, no quadro acabado, um quebra-cabeça completado, metades complementares.

Atritos à parte — necessários porque sem eles as arestas insignificantes machucam profundamente —, desencontros são a sinalização de que os participantes do encontro se reconfiguraram, pois assimilaram das experiências o aprendizado necessário para seu desenvolvimento pessoal.

Ensinados a temer as incompletudes, nos incomodamos ao ver os espaços vazios. Ilógico, pois é algo que deveríamos buscar, já que permitem a mobilidade e a transformação: ventilação que impede a asfixia. O espaço dos encontros que estabelecemos espelham nosso desenvolvimento pessoal e permitem um vislumbre de quem o outro está se tornando.

A proposta (não uma regra!) é a compatibilização dos pontos de conexão ativos e fugir à adaptação.

Entenda a variação dos pontos ativados como alterações provocadas pela aleatoriedade da vida: o tipo de humor diário, o nível de energização, a capacidade de lidar com os elementos mais distanciados do ponto de encontro, mas capazes de gerar uma influência na composição.

Alguns encontros, inicialmente potencializadores, podem tornar-se tóxicos quando as dosagens de presença das partes se altera em níveis muito dessincronizados. Momento de refletir, avaliar o potencial e o modo de inclusão ou permanência nele — amizades eternas se formam de paixões, especialmente na velhice.

Somos indivíduos que devem absolutamente iniciar em si os construtos para seu aperfeiçoamento, de modo a poder refleti-lo nos encontros. Se isso não é feito, o encontro não mais tem efetividade, é apenas decorativo (da ordem das aparências) e intoxicante. Não tenha dúvida: isso cobra um preço muito caro.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 12 de fevereiro de 2016.

* O desenvolvimento do avião supersônico Concorde, entre 1950 e 1960, demonstrou em determinado momento sua insustentabilidade econômica. O projeto da francesa Aerospatiale e da britânica BAC colocou em operação apenas 14 unidades, mas o 'boom sônico' (rompimento da barreira do som) levou à proibição mundial de voos supersônicos sobre continentes.
Apesar do fracasso, o erro nunca foi admitido pelo governo britânico, que sustentou um desastre econômico visando manter a realidade política. Uma péssima decisão baseada no poder das aparências: o Efeito Concorde.