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15 de nov. de 2014

Rotear o percurso

Roteando criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 15-11-2014
Roteando, criado em 15-11-2014.

Mas cada homem não é apenas ele mesmo; é também um ponto único, singularíssimo, sempre importante e peculiar, no qual os fenômenos do mundo se cruzam daquela forma uma só vez e nunca mais. Assim, a história de cada homem é essencial, eterna e divina, e cada homem, ao viver em alguma parte e cumprir os ditames da Natureza, é algo maravilhoso e digno de toda a atenção. Em cada um dos seres humanos o espírito adquiriu forma, em cada um deles a criatura padece, em cada qual é crucificado um Redentor.
Poucos são hoje os que sabem o que seja um homem. Muitos o sentem e, por senti-lo, morrem mais aliviados, como eu próprio, se conseguir terminar este relato.
Não creio ser um homem que saiba. Tenho sido sempre um homem que busca, mas já agora não busco mais nas estrelas e nos livros: começo a ouvir os ensinamentos que meu sangue murmura em mim. Não é agradável a minha história, não é suave e harmoniosa como as histórias inventadas; sabe a insensatez e a confusão, a loucura e o sonho, como a vida de todos os homens que já não querem mais mentir a si mesmos.
A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo, a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro.

(Herman Hesse — Damien, p.7-8.)


É impressionante como adicionamos novos processos às práticas cotidianas, absorvendo-os sem a mínima condição de avaliar os prós e contras, por conta da rapidez com que eles surgem. De repente, estamos usando instrumentos de interligação mundial que emitem ondas em faixas de frequências cada vez mais abarrotadas e sob o controle de um grupo cada vez menor.

A cautela se perde diante das facilidades oferecidas, a tal ponto, que nem os alertas das experiências anteriores, indicando a probabilidade de diversos cânceres, conseguem ser ouvidos de modo a forçar um tempo maior para pesquisas de avaliação das consequências.

Pudera, estamos estupefatos com o poderio oferecido pelas novas formas de telefonia, sinais digitais de rádio e tvs, e agora os techwear, os gadgets considerados 'vestíveis', como os óculos, os relógios e o tênis com capacidade de computação e conexão, antes, nem possíveis aos desktops.

O conceito de integrados é literal: eles conversam entre si. Os tênis sinalizam para o relógio que controla meus batimentos cardíacos, este avalia velocidade e gastos calóricos, mede a eficiência dos meus exercícios e envia um relatório ao meu espertofone* que contabiliza e mostra em gráficos minha evolução. Minha tv fala com minha câmera fotográfica, com meu celular, com o home theater, com o HD externo, usando sinais de wi-fi ou de bluetooth. Tudo o que estiver na internet é acessível.

Não, eu não acredito que seja possível fugir às mudanças, mesmo a educação já tem transformações preparadas para integrá-las. Do ensino básico ao superior, novos instrumentos que mais parecem jogos de simulação, se efetivam para facilitar operações de níveis muito complexos: os aprendizados de controle de tráfego, de pilotagem aérea, terrestre ou marítima; de cirurgias a distância ou de integração de plataformas de colaboração em pesquisas.

Na contramão dessa maximização da conexão, afastamo-nos uns dos outros (se das relações mais antigas, o que se dirá das novas!). Nossas crianças já apresentam sinais de curvaturas na altura do pescoço, ao ponto de, em breve, disfunções graves serão preocupação familiar, tais como foram as síndromes de tendinites como a Ler e a Dort**.

Não é algo inescapável de críticas, de transformações, desde que direcionemos os questionamentos e as aplicações. O cuidado em função do ensino do equilíbrio no uso de tais instrumentos precisa ocupar a Ordem do Dia — para usar a expressão militar que foi apropriada pelos civis — de modo a garantir qualidade de vida (dito ser o objetivo deles, por aqueles que o produzem).

Que a humanidade mude suas práticas e seus métodos e instrumentos, isso a história já nos ensina. Porém, o simples abandono de antigos valores não é garantia da geração de novos qualitativamente valorizáveis. Todo momento é de transição e exige nossa atenção. Somos responsáveis por estarmos produzindo o futuro e devemos ser críticos mais do apressados em adotar mudanças.
Wellington de Oliveira Teixeira, em 15 de novembro de 2014.

* Da palavra Smartphone. Esperto é o indivíduo astuto e malicioso: O mundo é dos espertos e Não quero espertalhão como sócio, exemplificam.
Experto é a forma nacional para o expert, o perito, o especialista ou a pessoa ilustre em determinada área do conhecimento: Procure ouvir a opinião de algum experto e Somente um experto distingue um quadro falso de um verdadeiro.

** Exemplos de síndrome dos movimentos repetitivos: L.E.R. (Lesões por Esforço Repetitivo), D.O.R.T. (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho), L.T.C. (Lesão por Trauma Cumulativo), A.M.E.R.T. (Afecções Musculares Relacionadas ao Trabalho).

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