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5 de mar. de 2012

Reconstruindo percepções


Língua de águas, criado em em 16/01/2008


Caro Amigo*,

Nesse período de tempo de nosso convívio, aconteceu de haver continuidade de pensamentos e sentimentos. E tentei produzir, desse novo momento, o jogo de palavras que pudessem expressar o que aconteceu entre nós.

Palavras são apenas instrumentos. Nós fazemos uso, e devemos cuidar delas, principalmente por que são um excelente meio de construção de si mesmo – o que projeto, mesmo que parcialmente, me representa de modo que me espelho e nos vejo.

Caminhos se produzem e são produzidos em si mesmos.

Cai na PAz!


Está chovendo. Gotas mais que gostosas de uma cachoeira sobre um corpo que, apesar de antes não se deixar umedecer e refrescar-se por medo da força da queda d'água, ousou tentar.

Uma, duas, três vezes e percebeu que era mais o frio posterior do que o toque da água que provocava aquela sensação de ter que sair logo. Num outro momento se assustou e se afastou: descobriu que a água pode ser rasa e frágil ou caudalosa e destruidora.

E, agora o tempo passado, retornou o desejo de tentar, experimentar aquela incrível sensação do novo, do refrigério da alma, do sentir-se amado e tocado pela fluidez — mágica é a palavra para descrevê-la.

E veio, vindo aos poucos, ao encontro do reencontro consigo. Como seria? Como reagiria? O que permitiria? O que ousaria?

E aconteceu que a água não estava mais caudalosa: corria e caia com suavidade e não era invasiva.

Os poucos toques só trouxeram paz e a capacidade para saber que a força voltara a fluir: o magnetismo entrou em ação para vir trazendo do universo as pequenas peças de encaixe que recomeçaram a completar o grande quebra-cabeça do primeiro encontro.

Os antigos pontos de afluência se ativaram, os pontos de aglutinação se reacenderam trazendo consigo percepções bem leves e estruturando um novo campo de forças - e um pouco da antiga temerosidade pelos rumos dos acontecimentos.

Mas a água trouxe o relaxamento, a paz, e seguiu acessível sem deixar de seguir seu caminho. Mais que isso, a certeza de que era hora de mergulhar, sentir-se imerso em sua imensidão e aprender com seu mundo de transformações constantes.

Uma sombra de dúvida pairou ainda: há o preparo para sentir-se absorvido, entrar e deixar-se levar, para reinventar o modo de ser? É possível equilibrar dois modos de vida tão diferentes, sem se perder?

A lua cheia do alto do centro do planeta emitia um halo de luz ao seu redor e a pequena garoa que caía só fez realçar a beleza de sua aparição: equilíbrio no céu e, na terra, um sorriso teimava aparecer por causa da imensa paz no ser.

E eu sussurrei no seu ouvido palavras de amizade e amor e depois foi sua vez de ligar para eu saber que você fora capaz de ouvir, mesmo sem saber o quê.

Dormi e acordei pleno de vida.


Wellington de Oliveira Teixeira, em 15 de abril de 2006.

* Para Cµssa e Zé Henrique que me ensinaram um pouco mais da minha própria vida