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29 de jul. de 2013

A vida é como uma casa.

Reconstrução, criado por Wellington de Oliveira Teixeira, em 28/07/2013
Reconstrução, criado em 28/07/2013.

Não brinco, não. Digo apenas o que percebi. O conhecimento pode ser transmitido, mas nunca a sabedoria.
Podemos achá-la; podemos vivê-la; podemos consentir em que ela nos norteie; podemos fazer milagres através dela.
Mas não é dado pronunciá-la e ensiná-la. Esse fato, já o vislumbrei, às vezes, na juventude.
Foi ele que me afastou dos mestres.
(Sidarta - Hermann Hesse, p.118)

Não sei explicar bem. É como se pudesse sentir antecipadamente algo do meu futuro. Fluxos de emoções que tomam corpo e caem como gotas dos meus olhos. Ambíguas, como um quê de tristeza que penetra um momento bom, daqueles que podemos ter após aprendermos uma lição importante e deixarmos para trás um ciclo da nossa vida.

É como quando se consegue ultrapassar um limite, por ter tido a coragem de encarar o desafio, como quando vencemos a covardia que era uma companheira inseparável e nos permitimos lutar, apanhar mas não abrir mão.

Quase como em meio ao deserto, quando já muito sofrido, marcado pelo sol, perdendo as esperanças, surpreender-se ao descobrir que o oásis não era uma ilusão de óptica, mas um lugar para se permitir um pouco de repouso.

Gosto de obras. Pequenas construções e transformações no ambiente em que vivo. Talvez, um pedaço do meu pai que ficou em seus filhos. Aconteceu, esses dias, de ir às compras para o que anualmente me proponho: produzir a chance de renovar meus sentimentos, a forma de olhar e vivenciar o apartamento onde moro.

Dá trabalho, é cansativo, produz irritações, mas, conforme vai aparecendo o resultado o ânimo é refeito e se mantém por um bom período. O olhar ganha aquele brilho especial ao ver o que se renovou.

No hoje, maçanetas novas, estantes para a área de serviço, estruturas metálicas para equipamentos da cozinha... que vão se multiplicando com os sonhos, da mesma forma como foram a (re)pintura dos cômodos, a remodelação dos móveis anteriores - que desmontados deram origem a outros diferenciados e com nova e expressiva camada exterior.

E, num instante para o descanso, quando se para e olha para o que se fez, um sorriso se esboça, um brilho volta ao olhar e mais uma vez a energia recarrega o corpo e a alma porque é hora de aproveitar os frutos do que se plantou.

É isso. Algo simples e corriqueiro, um fugaz momento que se perpetua na alma.

Hoje re[...]assisti ao filme Tempo de Recomeçar. Como sempre, foi o suficiente para eu entender que a minha construção tem duração, mas o que dela for gerado pode ganhar a eternidade.

Sem nem mesmo sonhar com tanto, me satisfaço por me permitir entrever marcas de um possível futuro onde, diante de uma nova etapa de construções, eu possa afirmar a vida e o que ela tem de bom.

A vida é como uma casa*.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 28 de julho de 2013.

* Life as a House (2001 - no Brasil, Tempo de Recomeçar). George Monroe (Kevin Kline) é um arquiteto de meia idade com uma vida amarga que descobre-se repentinamente com câncer incurável. Decide-se por destruir a casa que o pai lhe deixou e construir uma casa para seu filho Sam (Hayden Christensen), problemático, rebelde, usuário de drogas. Aos poucos a construção proporciona a reaproximação com o filho, as pazes com Robin (Kristin Scott Thomas), sua ex-esposa e com vizinhos.

** Dedico esta postagem para a minha mãe Marilda de Oliveira Teixeira e para a Dayla Maria Perrier de Faria Valentim, aniversariantes desse mês de agosto.

15 de jul. de 2013

Nosso interno-ambiente


Conhecimentos, fotografia base: desenho no banheiro do ICHF.*

"Pois então" — pensou —, "já que todas aquelas coisas passageiras me escorregaram por entre as mãos, acho-me novamente sob o sol, sozinho, como nos dias de infância. Nada possuo, nada sei fazer, nada posso realizar, nada aprendi. Não é mesmo estranho? Agora, que já não sou nenhum jovem, que meus cabelos já ficaram grisalhos, que minhas forças diminuem, volto à estaca zero, lá onde estive em criança!" Mais uma vez, esboçou um sorriso. Sim, seu destino era deveras singular. Ele ia abaixo e novamente se encontrava nessa terra totalmente vazio, tolo, desamparado. Mesmo assim, sentia-se incapaz de afligir-se por isso. Antes, pelo contrário, tinha vontade de dar uma gargalhada, de rir-se de si, de zombar desse mundo esquisito, estúpido.
(Sidarta - Herman Hesse, p.81-82)


A novidade é a coisa mais antiga no mundo.

Está na moda o conceito de inovação. Ele carrega em si a ideia de criar algo novo, diferenciado, transformador, ruptor de uma sequência ou de um modo de ser, estar ou desenvolver.

Empresas procuram a preço de outro pessoas com o talento de produzir o inesperado e, para isso, vão buscar em locais ou práticas mais inusitados. Vou propor apenas um exemplo: músicos para empresas de tecnologia. Você deve saber que a Lady Gaga é a nova diretora de criação da Polaroid e que o William Adams, mais conhecido como Will.i.am (do grupo Black Eyed Peas), vai colaborar no desenvolvimento de novas tecnologias da Intel.

Algo estranho, que percebo por trás desse movimento de transformação, é a produção da insaciável sede consumista: o capitalismo vendendo que velho é ruim, novo é bom. Quer saber, o pior é que acreditamos nisso: dizemos que um celular ou laptop de 2 ou 3 anos atrás é uma porcaria.

Na contramão disso, o espanhol Benito Muros está sendo ameaçado de morte por causa de sua criação: uma lâmpada que dura no mínimo 25 anos - que tem por base uma que existe em um parque de bombeiros de Livermore (Califórnia), acesa há mais de 111 anos.

Poucos, talvez, conheçam o conceito, mas a Obsolescência Programada é um acordo de muitos fabricantes para desenvolverem produtos de curta durabilidade de modo a obrigar-nos a adquirir novos produtos que seriam desnecessários se produzidos como antigamente. Você pensa: até aí, tudo bem, tem sempre novidade no pedaço. Mas esquece de que o seu inconsciente absorve, também, esse conceito para as outras áreas de sua vida, inclusive a afetiva.

Apresento de forma não-moralista a questão dos relacionamentos: vejo, a todo momento, imagens e frases nas postagens de redes sociais, nos diálogos ao vivo, que há o desejo de encontrar alguém para amar, para construir um vínculo e (para alguns) constituir uma família e viver uma experiência até a morte como em UP Altas Aventuras. Na prática, apresentamos imagens dos pequenos vôos das baladas, dos encontros fortuitos em finais de semana, dos namoros que duram até a primeira briga e o status do face serem alterados. Essa incoerência surge de onde?

A questão do novo que os negociantes expõe exaustivamente em seus comerciais é a coisa mais velha que o mundo já produziu e se chama transformação: nada se perde, tudo se transforma.

Assim, o inverno dá lugar à primavera, o frio ao calor, a cobra troca a pele e você suas células mortas, as unhas, cabelos... Isso se chama renovação.

Mas a natureza ensina que não é necessário desqualificar o antigo: ele é a estrutura eficaz que permite as mudanças. É na harmonização entre o antes e o depois que se estrutura um presente.

Algumas pessoas optam pelo caminho do monge e se retiram da agitação para meditar. Querem, com isso, não impedir o novo, a novidade de vida, mas melhorar a base deste processo abrindo mão do desnecessário. Isso se chama purificação.

Como eu disse, meu objetivo não é moralização de uma forma de ser social, mas propor uma avaliação dela. A sua própria avaliação. A experiência e a observação ensinam que só precisamos ter elementos que nos ativem a capacidade de pensar, o resto somos nós que fazemos, inclusive trilhar um outro caminho.

Por falar nisso, os antigos chamavam isso de metanóia ou mudança de mente que determinava um novo rumo para a vida.

Viu?, antigos tem muito para a ensinar-aprender com os novos. Essa é a proposição simples e diária da natureza: a busca do equilíbrio.

A palavra que eu queria dizer, que só agora me tomou é transitoriedade. Exatamente o que acontece com tudo. É o Iazul! (Tudo passa!) da história de Malba Tahan**.

Existe algo na ordem do necessário que determina que parte do antigo permaneça no novo e a essa forma de permanência nós humanos aprendemos a denominar de eu. Hora de melhorarmos nosso interno-ambiente.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 15 de julho de 2013.

* Me encanto com a gurizada do ICHF - Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da UFF. Essa é uma amostra do que eles produzem por lá e nos incentiva a reavaliar toda a estrutura de conhecimento.

** "Quando o homem atravessa período de felicidade, de alegria, de sorte e tranquilidade, deve pensar no futuro e ser comedido em suas expansões, sóbrio em suas atividades.
Convém que o afortunado não esqueça: IAZUL (isso passa). A roda do destino é incerta. A vida é cheia de mudanças.
Há ocasiões, porém, em que nos sentimos tristes, enfermos, feridos sentimentalmente, caminhando sob nuvens de infortúnios.
Para que o ânimo volte ao nosso espírito, proferimos cheios de fé, fortalecidos de esperança: I A Z U L! Isso passa. Sim, tudo passa.
Virão dias melhores, dias calmos e felizes. A prosperidade e a boa sorte voltarão a iluminar a nossa jornada. A saúde será reconquistada. E a serenidade procurará pouso em nosso coração."

8 de jul. de 2013

Por um acaso

Acaso, criado por Wellington de Oliveira Teixeira, em 08/07/2013
Acaso**, criado em 08/07/2013.

Eu
quando olhos nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura
um olhar que demora

de dentro do meu centro
este poema me olha
Paulo Leminski (1944 – 1989)


Me permitam apresentar uma questão que me incomodava há muito anos: o chamado acaso e sua relação com Deus.

Negado ou afirmado, sempre com grande ênfase, evitado ou escamoteado com o uso de outras palavras, o acaso me parece tão importante quanto o conceito de necessidade - já que ambos permitem o conceito de evolução.

O acaso é aquele elemento de aleatoriedade infinita - em escala humana - que permite um viés mais simples para equacionar livre arbítrio e vontade divina.

Pois bem, esse modo de encarar o acaso permite sugerir que havendo uma voluntariedade ou desejo produz-se uma atração no campo das possibilidades propiciando encontros que permitem a assimilação de novos elementos.

Assim, para mim, o acaso é um dos maiores presentes de Deus para a humanidade, pois permite que as transformações e aperfeiçoamentos ocorram sem nenhum predeterminismo.

Se nossos encontros acontecem numa intervenção deste acaso, nossos relacionamentos também estão marcados por sua ação, mas sempre a partir de nossa vontade. Ao se entrar em um relacionamento afetivo que ganha prioridade emocional, como na amizade e no amor, as interações tornam-se muito mais poderosas produzindo, a partir das micro transformações no contato, mudanças no indivíduo como um ser. Essas relações são mais prazeirosas e marcantes e, portanto, as mais buscadas.

Essas relações profícuas, as infinitas pequenas assimilações e variações que permitem, os milhões de pequenos aperfeiçoamentos no indivíduo que vão transformando-o (não se esqueçam que tudo iniciou a partir da expressão de sua vontade) produzem o que aprendi a denominar de plenitude como ser - um estado de realização físico-psíquico-espiritual.

Meu entendimento - com base em conceitos filosóficos-cristãos - é de que a vontade de Deus para a humanidade se constituiu, de forma clara, com a identificação dela com Ele na manifestação do amor. Penso isso porque é no amor que, ao objetivar a felicidade de outrem, cedemos parte de nós mesmos. E, um paradoxo humano, esse me parece ser o único caso que ao se dar não se perde nada, ao contrário, a felicidade e a realização torna-se plena: portanto, agindo assim, o ser humano se torna mais identificado com Deus. "E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele" (1 João 4:16-17).

Penso - a partir dos pressupostos de minha fé - que podemos alcançar a vontade de Deus sem nenhuma imposição, por meio desse instrumento maravilhoso que é o acaso. Com ele, é possível crer que, ao manifestar o seu amor a partir da nossa origem, por meio do acaso ele nos dotou dos elementos de aglutinação que permitem refletirmos em nossa existência a sua própria essência: a procura do amor, a incorporação do amor, a manifestação do amor e a transmissão do amor. Quem sabe?, talvez o mais importante ciclo reprodutivo que a humanidade já percebeu ser capaz.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 08 de julho de 2013.

* Era para ser apenas uma anotação no facebook, mas tomou vida própria.

** Acaso (do latim a casu, sem causa) é algo sem motivo ou explicação aparente. Há, pelo menos, três sentidos diferentes, dependendo do sentido dado à palavra causa:
Algo que acontece sem finalidade ou sem objetivo, isto é, algo sem causa final. Oposto, filosoficamente, à teleologia.
Algo que ocorre independente de um determinado precedente, um efeito não predisposto. Oposto, filosoficamente, ao pré-determinismo.
Algo não-explicável por suas (cor)relações (simultânea ou precedente), portanto sem qualquer determinação. Oposto, filosoficamente, ao determinismo.
Definições feitas com base na wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Acaso