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30 de nov. de 2014

Tecelão de si mesmo

Tapeçaria criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 30-11-2014
Tapeçaria, criado em em 30-11-2014.

E o tempo, assim, se torna contrário e começa a desfazer a tapeçaria que estava já chegando a sua conclusão, e impede a visão do processo como um todo.
Só se vêem linhas soltas e uma agulha solitária, todas sem função, a não ser um papel decorativo para quem apreciava as cores que possuíam individualmente.
A pausa não mais se expressou pelo seu aspecto de recuperação de forças para se seguir a caminhada, e, em vez de uma vírgula,
o que se viu foi uma tentativa de um limite, de um fechamento, de se gerar um ponto final.

(Wellington de Oliveira Teixeira — Trama de Histórias, Tapeçaria de Linhas*)


Alguns acreditam que aquela tapeçaria que vem produzindo com a vida é equilibrada, coesa, estruturada e sem brechas. Se esses adjetivos fossem antecedidos de quase ou até mesmo de suficiente já chegaríamos um pouco mais próximos da realidade.

Esse ano eu vi parte de uma montanha ser quebrada para abrir espaço para uma estrada. Máquinas imensas e de grande potência levaram meses para obter o resultado. Durante o processo, pude ver o interior da montanha que me era inacessível. A impressão que eu tinha era de que eu veria algo sólido e inteiriço, uma pedra única. Ledo engano: havia sulcos, valas, até plantas em seu interior. A água corria por ali, quando chovia.

Entendi que mesmo montanhas sólidas são constituídas por vãos, brechas, igual aos tecidos e tapetes. Sua firmeza se encontra na união das partes. Percebi que havia partes dela que se racharam em outros momentos e se recolocaram nos feixes e nas tramas. Sem nenhuma desqualificação nisso, ao contrário, a montanha encontrou um modo de adaptar essas incongruências admitindo as diferenças: acatou entre seus espaços a água, a areia, os galhos e até ossos enterrados.

Permitir-se perceber, antes de entender tal processo, nos capacita a ver nas diferenças os complementos — os pedaços que poderão se constituir partes de nós mesmos.

Olho para trás e vejo um complexo desenho representando o que foi produzido em minha vida. Alguns trechos me encantam, outros nem tanto. Mas me alerto para o fato de que um formato que não me atrai mais, em determinado momento foi o meu possível e não pode ser modificado, como o que estou nesse momento construindo. Maturidade também é poder olhar para trás, avaliar o tipo de tecelão que você conseguiu ser e ter orgulho de ter produzido algo.

Mas não esqueça: aperfeiçoar sempre é possível. O que ficou para trás deve ser encarado como desenhos feitos quando criança: carregados de sentimentos e sentidos verdadeiros e próprios àqueles momentos, mesmo que formalmente mal estruturados sob a ótica e capacidades atuais.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de novembro de 2014.

* O texto que produzi em 27 de outubro de 1998 encontra-se disponível neste blog do Ser Pensante. Acesse-o em http://bigwzh.blogspot.com.br/2008/04/trama-de-histrias-tapearia-de-linhas.html
Sugiro a leitura do texto em azul (alinhado à esquerda) separadamente do texto em preto (alinhado à direita), para só então realizar a leitura completa. Os textos são o equivalente às linhas verticais e horizontais de um tapete.

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