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30 de ago. de 2014

Energia em formato de memória

Memória, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 29-08-2014.
Memória, criado em 29-08-2014.

Confie em seu poder pessoal: é tudo o que temos neste mundo misterioso.
A escuridão é como o vento, uma entidade desconhecida à solta, que pode lhe pegar se não tiver cuidado.
Você deve entregar-se ao seu poder pessoal, fundir-se com ele…
Um guerreiro é impecável quando confia em seu poder pessoal,
sem considerar que ele seja pequeno ou grande.

(Dom Juan, em Viagem a Ixtlan de Carlos Castañeda, p.161-162)
É quando os fios de cabelo da nuca arrepiam e uma estranha sensação, vaga, de estar fora do tempo, é subtituída por outra que cola na mente uma certeza; não em outro.

Nesse momento, único em efeitos, em que perco o senhorio de mim, ao mesmo tempo em que me expresso mais verdadeiro que nunca; não em outro.

Só quando preciso encontrar um modo de racionalizar - qualquer um - para que esse encontro da alma com o infinito, com o atemporal, não me faça ultrapassar os limites de um corpo cada vez menos interessado no estático, no substancial, no sequencial; só nele.

Eu me confidencio, calmamente, que este tempo de vida é pequeno; que as marcas estampadas no invólucro individualizante cumpriram sua função; que os motivos encontrados para realizar essa jornada se esgotaram; que tudo se iguala e por isso mesmo ganha o mesmo status: não há importância pois tudo tem valor; que não há dor na paz, na aparência, talvez; que é quando um antigo fluxo se expande que um novo núcleo se aglutina: a vida não se desfaz se reconstitui em outras vias; que, a novidade chega não para ocupar o lugar do antigo, ela estabelece um novo;

Apenas um flash, um estalo. Em um piscar de olhos o tudo torna-se nada, melhor, visibiliza-se como apenas uma camada transparente - como as da cebola - que por um exato e ínfimo instante é permeável e permite ser transposto.

Não mais substância, o que se configurou forma desfaz-se e torna-se, aos poucos, o que sempre foi: uma energia que flui e ganha, em todos, o formato de uma memória.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de agosto de 2014.

* Quando converso com algumas pessoas sobre poder pessoal, cito o conceito de capacidades pessoais bem conhecido por cristãos, resumido em uma parábola (uma ilustração que permite a absorção imediata de um conceito difícil), como a que a palavra talento pode significar poder, capacidade ou habilidade pessoal, além do conceito de bem, gravado em moeda com esse mesmo nome.
Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens.
E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe.

(Bíblia - Mateus 25:14-15)

28 de ago. de 2014

Intuir é possível

Intuir, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 28-08-2014.
Intuir, criado em 28-08-2014.

Intuição sempre constrói meu próprio abrigo, desculpe amigo, se eu não sei o que dizer.
Se estou aqui agora é porque faz sentido, minha esperança é bem maior do que sei ser.
Eu sou inteiro e é mais honesto ser assim porque de mim ninguém vai ter coisa melhor
do que tentar eternamente achar em mim o que há de luz, o que há de sombra, o que há de só.

(Fábio Jr. - Intuição)


Já ouvi incontáveis histórias de percepção instantânea que surpreendeu uma pessoa quando, em um milésimo de segundo, tomou uma decisão que influiu diretamente no desenrolar dos acontecimentos.

Intuição é o nome que comumente damos para um processo fantástico que o cérebro é capaz de executar que pode ser comparado aos sistemas de computador que operam em multitarefa. Sabe aquelas ações que ele executa enquanto você usa outras funções? Ações do tipo ir baixando e avaliando a periculosidade de um arquivo enquanto você troca mensagens com alguém e, simultaneamente, abre uma nova janela para ver a foto enviada.

Uma experiência usual, a consciência foca a ação do seu dia a dia, como ir para algum lugar, e ele trabalha agrupando informações em segundo plano: enquanto você vê alguém na rua, próxima ou distante, o cérebro vê tudo dessa pessoa e ao seu redor, gravando o contexto. Faz isso e armazena os dados coletados para gerar novas informações.

Em uma ação inconsciente para você ele correlaciona as novas informações com os padrões já estruturados de experiência e, em caso de emergência, envia um sinal imediato.

Fantástico isso, não é? O que me impressiona é o fato de que muitas pessoas acreditam que intuir é algo de histórias fantásticas, deixando de lado exercitar e utilizar um instrumento valioso para o nosso viver diário.

Preconceitos não estão ligados apenas a raças e à sistematização de preceitos. Relacionam-se, predominantemente mais, ao que somos capazes de admitir no contexto de nossas vidas e ao que, ao contrário, bloqueamos por desconhecimento dos processos de produção ou de constituição.

Geralmente, cientistas e pesquisadores precisam diariamente se desvencilhar de sua visão de mundo estabelecida para constituir as novas formas de pensar de uma sociedade, em bases não acorrentadas ao senso comum. Ao mesmo tempo, esse desenvolvimento pode ser produzido por pensadores de comunidades consideradas menos desenvolvidas. Não à toa, o processo de intuir que plantas com determinados formatos poderiam ter uso medicinal, produziu experiências que geraram os chás, infusões e pastas poderosas, altamente cobiçadas pela indústria farmacêutica ou cosmética.

Na próxima vez que comprar um produto de beleza, ou sua mãe, ou outro parceiro de vida lhe der um aviso, não titubeie, avalie com calma. Intuições não respondem à interpretação simples. Há muito mais razões…

Wellington de Oliveira Teixeira, em 28 de outubro de 2014.

* Jung propôs que a Sensação e Intuição são coisas diversas, mas estreitamente relacionadas ao modo de perceber ou sentir o mundo: agem como um sensor. Razão e Sentimento ligados ao julgamento e à avaliação.
Todas são modalidades da percepção e do pensamento (os processos cognitivos) que o ser humano usa para se guiar na vida. Precisam ser integrados para que a personalidade possa ser equilibrada e saudável, independente de transformar-se sempre, a partir de situações diversas.

23 de ago. de 2014

Como a mim mesmo

Rodopios, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 23-08-2014
Rodopios*, criado em 23-08-2014.

ah, tem que ser (tem que ser!) hoje que eu vim
eu vim com tudo que tem haver com você
você nem sabe que sim, que simplesmente é assim:
assim que vejo você, você de frente pra mim,
eu me arrepio, grito, pulo, assobio, gesticulo, rodopio,
vou girando, vou girando, até cair no meio-fio

(Rodopio - Luiz Tatit)


Não há como pedir a quem quer que seja que entenda o que produzo.

Tudo que faço é apenas um reflexo das elaborações dos sentimentos que são provados por fornalhas de pensamentos, moldados a partir de uma ética do fortalecimento mútuo: recebo diariamente, de fontes diversas, os estímulos necessários para tal. Nenhum deles igual.

O que resiste e consegue vir à tona é digno de se manifestar.

Assim, acesse ao que escrevo e ao que desenho como o melhor de mim oferecido a quem quiser e puder utilizá-lo em benefício próprio.

Puro ato de antropofagia, o como a mim mesmo é o meu mais puro egoísmo em favor do seu. Só assim, expondo a minha verdade nua e crua posso contribuir com alguém. Vez por outra, agrido. Algumas, sensibilizo. Melhor quando apenas provoco e com isso desloco a passividade.

Não tento ensinar nada. Sequer pretendo ocupar o lugar da verdade, apenas sonho vivenciar as minhas.

As de muitos afetaram a minha, especialmente daqueles das artes. Escritores, filósofos, músicos, dançarinos, atores, médicos, amantes e amados são os artistas pensadores que conseguiram incendiar minhas inquietações.

E, certamente mais que todos os outros, os rodopios que o amor promove dos fundamentos à cama.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 23 de agosto de 2014.

* Série de giros ou voltas executados, em torno do próprio eixo, rapidamente; girar como um pião. Isso descreve muito bem as idas e vindas destes pensamentos e sentimentos que me tomam, mas que não possuem a graciosidade dos movimentos dos bailarinos.

21 de ago. de 2014

Quem sabe?, um dia...

Contingências, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 11-08-2014.
Contingências*, criado em 11-08-2014.

A contingência é a forma de representar como determinados comportamentos surgiram e se mantêm.
É a formula que a análise do comportamento se utiliza para estudar e entender como
certos comportamentos foram formados e como eles se mantêm atualmente.
A contingência não é apenas o evento reforçador, mas todo o sistema que mostra
como/porque uma resposta foi dada, como se formou repertórios comportamentais
e como tais repertórios se mantém no presente.

(Blog Psicologia analítico comportamental)
Há um certo grau de predição na prevenção.

Os acontecimentos não seguem seu cronograma, você já deve ter percebido. No entanto, já lhe passou pelo pensamento predeterminá-los. Acontece com todo mundo.

Desde que seus projetos incluam espaço para alterações, é um método eficiente. Do contrário, o que lhe aguarda são as frustrações.

Há diversas precauções possíveis: você planta a semente, mas sabe que o verão se aproxima. Então, você se resguarda com poço e cisternas onde acumula água e a libera na medida em que as reservas estejam sempre contingenciadas. Em lugares muito frios, prepara-se uma capa que protege o plantio, fruto ou fruta, do contato direto com a geada ou a neve.

O que geralmente esquecemos é de contingenciarmos uma reserva interna para os momentos dolorosos da vida. E, todos sabemos, eles vêm.

Muitos talvez não percebam ou desconheçam, o cuidado com a mente e a alma, o desenvolvimento espiritual são instrumentos para alcançarmos esse objetivo. Funcionam quando você interrompe o fluxo louco da vida, para e medita; quando você alonga seu passeio em local aprazível ou cria esse momento de forma inusitada, fora dos seus padrões; quando você se esforça para bloquear os fluxos de pensamentos que o agitam, toma um chá quente, ouve uma música leve, lendo um texto que incentiva práticas saudáveis…

Não tenho como imaginar a sua própria forma de tranquilizar-se, de ampliar suas forças internas e externas, de criar conexões que o fortalecem - alimentos, bebidas, pessoas e outros elementos que estariam incluídos aqui. Mas, se houver disposição pessoal, você se permitirá avaliar o que realmente lhe faz bem, não apenas os pequenos agrados diários que você se oferece.

A questão é que, quando se lê esse tipo de comentário ou exortação, a gente acena com a cabeça concordando com a lógica e a proposta mas, a seguir, se permite dizer: Verdade. Quem sabe?, um dia…

Wellington de Oliveira Teixeira, em 21 de agosto de 2014.

* Natureza daquilo que acontece de modo eventual, incidental ou desnecessário, possível de ocorrer de outra forma ou não se efetivar. Algo duvidoso, possível, mas incerto. Um acaso.
Um plano de contingência ou planejamento de riscos, de continuidade de negócios ou de recuperação de desastres objetiva produzir medidas que reativem rapidamente processos vitais, de forma plena ou minimamente aceitável, evitando paralisações prolongadas geradoras de qualquer forma de prejuízo.

18 de ago. de 2014

Forças desejantes

Forças desejantes, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 17-08-2014.
Forças desejantes, criado em 17-08-2014.

O mundo é tudo o que existe trancado aqui: a vida, a morte, as pessoas e todo o resto que nos rodeia.
O mundo é incompreensível. Jamais o entenderemos, jamais desvendaremos seus segredos.
Por isso devemos tratá-lo como aquilo que ele é: um absoluto mistério.

(Dom Juan Mattus)


Desinformação gera incerteza. No plano da saúde deficiente de um ente querido essa é uma afirmação que nos leva a elucubrações díspares. Se por um lado o desejo pela melhora é forte, a falta de respaldo intelectual produz agonia.

Somos seres frágeis, os adoecidos e os que se agrupam na força desejante pelo retorno saudável destes. Somos, também, seres incríveis. Para o bem ou para o mal.

Se pudéssemos medir com um espetrômetro* os níveis energéticos que produzimos quando mentes e corações se agregam com uma única finalidade ficaríamos estarrecidos com a imensa e intensa gama de cores.

O pensamento antigo de que a união é capaz de produzir fortalecimento tem aqui seu respaldo. Assim também, o cuidar do elo que mais se fragilizou e, por isso, se abateu na situação presente, mesmo que em contextos semelhantes tenha se apresentado como o mais forte.

Incapazes que somos, na maioria das vezes, de produzir previsões realísticas quando influenciados pelos confusos sentimentos que nos agitam a alma, esperamos uma palavra, um gesto, uma compreensão que nos permita dissipar as nuvens carregadas e abrir uma brecha para solarizar nosso interior.

Na verdade, queremos um pouco de certezas. Mas, isso é o que nunca temos exatamente, e as parcialidades das informações que nos chegam nos sacodem de um lado para o outro e temos que redescobrir a todo instante uma nova forma de equilíbrio para continuarmos a lidar com a nossa vida.

Se refletirmos bem, a única certeza que possuímos em vida é que um dia conheceremos a morte. E, por isso mesmo, a jornada é tão importante e cada experimento que a vida nos proporciona enriquece o conjunto acumulado que nos torna mais plenos.

Raciocínio válio para quem ocupa a posição de doente ou de são.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 17 de agosto de 2014.

* Espetrômetro é um instrumento óptico que mede as propriedades da luz em determinada faixa do espectro eletromagnético.
Composto por rede de difração e captador, a rede isola em feixes individuais de cor a luz incidente sobre a abertura do espectrômetro. Cada um destes incide sobre os sensores fotovoltaicos (captadores), permitindo a leitura da intensidade luminosa de cada comprimento de onda presente na sua composição, qualificando-os, dentre outras formas, pela fluorescência, absorção luminosa e transmissão.

17 de ago. de 2014

Vício intrínseco

Vício intrínseco, criado por Wellington de Oliveira Teixeira, em 17-08-2014.
Vício intrínseco, criado em 17-08-2014.

Ela é uma droga pesada que te arranca de casa e, ao mesmo tempo, é o motivo de voltar pra casa.
Ela é lunática e perfeita, essa é pra casar; daquelas que mata o noivo no altar, se atrasar.
Te arremessa na cama e te poe no divã; é o veneno mortal no seu café da manhã;
é o amor matinal e a roubada de brisa. Até sua foto 3x4 é arte Mona Lisa.
Mano, avisa lá que hoje eu não vou jogar
porque ela acaba de ligar dizendo que tá muito louca pra que eu fique muito louco, também,
esperando ela voltar pra me fazer de refém.
Isso parece crime, mas eu não quero abrir ocorrência, senão eu sofro de abstinência:
ela combina carinho e dependência com poesia e inocência. Essa mina vicia.
(Rashid - Vício)


É como a gravidade, de que não se escapa. A gente foge, se dirige para a direção oposta. Desvia o pensamento e tenta preencher os vazios que repentinamente se impõem.

É inviável tentar se policiar o tempo todo. Um pequeno vacilo, uma brecha: lá se vai o controle e o pensamento vai em busca do desejo interditado, guardado, ocultado por tanto tempo, até da própria consciência.

É a vontade de comer ou qualquer outra forma de prazer, que se achega e nos seduz e nos reduz de forma inescapável ao que nos constitui.

Avaliando por moral, o imoral é temporal e isso para quem não é ingênuo é algo de que é difícil não resvalar sempre.

Queria que cada um se permitisse o que merece, inclusive um pequeno jantar acompanhado de um bom vinho. Pequenos, deliciosos e desejáveis prazeres.

Fugir do enrijecer: não dá para ser o que quer que seja em tempo integral, aceite! Somos parciais e desejamos as diferentes formas de nos satisfazer: todo excesso enjoa e destrói o encanto. Até mesmo um talento, uma profissão ou uma paixão.

Encenamos um espetáculo de encontros e desencontros e, na medida do possível, tentamos dar um toque de infinitude nos sentimentos que nos tomam e até nos encantam, como esta enevoada mas enluarada noite que convida para voos nos recônditos da alma. Que pede um surpreendimento dos covardes e escravizadores padrões como se gritasse 'É preciso ultrapassar(-se)'.

E enquanto a cortina do novo dia não ilumina o rosto, aprontando com o sonolento despertar e afugentando os resquícios dos pequenos, pulsantes, mas resguardados indícios dos verdadeiros sonhos, a gente fica de olhos fechados. Faz de conta que dorme. Disfarça que a vida tropeçou e quase xingou e engoliu em seco para seguir em frente. Não se diz que, lá no cantinho, se permitiu sentir a dor que tumultuou a alma. Respira-se fundo, tenta-se preencher qualquer espaço raso ou profundo, se preparando para abrir as cortinas e, de novo, saudar o respeitável público.

E lava-se o rosto, para espantar o que não pode ocupar o dia, e enfrenta-se as realidades produzidas ou admitidas como se fossem ansiadas. É como um vício intrínseco. Mesmo esfacelando-o em milhões de pequenos e inofensivos pedaços, não se pode garantir a impossibilidade de que a sua regeneração instantânea ocorra em um determinado segundo onde a trama do destino nos coloque no palco dos acasos ou dos encontros. A inevitável negação de si talvez seja a única possibilidade para quem dirige a peça. E para todos que a assistem.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 17 de agosto de 2014.

* O termo originado do latim intrinsecus - interno, inerente, constitutivo - pode qualificar algo na parte interior de outra coisa e que é fundamental para a sua existência. O âmago, íntimo e profundo.
É o que se estabelece fora de qualquer convenção:
  • o valor intrínseco de uma moeda é o seu valor conforme o peso do metal precioso à cotação comercial.
  • anatomicamente, o que se origina e incide no local em que age: o músculo.
  • na Física, o que decorre de maneira igualitária; o semicondutor ideal sem quaisquer influências e/ou impurezas.

15 de ago. de 2014

Momento do equilíbrio

Momento do Equilíbrio, criado por Wellington de Oliveira Teixeira entre 14 e 15-08-2014
Momento do Equilíbrio, criado entre 14 e 15-08-2014.

Mas a mim me interessa exclusivamente que eu seja capaz de amar o mundo,
de não sentir desprezo por ele, de não odiar nem a ele nem a mim mesmo,
de contemplar a ele, a mim, a todas as criaturas com amor, admiração e reverência.

(Hermann Hesse - Sidarta, p.122-123)


Podemos ignorar ou não perceber, mas vivemos, instante após instante, sob o signo do desequilíbrio.

Instabilidades construídas intermitentemente impedem o saborear aquelas brechas onde a quietude assume - mas não a confunda, de forma alguma, com o fazer nada. É um não fazer da rotina diária que intuitivamente nos leva a restaurar os pontos que nos conectam às correntes de forças do universo, ampliar nossa integração com o todo.

É quando sentimos a paz emergir, controlar, até mesmo quando situados no centro de um campo de força de uma tempestade — tudo ao redor desabando e nada o atingindo.

É como meditar em movimento, uma espécie de Tai chi chuan: vencer o movimento por meio da quietude; a dureza pela suavidade e o rápido pelo lento.

Entender naturalmente a sua natureza, na natureza, usando apenas as grandes forças naturais: um fluxo contínuo de água, que percorrendo aclives, declives e obstáculos segue continuamente a encontrar-se com o equilíbrio.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 15 de agosto de 2014.

* No taiji (ou tai chi) há um entendimento das energias ampliado filosoficamente. O ji (极) remete à grandeza suprema enquanto o qi (气) do kung fu ao desenvolvimento da energia interna do praticante. Nas duas vertentes o equilíbrio é um ponto central.
Amplie seu conhecimento sobre o taichi em http://pt.wikipedia.org/wiki/Tai_chi_chuan

6 de ago. de 2014

All faces

faces ocultas, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 05-08-2014.
faces ocultas, criado em 05-08-2014.

O cérebro é abastecido pelos olhos, ouvidos e outros sentidos, e o inconsciente traduz tudo em imagens e palavras.
(Ran Hassin - The new unconscious)


A ocultação é uma arte que pende igualmente para bons e maus usos. Na prática, geralmente, para os mais escusos.

Do processo defensivo e válido de não apresentar-se por completo de imediato nos encontros, aos ardilosos usos de máscaras que desfiguram, o dia a dia nos brinda com muitas camadas sobrepostas de faces. Desvendá-las é uma arte que poucos se preocupam em se aprimorar, quando o contrário — a arte da ocultação — há um grande número de exímios e cada vez mais experimentados.

Os jogos de interesses, articulados em estratégias cada vez mais eficazes de distorção das realidades, é a face atual e marcante dos meios de comunicação. Da mídia ao marketing, tudo brilha e é mais belo do que a realidade permitiria afirmar. Esbarramos com edições sofisticadas e apresentações parciais de dados que em nada se aproximam da imparcialidade. Na defesa de alguns interesses, não importa a vertente defendida, ela ocorre.

O problema maior não é quando grupos de interesses tentam tornar atraente ou maximizar suas propostas. A cota de espectadores é uma pequena minoria, seu alcance diminuto. É alarmante diante da atual hegemonia na comunicação, que, sob o poder do financiamento e de tecnologias quase que ilimitados, tenta infundir padrões, costumes, certo e errado, melhor e pior à população. A constituição do modo de agir e pensar determinados.

Seus rostos são sempre disfarçados por personagens de tramas novelísticas ou de sérios e competentes jornalistas sempre fortalecidos por imagens e som impecáveis, sedutores e convincentes. E segundos depois, lá se vai o poder de crítica, a credibilidade de alguém, e vem a implantação de uma nova doutrinação, que você e eu iremos assistir muitas e muitas vezes repercutir, cotidianamente, em outras mídias. Todo apresentarão bordões fáceis de gravar, opiniões facilmente assimiláveis.

A história confirma que a mentira repetida torna-se verdade. Não deveríamos, então, perceber que quem controla os meios de comunicação são os piores terroristas, quando os usam para domesticação dos anseios de uma população?

Não é paranoia. Perceba, que de repente, é necessário esticar cabelos, usar determinadas cores, combinar de determinado modo alguns utensílios e todos participam da mesmificação e da desindividualização da existência. E os mais influenciáveis, como os menos escolarizados e todas as crianças, passam a usar o penteado do jogador de futebol (por mais ridículo que ele seja!): despersonalizados. Se isso acontece com a aparência, tente imaginar o alcance do processo de manipulação de corações e mentes.

Aqueles que comandam o espetáculo escondem seus rostos como aquelas hortaliças, as alfaces, camada por camada retirada, você jamais consegue achar a face verdadeira, por mais que cada uma seja descartada.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 06 de agosto de 2014.

* Cientistas ingleses fizeram um experimento com um homem africano que em função de um acidente teve seu córtex visual completamente destruído. Em um laptop apresentaram imagens com círculos e quadrados. Houve 50% de acertos, o equivalente à sorte. Porém, a seguir apresentaram rostos amigáveis ou hostis. O resultado foi de dois terços de acertos, mesmo com o teste repetido.
O processo, inconsciente, recebe o termo científico blindsight, visão cega. É o uso da região cerebral (área fusiforme) especializada desde a época das cavernas para julgar rostos e evitar ameaças e morte.
Leia a respeito em http://super.abril.com.br/ciencia/mundo-secreto-inconsciente-741950.shtml
Os estudos de pesquisadores dessa área tem influenciado as novas formas de propaganda e marketing. A nova abordagem neurológica do inconsciente já produz resultados. Seu uso nem sempre ético.

2 de ago. de 2014

Hélices de vidro

Hélices de vidro, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 02-08-2014.
Hélices de vidro, criado em 02-08-2014.
Assim como talvez não haja, dizem os médicos, ninguém completamente são,
também se poderia dizer, conhecendo bem o homem, que nem um só existe que esteja isento de desespero,
que não tenha lá no fundo uma inquietação, uma perturbação, uma desarmonia,
um receio de não se sabe o quê de desconhecido ou que ele nem ousa conhecer,
receio duma eventualidade exterior ou receio de si próprio;
tal como os médicos dizem de uma doença, o homem traz em estado latente uma enfermidade,
da qual, num relâmpago, raramente um medo inexplicável lhe revela a presença interna.

(Søren Aabye Kierkgaard - O Desespero Humano, em Os Pensadores, p.329 *)

Cortantes e praticamente invisíveis, palavras são como hélices, de vidro:
refletem, somente em lampejos, a intenção dos que geram, a custa da paz,
a propulsão para alçar seus vôos mesquinhos.

(Wellington de Oliveira Teixeira)
São muitos os caminhos que percorremos em função de conquistar uma vida plena. Aquela que acreditamos será a que nos trará a paz, a tranquilidade. Talvez, a plenitude.

Nos inventamos. Em cada dia, pedacinhos não de vitórias mas de avanços iludem nossas percepções e nos carregam para um outro adiante, uma outra meta, ou apenas um seguir.

Nos tornamos. E, de quando em vez, paramos. O fluxo interrompe. Um espaço fica não preenchido e com ele — o vazio que se instaurou — as inquietações, as dúvidas.

Nos esvaziamos. São silêncios que não sinalizam pausa, descanso, quietude de alma. São momentos não classificáveis. Não são tristezas por algo, não são dores por perdas, não é sentimento de nulidade.

Nos caçamos. É como um eco distante. Um sinal das profundezas da alma. Algo amorfo que apenas transparece, reluz por infinitesimal instante, fazendo com que algo seja disparado, aceso, ligado. Fugidio estalo que se propaga mente e corpo e produz uma angústia pelo infinito, inalcançável entendimento de tudo, uma expressão plena e total de si.

Nos encontramos. Nessas brechas atemporais que se produzem apesar do cotidiano, involuntariamente, é onde detectamos a fonte máxima de cada um. A pura vontade em potencial. Aquilo que intuímos como potência de vida. Nosso único lar, em si: Ser.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 02 de agosto de 2014.

* Minha vida não será, apesar de tudo, mais do que uma existência poética. Segundo György Lukács (1885-1970), o dinamarquês Kierkegaard (1813-1855) revela em sua declaração heroísmo, honestidade e tragédia. Heroísmo, em ter desejado criar formas a partir da vida; probidade, em ter seguido até o fim o caminho escolhido; tragédia, em ter desejado viver aquilo que jamais poderia ser vivido.
Para Régis Jolivet o pensamento de Kierkegaard formou-se, não tanto por assimilação de elementos estranhos, mas sobretudo através de uma luta de consciência, cada vez mais intensa e cada vez mais exigente, perante as condições, não já da existência em geral, mas do seu próprio existir. Sua filosofia é precisamente ele mesmo, não fortuitamente e, de certo modo contrariado, mas ele mesmo voluntária e sistematicamente, a tal ponto que o existir como indivíduo e a consciência desse existir chegaram, a ser, para ele, condição absoluta da filosofia e até sua única razão de ser.