Pesquisar este blog

30 de dez. de 2011

Arco-íris

Kundalini, criado em 27-12-2011

Se fosse fazer uma teoria sobre a vida, resumiria em poucas palavras: a vida se compõe de energia de amor e fé que fazem funcionar todos os entes dos mundos existentes ou ainda não e produz intercâmbio entre eles.
Wellington de Oliveira Teixeira

Um dia alguém me ensinou e eu quero honrar a herança deixada, honrar a sua disposição de espírito e honrar o seu espírito de doação.

Sinto saudades dos mestres que a vida me proporcionou e que seguiram por outra direção, na rota de seu destino, como Seres Pensantes que são.

Um deles, Celio, na época em que eu trabalhava na Reitoria da UFF, no intervalo do trabalho, após me ensinar os primórdios dos bancos de dados (no caso, o dbase - um software pré-histórico, para os dias de hoje), me convidou para ir ao Ponto Jovem da Miguel de Frias para lancharmos.

O que se seguiu foi uma experiência que guardo comigo, até hoje.

Em frente, a praia, o céu limpo, o sol radiante, poucos transeuntes, ele me apresentou um conceito da energia violeta.

Talvez seja melhor discorrer um pouco sobre faixas de energia, para esclarecer a questão, um pouco. Pois bem, as cores, como a conhecemos em sua faixa visível aos olhos humanos, nada mais são do que frequência energética dentro de um espectro limitado, com cores variando entre o branco, o amarelo, o vermelho, o azul e suas intermediárias e misturas em diferentes graus. Cada cor tem a sua medida mensurada. Na lista não incluí a ausência de cor, que chamamos de preto, mas incluí o branco, que é a soma de todas as cores.

Como iniciei o meu relato, por conta de um espetáculo da natureza, um maravilhoso arco-íris que se apresentou por alguns instantes, fui introduzido a uma questão complicada: as energias que todos os seres compartilham e como elas atravessam e entrelaçam tudo o que há.

O ponto de vista dele utilizava como ponto de partida o conceito da física, como narrei anteriormente, e seguia para um caminho um pouco menos perceptível e muito mais conceitual, isto é, tudo é energia. Questionava como seria possível deslizar entre as suas faixas, quais propriedades que determinada faixa representaria, que influências dentro do espectro visível da vida de cada um poderia apresentar.

Uma a uma, foi descrevendo, e me impressionando com a forma de raciocínio e as implicações que a sua lógica produzia em relação à vida cotidiana.

O grande momento, para mim, foi quando ele descreveu o que ele citou a energia violeta que chamou de kundalini**. O nome e o conceito, naquela época, me eram desconhecidos e os famosos chakras, ou núcleos de energia, que estão divididos num corpo, eram apenas vagas concepções da época em que havia lido O Manto amarelo e A Terceira Visão*, influenciado pelo pensamento holístico do meu tio Nagil Teixeira, que gostava de leituras carregadas de pensamentos orientais.

A energia de vida, que promovia equilíbrio e gerava uma interface entre os seres e podia ser acessada e utilizada para fins altruístas era uma forma de ver o mundo muito diferente do que eu havia aprendido nos bancos de uma igreja batista, aos domingos, mas nao distante demais ou incompatível com o meu entendimento sobre questões espirituais.

A apresentação dele foi tao importante que a partir daquele dia fui buscar novas formas de entender o mundo, novos modos de ler o que chamava de realidade. Tentei encontrar pessoas que possuíam visão diferenciada e mais trabalhada que a minha. Trabalhei novas ideias e passei a formular as minhas próprias teorias sobre a vida.

Hoje, posso dizer que me sinto muito mais seguro de mim e de minhas formas de pensamento, até mesmo mais feliz.

Então, ao terminar esse ano de 2011, nada mais justo que agradecer àqueles que se dedicam a buscar o conhecimento e a transmiti-los, mestres no verdadeiro sentido da palavra, educadores que transformam o mundo pela forma como propiciam a mudança na vida dos que os encontram.

A esses seres pensantes, minha gratidão, meu respeito e meu desejo que Caiam na Paz!

Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de dezembro de 2011.

* Livros de Lobsang Rampa de 1966 e 1956, respectivamente.
** Kundalini ou em sânscrito: कुंडलिनी, significa algo como "enrolada como uma cobra" ou "aquela que tem a forma de uma serpente", é a energia que transita entre os chakras, o poder espiritual primordial ou energia cósmica que jaz adormecida no centro de força situado próximo à base da coluna, e aos órgãos genitais.
É a energia do Universo em seu aspecto Purna-Shakti, total, como potencial, sendo o Prana-Shakti o aspecto biológico, ou fisico, como calor, eletricidade, etc. Conheça um resumo em http://pt.wikipedia.org/wiki/Kundalini

19 de dez. de 2011

Sugado

Cupido
Cupido dobrando seu arco*

Novo mundo - grande horizonte
Abra os olhos e veja que é verdade.
Novo mundo - do outro lado das assustadoras ondas azuis
(David Wilcox))

A dor, a saudade, a sensação de solidão, sentimentos partidos, a vontade imensa de rever. A lista pode prosseguir tão facilmente que assusta.

Sim, estou discorrendo sobre o término de um relacionamento. Talvez, após a perda considerada sem retorno, a forma de luto mais difícil para o ser humano enfrentar.

Claro que, como para tudo, há uma solução. Ou várias. Qual delas se aplicará e imprimirá a marca desejada para mente e coração voltarem a conviver em paz, e permitirá a liberdade do espírito que foi aprisionado?

Meu guri, sobrinho emprestado há muitos anos, está vivendo uma experiência assim. Ele acha que estou longe dele, que não o apoiei quando me enviou uma mensagem sms solicitando força.

E é aqui que a experiência de vida nos orienta a dar os passos. Envelhecer nos dá uma noção de espaço-tempo um pouco mais ampliada. Uma pequena elevação na qual subimos e avaliamos o campo abaixo: ambos os lados e o centro; distâncias e passos a serem dados, por qualquer dos lados; uma análise um pouco melhor do campo de forças existente.

Mas, não existe remédio para a dor, quando se acredita em falta. Pode colocar um F maiúsculo nela, pois é capaz de eliminar as conquistas, as forças absorvidas, os momentos felizes como um buraco negro das galáxias que retira toda a luz do seu redor como um campo magnético imenso puxando tudo para o seu interior faminto.

Meu menino está se sentindo assim: sugado.

Para ele, a questão está apenas ali. E ele não é diferente da maioria, nesse caso.

Mas essa frase anterior é apenas quase verdadeira, pois o meu guri é alguém extremamente diferenciado em suas práticas de vida. Escolheu caminhos que o fortaleceram como ser pensante, como ser social, como ser espiritual e que o encaminharam para um patamar de nível superior: a produção de sua vida influi diretamente na de muitos, sua energia se amplia e alcança mundos que são desconhecidos por ele, como certamente milhões de pessoas diriam se o tivessem conhecido e sabido dos investimentos que fez na ordem do desconhecido - aquela ordem em que a fé é suprema.

Mas é quase impossível para ele nesse momento ampliar seu olhar e aplicar a Visão (têm olhos, mas não vêem). Se o fizesse teria avaliado o momento como todos os outros vividos - nenhum é melhor ou pior do que outro - se o encarar como um desafio de vida. Desafio que ele buscou, ao seguir a meta do aperfeiçoamento.

Insensibilidade não é o que eu estou passando. Ao contrário, estou me empenhando em descobrir as formas de transmitir-lhe a forma dele mesmo obter energia extra que o fará conseguir ultrapassar não apenas esse momento, mas todo e quaisquer outros que venham ao seu encontro.

Como ser pensante que é, meu sobrinho não está passando pela vida: ele a vive intensamente. Intensidade essa que o atravessa agora e o potencializa para aprender com o campo dos encontros.

Silêncio pode ser uma grande arma para quem ama utilizar. Mas em outros momentos é preciso expressões manifestas. 'Vôe por todo o mar e volte aqui pro meu peito...' um trecho da música O Vento, do Jota Quest, em que a banda registra em poesia cantada essa questão é um exemplo de a dor gerando algo bonito que ultrapassa o momento e atinge milhões de pessoas, numa sequência exponencial.

A força que cada um possui depende de aonde é aplicada. Muitos demolidores aprenderam isso na prática. Viram o desafio gigantesco ruir aos seus pés, com aplicação nos pontos certos da carga explosiva que possuem. Tudo tem seu calcanhar de Aquiles. Basta avaliar e achá-lo.

Mas um processo assim não merece ser interrompido, nem mesmo atrapalhado com uma força externa. Estragaria o poder do aprendizado, a alegria da vitória e colocaria em outras mãos o troféu.

Sei disso e ajo da maneira que considero melhor. Um poderoso silêncio que carrega uma intenção inflexível de colaborar com a grande ordem do universo a fim de que todo o campo de energia ao redor dele colabore (algum tempo atrás ouvi a expressão 'conspirar' para isso) para que esse guerreiro saia do campo de batalha vitorioso e certo do aperfeiçoamento conquistado junto com a energia de vida que o potencializará para enfrentar os próximos desafios.

A você, meu querido Francis Lauer** (Santa Maria - RS), meus melhores pensamentos, sentimentos e ações.

Aguardo para ouvir, com alegria, a história de sua superação.

Meu abraço afetuoso e meu intento de que você Caia na PAz! (Amor e Entendimento!!!)

Wellington de Oliveira Teixeira, em 19 de dezembro de 2011.


* Cupido dobrando seu arco, cópia romana de um original grego atribuído a Lisipo, Musei Capitolini, Roma.

** Nos áureos tempos do mIRC (dinossauro das mensagens instantâneas, de hoje), participávamos de salas de bate-papo que discutia o mundo desconhecido, invisível, espiritual. E dele, naquela época apenas um gurizinho, recebi bons textos e pude compartilhar boas conversas. Até hoje não tivemos a oportunidade de um encontro pessoal, mas isso não impediu a grande amizade que se desenvolveu.

9 de out. de 2011

Se eu fosse escrever uma história de amor

História de amor, criado por História de amor, criado em 09/10/2011
História de amor, criado em 09/10/2011

Eu procuro um amor Que ainda não encontrei
Diferente de todos que amei...
Nos seus olhos quero descobrir Uma razão para viver
E as feridas dessa vida Eu quero esquecer...

Pode ser que eu a encontre Numa fila de cinema
Numa esquina Ou numa mesa de bar...

Procuro um amor Que seja bom prá mim
Vou procurar Eu vou até o fim...
E eu vou tratá-la bem Prá que ela não tenha medo
Quando começar a conhecer Os meus segredos...

Eu procuro um amor Uma razão para viver
E as feridas dessa vida Eu quero esquecer...
Pode ser que eu gagueje Sem saber o que falar
Mas eu disfarço E não saio sem ela de lá...

(Segredos - Frejat)


Se eu fosse escrever uma história de amor, eu não saberia iniciar e nem terminar.

É que eu creio que a gente nunca sabe quando o amor começa, quando a sua marca se torna indelével na alma e imprime seu toque ímpar, aquele que nos modifica para sempre. Momento tão distinto assim é algo que, de tão interessante, deveria ter uma placa de aviso afixada no caminho da vida. Tipo um aviso de estrada ou arco de entrada das cidades litorâneas do Rio de Janeiro.

A bem da verdade, acho até que, após algum tempo, ela aparece e fica exposta, mas não creio que seja no momento exato quando o amor chega, me parece que espera um tempo para confirmar a sua veracidade e só então se fixa.

Essa questão de veracidade tem a ver com a confusão que se faz entre um romance, uma paixão, um encontro casual ardente, que também deixam alguma marca, com esse sentimento e movimento interno que nos transtorna e, de vez em sempre, nos transforma.

Acredito, também, que o final de um romance é algo acontece. Pequenos romances podem ser como uma hospedaria ou hotel: local bom para ficar por algum tempo, mas não para se morar. É que, para mim, o amor se eterniza no local aonde fez morada algum dia. A impressão é que se a gente chega a dizer adeus, ele ignora e fica em stand by. É como uma casa de campo ou de praia que se visita apenas num período de férias ou feriado. Fica lá, esperando ser habitada uma outra vez. E como você sabe, é possível se ter mais de um tipo de moradia... e, para mim, de amor.

Algumas vezes, me divirto com a meninada de hoje, expondo a sua vida em redes sociais e comunicadores instantâneos. 'ALGUM-NOME, você é o amor da minha vida', 'ALGUM-NOME, vou te amar pra sempre'... e alguns dias depois, tudo de novo, mas o ALGUM-NOME é outro. Acontece assim. Início, meio e fim com duração imediata, quase instantânea, e fugaz.

Frejat fez uma divertida música*, com um toque de humor muito especial, e num trecho ele diz 'Homem não chora por dor nem por amor... Esse meu rosto vermelho, molhado, é só dos olhos pra fora. Todo mundo sabe que homem não chora.' Se eu fosse tentar encontrar um ponto aonde diria que o romance realmente acaba, diria que é exatamente aí, quando um homem faz isso que o Frejat canta [meu riso veio espontâneo aqui e foi tão legal que quis registrar].

Mas histórias de amor não são histórias comuns, não são histórias de romances, apesar de haver muito romance nelas. Não me aventuraria afirmar que sejam para todos, como para mim, eternas. Todos os meus amores moram comigo naquela moradia que citei acima. E, para a minha felicidade, apesar de sempre haver mais vagas, a minha casa está lotada: as últimas entradas foram de Miguel e Lucas, irmãos gêmeos, nascidos há cerca de oito meses, filhos dos meus afilhados Jaqueline e Felipe.

E realmente não sei quando começou, se foi antes do nascimento, se quando eu os peguei no colo e os abençoei, num outro momento de cuidado. Mas aconteceu. E, agora, é para sempre.

Um dia desses, após um período muito desafiador e sofrido para o Miguelzinho, que havia saído da UTI de um hospital por problemas no pulmão, fui com meus afilhados visitá-lo. Algo que vi, me marcará para sempre a história com ele. Ele sorriu e deu uma risada, do tipo gargalhada, linda, maravilhosa. Naquele momento eu percebi que o amor já havia se instalado. A placa se elevou e o arco ganhou nome.

Bem, como eu disse no início, contar história de amor para mim é complicado, pois não acredito que possa finalizar.

Um dia, há muito tempo atrás, me apaixonei por uma música** mas, por não gostar da tradução que fizeram para ela, me pus a trabalhar a imagem que ela me trazia, o seu contexto, a sua mensagem e, ao concluir sua tradução, entendi que o que nela estava escrito seria a marca registrada de minha vida. Fica então como uma espécie de substituto para o final...

O tempo de uma vida não basta para se viver uma amizade:
Amigos São Amigos Para Sempre!!!

Wellington de Oliveira Teixeira, em 1º de outubro de 2011.


* 'Homem não chora' (Frejat) você assiste em http://www.youtube.com/watch?v=fD93ALYXNNI&feature=related.
** Friends (Michael W. Smith) você assiste em http://www.youtube.com/watch?v=IbPKaIozS-c

13 de ago. de 2011

Golfinhos e afilhados


Golfinhos, pintura em parede feita por Wellington, Tiago e Tayane em 1995Golfinhos, pintura em parede em 1995.

Oh, pedaço de mim, Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento, É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim, Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco, Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim, Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto, A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim, Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada, É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim, Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo, E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor

Adeus.

(Pedaço de Mim - Chico Buarque)*


Histórias são para ser contadas, mesmo com tão poucos bons contadores de histórias.

Uma expressão de uso comum para designar mentirosos é Contador de história. Está implícito aí uma referência pejorativa, já que ninguém aguenta ficar ouvindo baboseiras. Daí outra boa expressão: meu ouvido não é pinico!

De vez em quando, a vida proporciona um encontro especial com uma pessoa, um texto, um filme, que apresenta uma boa história.

Gosto de classificar desse modo aquelas que nos divertem, nos emocionam, nos prendem a atenção e, com isso, nos ensinam. Àquelas que não têm público alvo e alcançam de crianças a adultos. As que permitem a simplificação para torná-las acessíveis a todos, independente do modo como foram escritas ou apresentadas.

Tenho observado que o exercício de contar histórias aperfeiçoa a capacidade de criá-las (isso vale também para os mentirosos, infelizmente!).

Um dos meus afilhados, Tiago, na semana passada completou 19 anos e resolveu fazer um projeto: pintar as paredes do seu quarto, para representar o seu mundo, hoje. E, para isso, me pediu uma contribuição: uma arte.

Tiago e sua irmã Tayane, quando tinham três e dois anos, respectivamente, adoravam momentos criativos. Leituras, pinturas, jogos, filmes, tudo era um bom pretexto para momentos de grande prazer e compartilhamento.

Um dia, a mãe deles propôs algo muito interessante, que logo prendeu a atenção dos dois: pintar a área de trás da casa que estava com uma pintura um pouco (talvez demais!) mal feita.

Seria uma atividade para todos e cada um poderia expressar-se como quisesse. Para iniciar, começou a criar flores na lateral de uma das paredes, numa espécie de moldura. Ao que eles, com olhos refletindo o brilho dos momentos de travessura, não demoraram a pegar pincéis, tintas e a começar a criar a sua arte.

Lembro-me de Tiago perguntar-me se eu pintaria. Ao que eu repliquei: você vai me ajudar? O riso e a felicidade dele foram suficientes para me incluir no projeto.

Lembro-me, também, que eu tinha assistido, algum tempo antes, o filme Imensidão Azul**. Inspirado nele, fiz uma área retangular e deixei que meus afilhados pintassem de várias tonalidades de azul, colocando alternadamente, cada um em meu colo. Por fim, incluí os dois do modo como achei que deveriam ser naquele momento: dois golfinhos brincalhões, com um mundo de águas ao seu redor para se divertirem.

Contei para o Tiago a história dessa aventura e daqueles momentos de sua infância. Nesse instante, percebi que a magia daquele momento foi revisitada e reacendida, em ambos.

Sem sombra de dúvidas, uma boa história torna-se atemporal e possui a capacidade de avivar em nós o valor da vida e dos sentimentos mais plenos que somos capacidades de vivenciar.

Ao término de nossa conversa, pensei 'é hora de imaginar o que irei desenhar dessa vez'. Afinal de contas, meu afilhado já é um homem com experiências próprias e merece algo que reflita tudo o que já conquistamos.

Depois, com um sorriso bem maroto surgindo em meus lábios, desejei para ele muitas histórias como essa para contar para o mundo.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 13 de agosto de 2011.


* No caminho para o aeroporto Santos Dummont, eu e o Tiago fomos conversando sobre os monstros sagrados da música e seu valor na atualidade. Um dos nomes avaliados foi o de Chico Buarque.
** Le grand bleu, dirigido por Luc Besson. O filme contava a história de Jacques Mayol, conhecido como "homem-golfinho" (http://pt.wikipedia.org/wiki/Jacques_Mayol).

29 de jul. de 2011

Eu te amo


Eu te amo, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 28/07/2011.Eu te amo, criado em 28/07/2011.


As sem razões do amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento, na cachoeira, no elipse.
Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte, e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.

(Carlos Drummond de Andrade)



Pensar amor é algo de uma complexidade incrível. Pensar amor gera elucubrações, emoções, conflitos relativos às suas formulações e manifestações.

Houve alguém que me fez criar um modo de expressar esse sentimento de uma forma inusitada para mim.

Antes de prosseguir, é preciso esclarecer que foi em um período complexo, fortemente tradicionalista e conservador, onde as formas de expressão eram restringidas e palavras podiam gerar mundos dolorosos. Mais ainda, olhares canhestros se faziam presentes e quem quisesse ultrapassá-los deveria pagar um preço altíssimo.

Então, surge um grupo de loucos que passa a pregar Paz e Amor como solução para a frieza da guerra entre potências e como um modo de vida a ser adotado por todos que quisessem ir além das grades da prisão das ideologias dominantes.

Não propunham estruturação, mas liberdade de expressão. Criticavam as estruturas sociais que impunham a internalização dos sentimentos e das emoções em prol de um modo social de externalização padronizada.

Claro, foram rotulados imediatamente de subversivos. Furiosos discursos e práticas passaram a invadir o cotidiano de pessoas simples incitando gestos contra o novo movimento, produzidos pela poderosa voz da mídia televisiva e radiofônica. A voz dos poderosos.

Levou um bom tempo, mas o movimento frutificou e modificou a forma das pessoas expressarem seus sentimentos, as suas emoções. E conseguiu se enraizar na vida do povo, que agora já conseguia ver com bons olhos algumas das formas de expressão da nova geração.

Com relação a mim, só após muitos anos eu pude deixar de expressar meus sentimentos por siglas, mas nunca mais esquecerei de como eu dizia 'eu te amo'. ETA!

Wellington de Oliveira Teixeira, em 29 de julho de 2011.

* Um bom exemplo desse período de transformações pode ser visto em Sociedade dos poetas mortos, de 1989, dirigido por Peter Weir e ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Original, além de indicação nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator (Robin Williams).

26 de jul. de 2011

Os pequenos fundamentos da vida

Enfrentando o fantasma, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 25/07/2011Enfrentando o fantasma, criado em 25/07/2011.

A duração de uma vida não é suficiente para se viver uma amizade.
Amigos São Amigos Pra Sempre!
(Friends - Michael W. Smith)

A construção de jovens que queiram agir com correção em relação a sustentabilidade passa por um aprendizado.

Só terá a clareza para avaliar possíveis questões socioambientais os que tiverem em sua história aquele instante mágico em que fica paralisado diante das expressões naturais: da graciosidade simultanea à ferocidade do movimento de um jaguar; da engenhosidade do tecido das teias das aranhas; da intricada geometria e engenharia das casas de abelha; da força brutal das erupções vulcânicas, dos tsunamis, dos tremores de terra; e da delicadeza do magnetismo da aurora boreal. E, no caso humano, dos pequenos gestos de um bebê ao processo de crescimento e maturação do corpo, alma e espírito.

É preciso ensinar que a beleza se encontra nos olhos de quem vê, mas a natureza é pródiga em criar possibilidades de encantamento que podem ser diferentes para cada um, mas no todo, é universal. Todos possuímos a sensibilidade para tal e todos somos atingidos por seus eventos.

É preciso alertar para o lado obscuro, que nós humanos possuímos, capaz de engendrar no interior do ser um vilão ou um herói, dependendo de como for trabalhado.

É preciso amar incondicionalmente a vida, em todas as suas formas, e estar pronto a pequenos sacrifícios para que ela prospere e possa retribuir prodigamente, como é natural a todo amor.

É preciso aglutinar campos energéticos que atraiam outros seres e permitam o compartilhamento sem a deleção das individualidades, a não ser naqueles momentos onde o amor funde as pessoas em uma e em que não sabemos distinguir-nos de um outro.

É preciso acreditar na capacidade de transformação e de superação que todos nós possuímos e precisamos usar dia após dia.

É preciso mostrar com atos e atitudes que um ser pensante é aquele que entende isso, e busca ser pleno em tudo que faz, não para provar nada para ninguém, mas para afirmar que é possível e que vale a pena.

É preciso apostar que a vida é maior, o amor é maior, e que não custa tentar e apostar naquele pequeno grão de fé que existe em todos nós, naquele pequeno grão de mostarda...

Descobri, no meu aprendizado, que a família com que me acerquei - os nascidos parentalmente e os anexados e adicionados por afinidade ou diversidade - foi de fundamental importância para que o solo da minha vida pudesse frutificar.

Descobri na amizade uma força estruturadora de uma eficácia incrível, um suporte magnífico contra as grandes forças devastadoras do ódio, do desamor, da intolerância, do sofrimento e da dor.

Descobri na fé e na esperança o poder de ir adiante. Mas foi no amor que tive a maior revelação: podemos ser melhores do que somos, por nós mesmos, quando incluímos alguém dentro de nós, a partir da partícula divina, pois descobri que o melhor nome para Deus é amor.

E, felizmente, consegui entender que cada um tem seu próprio processo de descobertas e de aprendizados. Mais que isso, um tempo próprio para a absorção da amplitude do que conquistou, até que possa por em prática em sua vida. Por isso, disse no início desta postagem, que 'a construção de jovens que queiram agir com correção em relação a sustentabilidade passa por um aprendizado', que agora complemento: primeiramente nosso para que haja o do outro.**


Wellington de Oliveira Teixeira, em 26 de julho de 2011.


* Esse texto eu escrevi para me lembrar - em qualquer momento difícil no futuro - que vale a pena ser e estar nesse mundinho chamado Terra.
** Acrescentei esse parágrafo no dia 28 de julho, pois o texto me pareceu incompleto por não mostrar que o processo de aprendizado não é de mão única.

23 de jul. de 2011

Sincronia e Diacronia

Coração Metálico, criado por Luiz Carlos da SilvaCoração Metálico, criado por Luiz Carlos da Silva**

Saussure indica os dois eixos que "todas as ciências deveriam ter interesse em assinalar":
O eixo das simultaneidades,
concernente às relações entre coisas coexistentes,
de onde toda intervenção do tempo se exclui, e
O eixo das sucessões
sobre os quais não se pode considerar mais do que uma coisa por vez,
mas onde estão situadas todas as coisas do primeiro eixo com suas respectivas transformações."
http://pt.wikipedia.org/wiki/Diacronia)

Tentar explicar o que acontece em momentos de sincronia total é algo muito difícil.

Palavras como irreal, incrível, magnífico precisariam de um upgrade para começarem a se aproximar daquilo que se tenta dizer.

Amar e fazer amor podem ser coisas diferentes no cotidiano. A realidade do mundo atual criou uma certa mistura de termos.

A atualidade é muito passageira (Heráclito e Clarisse, vocês firmaram escola!) e, momentaneamente falando, os conceitos de hoje não me satisfazem. Sexo por sexo, pode até ser interessante para adolescentes com cargas hormonais tão potentes que desequilibram quaisquer tentativas de racionalizar. Não para um homem maduro.

E, entendam bem, não vejo problema algum na sexualidade adolescente. Vivi a minha cota e, como muitos, fui impulsionado a expressá-la em ocasiões e de formas muito estranhas, constrangedoras, complicadas. E, claro, com (in)consequências (in)esperadas. Com ou sem realização pessoal. Mas com os conflitos, fui me construindo como ser sexual e agradeço a todas as pessoas que contribuíram para a construção do que eu chamo de meu equilíbrio emocional.

E esse é um outro conceito muito frágil. Todo mundo sabe que uma paixonite o desmorona com facilidade.

Mas um amor antigo merece respeito. Segundo meu irmão, 'anos de casa contam'. Não se constrói uma conexão limpa e clara sem doação, sem entrega, sem abertura para receber e aceitar a entrega do outro, sem pequenas ou grandes brigas ou rancores, sem intimidade.

E, nem acredito que pensei nisso, um único encontro pode valer muito e superar os muitos anteriores. É que lembrei-me do nosso anterior. Claro, que poderia ter sido apenas um outro nessa série tão antiga, tão simples, e que já conta com o esperado de ser mais um ótimo. Esse não.

Tento me recordar os toques, carinhos, olhares, silêncios que já compartilhamos. Me permito revisitar uma história com altos e baixos (muito mais altos que baixo, diga-se de passagem...) e prefiro sentenciar mais uma vez que não houve outro igual.

Outra vez, sim, pois por várias vezes a vivência superou a expectativa e a experiência elevou um nível a mais o jogo do amor.

E, como bom amante que sou, prefiro guardar comigo todo o sentimento do momento e permitir que a energia extra gerada reafirme as bases do amor e provoque a urgência de mais um encontro.

O que aconteceu? Simples (?) sincronia de corpo, de alma e de espírito. Um instante de puro êxtase que perdurou muito depois que fui embora.

De novo, obrigado por permitir a minha invasão ao seu interior e por me dizer que isso gerou plenitude em você.

Foi de uma sincronia mágica, pra mim também.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 23 de julho de 2011.

* Tomei emprestado termos/conceitos da linguística para comentar um momento especial dentro de uma sucessão, também especial.
** http://www.fotografodigital.com.br/luis-carlos-da-silva-10474.html

21 de jul. de 2011

Pais e filhos (Pais, não andem abraçados com seus filhos)

Hulk foi criado em 1962 por Jack Kirby e Stan Lee.
Hulk foi criado em 1962 por Jack Kirby e Stan Lee.

Pais, não andem abraçados com seus filhos:
o ódio pode cegar os intolerantes e vocês podem ter seus corpos mutilados e suas orelhas decepadas.
Eles têm olhos mas não vêem e, no mundo de hoje, a aparência é a única coisa que importa.
Homens abraçados? Gays.
Destruam-nos!
(Wellington de Oliveira Teixeira - Ser Pensante by Well)

Me diz, por que que o céu é azul? Explica a grande fúria do mundo...
É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã,
Porque se você parar pra pensar, na verdade não há.
(Pais e Filhos - Legião Urbana)

Um simples gesto de afeto entre pai e filho motivou o espancamento. Os dois estavam abraçados quando foram cercados pelos jovens.

“Passou um grupo perguntando se a gente era gay. Eu falei que não. Falei que, como nós vamos ser gays se somos pai e filho. Aí os caras ficaram bravos: não, vocês são gays, vocês são gays”, relatou o autônomo de 42 anos, que é de Vargem Grande do Sul.

O grupo foi embora, mas voltou logo depois. Eles foram abordados novamente com violência, recebendo chutes e socos. O filho teve ferimentos leves e o pai foi espancado.

“Quando eu começei a acordar, escutei gritar: ele está sem orelha, ele está sem orelha”, disse.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 21 de julho de 2011.

* O trecho apresentado é uma reprodução do texto que se encontra em http://eptv.globo.com/noticias/NOT,3,31,359532,Cameras+flagram+discussao+entre+agressores+e+vitimas+de+homofobia+em+Sao+Joao+da+Boa+Vista.aspx

14 de jul. de 2011

Vazio, suspiros e saudades

Vazio suspiros e saudades criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 05/07/2011Vazio, suspiros e saudades, criado em 05/07/2011

Se um dia você for embora
Não pense em mim, que eu não te quero meu
Eu te quero seu

Se um dia você for embora
Vá lentamente como a noite que amanhece
sem que a gente saiba exatamente como aconteceu

Se um dia você for embora
Ria se teu coração pedir, Chore se teu coração manda,
Mas não esconda nada que nada se esconde.

Se por acaso um dia você for embora
Leve o menino que você é

(Meu Menino - Nana Caymmi*)

E, num instante, você partiu.

Não sei dizer o quanto isso me partiu, naquela época.

Eu era um daqueles que apostam nos sonhos, dos que acreditam que o amor completa todas as coisas, assim como nos completa.

Me vi diante dos pedaços de mim, sem ter como alterar os fatos.

Era tudo parte do inexorável poder do necessário da ordem dos acontecimentos.

Mas quem disse que adolescentes acreditam em consequências? Perigo? Jamais!

Tudo estava dentro daqueles desejos, por mais absurdos que fossem, por mais desesperantes nos momentos em que apareciam, por mais febril que nos deixassem durante as noites insones entrecortadas de vazio, suspiros e saudades.

Fazer loucura era normal. Expor-se além do necessário, trivial. Tudo valeria a pena para aproximar-se. Encontrar era muito.

Gato e rato. A fuga era um brinquedo perverso e a adrenalina subia tanto que não havia como fugir de tentar novamente.

Hoje, após tantos anos, um que de saudosismo bate à porta. E, apesar do que poderia imaginar, não quero abri-la: todas as feridas saram, os ossos calcificam, o coração volta a bater com outra cadência, por outro alento e por novas questões.

Ainda assim, não creio que devo abandonar as memórias, impedir os sentimentos de me inundarem por alguns momentos e transbordarem por meus olhos ausentes da vida cotidiana. Isso faz parte dessa coisa chamada amor.

E todo amor é pra sempre.

Até poderia ter dito "isto é, o amor verdadeiro", mas não acredito em nenhum outro tipo.

E daqueles que se foram para sempre - não importa para qual distância ou a quanto tempo - me permito que a alma me inunde. Revivo a força do encontro e dos muitos momentos partilhados.

É que um pouquinho de paz é necessário para vivermos uma vida plena e todos os que nos tornaram um pouquinho melhores merecem ser recordados com aquela tranquilidade linda que só os que respeitam a vida podem se permitir. E também ofertar.


Wellington de Oliveira Teixeira, em 14 de julho de 2011.

* Obrigado a você, Dê, por ter me ensinado a apreciar a Nana e a preferir o amor que cuida.

26 de jun. de 2011

Ser o único a acreditar

Refratar-Refletir, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 26/06/2011Refratar-Refletir, criado em 26/06/2011

É típico do futuro ser perigoso...
Os principais avanços da civilização são processos, todos eles,
que destroem as sociedades em que ocorrem.
(Adventures in Ideas - Alfred North Whitehead)

É algo difícil ser pioneiro, ter ideias inovadoras, criar novos costumes, construir pensamentos e estruturas fora do modelo padrão. Crer é tão ou mais difícil que esses.

Não é incomum a valorização nas referências históricas, nas parábolas, nos mitos antigos e modernos, nos contos de fadas, de personagens da vida ou de um conto que, de alguma maneira, tornaram-se primeiros em um determinado campo de pensamento ou em prática de vida.

No afã de tornar única a sua forma de agir e pensar, os preservacionistas fazem de tudo para calar qualquer outra voz que se erga apontando uma nova perspectiva ou direção: para a manutenção da tradição como única forma de ação, valem-se de toda forma de recursos, e a memória da história humana está cheia de ações, principalmente as belicosas, que comprovam essa tese.

Na contramão deles, com bravura ou perspicácia, foram muitos os que conseguiram escapar às suas tramas e tramóias e nos trouxeram a um novo patamar científico e social.

Resolvi focar aqueles que nos inspiraram a fé e as práticas beneficentes e aqueles que sobrepuseram o interesse coletivo aos seus próprios, principalmente os cientistas e os educadores que conseguem olhar o campo de possibilidades adiante como metas a serem alcançadas, como desafios a serem vencidos e como obstáculos a serem superados.

Desisti de escolher um bom exemplo, que era minha ideia inicial, quando fui me lembrando de uma imensa lista de pessoas ousadas que, mesmo pagando o preço da inovação com a própria vida, seguiram em frente e se tornaram ícones para todos no presente, e, quem sabe, no futuro.

Resolvi desafiá-lo a fazer um pequeno inventário, incluindo pessoas próximas e distantes, famosas ou anônimas, e mostrar de algum modo a sua gratidão por eles. E para dar o pontapé inicial, fiz esse texto.


Wellington de Oliveira Teixeira, em 26 de junho de 2011.

* A imagem que produzi, veio da ideia de luzes se refletindo e se refratando, tentando ultrapassar os obstáculos: vidros, chuvas, rios, mares, poças, espelhos e o que mais se apresentasse.
* Hoje é o aniversário do meu sobrinho Raphael, então, esse texto vai pra ele. Parabéns, meu guri!

15 de jun. de 2011

O choque

O choque, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 14/06/2011
O choque, criado em 14/06/2011

Não estejais inquietos por coisa alguma;
antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças.
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento,
guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.
(Bíblia - Filipenses 4:6-7)

O dia-a-dia é aquele mestre que prega peças em seus alunos: de vez em quando dá uma prova surpresa e, é claro, pega quase todo mundo desprevenido.

Em alguns momentos, faz-nos sentir que as portas começaram a se fechar, as cores a desbotar e a vida a murchar.

É algo muito estranho: o positivo pode tornar-se negativo e, com isso, levarmos um choque.

Bichos soltos esse tal de medo, essa tal de insegurança. Bicho estranho esse tal de humano.

É... um dia de tristeza é algo assim.

Mas dias tristes são normais, tanto quanto os felizes. Aprendemos com os dois tipos. É meio estranho o fato de ser típico acabarmos destacando apenas os tristes.

Mas, de repente, basta um pouco de esforço nosso para que pareça que a porta começou a se abrir, a luz começou a brilhar e aquela flor a florecer.

Descobrimos que somos mais do que pensamos e que podemos ir além.

E a vida entra nos trilhos, a caminhada prossegue.

Sorrindo? Ainda não, mas quase.

Um esboço já vale a pena: é suficiente para nos encorajar e para despreocupar os que estão ao nosso redor buscando nos fazer sentir melhor.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 15 de junho de 2011 .

* Para o meu irmão, Beto Lobo, que está aprendendo a ver a mão de Deus e a Sua ação nos fatos de sua vida diária.

8 de jun. de 2011

Se eu fosse bom o suficiente

Bom o suficiente, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 08/06/2011.
Bom o suficiente, criado em 08/06/2011.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza,
para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta,
para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar,
se perde de si mesma.
(Eu sei, mas não devia - Marina Colasanti)

É verdade que a rotina diária inclui desafios que, em graus diferentes, vão criando pequenas sementes de irritação, de cansaço ou dor.

Dia após dia, ouço de amigos ou de estranhos muitas expressões do cotidiano que denotam o sentimento de gente cansada da jornada estressante que percorrem em determinada etapa de sua vida.

Expressões, essas, sempre seguidas de uma certa resignação e de uma membrana de tristeza em seus olhos, que gruda como se fosse uma lente de contato.

Tempo atrás, tive contato com um texto que me encantou. Sua autora (Marina Colasanti) fazia uma reflexão sobre a capacidade do ser humano de se adaptar e provocava o pensar com relação ao seu uso para desistir de tentar mudanças ou para aceitar fatos tão inconcebíveis como a injustiça, a intolerância, o desamor.

Intitula seu texto com Eu sei, mas não devia*.

As reflexões que fez e que me atingiram em cheio, já naquela época, retornam para mim nesta noite em que a crise de rinite alérgica não me permite dormir.

Por que? Porque não aceito a paralisia diante das adversidades. Prefiro encarar as coisas e acontecimentos como pequenos ou grandes desafios que preciso enfrentar.

O texto original tinha uma base (A gente se acostuma a) que se repetia e que podia ser completada de diversas maneiras. Crio aqui algo semelhante: Eu sei que [abro e fecho as chaves para que você possa executar um pequeno exercício e fazer as suas próprias inclusões]. Coloquei rapidamente um ponto para não dar margem ao MAS. Não quero incorrer neste erro, pelo menos não neste momento.

Você sabe, tanto quanto eu, que há um certo costume de acreditar mais no negativo e que, diariamente, apostamos mais na derrota do que na conquista, de lembrar mais os tropeços do que das pequenas conquistas que certamente são vitórias parciais - uma das batalhas que foram vencidas e que nos levarão a vencer também a guerra.

Deve concordar também que ouvimos demais as vozes que nos desqualificam, não acreditamos em nosso potencial, na força da fé.

E por mais incrível que seja, o que é pior ainda, em vários momentos de nosso dia nos imobilizamos antes mesmo de fazer qualquer tentativa de superação, nos permitimos pensar 'se eu fosse bom o suficiente…'

Meu corpo está muito cansado, a respiração é bastante ofegante e difícil, os olhos embaçam e aquela dorzinha na cabeça, a todo momento, se apresenta como impecilho.

Penso então, fui bom o suficiente para encarar as adversidades, e com uma materia prima que eu diria ser dolorosa, literalmente, consegui criar um texto, produzir uma imagem para ilustrá-lo. É por isso eu estou feliz: sei que se eu aplicar esse conceito nos meus atos e atitudes diários posso ser mais do que bom o suficiente, posso ser um vencedor.

Wellington de Oliveira Teixeira, madrugada de 08 de junho de 2011.

* O texto, do ano de 1972, foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.

30 de abr. de 2011

Perderam a fé

Perderam a fé, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 14/05/2011
Perderam a fé, criado em 14/05/2011

Por essa razão eu lhes falo por parábolas:
‘Porque vendo, eles não vêem e, ouvindo, não ouvem nem entendem’.
Neles se cumpre a profecia de Isaías:
‘Ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca entenderão;
ainda que estejam sempre vendo, jamais perceberão.
(Bíblia - Mateus 13:13-14)

... A princípio
Insensíveis como feras, dei aos homens sentido, atribuí-lhes mente...
No início, vendo, pareciam cegos, e ouvindo, não escutavam, mas como fantasmas se atropelavam
Em sonhos, a história perplexa de seus dias
Confundiam
(Ésquilo - Prometeu acorrentado)


Acontece todo dia: alguém perde a sua fé.

É estranho pensar assim, ou, talvez, seja algo tão triste que não aceitemos tão facilmente esse pensamento.

Mas, se tivermos a coragem de avaliar, veremos que dia após dia, pequenas situações, pequenos gestos, coisinhas que não deveriam ser importantes, vão nos desgastando, vão nos tornando mais céticos e menos receptivos às coisas espirituais.

Talvez o acesso a nossa alma fique entupido e, por isso, ela não consiga mais se alimentar e acabe por definhar. E com ela a nossa fé.

Quando criança, nosso mundo é um rico imaginário que nos permite viver em mundos diversos, aceitar possibilidades infinitas, conviver com paradoxos. Tudo é novidade, há beleza em tudo, o surpreendente é acolhido. E, por ser assim, o caminho para o corpo, para a alma e para o espírito fica livre. O ser se alimenta e cresce. A fé também.

Quantas vezes rimos da ingenuidade dos pequenos, dos seus mundos que apostamos ser ilusórios? É algo que fomos aprendendo pelo caminho.

Ignoramos que o que chamamos de razoável é apenas uma convenção que se transforma com o passar do tempo, e acreditamos ser uma verdade e verdade com v maiúsculo.

Aí, vem um adulto louco que durante muito tempo só comeu e bebeu razão, que usa os sinais matemáticos para explicar uma nova física e nos diz que há mais de um mundo. Mundos e dimensões além das que aprendemos a experimentar pois nosso aparelho perceptivo (olfato, tato, audição, paladar e visão) não é suficiente para percebê-los. Diz que é possível, até, que sejamos aptos mas que, por desuso de algumas possibilidades desses instrumentos, não conseguimos.

Aí vem um grupo de físicos, fazendo testes incríveis num equipamento gigantesco construído num túnel que possui quilômetros (Grande Colisor de Hádrons do CERN), visando provar algo incrível: a partícula de Deus - no linguajar deles, os bósons de Higgs.

Eles acreditam plenamente. Cientistas que possuem uma fé incrível. Por isso mesmo avançam tanto. Não se limitam e querem que os limites se desfaçam. Há uma lista crescente deles.

Na contramão desse avanço, em nosso dia a dia, a maioria continua repetindo os velhos chavões da antiga razão, e constroem cada vez mais um mundo imbecilizado, ordenado, obediente e sem um vislumbre de sua grandeza.

É de se admirar que tantos percam a sua fé?

Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de abril de 2011.

* Me entristece ver, nos dias de hoje, o quanto os atos perversos de alguns tem gerado indiferença, sofrimento e, principalmente, a perda da fé no lado bom da vida. Dá para acreditar que isso é feito de propósito, para que nos tornemos servis e obedientes e sem nenhuma fé:
marionetes das forças que desejam-nos perfeitamente manipuláveis.

21 de mar. de 2011

Aprendiz

Aprendiz, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 21/03/2011
Aprendiz, criado em 21/03/2011

"Agora está tão longe. Ver a linha do horizonte me distrai.
Dos nossos planos é que tenho mais saudade,
quando olhávamos juntos na mesma direção.
Aonde está você agora, além de aqui dentro de mim...

Agimos certo sem querer. Foi só o tempo que errou.
Vai ser difícil sem você, porque você está comigo o tempo todo.
E quando vejo o mar, existe algo que diz que a vida continua
e se entregar é uma bobagem...
Ei! Olha só o que eu achei: cavalos-marinhos."
(Trecho de Vento no Litoral -
Renato Russo)

As ondas do mar batiam contra o casco do navio suavemente, na primeira vez que ele entrou em um navio. Conhecer a embarcação era o primeiro e tão esperado treino daquele aprendiz. Momento importante para situar o período de conhecimento teórico das peças isoladas que ele tinha decorado o nome, a função e o modo de manipular, agora em seu contexto pleno.

Aquele era o ano da realização do sonho para o qual estudara e recrutara ajuda para passar na prova de admissão. Mas também estava sendo um desafio, já que nunca havia ficado tão longe de seus familiares e queridos. A saudade e a falta daqueles a quem amava, apertava o seu coração de rapazinho.

Nessas horas, se lembrava de que não havia chegado à escola da Marinha em Florianópolis, de graça. Houve um preço a ser pago com dedicação.

Com suas novas amizades, estava enturmado. Divertia-se nos momentos de lazer com os colegas, mas ainda se sentia isolado.

Aqueles não eram os tempos de mensagens eletrônicas e instantâneas. As cartas levavam dias para alcançar o seu destino, as ligações telefônicas interurbanas eram caras e, por isso, raras.

Como subterfúgio para vencer a tristeza, todos os dias, ao final da tarde, no intervalo entre as aulas e o jantar, ia para a beira do mar com seu aparelho de som portátil, caneta e papel. Ali, ouvindo uma canção que seu amigo lhe dera, no dia em que partira do Rio de Janeiro, lhe escrevia uma parte de sua carta semanal. Era o momento de falar de alegrias e tristezas, do árduo treino diário, das faxinas e da alegria do final de semana em que ele e os companheiros podiam ir a cidade confraternizar com as meninas e arranjar encrenca com os meninos locais, enciumados.

Sentado na praia, com o fone em seus ouvidos - e aquele era o lugar mais propício para isso -, ouvia "De tarde quero descansar, chegar até a praia e ver se o vento ainda está forte. E vai ser bom subir nas pedras. Sei que faço isso pra esquecer, eu deixo a onda me acertar e o vento vai levando tudo embora...", música da Legião Urbana cujo vinil havia sido lançado a poucos meses. O título dela dizia tudo: vento no litoral.

Seu amigo também cumpria a sua parte no acordo, aquela mesma hora de todos os dias, era dedicada a escrever cartas bem divertidas, cheias de trocadilhos, piadas, e palavras de incentivo. E com as letras iam foto, tiras de quadrinhos, desenhos, e um pequeno cavalo-marinho embalsamado. Sabia que quando recebidas renovariam as forças do seu amigo já que quase nunca ele podia ir para sua casa. Os muitos meses isolado faziam parte do seu treinamento para marinheiro.

O final do ano chegou. Formara-se com notas muito boas, tinha a amizade de professores e colegas, era bem visto por todos. E com o final dessa etapa chegara o momento da grande decisão: embarcar e tornar-se um marinheiro ou desistir e seguir sua vida como civil.

Chegou ao Rio de Janeiro, só tento avisado da chegada ao seu amigo de cartas - o mesmo que um dia lhe havia ajudado a alcançar aquele sonho da sua vida, mesmo tendo lhe dito que odiava a ideia de vê-lo milico. Estava em seus planos fazer uma pequena surpresa para os familiares.

Na chegada, um olhar ao longe, uma corrida, um abraço forte e cheio de muita emoção. Em ambos, os olhos lacrimejavam, as emoções extravasavam.

Era um menino-homem, agora. Em seu quepe havia uma faixa de aprendiz de marinheiro. Olhando bem nos olhos de seu amigo, retirou a faixa e o presenteou. Estava voltando para casa.

Sorria, ao recordar seu aprendizado de marinheiro. Um dia fora um aprendiz que tremera de medo quando a tempestade chegou e navio era um briquedo do mar.

Como um bom aprendiz, percebera que no seu futuro não estava incluída a ausência da proximidade daqueles que lhe eram especiais. Não seria oficialmente um marinheiro, mas seu coração jamais deixaria de fazer as viagens que o tornavam pleno e feliz.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 21 de março de 2011.

* Para Alessandro Laureano, com meu amor eterno. Espero que esse sentimento o alcance em qualquer lugar do mar do universo em que você esteja navegando, Sandrinho.

15 de mar. de 2011

Pensamento reticente, etcétera

Reticente, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 16/03/2011
Reticente, criado em 16/03/2011.

"Você é a única pessoa que pode decidir se a minha verdade
é autêntica para você ou se é bobagem - falei.
Os princípios pelos quais eu morreria, os mais altos valores que conheço…
para você são sugestões, são possibilidades.
Você escolhe, e por isso aguenta as consequencias.
Cada sim, não e talvez criam a escola que você chama de experiência pessoal."
(Richard Bach - Fugindo do Ninho - uma aventura do espírito)

"A verdade que negamos a alguém torna-se o lixo que vai entulhar a nossa alma"
(Wellington de Oliveira Teixeira - Ser Pensante)

Creio que as reticências foram inventadas para aqueles momentos em que você põe um ponto que seria o final em uma frase, mas, logo a seguir, novos pensamentos chegam freneticamente e tomam conta sem que você consiga ordená-los ou impedi-los.

É diferente do etcétera que você usa porque já dá para parar de escrever pois o que vier é fácil de completar, é óbvio, é simples, etc.

O pensamento reticente não é etcétera e tal. Incomoda. Como uma paixão, ele toma conta da cabeça, não importa quão importante sejam os pensamentos do momento. Vem, se estabelece e, quase sempre, atrapalha.

O pensamento do apaixonado é como ser assaltado por sombras, mesmo quando o dia está iluminado.

Certo. Exagerei um pouco. Digamos que paixão é o tipo sem noção. Não percebe que não é o momento certo para chegar e insiste em ficar. Tipo aquele sujeito que em toda festa você procura evitar. Conhece o tipo, né?

É que ele se aproveita do menor espaço disponível para abrir uma brecha enorme. Basta uma pequena foto, uma pequena frase, poucas palavras ditas ou um segundo de solidão na alma.

O pensamento dos apaixonados é reticente. Confirmem ou neguem, a paixão é a mestre em tomar nossos pensamentos durante o dia. Ou à noite. É como uma doença. E, que eu saiba, ainda não inventaram um remédio para os doentes de paixão.

O que fazer então? Talvez o melhor seja relaxar, gastar um tempinho com ela e tentar ir adiante.

No meu caso, vou direto ao encontro de um meio de expressar a questão: escrevo ou desenho, ou ambos.

Se resolve ou não a questão incial eu não sei. Até creio que não. Mas que dá um segundo de paz a alma, certamente dá!

Wellington de Oliveira Teixeira, em 15 de março de 2011.

* Me apaixonei, quando garoto, por Fernão Capelo Gaivota, Longe é um lugar que não existe e Ilusões - aventuras de um messias indeciso, livros do Richard Bach que se tornaram instrumentos que me ajudaram a moldar o meu próprio pensamento.

28 de fev. de 2011

Quando o amor se desdobra e se multiplica.

Leandro Perrier de Faria Valentim, em 1999 - Foto by Wellington
Leandro, em 1999. *

"Cada pessoa, todos os fatos de sua vida ali estão porque você o pôs ali.
O que fazer com eles cabe a você resolver."
(Ilusões - As aventuras de um messias indeciso - Richard Bach)


Quando ele nasceu, os céus disseram que ele gostaria de macarrão e água. Só pode ser.

Era um menino, por natureza de cor morena, como ficam os que se delongam nas areias das praias, nas bordas das piscinas, nos jogos de futevolei de areia. Causava a inveja dos que se avermelham por um mínimo que fiquem expostos ao sol do Rio de Janeiro. Além disso, para a inveja de algumas meninas, suas pernas eram tão bem torneadas que lhe davam um porte atlético digno de uma escultura de Michelângelo. Era como a estátua do Davi, só que em movimento. E, com um dos mais leves olhares amendoados que se pode apreciar.

Travei conhecimento com essa figurinha num dia em que, por conta da amizade com seu pai, o ajudei a levar um bolo de aniversário para a sua casa. Ele deveria ter seus os seis anos de idade.

Por um capricho de sua natureza guardava ou demonstrava seus sentimentos de um modo muito peculiar: passeava pelos extremos. E quem não quis revolver esse vulcãozinho perdeu muito de sua personalidade surpreendente.

Também era um sedutor natural e não havia quem resistisse ao olhar triste aliado aos seus bracinhos cruzados. E esse é um capítulo longo demais para o espaço e pode aguardar um pouco mais.

O gosto pelas atividades físicas era projetado nos jogos de futebol, que não perdia. O que ele perdia, às vezes, eram litros de lágrimas e quantidade semelhante de soluços quando seu time do coração perdia. Nessas horas, o mais cruel carrasco se derretia: era impossível não querer consolar aquela criaturinha que expressava de modo tão verdadeiro seus sentimentos.

E por falar em carrasco, ele tinha o seu lado impositor, também. Qual criança não tem? Vamos a ele, então: macarrão com água.

- "Como? O que?" Acho que é isso que você está me perguntando, agora, não é? E, mesmo que pareça inconcebível, vou tentar explicar: ele não ficava sem sua dieta preferida. E ai de quem se atrevesse a lhe oferecer uma outra iguaria. A vovó dele era o seu anjo da guarda nas horas mais difíceis quando só havia um rosbife, um souflê ou outro prato, digamos, um pouco mais sofisticado.

E pra você que sussurou ou imaginou dizer pra si mesmo "_Que personalidade!" eu diria: acertou, ele possuia uma personalidade surpreendente para uma criança. Creio que é isso que me encanta até hoje, nele.

Dos seus esforços nos estudos, das suas práticas desportivas, dos encontros sociais escolares (tão lindo vestido e maqueado de caipira para as festas juninas...), são formadas as minhas memórias durante o seu crescimento.

Acompanhar alguém assim, não é fácil, pois ele é capaz de surpreender rapidamente: saltar do ouvir Oasis e outras bandas dos anos 90 para tocar violão foi uma dessas ocasiões. De repente, está aquele rapazinho aprendendo a tocar e começando a emitir algumas notas (desafinadas, às vezes) com a voz - nada de horrível para um iniciante e completamente ignorado por alguém que desconheça música.

Questões de adolescência, como as de todo rapazinho, com apoio familiar e dos amigos foi superando os problemas e desenvolvendo suas habilidades.

Mais sociável e sem abrir mão do lado intelectual, descobriu que o amor pela família e pelos amigos era apenas uma parte do poder que ocultava em si: apaixonou-se e descobriu-se amante. Viveu intensamente o companheirismo do namoro e esses momentos se perpetuaram e moldaram sua forma de agir, adiante.

No seu processo de ir ao encontro do mundo, passar no vestibular para uma federal foi decisivo: a natureza foi revisitada no seu curso de biologia.

Os novos amigos, as jornadas noturnas e as diurnas de 'gandaias', foram bons complementos que o impulsionaram nos estudos. Viagens para seminários, congressos, tudo o que possibilitava a ampliação de seus horizontes foi rapidamente absorvido. Se formou muito bem.

Seguiu em frente com pós-graduação indo abraçar tubarões em Fernando de Noronha (me assusto até com a ideia).

Bem. Como era desejado por todos ao seu redor, a sua busca profissional começou a ser recompensada. Prestou concurso e hoje trabalha em sua área de formação e tem um futuro promissor.

Do período de estudos, há uma herança muito importante. O desenvolvimento de um romance-relação que deu voltas, que o transformou e que o impulsiona até hoje.

E, foi ao receber uma mensagem eletrônica, informando que a união seria oficializada, que a história se repetiria e que o amor se multiplicaria, com a proximidade da vinda de um novo ser, que me propus fazer uma revisão histórica do meu amor por meu filhote - o modo como sempre o chamei e o tratei. Mas o desafio é grande demais e a felicidade é tanta que não há palavras para tentar expressar.

O principal é dizer que sei que uma nova jornada se inicia: sei que verei um novo brilho no olhar amendoado e doce daquele que sempre me referenciou com muito carinho.

Então, termino por aqui, esperando ter muitas e novas histórias para contar, mas faço isso informando a todos vocês que estou escolhendo uma palavra para eu batizar a minha relação com o filhote do meu filhote. É, porque eu já pensei que, até que ele me conheça melhor, talvez me veja apenas como um velhote. Mas eu sei que isso muda, pois uma coisa eu já aprendi: quando o amor é dividido e compartilhado, ao invés de diminuir ele se amplia.

E este é um paradoxo que só que tem um verdadeiro amor, como o meu, pode vivenciar.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 1ª de março de 2011**.

* Leandro Perrier de Faria Valentim, meu filhote do coração, em Peró - Cabo Frio-RJ.
** Fiquei tão ansioso que antecipei em cinco dias o texto que era para ser postado em seu aniversário. Fica bravo comigo, não, tá?

27 de fev. de 2011

Só pros sábios

Implosão, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 27/02/2011
Implosão, criado em 27/02/2011.

"A osmose pode ser vista como um tipo especial de difusão em seres vivos."
(wikipedia).
"Um guerreiro considera todas as possibilidades e depois resolve acreditar de acordo com suas predileções íntimas."
(Porta para o Infinito - Carlos Castaneda)


Há muito que foi retido,
quero tocar novamente, gerar um novo sentido,
habitá-lo o corpo e a mente.

Saudade é saudável.
Mais ainda ver-tocar, o instinto acender,
reacender o olhar,

explodir por implosão,
desabar só por cansaço, e a luz de um coração
no meu deixar um rastro.

Só você e só você
faz meu mundo renascer. Digo algo só pros sábios:
osmose é amor nos lábios.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 27 de fevereiro de 2011.

* Sempre me senti intrigado com a palavra osmose. A ideia de compartilhar algo por contato é fascinante. Hoje, baixou uma onda de poeteiro e arteiro, por pura saudade.

8 de jan. de 2011

Adolescentes

Mantenha o CharmeSnoop, Mantenha o Charme


“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado:
pensava que, somando as compreensões, eu amava.
Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente…”
(Clarice Lispector)


Há quem vire as costas para o amor, sem entender a magia e o milagre que ele representa na nossa vida.

Há os que não compreendam que quem não cuida do seu próprio amor e o defende, ainda que lhe cause dor, não entendeu que se você não o faz, ninguém fará por você.

Há muitos que perderam a noção de que ele em todas as suas expressões é, em si, a razão da nossa existência. Pois é ele quem gera em nós a amizade, o cuidado familiar, o desenvolvimento das habilidades e capacidades e desejos pessoais, e o encontro com a Ordem suprema.

Quando era adolescente, eu fui descobrindo - e aprendendo com - as várias faces do amor. E, mesmo agora, adulto, a marca que me ficou desse aprendizado traz um doce aroma do que foi vivido: como a memória de um perfume e o cheiro de uma pessoa amada.

Ao remexer, rearrumar e refazer meu espaço e minhas coisas (coisa que gosto de fazer ao final de cada ano), joguei muita coisa fora, outras guardei com carinho, novamente.

E, foi assim que reacendi o ponto de aglutinação** das energias que foram geradas em mim, naquela época. E revivi aqueles momentos com toda a sua intensidade. Por alguns instantes, voltei a ser adolescente.


Como se pudiesse elegir en el amor
Como si no fuera un rayo que te parte los huesos y te deja estaqueado en la mitad del patio.
[Como se pudéssemos escolher no amor
Como se não fosse um raio que te parte os ossos
e te deixa imobilizado na metade do pátio.]
(Rayuela - Julio Cortázar)

Fica tudo tão difícil sem você
Tudo me faz sentir frio sem você
Tudo desaba sem você
Eu tenho tudo mas não consigo sem você
Minha solidão é um grito sem você
E não basta se me aconchegam os medos
Fica tudo tão difícil sem você
Sem você.
[Não consigo lembrar o filme que tinha esse poema no final]***


Wellington de Oliveira Teixeira, em 08 de janeiro de 2011.

* Poster que eu tinha no meu quarto, quando adolescente.
** Conceito
apresentado pelo índio Juan Matus em que somos um a espécie de casulo luminoso e as nossas percepções ficam registradas em um feixe energético dentro dele. Quando acessadas, são reativadas, fazendo com que revivamos a experiência. (O Fogo Interior, capítulo 7 - Carlos Castañeda - ed. Record, 1984.)
*** O texto original é o da música Todo Sin Vos em http://letras.terra.com.br/sandra-mihanovich/196532/.