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30 de jul. de 2009

Fases

Fases, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 30/07/09. Fases, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 30/07/09.

*.

Escrevi sobre os fases como momentos estruturados com uma certa continuidade mas que anunciam as mudanças e que eram períodos que o ser humano vivia, como uma linha do tempo.

Mas fases tem outras características peculiares: elas nos mostram a sequencia dentro do trajeto de um ponto a outro.

Vejo também como um certo encadeamento de ações que se sustentam por alguns momentos até que algo dispare a mudança.

A estruturação de seu movimento parece ser a linearidade com pequenos e determináveis pontos de ruptura.

O grande barato de se olhar os acontecimentos a partir das fases é a invenção de uma permanência que inexiste. Por exemplo, acreditamos ser a mesma pessoa no decorrer da vida, quando apenas carregamos alguns rastros e marcas de vivências na memória - inclusive na afetiva. Essa é uma crença que nos leva a também querer ver uma certa permanência nas outras coisas e pessoas.

Socialmente falando, podemos nos considerar um conjunto de pessoas que se atrelam umas as outras por conta de pequenas ou grandes determinações de procedimentos que, na maioria das vezes, apenas tentam criar um modelo de permanência por fases.

Aceitamos atitudes e ações diferentes para a infância, a adolescência, a juventude, a maturidade e a velhice; em cada uma pequenas discrepâncias são facilmente aceitas. Mas não aceitamos uma certa curvatura no processo: nada de crianças agindo como adultos e nem de adultos agindo como crianças. Uma fase não deve retroceder nem adiantar demais. Tudo tem que ficar nas proximidades, sem sair do controle.

É bom termos um certo controle do que passamos e a percepção das pequenas rupturas que geram em nós a mudança. Como nos relacionamentos, há fases como em encanto-paixão-amor, esse conjunto também inclui aproximação e separação dos envolvidos, por diversos motivos.

Mas um bom motivo para se pensar as fases é que fica claro para você mesmo alguns dos passos que foram dados para se chegar aonde se chegou. E, é claro, ter o prazer de perceber que se está em movimento e não estagnado.

Vamos em frente.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de julho de 2009.

* Depois eu coloco uma citação que estou procurando. Ninguém é de ferro!

20 de jul. de 2009

A chama o chama

A chama o chama, criado em 19 de julho de 2009.

Quando um homem resolve fazer alguma coisa, tem que ir até o fim - afirmou Dom Juan. Mas ele tem de assumir a responsabilidade daquilo que faz.
Não importa o que fizer: primeiro ele tem de saber por que o faz e depois tem de prosseguir com seus atos sem ter dúvidas ou remorsos a respeito.
(Carlos Castanheda)

Estou toda a hora sentindo-me compelido a desenhar, escrever, ouvir algumas músicas e ver até aonde consigo ir nesta estrada solitária que estou percorrendo.

Sozinho, sim. E, apesar de ser uma opção forçada, a assumo como minha opção.

Fico imaginando quantas pessoas estarão passando pela mesma situação e quais são as opções que fizeram, por qual estrada resolveram caminhar. Me vem ao pensamento que alguém pode ter lidado melhor que eu com a questão e fico tentado a ter algum contato com essa pessoa para ouvir qual foi o modo como enfrentou o problema.

Sim, é um problema que me acompanha durante o dia e me impede quase que totalmente de dormir, porque fica martelando a minha cabeça e mantendo-a em atividade quando eu precisaria repousar.

O cérebro não pára. Me prende, me incomoda, não me deixa sossegar - que é o que me bastaria, por enquanto.

E mesmo que eu ainda deseje graus e graus de longitude de você, quero analisar essa questão com cuidado. Não há porque me deixar levar: não faz parte do meu comportamento escamotear alguma questão, mesmo que dolorosa.

Analisando o outro lado, noto em suas tentativas diárias de contato a falta de referência e um certo desespero com relação a perda, não apenas do carinho, mas do cuidado e da ajuda. Nas mensagens, uma tentativa de se iludir que não aconteceu nada, que tudo permanece como antes.

Entendo o gesto, mas o ignoro. Responsabilidade é pra ser assumida. Escolhas são para serem honradas. Respeito aos outros envolvidos deve ser garantido.

Não é fácil para nenhum dos lados esse momento inicial de distanciamento.

Encarar que a aposta mais alta foi perdida, mais difícil ainda. Principalmente para quem apostou em uma possível transformação para melhor do outro, em uma capacidade de entendimento da situação e em um sentimento de respeito.

No mundo onde reinam as paixões, a chama é intensa. O desejo é algo para ser muito respeitado, pois a qualquer momento ele pode lhe dominar.

As vozes da razão e da emoção podem até fazer uma trégua na disputa, mas há um perigo, sempre presente na paixão, que precisa ser avaliado com muita calma: quando a chama o chama você pode se machucar.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 20 de julho de 2009.

* Está sendo bom perceber a convergência entre sentimentos e pensamentos nos meus textos e nas imagens que estou produzindo. Coerência? Talvez. O bom é saber que, aos poucos, tenho conseguido retomar a meus processos internos e me sentir feliz com o resultado do que produzo. Como disse aqui há algum tempo atrás, 'carrego em mim as sombras e as cenas iluminadas da minha vida - isso me torna pleno'.

19 de jul. de 2009

A mágoa e a Raiva

Mágoa e Raiva, criada por Wellington de Oliveira Teixeira em 18 de julho de 2009
Mágoa e Raiva, criado em 18 de julho de 2009

Toda vez que sentir, como sente sempre, que está tudo errado e você está prestes a ser aniquilado, vire-se para sua morte e pergunte se é verdade. Ela lhe dirá que você está errado; que nada importa realmente, além do toque dela. Sua morte lhe dirá: 'Ainda não o toquei.'
(Carlos Castaneda - Viagem a Ixtlan)

A mágoa e a raiva nem sempre caminham juntas. Creio que é possível ter raiva sem estar magoado e estar magoado sem ter raiva.

Normalmente eu me enraiveço com atos que considero ignóbeis que me são dirigidos por desconhecidos e me magôo com atos dos que conheço bem.

Tem uma questão, aí, que tem haver com sentimentos e com atos. Os atos dos desconhecidos parecem, a mim, serem frutos de uma atitude pessoal de cada pessoa. E, quando dirigidos a alguém, carregam uma certa vontade pois, do contrário, não fariam o efeito que produzem.

Já com relação às pessoas de quem se gosta, isso não é tão cem por centro. Vários atos de alguém por quem temos sentimentos valiosos, como amizade e amor, nos ferem sem nunca terem sido dirigidos a nós. Eram uma pura expressão pessoal de quem os praticou e nós não éramos o alvo. Então, luto dentro de mim para que as coisas não se misturem.

Avalio que as ações de quem eu gosto têm o poder de me ferir por eu me manter aberto a essas pessoas, por estar sempre sintonizado com elas e quase sempre à sua disposição.

Gostar é um terreno perigoso e é, também, um poderoso meio de intercomunicação: a acessibilidade proporciona uma mensagem muito direta, com a possibilidade de uma resposta quase que instantânea.

Há um porém que precisa ser avaliado: a potência das ações é realçada em ordem exponencial - um pequeno gesto ganha proporções grandiosas; Uma simples lembrança, um telefonema, um piscar de olhos, um sorriso compartilhado são capazes de provocar mudanças internas e externas incompatíveis com o poder original da ação.

Sendo assim, é praticamente impossível não ser atingido pelas ações de quem se gosta ao mesmo tempo em que é possível simplesmente ignorar as ações dos desconhecidos.

Talvez por isso, quando um ato de um estranho qualquer tem força para nos atingir, a reação é de raiva - você não se cuidou, se expôs e ficou vulnerável. E a raiva tem mão dupla: é dirigida ao estranho e a si mesmo. Quem sabe essa não é a razão de ser tão mais explosiva e destrutiva?

A mágoa, por outro lado, promove a dor, o ressentimento, a tristeza e a depressão. É como se a mágoa tivesse o poder de drenar a positividade da relação.

Há um caso especial, quando alguém que amamos age intencionalmente contra a gente. E, nesse caso, a probabilidade da interação dos sentimentos de mágoa e de raiva é imensa. E de, associados, produzirem duas reações simultâneas em nós: a explosão e a dor. Em primeiro momento não distinguimos o alvo, já que se assemelharam na intenção com os estranhos, e depois, quando identificamos vir de alguém a quem amamos, somos tomados por um tipo de tristeza que é capaz de doer, para além da alma, no corpo.

Creio que estou vivendo um momento conflitante: amo uma pessoa e odeio o modo como ela agiu. E, para o bem dos dois, preciso descobrir um meio de ultrapassar a raiva e a mágoa. Ambas refletem apenas a minha fraqueza e a minha incapacidade de avaliar as situações e as pessoas. Além disso, preciso me reensinar que não sou melhor que ninguém e o que pode fazer a diferença é o modo como lido com as situações da vida.

Há algum tempo atrás li algo que redirecionou minha vida: a morte está sempre ao nosso lado, logo não há tempo para mesquinharias e atitudes imbecis.

Penso comigo mesmo, pra que carregar um fardo que não se pode suportar? Melhor deixar de lado ou para trás e ir adiante.

É isso que estou fazendo: não mais me permitindo ser atingido por quem foi como um estranho pra mim; me afastando e evitando ao máximo os contatos; impedindo o acesso que era gratuito ao centro de mim mesmo e deixando claro que somente os sinceros merecem a minha sinceridade e meus gestos de ternura.

O amor? Esse nunca termina. É verdade! O perdão virá.

Mas a proximidade, infelizmente, essa ficou perdida quando eu me perdi entre a raiva e a mágoa.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 19 de julho de 2009.

* Ao mesmo tempo em que escrevo isso, me recordo de ter ferido, não por desejar, uma família a quem sempre amei. Eles me ensinaram, na prática, que o amor perdôa. Sou extremamente grato por essa lição.

15 de jul. de 2009

Quando a tormenta se aproxima

Tormenta, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 15/07/2009
Tormenta, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 15 de julho de 2009


" Corro perigo como toda pessoa que vive. E a única coisa que me espera é exatamente o inesperado." (Clarice Lispector - Água Viva)

O que um homem faz diante das questões diárias é puramente manter uma certa rotina, é agradar a um grupo que esteja mais circunvizinho, é ter um certo controle de algumas variáveis sociais. Sua preocupação se remete às tentativas na base do erro e do acerto no trato com os temperamentos e caráter de alguns que estão para além do seu círculo mais próximo e no esquecimento dos fatos que estejam em níveis e espaços ulteriores.

Fundamental, então, nos projetos deste homem é assegurar-se de que nada que o alcance ultrapasse um raio de distância segura e atinja o seu núcleo de sustentação. Isso porque o seu controle é diretamente proporcional ao medo que possui dos aspectos que escapam ao corriqueiro: há um pavor que se manisfesta quando suas previsões anteriores não se concretizam e as forças de sustentação do seu mundo não engendram mais o campo de força que o mantém refém do processo da repetição cotidiana.

A insegurança se manifesta com o inesperado, o desconhecido. O descontrole se instala quando as suposições a respeito do seu mundo não se enquandram mais nas categorias pré-estabelecidas.

Seu estado permanente é o de manutenção de uma determinada ordem. E a ordem é viver na reação, na passividade, sob o domínio das paixões.

Mas qualquer que seja a idéia de mundo pessoal ou coletivo, ele sempre vai estar sob a ação de forças inexoráveis, que promovem a mudança, a transformação e, arriscaria dizer, enxertam uma certa evolução ou aperfeiçoamento via fragmentação do estabelecido.

Sendo assim, a única previsão verdadeira é a de que as variáveis sempre escaparão ao controle e irão provocar as rupturas no tecido do cotidiano. E quanto maior a pressão para manter sob controle permanente a coesão, maior a atração causada nas forças de desconstrução.

Apesar de sua vida ser estabelecida numa relação de manutenção com o passado e de esperança com relação ao futuro, isso só pode trazer contradição, confusão, sofrimento e dor. Esses pressupostos fogem à realidade do ser e do estar no mundo.

E quando as forças invadem seu espaço e quando a tormenta se aproxima, aí o bicho pega. Ou muda ou morre.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 15 de julho de 2009..

"Nova era, esta minha, e ela me anuncia para já. Tenho coragem? Por enquanto estou tendo: porque venho do sofrido longe, venho do inferno de amor mas agora estou livre de ti. Venho do longe - de uma pesada ancestralidade. Eu que venho da dor de viver. E não a quero mais. Quero a vibração do alegre… Liberdade? é o meu último refúgio, forcei-me à liberdade e agüento-a não como um dom mas com heroísmo: sou heroicamente livre. E quero o fluxo." (Clarice, de novo, é claro!)

12 de jul. de 2009

Dúvidas e crenças

Raio de Esperança, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 12/07/2008.
Raio de Esperança, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 12/07/2008

"Vença a sua auto-piedade agora mesmo. Vença a ideia de que está ferido e o que permanece para você como resíduo irredutível?
O que permanecia como resíduo irredutível era o sentimento de que tinha dado meu presente final para ambas. Não com a intenção de recomeçar nada, nem de ferir ninguém, incluindo eu mesmo, mas no verdadeiro espírito do que dom Juan tinha tentando me mostrar - no espírito do guerreiro-viajante, cuja única virtude, dissera ele, era manter viva a memória de tudo que o afetara, e a única maneira de dizer obrigado e adeus era através desse ato de magia: guardar em silêncio tudo aquilo que amara."
(Carlos Castaneda - O lado ativo do infinito)

Bem, agora que eu decidi, acho que devo seguir adiante nessa proposta de falar sobre dúvidas e crenças. Não de religiosidades, apenas dessas pequenas e grandes dúvidas que nos pegam, desprevenidos ou não, no dia a dia, principalmente em relação aos conhecidos.

Para alguém que estava atento ao texto e ficou em dúvida sobre o porque de não fazer de certezas a oposição às dúvidas, explico que não acredito em certezas absolutas com relação às questões diárias.

Quando o tempo está mais ou menos temos que apenas decidir o modo como vamos nos vestir, se levaremos proteção (guarda-chuvas, sombrinhas, impermeáveis, etc.) e o fazemos em uma opinião ou crença pessoal sobre o mais provável de ser o melhor.

Acontece algumas vezes de o tempo apresentar-se claramente e exigir escolhas mais definidas, ainda que não definitivas.

As pessoas que conhecemos, por analogia ao modo do tempo, tomam decisões e agem ora com uma clareza tranquila ou atordoante (a verdade pode agredir também, sabia?, é como um dia ensolarado demais que exige óculos escuros) ora com uma nebulosidade embaraçadora. Nesta última forma, acredito que nem sempre por falsidade ou por maldade: alguns são um pouco protetores de si mesmos e não querem muita exposição. E junto da cortina de fumaça que criam ao seu redor nos provocam as dúvidas sobre quem são realmente.

Entre as crenças comuns, há a de que são melhores aqueles que se expõem facilmente. Talvez seja assim. E, talvez, sejam apenas as nossas inseguranças que nos levam a acreditar desse modo.

Mas eu também avalio uma forma de entender as nebulosidades dos comportamentos como transformações de cada um. Mudanças acontecem em todos, todos os dias, e - quem sabe você está de acordo comigo - por conta delas não dá pra estarmos seguros de tudo, todo o tempo. E não sendo seguros dentro de nós mesmos, como seremos exteriormente?

Isso justifica parcialmente um monte de atitude daqueles que estão ao nosso redor, você não acha?

Bem, nem tanto, certo? Pois aí é que eu alcanço a questão que me levou a utilizar esse blog para compartilhar e discutir com outros seres pensantes a esse respeito.

No caso da omissão voluntária que comecei a esboçar no texto anterior (Eu me acostumei… - http://bigwzh.blogspot.com/2009/06/eu-me-acostumei.html), eu consigo ver a possibilidade de uma ação bondosa. Exemplifico isso lhe indicando pensar numa pessoa que não dá uma notícia negativa a alguém enfermo ou em idade bem avançada por conta da preocupação com sua reação e dos problemas que podem advir delas. A outra possibilidade é a do engano premeditado. Para este caso, pense em alguém que não conta sobre seu casamento para não perder um outro relacionamento. A bem da verdade, são omissões, mas se distinguem amplamente.

Há muitas questões éticas e/ou morais entrelaçadas e fica uma possível crença de que ambas as ações podem ter seu fundo de bondade mas, no segundo caso, de tão nebulosa a ação remete muito mais para o campo da dúvida. Mas quem garante?

Será que nossa avaliação é em função de nossa inclusão na questão? Será que é pertinente pensar que a relatividade das avaliações gira em torno de o quanto nos interessa a questão?

De novo, aparece a questão da crença e, por via das dúvidas, penso bem e acho que devo continuar essa reflexão em outro momento, pois estou envolvido demais para ser um avaliador.

Ainda assim, assinalo minha indignação por qualquer ação que não meça o nível de agressão que causará. Não que seja possível cuidar de todas as variáveis, mas, quando é algo mais objetivo, sempre parece uma espécie de canalhice ou covardia a omissão. E, para esse caso, o melhor para mim é a distância e a fé de que - na grande maioria das vezes - melhor sozinho do que mal acompanhado.


Wellington de Oliveira Teixeira, em 12 de julho de 2009.

* Raio de Esperança é a continuação do trabalho que fiz 'desfazendo-se no redemoinho'.