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24 de jan. de 2015

Engrenagens

Engrenagens criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 23-01-2015.
Engrenagens*, criado em 23-01-2015.

Assim, o corpo é um modo da extensão e a alma é um modo do pensamento. A natureza humana repete de maneira finita a mesma estrutura que possui a substância infinita. A alma é ideia do corpo. O corpo é uma máquina complexa de movimento e de repouso composto por corpos menores, que por sua vez são máquinas de movimento e de repouso. É pelo corpo que tomamos contato com a realidade extensa exterior, isto é, com os demais corpos, com os quais interagimos. A alma, ideia do corpo, não é um reflexo do corpo, mas a consciência do corpo e de sua inteligibilidade, bem como a de outros corpos. Corpo e alma são totalmente individuais — são individuais no plano da existência e no plano da essência.
(Spinoza — Coleção Os pensadores, p.14-15)


Mesmo alguns mais experientes teimam em ir adiante acreditando que controlam as engrenagens que movimentam sua vida e dão rumo aos seus caminhos. Apostam nisso por terem, em alguns aspectos delas, determinado nível de controle.

Se eu fosse avaliar os caminhos no aprendizado, meu e de alguns outros seres pensantes com quem tive contato, diria que em várias ocasiões fazemos apostas de todas as fichas numa determinada bola da roleta. Como todo estatístico dirá, alguma hora se acerta, mesmo contra milhões de possibilidades contrárias. Tomar essa vez como a que se constitui o padrão é certamente ingenuidade. Então, sou obrigado a concluir que a ingenuidade é o padrão no mundo.

Dos frangalhos, fragmentos, retalhos que nos constituem temos a lição de que a vida se multiplica por divisão da fragmentação de uma estrutura, depois de um único, breve - mas muito potente – momento de união. Essas partes são assimiladas por milhões de outras, a vida vai adiante.

Isso significa apenas que, dentro dos limites possíveis a essa inconstante forma atual que adotamos, temos que agir, buscar encontros com os pedacinhos que possam nos fortalecer e não enfraquecer — muito cuidado com aquilo que dá a momentânea impressão de fortalecimento, mas que cobra um preço imenso depois!

Na linha da razão, nunca descuide de ser um bom agente de manutenção: lubrifique as correias, avalie os anéis e dentes das rodas dentadas, cuide bem das engrenagens acessíveis nesse momento. Quando a percepção mudar, experiencie as possibilidades desconhecidas, os fluxos, de modo a absorver a energia extra que ela confere.

Essa linha de pensamento pode ser ilustrada com sair do dia a dia para uma viagem a um lugar onde a maioria das rotinas se desfazem e as regras se alteram: mais chinelos ou pés descalços que sapatos; mais nudez e bronzeados que uniformes; mais brisa que ares-condicionados. Você sabia que as engrenagens geralmente permitem rodar em mais de uma direção?

Quanto aquelas coisas que escapam ao controle individual, bem, é tentar novas coletivizações, é ampliar o campo de ação dando as mãos a quem está próximo: nenhum conjunto de células isoladas formam tecido, só com a aglutinação elas ultrapassam suas possibilidades.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 23 de janeiro de 2015.

* As engrenagens são conjuntos de elementos que operam em pares (dentes de uma encaixando nos espaços entre os dentes de outra) e a maioria é de forma circular.Elas transmitem movimento uniforme e contínuo como o das escadas-rolantes ou relógios analógicos. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Engrenagem)

10 de jan. de 2015

Remendos soldados

Remendos criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 10-01-2015
Remendos, criado em 10-01-2015.

Será que é assim que termina, pensei, será que tudo o que um Mestre diz
não passa de um amontoado de palavras bonitas que não o podem salvar do primeiro ataque de um cão raivoso?

(Richard Bach — Ilusões. As aventuras de um Messias Indeciso)


Um dia tive a coragem de me contradizer algumas das crenças mais protegidas, a da inteireza. O que torna alguém pleno não consegue torná-lo inteiro, como peças complementares todas se encaixando. Somos um mosaico com várias reentrâncias, inclusive algumas arestas que machucam os que tentam uma aproximação indesejada. Para ser um pouco mais direto, somos apenas remendos.

Talvez por conta dessa minha ousadia, pude perceber que geramos pequenos bolsões de ordem, algumas áreas estruturadas como as redes de descanso onde nos permitimos o tempo de [re]composição. Nelas nos tornamos reclusos, nos permitimos as viagens de coração e de alma, incontáveis para quem quer que seja. Lá temos que ficar desnudos e, talvez, lá é que alcancemos a percepção das aglutinações, das possibilidades de reunir os pedaços que foram absorvidos nos encontros e desencontros da caminhada.

Entendi que o preço de iluminar um pouco mais determinada parte é fazer alguma outra empalidecer. Como focos de canhões de luz, nossa energia é direcionada em feixes para acomodar a necessidade mais imediata, aquilo de que precisamos em um exato momento. O que convencionamos ser a realidade nos toma e nos absorve, quase que completamente*.

A partir desse voo, reuni alguns dos aprendizados anteriores e resolvi aceitar algo que posso com certeza afirmar ser meu maior desafio: criar as condições de iluminar plenamente cada pedaço reunido e gerar uma solda que os reúna numa singularidade, simultaneamente. Pode parecer algo absurdo, um tipo de alucinação ou fábula, mas, se acontecer de conseguir, quem sabe até aonde conseguirei ir?

Esse é o meu voo, qual é o seu?

Wellington de Oliveira Teixeira, em 10 de janeiro de 2015.

* Todo o cotidiano nos embaça a visão quando nos faz acreditar na rotina e na repetição e não na transformação.

Fé na fé

Fé na fé criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 09-01-2015
Fé na fé*, criado em 09-01-2015.

Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.
(Bíblia — Hebreus 11:1)


São duas as vias fáceis para quem não quer se comprometer em buscar entender a parte que cabe a cada um de nós nesse misterioso universo: dizer que Deus ou o homem faz tudo. Ambos os casos exigem fé em um determinado modo e é isso que torna todos seres humanos pessoas de fé.

Mas… a fé não exige qualquer tipo de religião mesmo sendo ela quem sustenta o modo individual ou pessoal de estar no mundo.

Uns poucos incentivam a conciliação entre a fé religiosa e a científica, e encaminham o desenvolvimento de novas noções básicas ou sustentadoras de um novo modo de vivenciar esses mundos que eram, anteriormente, estritamente distanciados. Todos sabem que essa separação promoveu ódios e violências e discriminações e muita morte através dos séculos, e eles querem impedir a progressão disto ou reverter esse quadro.

Dizem que há uma fé cega. Não creio. O que percebo é a produção de ideias geradoras de divisões: somos nós ou eles. Toda e qualquer semelhança é descartada para evitar o que consideram contaminação. Esquecem que enquanto não for adotado o respeito que desejamos para nós para o usarmos com os outros nenhum valor religioso ou científico poderá ser qualificado positivamente como valoroso.

Não é permissivismo acolher um outro respeitosamente, nem desrespeito o declarar nossos valores pessoais. Cada um deve ter a chance de se pronunciar e defender seus valores (fique claro, de forma não agressiva), entendendo que ninguém tem que pensar igual, nem mesmo semelhante para ter o mesmo valor que nos concedemos.

Você pode crer-se certo (e deve!) antes de optar por qualquer caminho de ação, mas permita ao outro a mesma liberdade de opção. Sempre haverá os pontos comuns, as interseções aonde a manifestação de amor poderá ter lugar e desfazer os pontos de desencontros.

Pode até ser que o mundo não se torne aquilo que você deseja ou crê ser o melhor possível, mas certamente será um lugar com mais cordialidade, respeito e, por isso mesmo, com pessoas mais felizes e com chances de serem realizadas. A perfeição individual é aquela plenitude que pode ser alcançada nos mais corriqueiros atos. Busque a sua, facilite a do outro: todo ser necessita e toda contribuição é bem-vinda.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 09 de janeiro de 2015.

* Há uma expressão que gosto muito 'levar fé em', que carrega uma positividade tão grande que envolve a participação ativa de quem a expressa: traduz um crer manifesto, numa aposta em algo, numa força desejante positiva para que algo dê certo.

1 de jan. de 2015

Amor de corpo inteiro

Novinho, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 31-12-2014 e 1°-01-2015.
Novinho, criado em 31-12-2014 e 1°-01-2015.

Então seguirei meu coração até o fim pra saber se é amor.
Magoarei, mesmo assim, mesmo sem querer, pra saber se é amor.
Eu estarei mais feliz mesmo morrendo de dor, pra saber se é amor:
quero um amor maior, amor maior que eu.

(Jota Quest — Amor maior*)


Agora que o meu velhinho 2014 começou sua aposentadoria muito merecida e com muitas histórias para contar, é hora de dizer para ele que as lições - a duras penas - aprendidas, renascem como aprendizado de vida nesse novinho chamado 2015. Estou de caso com ele e espero que tenhamos boas histórias.

Começar sorrindo, animado com uma manhã ensolarada e um cafezinho cremoso e uma barrinha de chocolate com menta, dá uma boa partida para o dia.

Com animação, tomou-me a vontade de preparar um almoço caprichado, padrão caseiro - nada de frescura demais tipo chief -, mas com detalhes que aguçam o aroma e o sabor. A barriga reclama porque o cheiro do frango na cerveja, com pimenta de cheiro e sal grosso tomou conta da casa. O segredo do molho ficará guardado a sete chaves. Um arroz meio-a-meio (integral e parboilizado) com cenoura, feijãozinho preto com alho e bacon sem óleo, um espumante que ficou reservado aguardando ficar no ponto e agora está aberto (a rolha algum dia será encontrada) completam a brincadeira.

Tornar um dia comum algo especial pode ser um apelo para que seja o primeiro de um grupo que vem com muitas surpresas.

Já estou na expectativa do nascimento do Arthur, prometido para o segundo dia de 2015. Adoro meus sobrinhos, sobrinhos-netos (como ele) e afilhados. Sou tomado de paixão pelos meus netos. Historicamente, aos meus filhotes (que a todo momento recordo e amo). Meu filho está novamente casado e, segundo ele, com um novo filho chamado Lord (bem peludinho, pequeno e bagunceiro).

Se a antiga geração - familiares, amigos e bons adversários - me trouxe as orientações, o cuidado e um afeto que aprendi a compartilhar, a nova me ensinou sobre mudanças e transformações. Por isso essa alegria e expectativa com esse novinho.

Meu desejo é simples: é preciso amar direito, um amor de qualquer jeito. Ser amor a qualquer hora, ser amor de corpo inteiro, amor de dentro pra fora, amor que eu desconheço. Quero um amor maior.

Quem sabe esse novo amor não estava aguardando esse novinho chegar para vir?

Wellington de Oliveira Teixeira, em 1° de janeiro de 2015.

* A letra completa está em http://letras.mus.br/jota-quest/68366/