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30 de mar. de 2014

Os construtos carregam voce

Construtos criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 30-03-2014
Construtos, criado em 30-03-2014.

Eu sempre amei o deserto. A gente se senta numa duna de areia.
Não vê nada. Não escuta nada. De repente, alguma coisa irradia no silêncio…
— O que torna belo o deserto — disse o principezinho — é que ele esconde um poço em algum lugar.
[…] "O que eu vejo não passa de uma casca. O mais importante é invisível…".

(Antoine de Saint-exupéry - O pequeno príncipe)


Quer produzir algo? Não o faça se não for para trazer à tona um pedaço de você, representar ou apresentar uma instância não alcançada antes: os construtos carregam você.

Pode ser algo estranho, mas que possua uma determinada visão de belo para os seus próprios olhos. Ou não. Às vezes acontece de você alcançar uma beleza que o encanta, porém, ao olhá-la, naquele momento não representa nem parcialidade nem totalidade de você. Melhor 'piorar' o que se produziu. Igual ao jeans surrado, que representou uma geração por muito tempo: apenas uma calça puída - por uso, não por fábrica! - que era mais desejada do que uma nova.

Uma vez me perguntaram do que eu tive medo antes de começar a desenhar, escrever, tocar ou reger, programar. De não poder aprender, creio ter sido a minha resposta. Do que eu lembro: mesmo não sabendo os fundamentos da música, errando ou acertando as notas, eu tocava; mesmo não tendo um português correto e copiando muito do que eu lia e aprendia, eu escrevia; mesmo fazendo traços primários ou apenas utilizando sobreposições do que eu gostava, eu desenhava; mesmo não tendo formação de teatro, adaptava peças para os musicais; mesmo não tendo domínio do inglês, eu traduzia.

Ainda carrego um certo temor de não conseguir trazer minha plenitude ao começar qualquer coisa, não o de obter uma obra de arte ou não. Há pouco tempo atrás eu descobri que algo que eu fazia para dar vazão a minha alma - tocar piano - mexeu com a vida de algumas pessoas que sequer conheci pessoalmente. E, entenda bem, eu nunca fui um grande pianista. Segundo alguma dessas pessoas, sabiam quando era eu quem tocava, porque a música ganhava alma. Talvez, por isso, o que eu transmitia, mesmo com a pobreza do que era construído, ultrapassou a fronteira do eu e repercutiu até hoje em outros.

É disso que eu falo, quando faço essa proposição: apenas seja pleno, utilize o seu potencial, expresse aquilo que você possui. Se isso vai torná-lo um artista ou não, que importa? A construção de si, a expressão de si, o lidar com o que há dentro de você deve ser prioridade.

E, quem sabe?, tentando uma determinada atividade, você encontre um caminho a enveredar. Se for com o coração, poderá até não ser útil por um determinado padrão mas certamente será bom.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de março de 2014.

* Me encantei ao saber que uma das repercussões foi ganhar um xará.

28 de mar. de 2014

Caverna inexplorada

caverna inexplorada, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 28-03-2014
caverna inexplorada *, criado em 28-03-2014

Há um lugar místico em mim. Algo assim bem escondido:
um planeta inexplorado, um horizonte perdido.

(Ego Trip - Viagem ao Fundo do Ego)


Imagino que todos possuem um lugar místico em si, onde experimentam as forças que o desafiam nessa vida. Uso esta proposição filosófica nas avaliações dos encontros e desencontros diários, não relacionando-a com ser ateu ou proferir uma fé.

Sendo seres espirituais, teríamos nesta dimensão propriedades e habilidades diferenciadas das biológicas e psicológicas.

E, entenda: proposições genéricas, como essa, me permitem viajar sem ter que comprovar, apenas especular.

Por isso, prossigo propondo que essas sensações de alinhamento com a natureza, os sentidos de integração com o universo, a capacidade de doação de um amor que ultrapassa a própria vida (instinto ou lógica) teriam seu lugar de desenvolvimento nela. Especialmente aquelas que nos dão uma sensação de crescimento interior, de aperfeiçoamento na vida.

Como todas as outras dimensões, poderia ser manejada permitindo um determinado nível de decisão de iluminá-la, de aprender com ela, de expressá-la.

Como desenvolvemos capacidades físicas e psicológicas, como emocionalmente estamos à merce do equilíbrio conseguido nessas esferas, dependeríamos de sua manipulação ou desenvolvimento para nos tornarmos seres espirituais plenos.

A ideia pode ser fascinante, não é?

Daí, o meu respeito a todos, religiosos (independente de seu credo) ou não, que produzem diariamente práticas de encontro, de harmonização, de respeito, de integração e de solidariedade.

Um olhar diferenciado, sim. Mas uma proposta não tão inovadora, assim. E, mesmo não desejando adotá-la, fica um desafio aqui: descubra a parte de si que atende a esses requisitos e a desenvolva.

Quando se começa explorar uma caverna, a escuridão pode ser o primeiro obstáculo a se encarar, que, aos poucos, sendo ultrapassado, poderá gerar descoberta e prazer.

Aonde a busca o levará eu não sei. Mas posso apostar que tem o potencial de torná-lo muito mais feliz.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 28 de março de 2014.

* Quando nos permitimos iluminar aquela parte de nós que ficou obscura, podemos descobrir que a caverna pode nos trazer imensas aventuras e descobertas.

26 de mar. de 2014

Sinalizando mudanças

Wellington de Oliveira Teixeira
Foto para o jornal Sete Dias, 07-03-1982 *.

Olhar as águas de um riacho, sentí-la, vivê-la,
é uma forma de se receber energias bio-físicas e se reencontrar consigo mesmo.
Espero vencer na vida, conseguir um emprego, vencer as barreiras que me esperam,
mas nunca perderei minha identidade humana.
Wellington de Oliveira Teixeira, em 07-03-1982.

Não dê as costas a possíveis futuros antes de ter certeza de que não tem nada a aprender com eles.
O que a lagarta chama de fim de mundo, o mestre chama de borboleta.

Richard Bach - Ilusões - As aventuras de um Messias indeciso


Alguns pensamentos me contagiam, talvez porque possibilitam a inversão de um modo de encarar determinadas questões. É o caso do que definimos como fim.

Se nos permitirmos o cuidado de analisar, o ponto que finaliza uma frase é o mesmo que já possibilita o início de outra.

Por algum motivo o fechamento não ocorre, a questão se estende para uma perda, suscita em nós um certo saudosismo, a vontade de não abrir mão. Em qualquer dos casos, produz acorrentamento. Selecionei uma palavra forte, não é? Mas, não se iluda, ela representa muito bem a cadeia de pensamentos que nos obriga a manutenção e impede o afastamento ou desligamento.

Nem tudo, porém, deve ser visto como impeditivo, uma vez que a capacidade de referenciar-se está ligada à retenção de alguns aspectos importantes da vida. Assim, ao se guardar um acontecimento ou experiência passada, sustentamos o bom ou mau sentimento que nos proporcionou: isso é o que podemos chamar, em sentido amplo, de aprendizado emocional ou intelectual.

Dou exemplos: todos conhecemos o uso como gíria da palavra legal (legal, cool, nice, do inglês). Alguém sabia que 'legal' vem do inglês do século XII, e significa tolo ou estúpido? Como eu disse, as coisas se transformam e o novo modo pode suceder ao uso que era comum, até mesmo o padrão assumido. Pense, então, no uso da palavra 'sinistro', que foi febre há algum tempo atrás, no Brasil, ou o irritante 'tá ligado?' carioca. Em breve outros termos ocuparão seu lugar.

Quando pararmos de encarar os términos como negativos, poderemos absorver um encantador conceito: desenvolver-se é ultrapassar o limbo das repetições e buscar o novo, o diferencial ou as mudanças. É ir adiante carregando apenas o que se conquistou que nos fortalece. É avançar.

Talvez, fim seja apenas isso: a marca da transição.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 26 de março de 2014.

* Essa é a primeira vez que publico essa foto e o trecho da primeira entrevista que dei na vida, para o jornal Sete Dias, quando passei em primeiro lugar para o curso de Psicologia da UFF, há 32 anos atrás. Muitas coisas mudaram, inclusive eu mesmo. Mas meus ideais conseguiram superar o tempo.

24 de mar. de 2014

Desequilíbrio inicial

Desequilíbrio, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 24-03-2013
Desequilíbrio, criado em 24-03-2014

Dom Juan: Pois bem, um guerreiro começa com a certeza de que seu espírito está desequilibrado;
aí, vivendo num controle e consciência completos mas sem pressa nem compulsão,
ele faz o máximo para conseguir esse equilíbrio.

(Carlos Castaneda - Porta para o Infinito, p.31-32)

Incomodado com a maneira de reagir a alguns acontecimentos de minha vida, peguei o livro Porta para o Infinito para recordar alguns pensamentos do Dom Juan que deram origem a diversas formas que tenho de me expressar. É preciso reaprender diariamente para poder reafirmar ou refazer seus próprios conceitos. Nada deve se estabelecer como imutável na vida, especialmente o aprendizado pessoal adquirido com a vida.

Na época em que fiz a primeira leitura, além de bem novo, eu era devorador de literatura e o livro me pareceu fantástico demais: feiticeiros, poderes, práticas de vida de não-fazer…

No entanto, os pontos de vista apresentados eram extremamente sedutores para uma mente questionadora como a que eu possuía. Então, me entreguei à leitura e avaliação das propostas apresentadas. O fiz tentando abstrair meus preconceitos. Lembro-me que me propus buscar uma visão de mundo de um determinado indígena, no caso o Dom Juan, e a afirmação que me encantou, de início, foi a de que era preciso buscar esclarecimentos, não apenas explicações convenientes.

Seu método, para isso, consistia em acumular um poder pessoal por meio da transformação das práticas diárias: o não-fazer. Este se apresentou como uma prática que possuía um imenso poder ao liberar nossa energia gasta com a repetição, com as nossas rotinas, com as nossas aceitações sem questionamentos e tudo o que nos mantém preso à mesmice, que causa o tédio ou que impede um aperfeiçoamento.

Era tudo de que eu precisava: essa proposição gerou a abertura de um portal dimensional para reavaliar tudo em tudo. Minha busca me levou a trilhar diversos caminhos, a praticar novos esportes, a tentar novas teorias do conhecimento, a experimentar novos sabores e a me afirmar como pessoa e a ter voz sobre o que eu chamava de minha vida.

Hoje, recordando um dos conceitos que mais me seduziram, o da humildade do guerreiro, me recordei de algumas características que assumi como importantes para a minha vida: a busca da impecabilidade em ações e sentimentos, a meus próprios olhos, e não aos olhos de espectadores; a aceitação daquilo que sou não como fonte de pesar mas como um desafio vivo; a não baixar a cabeça para ninguém e não permitir que ninguém o faça para mim.

Tem sido uma aventura e tanto caminhar usando esses conceitos, afinal, não há como forjar um triunfo ou uma derrota. Repito com o Don Juan, que mais uma vez colaborou para que eu ordenasse meus pensamentos e sentimentos: 'Um guerreiro está nas mãos do poder e sua única liberdade é escolher uma vida impecável'.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 24 de março de 2014.

* Para Roberta Ozorio, que hoje estava carente.

Sem medo

Sem medo, montagem criada por Wellington de Oliveira Teixeira em  20-03-2014
Sem medo, montagem criada em 20-03-2014.

Estava pensando em como o tempo nos transforma por meio dos desgastes: ficar idoso é um processo básico da natureza.
Avalio também aqueles que o ultrapassam, resistindo ao envelhecimento expressando a sua alma, experimentando as novidades, inventando novos horizontes diariamente.
[quem sabe se por uma forma oculta de sabedoria eu estava, ali, tentando alcançar o futuro com as mãos?].
(Wellington de Oliveira Teixeira - Postagem em 20-03-2014 no facebook)


Não tenho medo.

Não tenho medo de imaginar como possíveis conversas com forças que me são invisíveis, mas capazes de acessar o conteúdo de minhas reflexões expressas em falas, escritos, imagens, sonhos e práticas de vida;

Não tenho medo de ter sido algo aprendido o nomear, sentir e expressar essa força que denominaram amor e escolhi chamar de Ordem;

Não tenho medo de pensar que já fui unicelular e ao ir evoluindo ou me aperfeiçoando, esteja caminhando para a plenitude desse meu corpo e me aproximando da perfeição de ser.

Não tenho medo das teorias do criacionismo nem das que afirmam um processo divino intermediado pelo criacionismo.

Não tenho medo de considerar espelho e enigmas essas imagens ou mitos religiosos, avaliando-os como parábolas para nos ensinar lições fundamentais à vida.

Não tenho medo de alinhar razão e fé, acreditar que mais, muito mais do que eu possa imaginar, sejam os até agora segredos das naturezas divina e humana;

Do que eu tenho muito medo é de que, sendo tudo isso possível e sensível, eu apenas abra mão por não poder provar ou por encarar uma falta de explicação.

É por isso que eu me permito vivenciar e admitir que mesmo não alcançando explicação, sigo em frente, realizando singularmente a minha plenitude e pensando que, em algum momento após aprender e me desenvolver e me tornar aquilo que (mesmo indefinível) era chamado de perfeição, poderei acessar a Ordem e me tornar uno com ela.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 20 de março de 2014.

* A seleção de fotos não segue uma cronologia fixa, foram escolhidas pela facilidade de acesso.

10 de mar. de 2014

Ré menor

Ré menor, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 10-03-2014
Ré menor*, criado em 10-03-2014

Uma vez, aliás, agora é que me lembro, uma esperança bem menor que esta, pousara no meu braço.
Não senti nada, de tão leve que era, foi só visualmente que tomei consciência de sua presença. Encabulei com a delicadeza.
Eu não mexia o braço e pensei: "e essa agora? que devo fazer?"
Em verdade nada fiz. Fiquei extremamente quieta como se uma flor tivesse nascido em mim.
Depois não me lembro mais o que aconteceu. E, acho que não aconteceu nada.
(Felicidade Clandestina, p.94 - Clarice Lispector)


Desejei demonstrar, lhe fazer entender que eu sinto em seu beijo um reflexo, um lampejo que ultrapassa o normal

É que aprendi deixar você ir e voltar: a saudade me ajuda e desfaz toda dúvida desse meu querer bem.

Assim, me permito escutar o silêncio que faz quando eu fico sozinho repensando o caminho que eu quero trilhar.

Já tentei desenhar, de algum modo escrever o que ocorre em meu peito se recordo ou lhe vejo, mas não há nada igual.

Muda o modo de olhar, passear por aí com você junto a mim. Brisa fresquinha como o risinho na esquina quando vem me amar.

Aprender a deixar você ir e voltar: é a verdade que me ajuda e desfaz toda dúvida e me faz querer bem.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 10 de março de 2014.

* Nossos encontros e desencontros, nossas idas e vindas. Quando nossos amores tornam-se os nossos temores são como uma melancólica música em ré menor.

Toda a Arte da Fuga de Johann Sebastian Bach está em Ré menor.

*precisei mudar duas ou três frases para ultrapassar as pequenas fraquezas produzidas pelo momento de tristeza.