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30 de abr. de 2008

Peralta Celeste (saudade do Bruno)

Vai com os anjos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 13/11/2000*
Vai com os anjos, criado em em 13/11/2000*


Peralta:
menino travesso, traquinas.

Quem te conheceu sabe disso, guri.

O céu deve estar desesperado, não é? (pode contar pra mim…)

Sabe,

Sorriso pode ser coisa boa, mas o seu é coisa rara: ao mesmo tempo que encanta e cativa, desarma. Qualquer um que tentou ralhar com você sabe disso. (tô mentindo, cara?)

E mesmo sabendo disso, foi tão bom receber um…

Obrigado!

Por que? Por você ser sempre você.E se acha que vou esquecer as suas artes, pode desistir, mas vou aliviar – como sempre… – e vou falar de outro dom especial seu que certamente todos os amigos chegaram a conhecer: o carinho (quem recebeu um abraço, um beijo ou piscar de olho que confirme!)

Divinamente inspirada essa mistura que faz de você alguém sem igual, dessas que por onde chegam deixam logo a sua marca de maneira indelével como essa que guardo comigo e provoca essa manifestação.

Certamente falta não é a palavra pra ser usada. Duvida? Então pense comigo: como se pode sentir falta de alguém que está tão presente nas lembranças, nos sentimentos e nas marcas nos corpos que sentiram o seu toque? E quer saber mais? Pois bem, aí vai: nós nos eternizamos em todos aqueles que nos amam. Está preparado para aturar todos nós de uma vez só, todos os dias? Espere, então, para ver quando estivermos todos do outro lado da cerca… aí vai fazer mais sentido ainda as palavras que dizíamos na roda de amigos:

No Limit!

porque não haverá nenhum para nos separar.

Até lá, continue armando por aí e Cai na Paz, Bruno, porque Amigos São Amigos Prá Sempre!!!

Wellington de Oliveira Teixeira, em 13 de novembro de 2000.



*com acréscimos em 30/04/2008

Há muito tempo atrás eu amei

Revelando aos poucos, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 02/12/2007
Revelando aos poucos, criado em 02 de dezembro de 2007

Há muito tempo atrás eu amei. Fui tomado pelo amor. Tudo o que eu fazia era em função desse amor. E, mesmo percebendo sentimentos semelhantes no ser amado, não foi possível concretizar com tranqüilidade esse amor. Houve dúvidas, medos, fugas, momentos de desespero e sofrimento. Poucos momentos de paz. Mas, cada um que acontecia era suficiente para criar um desejo inesgotável que só se saciaria com um novo encontro pleno. E a tortura recomeçava. E, na expectativa, escrevia músicas, textos, poemas; tocava violão, piano, flauta; regia conjuntos, corais, congregações; ia montando as peças de um quebra-cabeças para que o vínculo dessa ligação pudesse ser mais forte que as dificuldades pessoais

Olhares se buscavam a cada momento. O corpo se inquietava na expectativa daquele brilho especial que fulminava, que enchia de energia, que transformava o ambiente. E era incrível como, de repente, o ambiente que antes estava vazio com duas mil pessoas, agora tornava-se completo com uma só, por que surgiu o sorriso do encontro. Contido, recatado e pleno de certeza com relação à expectativa que tinha gerado, da certeza de saber ser o único que poderia gerar aquela transformação no outro. E, mesmo do alto e distante, ele vinha como flecha certeira, fulminante para produzir sua mágica: justaposição de olhares – linha direta com a alma: um carinho; paralelo de sorrisos – linha direta com um corpo que anseia o aproximar-se, o tocar: um beijo. E o sorriso vem maroto, safado, casto e ingênuo, simultaneamente. E são olhar e sorriso relâmpagos: duram apenas segundos. A exposição seria fatal. Na galeria da vida, quem se expõe paga um preço alto

O amor foi um processo em turbilhão, conduzindo nossas vidas ao encontro do inexplicável, do inesperado do infinito entre a esperança e o desespero, entre as certezas e as dúvidas, entre a loucura e a razão

Era muito legal e, às vezes, muito confuso também. À quem dar satisfações? Com quem compartilhar os fantasmas que viviam dentro de nós? A quem recorrer senão a nós mesmos? É certo que cada um falou um pouco do que sentia com alguém muito próximo. Mas não bastava: era muito sentimento, muito desejo para a tentativa de se transmitir. Até hoje as palavras não me vêm quando tento explicar o que acontecia. Tudo só ficava explicado no momento da cumplicidade do encontro. Era o momento da entrega. Ali, abríamos mão do eu em função de um eu que éramos nós. A completude só podia ser vivenciada enquanto juntos, enquanto entregues um ao outro, mesmo no fugidio instante que escorria muito rápido por entre nossos corpos. O tempo do copo de vinho era o tempo da expectativa de um ônibus; o tempo de um almoço era o tempo de correr para o trabalho. E a ânsia por esses momentos era total. Causava uma inquietação, quase que um certo desespero

E, ainda assim, o tempo do amor era só dele mesmo. O único dono de tudo. Era tempo estranho e alheio a tudo: prolongava-se enquanto eu apreciava seu corpo sob a água do chuveiro, quando tocava parte por parte dele, suavemente, com a ponta de meus dedos. Era como se tudo estivesse se passando em câmara lenta, fosse um lapso no tempo oficial e no biológico. Era o momento sagrado. Ali eu era deus e era eterno.

Só que nem sempre se pode ser deus. E, de repente tudo caia por terra: o tempo da correria chegava. Estávamos atrasados, precisávamos correr, arranjar desculpas, tentar marcar o próximo encontro – que nunca acontecia como se definia ali. Na vida de cada um, havia muitos outros elementos a serem considerados, que não apenas aqueles que se tentaram controlar.

E havia, também, as suas dúvidas. Cada encontro pleno trazia junto a si um período de conflito em relação ao que se vivera. E era preciso um período de retração para dar conta das inquietações com relação àquilo que se aprendera no convívio com os outros – família, igreja, sociedade – que se opunha àquilo que se aprendera com a própria vida – o amor não tem objetos pré-definidos: ele chega, toma conta e fim.

Com as dúvidas, a fuga. Você marcava encontros para não ir. E, a cada desencontro, eu ficava tomado de desespero, de ira, de tristeza. Marcava-se uma impotência, no lugar de uma plenitude natural, nos encontros. Era uma falta que se manifestava contra as expectativas geradas pela antecipação às alegrias do encontro. Àqueles que se cativam é cobrado um preço: o próprio cativeiro. O aprisionamento aos atos do outro. Uma certa lei de reação imediata, que não podemos controlar, à qualquer ação do objeto do desejo. E, contrariamente à lei da física, em que a reação vem na mesma medida que a ação, a reação gerada por seus atos era surpreendentemente mais forte, criando gestos, atitudes e práticas impensadas, incontidas e intempestivas. Em contrapartida, você já estava sob o domínio da angústia, do conflito e não via outra saída senão a fuga. E esta gerava uma violência contra si mesmo, contra a sua interioridade, contra seu desejo mais profundo. Gerava também a certeza de estar magoando o objeto amado.

E era como se houvesse uma caçada. Era preciso que eu pudesse prever suas ações para que pudesse desfazer seus efeitos. E me vi, em alguns momentos, criando uma cerca para impedir a sua fuga. E, se conseguia, a força do seu desejo de fugir se expandia. Até que, o que tentou foi gerar em mim um desejo de desistir daquele amor, para que se fizesse mais fácil o vencer seu próprio amor e seu poder, já que ficaria solitário naquele amar. Mas ele se lhe mostrava indestrutível. E não havia outro meio senão o ceder à sua força. Era imperativo um novo encontro. Ao fim de tudo, por fim, você conseguiu o que queria: eu desisti do querer, do estar e do amar. Prossegui na vida, com um certo vazio e você teve que lidar sozinho com o amor que tentou destruir e as conseqüências que ele veio a cobrar de você pelo seu ato.

Só que a alternância entre um momento de êxtase e de milhares de angústia havia deixado, dentro de mim, uma marca. Sombra, de início, à uma cicatriz evidente, ao final, se tornou um aviso de alerta para que eu não repetisse mais aquela experiência. Nunca mais me permitiria passar por aquele sofrimento outra vez. E, durante muito tempo, ela foi polida para que brilhasse sempre que o coração desejasse experimentar um amor tão intenso quanto o que foi vivido. E funcionou. Me permiti paixões pequenas – um substitutivo ao amor – que me trouxeram momentos de grande prazer. E, se percebia um movimento em direção a algo mais profundo, eu me fazia recordar cada momento de dor passado, anteriormente, e me fechava em milhões de defesas. Apesar disso uma paixão especial se insinuou e tomou forma dentro de mim. E eu percebi que era capaz de silenciá-la e não torná-la evidente. Muito mais tarde, quando já controlada dentro de mim, falei sobre ela com a pessoa por quem me apaixonara, sabendo que não iria ter maiores conseqüências: a paixão aparecera, apenas em alguns momentos, em uma ou outra manifestação de carinho.

E, nesse período, amigos não faltaram. Toda a carga de sentimento e ações que o amor não podia expressar era dirigida aos que estavam próximos de mim. Fui dedicado, cuidadoso. Criei maneiras muito distintas de me aproximar e de cultivar os encontros. Fui um grande amigo de todos os que compartilhavam comigo a proximidade. Me tornei o confidente, o conselheiro, o ajudador de todos os momentos. E recebi, em troca, muito carinho e dedicação por parte de todos. Não havia inimigos. Não havia os menos atendidos.

Aprendi muito com cada um dos amigos. Vi minhas fraquezas espelhadas em muitos rostos. Vi minhas qualidades se expressarem em muitos momentos diante deles. Me fortaleci e fui apagando, sem querer, o brilho da marca de dor que carregava. Ela foi se desbotando, até se tornar uma sombra pálida, que poucas vezes conseguia ter minha atenção.

Um dia, porém, vi você retornando. Chegou para matar saudades. E eu me vi diante daquele ser que eu amara, um dia, agora tomado da certeza de que não havia como vencer seu amor e sentindo-se incapaz de lutar contra a sua própria solidão. Sofrera muito nas tentativas de novos encontros. Esgotara a sua força. Sentia-se descaracterizado. Não tinha mais como negar que se perdera ao abrir mão do amor que o tornara alguém especial. E queria tentar novamente. Queria ser amado. Queria ter de volta aquele ser que o tornara forte, que o conduzira ao mais profundo de si mesmo – como nas suas próprias palavras eu o ouvi dizer.

E vi as marcas que a dor produzira naquele ser outrora tão amado. Os anos de fuga cobraram seu preço. Os anos de fingimento cobraram sua cota da energia de vida, enfraquecendo-o. O brilho da esperança e do desejo, jogado numa cartada só: tentar encontrar o que havia sido perdido.

É certo que me entristeci. Era uma pena ver alguém que tinha sido tão especial naquele estado. Mas nada havia a fazer. Não possuía a capacidade para fazer o mundo voltar atrás e trazer de volta toda a plenitude dos meus sentimentos. E, estava incapaz de gerar – por mim mesmo – aquele amor.

Tentei, a um pedido seu, dar-lhe um último momento de prazer. Mas, não houve como. Meu corpo se negava a possuir um outro que o ferira tanto.

Ali, me despedi de você, de seus caminhos.

E, agora, enquanto coloco nas páginas essa história, deixo para o mundo, aquilo que antes carregava dentro de mim: me permito ser livre para amar novamente. Inclusive, sofrer novamente. Sei que se não fui hábil numa primeira tentativa, não quer dizer que em outras isso se repetirá. Corro riscos, é certo. Mas vejo-me com um novo olhar. Sou uma nova expressão de mim mesmo. Criei meu arsenal de coragem para encarar, de frente, o que a vida me propuser. Tenho vontade de me recriar todos os dias, sem que isso me desfigure. Do passado, guardo uma recordação do que me vi capaz de vivenciar: forças de extrema beleza; faces de mim mesmo que não veria se não tivesse me permitido amar. E, mesmo que isso tenha acontecido há muito tempo atrás, sei que o potencial que essas forças produziram está vivo dentro de mim. E creio que estou pronto para liberá-las.

Vou fazer trinta e sete anos. Que bom que isso esteja me acontecendo. Estou seguindo em direção a um desconhecido: meu futuro. E estou feliz.

,Wellington de Oliveira Teixeira em 09 de novembro de 1998.

29 de abr. de 2008

Meu ser e meu não-ser (se reinventando)

 Desprotegido, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 05/11/2005. Desprotegido, criado em 05 de novembro de 2005.

Meus investimentos no terreno do não-ser parecem surtir efeitos em quem se encontra ao meu redor. Meu não-sou-eu tem o poder de cativar, encanta muita gente. E a minha brincadeira ganha conteúdo porque ajuda. É, isso mesmo! Ajuda. Transforma pensamentos enrijecidos pelo costume, permite a ruptura de alguns padrões que estavam aprisionando.

Na noite passada, eu estava especialmente inspirado na minha performance: usei e abusei de exemplos de como a vida poderia não-ser e gerar algo novo.

Vou, antes que alguém chame o meu não-ser de falsidade e eu não deixe claro meu modo de agir, tentar ir encaminhando meu discurso para o esclarecimento.

Encontrei algumas pessoas com caminhos tão diversos e com idades tão distantes entre si e me permiti ser um ponto de convergência entre elas. Fiz intervenções na vida de um através de questionamentos à vida de outros que estavam juntos na roda de conversa e esta ação foi gerando posicionamentos diversos, estruturando formas de pensar diversas e, em muitos casos, capturei aquele sorriso de canto dos lábios se formando que sinalizava as mudanças. E cada um que ia se satisfazendo ia saindo um pouco mais leve, um pouco mais feliz, um pouco mais esclarecido, com um percurso novo a seguir.

Vi alguns reencontros entre brigados, um encantamento ser manifestado com olhares e palavras diretas entre dois dos participantes e, conforme ia a madrugada embora, minha satisfação crescia, o nível de cerveja no meu sangue igualmente. Estava ficando naquele estado intermediário entre a sobriedade e a embriaguez. E, certamente, isso ajudou a minha performance. Fui cuidadoso com todos, generoso com alguns, carinhoso com uns poucos e fui audacioso com raros. E, quando o amanhecer se aproximava, aproximei-me de casa, despedindo-me de um ex-estranho que participou de um pouco mais de duas horas de conversa e com quem travei um bom combate contra o medo de ser o que não-se-é. Por fim, o sorriso de paz chega e ele se vai. Posso me encaminhar para casa, um pouco cansado, bastante triste e sentindo-me muitíssimo solitário. Melhor ir dormir. E, por três horas, descanso e, novamente, me levanto para um desencontrar-me com meus afilhados em algum ponto qualquer de São Gonçalo. Volto para casa e descanso mais três horas para ir participar com familiares de um agradável almoço - mais atividades, sorrisos, torcidas numa transmissão televisiva de futebol.

Retornando para casa, decido ver um filme após uma boa dose de café - necessário para não dormir durante a sua exibição de Ray na minha tv. Decisão correta: momentos de puro deleite com a arte cinematográfica. Um banho, para retirar de mim o dia que termina e gestar um novo dia, e decido escrever um pouco – essa tem sido uma atividade que me proporciona um pouco de paz-de-espírito – para, no meio do caminho, em contato telefônico com meus afilhados, esclarecer os fatores do desencontro. E mais um pouco de paz me preenche: tempo da delicadeza é o que me toca ao ouvir nas caixas acústicas do meu Expanium conectado via usb ao computador (por que tantos têm um certo desacordo com a tecnologia?). E, quando penso nisso, digo para mim mesmo, esse é um assunto que deve ficar para outra hora. Basta poder aproveitar, do modo como eu fiz, os recursos que eu tinha e, na tela do meu computador, ver projetados meus pensamentos, conduzidos por uma vontade de compartilhar esses momentos com um alguém cuja defesa racional não o impeça de viver um bom caminho, mesmo que estranho como esse.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 12 de outubro de 2005.

Expressões sem sentindo

Adaga da razão, criada por Wellington de Oliveira Teixeira em 02/11/2005 Adaga da razão, criadA em 02 de novembro de 2005.

Fico, às vezes, me perguntando o porquê de tantas expressões para falarem sobre as coisas que não atendem à nossa expectativa.

São como palavras ao vento… — imagine a cena: o espaço ao redor cheio de letras que formam palavras em diversos idiomas, caminhando para o espaço exterior, onde alguma tecnologia que chamaríamos de futurística será capaz de captar e permitir aos historiadores de outro local e época a reconstrução da nossa história;

Isso é tempo perdido… — o tempo está sendo medido pelo que produz de imediato e que se constitua em bens materiais: 'tempo é dinheiro' é a expressão mais clara disso. A perda se refere a algo que não se pode encontrar. Mas como, se podemos nos recordar do que ouvimos, mesmo anos e anos depois, ele se perdeu? Será que não ficou em standy by - disponível para, a qualquer momento, ser utilizado?

Seu olhar é vazio… — se encontra em algum tempo-espaço estranho, inatingível, numa esfera fora da órbita comum, extraordinário a ponto de não precisar ser compartilhado: pleno em si mesmo. Mas plenitude e vazio não seriam termos com significado semelhante? Não indicariam uma e mesma coisa que poderíamos tentar sintetizar com uma frase do tipo 'o espaço é pleno de vazio'?

Veja como o jogo de palavras nos leva a caminhos diversos do que iniciamos: ao citar em nossas falas o elemento vazio e seus correlatos estamos apenas indicando a completude que não se encontra, momentaneamente, em nossa razão e, por razões diversas, não nos colocamos disponíveis à sua ação. O vazio que dizemos estar fora só existe em nós mesmos. É a nossa incapacidade que se faz presente no que dizemos estar ausente.

Então, o invisível nada mais é que a presença que nossa sensibilidade não atinge ou a percepção que nós tornamos metade por aceitar apenas a parte que faz parte do nosso cotidiano: nada está perdido, apenas bem guardado em uma porção de nós mesmos.

E nos esforçamos tanto nessa ocultação para não expor a razão a uma carga infinita de informações que inviabilizariam o nosso viver o dia-a-dia; é um mecanismo que garante a integralidade do nosso ser, sem a qual nenhuma outra possibilidade existiria. Mais uma vez, as nossas expressões diárias se tornam sem sentido e o tudo se forma e se mantém por meio do nada.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de outubro de 2005.

Estado de confusão.

O silêncio de fora, criado por por Wellington de Oliveira Teixeira em 17/10/2005
O silêncio de fora, criado em 17 de outubro de 2005.

A vaidade não é algo simples e ingênuo.
De um lado, é o núcleo de tudo o que é bom em nós e,
por outro, o núcleo de tudo o que não presta.
Livrar-se da vaidade que não presta requer prodígios de estratégia
(Dom Juan)
. Fogo Interior - Carlos Castañeda

Simples, detectar isso. Um vai-não-vai, um faz-não-faz que permeia cada raciocínio, cada movimento, impedindo a ação necessária - pura paralisia em movimentos, já que todos servem para nada: não me dizem, não me expressam, simplesmente expressam você em mim.

Interessante a potência desse movimento de captar o outro e inseri-lo dentro de si: há algum tempo não fazia isso. Minhas marcas estavam desbotadas e, agora que se reacenderam, juntamente com o brilho das novas, estão produzindo efeitos colaterais - um deles, esse meu utilizar-me de inúmeras imagens e palavras para dizer um pára para a paralisia.

E são necessários dois dias de empenho para eu alcançar algo produtivo, além das imagens e textos - mesmo eles um pouco caracterizados por uma certa impotência.

Silencio meus pensamentos e o silêncio que produzo produz o silêncio fora de mim, também.

Por um simples ato de decisão o universo muda meu universo e o inverso ocorre - não mais você em mim, mas eu em você me manifesto - sinto isso aqui no meu silêncio interior. Tento tirá-lo do seu círculo vicioso e ascende-lo em uma espiral para que sua visão se expanda, mas seus olhos ainda não estão treinados para ver do alto e buscam a visão horizontal do cotidiano. Vontade é algo imperativo e, quando bem usada, tem um efeito devastador ou criador. Decido não usá-la. É suficiente essa decisão consciente e plena de mim para eu retornar ao meu estado normal. Eu sou e isso me basta.

E Chico Buarque canta:

… prefiro, então, partir a tempo de poder a gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder te encontro com certeza,
talvez no
tempo da delicadeza,
onde não diremos nada, nada aconteceu:
apenas seguirei como encantado, ao lado seu
.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 19 de outubro de 2005

Nada mais a ser escrito.

Cristal, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 14/06/2005.
Cristal, criado em 14 de junho de 2005.

Há quem diga que não há mais nada a ser escrito que possa valer a pena: uma opinião que deve ser respeitada enquanto uma proposta de se fazer algo universal, que se torne atemporal, que alcance os arquétipos da humanidade e expresse os anseios de uma parcela grande de população da terra. Já vou avisando: este não é o meu caso! Escrevo para me expressar e repensar meus encontros com o campo das possibilidades e das probabilidades secular e espiritual – apenas um meio, como outro qualquer, só que com ele me sinto um pouco à vontade, me relaxo e me sinto expressar.

Ontem eu ouvi de um conhecido, provável amigo, no futuro, que ele gosta de tomar vinho enquanto faz as suas artes escritas – um meio de inspiração que funciona com ele – ou se isolar numa área aberta e se deixar levar por terra, mar, montanha, sol, lua e tudo o mais que estiver presente, naquele momento. Não foi novidade, uma professora conhecida havia me falado que tomava umas taças de vinho enquanto escrevia sua dissertação ou outros trabalhos acadêmicos – isso ajudava a sua razão. Que coisa mágica esse vinho: traz inspiração e razão, dependendo de quem o usa ou do momento.

Não, não me inspirei no exemplo deles para esse momento. Algum dia, talvez. Vou me deixando levar somente por uma sensação incômoda de precisar dizer algo e não saber o quê. Basta ir escrevendo - nesses tempos modernos, digitando - que essa sensação diminui, como se fosse apenas isso o necessário. Mas, enquanto vou colocando na tela essas letras, percebo que uma palavra não se encaixou, uma frase ficou um tanto confusa e vou acertando, deletando e incorporando uma nova, em substituição. È bem prático esse tal de computador – reduz bastante o número de rabiscos e passagens a limpo. Bem interessante fazer isso: um processo de escrita que vira o próprio tema da escrita (e, me perdoe a professora de português, esqueci a maneira como a gramática nomeia isso).

Percebo que falar em inspiração, razão, técnicas e equipamentos de escrita também me ajuda a pensar nos (des)caminhos que podemos seguir para um encontro conosco mesmo. Digo isso porque o meu coração foi sensibilizado por uma lembrança de alguém especial e tenho vontade de escrever para ele – por pura saudade. E termino essa frase já lembrando de outros que estão por aí, visíveis ou invisíveis: a sua presença é outro bom motivo para escrever algo que expresse essa magia. Se eu fosse um Coelho da vida até diria que mágica é tudo o que podemos fazer com o coração e a mente plenos e concordantes. Não chego a tanto; digo que quando se ama alguém a sua presença é constante, independente de seu corpo. E para brincar comigo mesmo, penso: Freud explica. E, olha eu sorrindo, sozinho, diante de uma tela colorida. E, só então, penso: nada mais a ser escrito. Deu vontade de desenhar. Uma imagem é algo complementar à escrita e, tomara, que ela me faça sentir como essas palavras: tranqüilo.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 14 de junho de 2005

27 de abr. de 2008

O Peixe e o Escorpião

Peixes, criado por Wellington de Oliveira Teixeira, em 29/07/2005
Peixes, criado em 27 de julho de 2005.

Encontros entre água, terra, ar e fogo formam tudo, diziam os antigos. Pensadores pós-modernos acrescentam que é com uma pequena e fundamental ajuda do caos.

Você flui, solto, nas águas doces ou salgadas, rasas ou profundas, é de peixes. Eu, que sou de escorpião, me deixo percorrer a terra firme - alto ou baixo - mas não ouso penetrar nos reinos aquáticos da Iara ou do Príncipe submarino: parece-me que esses mundos, no campo do visível, foram feitos para não se misturarem. Apesar de tantas evidências em contrário, tento descobrir um portal entre esses mundos; uma pequena curvatura no espaço-tempo em que eu possa me esgueirar para atravessar para o outro lado ou apenas o vislumbrar.

O Todo, o Tudo, o Completo, o Uno, o Indivisível, o Ser é feito de elementos constituintes - partículas que se aglutinam por algum tipo de afinidade, de magnetismo ou outra forma de atração - que não se mostram a um simples olhar: é necessário um exame minucioso, microscópico, macroscópico, telescópico e simultâneo nas partes e nos campos aglutinadores, feito com uma persistência infinita. Inicio tal tarefa, mesmo sem acreditar que consiga finalizar essa busca e alcançar o meu intento. Deve bastar ir ao mais amplo dos possíveis e encontrar-me com aquele traço onde nada em mim - razão, intuição, sensação, percepção - consiga mais se referenciar: um não sei o quê, que aprendi a denominar de incognoscível.

Veja só o meu processo de tentar explicar as coisas: hermético, em complexas expressões. Tão diferente daquele que seria o seu! Gostaria de ter o ponto de equilíbrio nas minhas divagações e escrever tão simples que não o colocaria numa situação de desconhecimento do que tento lhe dizer.

Repeti um processo que, em um determinado nível, tornou mais claro um outro texto: inserir uma imagem. Sabe de uma coisa? O desenho ficou de um lado fácil de ser apreendido e na sua outra metade hermético para olhos iniciantes no campo das filosofias, das artes e das interpretações: exatamente, como nós dois.

Será que essa coisa de horóscopo tem algo haver com a genética? As moléculas são tão 'molecas' que nos pregam peças com os elementos deste mundo!

Será que, tentando ser um pouco mais zen, encontro o fio da meada dessas divagações?

Será que, por força de uma condução feita por uma realidade em nível superior, nós fomos feitos para nos encontrarmos e, por eu ter uma busca incansável pelas profundidades, me tornar o solo onde você possa percorrer esse mundo tal qual a terra que sustenta o rio e o mar?

Será que a minha aridez só encontra descanso nessa sua fluidez?

Sei lá. Nem mesmo consigo destrinchar esse emaranhado de raciocínios.

Mas, não foi isso mesmo o que eu me propus fazer, ao iniciar essa escrita: ir até aonde eu conseguisse ir? Se isso bastar, sinto que apenas o exercício de novos pensamentos poderá me tornar apto a lhe explicar o que penso.

Continuo, então, num exercício oposto: o de vivenciar com você momentos de pura ação, onde não é preciso dizer nada tão difícil de se aceitar como 'eu te adoro', 'você consegue me trazer a paz', 'nunca amei tanto alguém, como amo você'. E, ao lhe perguntar 'está feliz?', ter como resposta aquela expressão única que, para você, expressa tudo, define tudo e que, para mim, flui como água - por qualquer lugar, e sempre cristalina: Hum, hum!

Wellington de Oliveira Teixeira, em 29 de julho de 2005.

Paixão é acidental

Paixão é acidental, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 21/07/2005 Paixão é acidental, criado em 21 de julho de 2005.



Que coisa estranha essa, a espera. Você acorda, bem antes da hora necessária, por que o ritual depende de arranjos anteriores: ajusta um detalhe, deixa pronto um refresco, come um pedaço de chocolate, põe seu playlist favorito para tocar, joga um pouco, relembra algumas fotos e o tempo vai passando…

Você verifica o relógio e pensa 'já era hora de ter chegado' e ao mesmo tempo ri (lembra-se da frase da raposa para o principezinho?), ao final das contas, um bom humor é sempre uma coisa que deixa a vida mais alegre. Estamos apenas em julho e o mundo sul americano ainda respira o seu inverno e um friozinho a mais, na espinha, a gente tira de letra, no país do futebol.

Daí surge a idéia: Por que não escrever o que se sente enquanto se espera? Por dentro, a confirmação: boa idéia!

No telefonema não estava estabelecida a hora, só no costume. É bom variar. A rotina cria aprisionamentos quando se estabelece. E, pensando bem, a vida é feita de puros acidentes, acontecimentos inesperados. O controle foi inventado por quem queria a dominação e, nela, quase não há experiências no campo das probabilidades e as possibilidades são restringidas ao máximo.

Paixão é acidental e o amor também pode ser, quando abrimos mão do controle: há um alguém, um outro, uma vida que não deve ser subjugada ao nosso mais bem-intencionado desejo de proximidade.

Ah… minha preguiça também deve ter a chance de manifestar-se na forma de um pouco de indolência, de um deixar-se ficar sem nada fazer. Por que não?
Na próxima vez, acho que vou tentar ser um pouco menos preocupado, um pouco mais largado, sim. Deixar que as coisas aconteçam por si é, também, um bom exercício de alma.

Sabe de uma coisa? Agora vou ligar prá você e perguntar se vem ou se não vem e, com isso, fechar um período de dúvidas. Um ciclo de espera é bom para nos ensinar a paciência, mas não creio que deva ser para nos colocar na passividade.

Ligo. E, sabe de uma coisa, essa pessoa não virá: chegou tarde e acordou com o meu telefonema. Tudo bem, já estou livre para outros momentos do dia, estou terminando o meu texto e a referência que fica é a de momentos aproveitados, instantes vividos e uma experiência boa para ser recordada nos momentos de melancolia.

Digo para mim mesmo, sem me deixar levar por uma autopiedade idiota: alguns sonhos não saem de sua esfera para tornarem-se um encontro, outros sim. Vou ao encontro dos outros.

Nos desejo uma boa sorte, ex-estranho!

Wellington de Oliveira Teixeira, em 26 de julho de 2005

Queria ter ouvido…

Metade, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 05/10/2007
Metade, criado em 05 de outubro de 2007


Que é preciso estar só por uns momentos, alguns dias, ou até uma eternidade inteira, para refletir mais nas coisas que a gente se permitiu fazer no dia a dia. Pela simples razão de que muitas das vezes fazemos as coisas apenas no impulso do momento sem termos nos permitido a chance de analisar a situação;

Que não se é falso por ter dúvidas posteriores a respeito de uma ação, que no momento quando foi realizada não nos era ilógica, inquietante ou prejudicial;

Que não sabemos bem o que ocorre conosco em muitos momentos, e muitas vezes acabamos agredindo, mesmo sem querer, as pessoas que estavam ao nosso lado, tentando nos dar força — mesmo que a sua forma de ajuda não nos pareça ser a mais apropriada;

Que toda relação exige sacrifícios, que não se cria uma relação perfeita de uma hora para outra: a camaradagem e o companheirismo exigem de nós a disposição de abrimos mão do tempo que temos para nós, em função de dividir um espaço com uma outra pessoa;

a amizade tem seus próprios caminhos para chegar, abrir nossas vidas e se estabelecer dentro de nós;

o amor dita regras incompreensíveis e o nosso coração, que não é muito bom para os raciocínios, muitas vezes se perde;

Que não se exclui de nossas vidas as pessoas que querem o nosso bem e que provam no dia à dia que estão ao nosso lado tentando serem nossas aliadas, querendo formar conosco uma corrente que seja capaz de sustentar o peso das situações difíceis que o mundo insiste em jogar sobre nós;


Que depois deste período de análise, exame cuidadoso, de reclusão voluntária, você vai voltar mais seguro de si, de suas opções, pronto para compartilhar suas certezas, suas dúvidas e sua vontade de acertar;

Que esses momentos tornarão você mais corajoso, mais fiel a si mesmo e acima de tudo mais verdadeiro.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 03 de novembro 1998

24 de abr. de 2008

Para Alguem Bem Legal Ouvir…

Merlin, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 01/11/2005
Merlin, criado em 1 de novembro de 2005

A noite chegou neste domingo e um dia dentro de casa tem suas questões próprias: um momento de estar sozinho, um momento de raciocinar, e muitos de reavaliar palavras, gestos, olhares e, principalmente, pensamentos.

Por onde está andando o meu sentimento, sinceramente, eu não sei: fico a vagar ao tentar achá-lo - ele divaga pelas nuvens que teimam em nublar a minha razão.

Não, eu não quero falar por enigmas, tenho certeza; mas, ao reler os parágrafos anteriores fico achando que só eu mesmo poderia entendê-los. Não acho que deva ser o tradutor deles, porque eu não sei se saberia escrevê-los de forma mais simples. Continuo escrevendo e penso neste instante que uma imagem vale mais que mil palavras - e eu fiz uma enquanto tentava acalmar a minha ansiedade. Decido incluir essa imagem antecedendo ao texto. Quem sabe, funciona?

Desejar encontrar alguém é algo complicado, envolve outras vontades e possibilidades que não só as nossas. Fico pensativo de novo e, agora, é a música que me leva pra longe: 'nunca viram ninguém triste? me deixa esmurrar a faca, amolar a faca cega da paixão… eu não posso causar mal nenhum a não ser a mim mesmo, a não ser a mim'. Quanta melancolia no seu autor! E, imediatamente, eu digo pra mim: "certamente esse não sou eu, nem mesmo esse tipo de depressão é a minha!"

Avalio meus sentimentos e percebo que o que sinto é algo bom porque é a recordação de bons momentos, de encontros que marcam a superfície da minha alma, não como queimadura disforme, mas como uma tatuagem que se quer carregar para sempre e que fique visível nos momentos certos.

Olho lá fora. A noite fica tão bonita depois de um dia de chuva!

E minha noite vai passando… melhor seria se encontrasse o ser objeto de minhas divagações; mas como, se ele se encontra num mundo paralelo, caminhando pelo espaço dos possíveis enredos da vida? Está longe/tão perto de mim: me sinto um pouco pequeno no meu próprio mundo. Mas, como eu disse, isso não é tristeza, talvez um pouco de melancolia.

Reacendo meu desejo de ser tão inteiro quanto o tudo e o todo: é isso exatamente o que sou - inteiro e não parte. Você pode até dizer que sou parcial… isso não me incomodaria. Afinal de contas, todos somos.

Acho que vou pra rua, quem sabe o que me espera por lá? Mas antes eu quis registrar tudo isso que se passa dentro de mim.

Hoje eu estou com saudade do próximo encontro que eu terei com você e, fico imaginando, será que você chegou a pensar assim, também? As coincidências existem - e eu já me acostumei com elas: tem hora que as chamo de intuição.

Continue a sua caminhada nesse mundo que ainda não entrei e, quem sabe?, aconteça de desejar me convidar para entrar e fazer parte dele.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 09 de junho de 2005.

Burrocracia

burrocracia, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 13/09/2005
Burrocracia, criado em 13/09/2005.

Em algum lugar disto que alguém resolveu dar o nome de mundo, e foi seguido pelos seus pares, será possível encontrar seres pensantes capazes de interagir com consciências de diversos níveis (coisa que não me considero capaz!) com facilidade?

Costumo dizer que se não consigo expressar minhas idéias, e me fazer entender, o responsável sou eu mesmo: é a minha incapacidade de lidar com outras realidades.

O que pode levar alguém a não ser permeável ao conhecimento e à interação? Burrice? Estupidez? Descaso? Indolência? Diga-me, aí: por quantas situações você já passou tentando explicar para alguém um fato ou necessidade e, depois de muito se esforçar, desistiu?

Procurei verificar - numa estatística bem básica - qual seria o percentual de pessoas que estariam vivendo e pensando situações semelhantes a esta e qual foi a sua reação. Resultado: desistência, na maioria dos casos; briga, em alguns; grito, em outros. Perguntado se isso resolveu, a maioria disse não. Ora, a inacessibilidade é algo frustrante para qualquer um. E como se resolve essa frustração? Novas tentativas de explicação? Criação de novos argumentos? Geração de momentos mais propícios? Fragmentação do que se quer passar adiante para ir, aos poucos, fazendo-se entender? Simplesmente escolher pessoas mais capazes?

Em todos os lugares, sempre houve pessoas, temporariamente, ocupando uma posição de poder que, evidentemente, não possuem qualquer qualificação para a função – não é apenas no serviço público que isso fica notório: peça uma informação simples e você será encaminhado para diversos setores até que alguém, com um pouco mais de capacidade, leva você de volta para o primeiro e diz que é para ser feito ali mesmo, de uma determinada maneira. E sabe com qual resposta você é brindado? ‘Ah, você deveria ter dito que era isso, no início!’ E você quase enlouquece pelo fato de que você disse exatamente aquilo. Experimente pedir uma correção nos valores de sua conta telefônica. Após passar por várias sessões de musiqueta e ‘aguarde que sua ligação será atendida’, você, enlouquecido, só pensa em dar um tiro no atendente, pede para falar com o supervisor que – em alguns poucos casos – entende a situação e resolve. No entanto, quanto de energia é despendida, à toa, para coisas tão simples? Deveria ser medida e cobrada.

Se isso valesse para serviços, imagine o quanto você teria disponível em sua conta bancária após conversar com aquele seu vizinho ou o primo de seu amigo quando foram ver ‘Matrix’, no cinema? Poderíamos inventar uma multa por cada ato ou fala imbecil. Só que teríamos que isentar os Parlamentares, os Juízes, e o Executivo inteiro: o risco de falência do país seria iminente!

Wellington de Oliveira Teixeira, em setembro de 2000.

23 de abr. de 2008

Produzindo percepções

Pablo, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 01/05/2005 Pablo, criado em 1º de maio de 2005.


E o tempo, hein, que coisa estranha que inventaram!


Certo. É uma maneira um pouco estranha de se começar um texto, reconheço. Mas por que não devo expressar de início a que vim? Quem achar que estou tentando esclarecer, talvez se decepcione. Mas não estará totalmente enganado. Busco o esclarecimento: não regras ou receitas pré-aprovadas, mas uma oportunidade que possa surgir ao tempo em que me dedico à tarefa de visualizar minhas questões, talvez nossas questões.

Você já deve ter lido, ouvido, pensado, que quando se escreve, desenha, esculpe, costura, inventa, constrói-se muito mais do que o que foi proposto inicialmente - algo ultrapassa a nós mesmos e aos objetivos.

Não sei se a angústia inicial seja, por princípio, necessária, mas, e não quero generalizar, vem como algo coincidente nas oportunidades em que me permito tornar verbo e substantivo alguns adjetivos que teimam ser advérbios (principalmente os intensivos) - o 'mente' no seu final me parece ser isso mesmo, como os final(mente), exclusiva(mente), total(mente), percebeu?

Fico imaginando um cenário nas áreas entre as terras/águas e os céus onde devem existir alguns seres bem parecidos conosco (quem sabe já aprenderam as técnicas de voar sem asas, de falar sem gesticular, escrever ou sem pronunciar?) que possuem uma faculdade especial, uma sensibilidade particular e extra de se sentirem estimulados quando um semelhante, que ainda está preso à terra, é tomado de uma necessidade de viver e expressar a sua experiência de vida, e seria como que impelido a auxiliá-lo através de provocações de nível extra-sensorial - um diálogo direto com a alma (não se esqueçam que eles não usam o nosso meio habitual de comunicação!).

Então, seria como um passe de mágica para o nosso modo cotidiano de entender essa coisa que até chamaria, em uma forma bem reducionista, de inspiração. Para que serviria esse auxílio? Por que estariam interessados nisso? Será que agiriam apenas por estímulo-resposta? O que seres assim ganhariam, qual seria o seu retorno, mesmo que sua ação fosse voluntária e desinteressada?

Sabe, eu creio que em qualquer situação que vivamos temos um retorno que podemos não perceber, não buscar, nem desejar. Seria algo como que um necessário da ordem dos mundos: um bônus da vida para aqueles que participam dela, em qualquer de seus níveis. Mas não leve tão a sério e ao pé-da-letra a palavra bônus, ela é enganadora. As energias que movimentam os mundos estariam entrelaçadas e fluiria. Assim quando uma entra em ação, as outras também teriam que se mover num fluxo sem fim.A quantos mundos se daria à luz assim?

Luz. Por muito tempo se disse que era a maior velocidade existente - e olha que já fizeram enormes piadas a esse respeito misturando pensamento e (me perdoe a expressão) a diarréia - sendo essa última a mais veloz de todas por não dar tempo nem de pensar. Riu? Tente, pelo menos. Imagino que a coisa mais veloz do mundo - e também a mais poderosa - chama-se amor. Já reparou que quando amamos, não é necessário pensar para estar ou sentir ao lado o objeto desse amor? O contrário também vale: o vazio imediato que surge gerado pela ausência (ou a nossa necessidade de presença).

Mas, indo adiante, se imaginássemos esses entes como partículas carregadas de energia, que buscam opostos ou semelhantes para se unir para uma troca. O que teríamos para lhes fornecer e eles a nós?

Será que as nossas vivências criam algum tipo de registro energético em nosso campo pessoal e isso seria o fator de aproximação entre todos? E será que isso implicaria em que quanto mais nos entregamos às experiências, quanto mais diversas e plenas elas forem, haveria um ponto de concentração em um determinado núcleo de nós que seria um aglutinador de mais e mais encontros com esses entes e nesses encontros um algo se acenderia em nós e neles e, por alguns segundos, uma certa angústia produzida na transferência-troca, identificação-descoberta, se seguiria da separação entre as partes: o processo se finalizaria quando esse encontro simbiôntico se produzisse plenamente.

Simbiose, palavra linda que foi inventada para dar conta de um encontro em que todos os participantes saem plenos, após cada um contribuir com aquilo em que é pleno. Poderia chamar de plenitude também, não é? Talvez até melhor, porque o bios no meio da outra parece apenas incluir organismos que a biologia classifica - e os possíveis outros?

Mas é questão de opinião e, tanto faz se aceitável ou não. Basta que produza um efeito para ser real. Não acredita? Pois então vamos falar de fé. É isso aí! Você acredita na ciência, acredita em rotinas, acredita em mensuração e estatísticas? Pois é isso mesmo: você acredita. Fé! A ciência também acredita, pois ela só trabalha com o provável e não com o que pode provar (eheh, te peguei!). É como um jogo de palavras: você define um objeto e depois diz que ele é objeto porque você o definiu. Mas espere aí, isso não desqualifica a ciência. Pelo contrário, mostra que ela é real, funciona. O paciente escuta o médico falar, acredita, toma um certo remédio (poderia ser só água com açúcar) e fica curado. Um outro paciente, depois de escutar por uma hora um sermão de pastor, padre, rabino, mestre, ou outro, e acredita e sai curado.Funciona! Que outra palavra mágica. Somos como uma máquina que precisa de um combustível para funcionar. E me arriscaria a dizer que nosso combustível principal é a fé, se não fosse o amor, por que ele me faz ultrapassar-me a todo momento.

Pronto! Se fosse fazer uma teoria sobre a vida, resumiria em poucas palavras: a vida se compõe de energia de amor e fé que fazem funcionar todos os entes dos mundos existentes ou ainda não e produz intercâmbio entre eles.

Complicado? Não. Simples assim.

Já disseram que a simplicidade é a unidade principal de todas as coisas que, quando adicionada a diversas outras, geraria a complicação. Da mesma forma que esse texto: unidades de idéias simples que se articulam e produzem, por si mesmas, sem qualquer predisposição minha para tanto, uma certa complicação.

Quer ver como é esse jogo de simples-complicado? Você conhece alguém; troca alguns pontos de vista sobre o que pensam de si mesmo e do outro. Você sai com a sensação de que aquela pessoa é maravilhosa, tudo o que você desejaria. O mundo se move e retorna ao ponto de encontro. E mais trocas de palavras, gestos e, agora, toques. E, mais uma vez, você sai achando que o mundo é maravilhoso, tudo é completo, tudo se encaixa. Que bom que seja assim, porque senão ninguém se arriscaria a ir adiante e enfrentar o aparar de arestas entre os encaixes, que depois de certo tempo começam a incomodar - dizem que é sorte de principiante, mas para mim tem haver com amor e fé, e é aí, quando as coisas simples se complicam, que também eles entram em ação para gerar condições de sustentabilidade ou de dissolução.

Viu, o simples gera o complicado e um possível retorno à condição inicial.Inicial? Será que já não havia um 'precedimento' no ponto do encontro que foi o gerador dele? Vamos chamar de referencial? Isso. Ao ponto em que fazemos a referência para o acontecimento. Então tudo teria início (eu disse início?) com a referência.

Nos referenciamos a tudo e utilizamos tudo como referência. Assim temos que nos dizer somente em termos do que não somos, isto é, o outro nos referencia a crer que somos e nos diz ente também. Por que não? Afinal de contas o que conta é nos percebermos vivos.

Percepção é o ponto onde acontece aquela angústia do encontro entre os entes, senão não daria para diferenciar eu e não-eu.Caramba, que bom caso a percepção possa ser expandida: eu e não-eu sermos uma coisa só, ampliada. Uma certa unicidade entre tudo, um todo uno.

Único. Sim, por que não? Um único momento, o agora; uma única referência, vida; um único ser, pleno de eus (deus?); uma única propulsão, a fé; um único e contínuo ponto de aglutinação, o amor, talvez o produtor dos sonhos…

Sonho. Deixa estar, quem sabe não seja exatamente essa a função dos encontros - geração de sonhos - pequenos 'vazios' no uno, plenos em si. Angústia com potencial de gerar transformação, que faz com que tenhamos que avançar para algo que não-nós e por isso mesmo nos encontrar.


(Para Xandinho, Pequeno, Bruninhu, MD, Cµssa e Thiago que me ensinaram a ampliar a minha percepção).


Wellington de Oliveira Teixeira – 4 de abril de 2006.

Somente pra Conhecer

Mandalas e Inconscientes - ICHF -UFF em 30/05/2007 - foto: Wellington de Oliveira Teixeira
Performance O Prazer é Todo Meu e Sistema Nervoso Alterado


Os jardineiros se reconhecerão entre si
— porque sabem que na história de cada planta está o crescimento de toda a Terra.
(Escrito antigo, autor desconhecido)



A necessidade de conhecimento é algo quase incompreensível.
Pode ser dito que ele é fruto de um estranhamento
que se dá num momento estranho e
estranhamente nos conduz por rumos de grandes questões
- questões estranhas, é claro !

O resultado é uma necessidade interior de uma expressão exterior
ou será de uma expressão interior de uma necessidade exterior?

Tanto faz.

O conhecimento é tudo que faz a vida ir adiante.
É o poder que nos ensina como usar - e quando - a energia
na medida exata para alcançarmos os nossos objetivos mais profundos.
Aquilo para o qual optamos por viver.

E, como a vida não é apenas o previsível, o conhecido, o nomeável,
conhecimento não pode ser visto como apenas usar a razão ou a lógica intelectual. Se expressa, porém - e muitas vezes, até - através deles, mas aparece em lugares, acontecimentos, expressões onde o pensamento é calado e a lógica esquecida.

Profundo silêncio interior expresso em atitudes potentes,
sem se preocupar se são profundas ou não, ainda mais porque
superficialidade ou profundidade são termos que não dão conta desse complexo que é o ser enquanto ocupando uma localização numa dimensão espaço-temporal.

É aí que o valor de um bate-papo, uma troca de olhar ou sorriso,
um instante onde a afetividade se expressa num gesto, numa escrita,
assume o seu devido valor: uma troca de energia que, combinadas,
efetuam o equilíbrio de um universo incrível,
ao mesmo tempo que estranho e imprevisível:
a amizade.

Vá em frente. Eu acredito em você, pilantra!
Friends Are Friends Forever!!!

Wellington de Oliveira Teixeira em outubro de 1995.

Durante o caminho…

Wellington de Oliveira Teixeira - foto: Luiz Claudio da Rocha Prét Wellington de Oliveira Teixeira, Bico do Papagaio - RJ

Foi uma subida íngrime. Passo a passo o caminho foi se fazendo-mostrando e sendo percorrido. A tarde já estava se despedindo, o sol ainda era intenso e brilhava no horizonte. O que se podiam ver eram apenas a subida e a alameda que, nas suas laterais, se mostrava repleta de plantas de todos os tipos. Árvores faziam pequenas sombras em alguns trechos. Havia curvas, muitas curvas, ora para a direita, ora para a esquerda e de novo para a direita. O caminho era de pedra e as pedras disformes entre si faziam com que fosse necessária uma atitude cuidadosa para com os passos para não serem transformados em desastre, numa queda. Havia também um desejo, um alvo, uma vontade que se expressava em cada movimento da perna e dos braços: alcançar o final, o cume, ver a paisagem, desfrutar do mundo lindo de um pontal, obra-prima da natureza, verdadeiro cartão postal.

Percorremos mundos, geramos em nós expectativas, buscamos nossas recompensas, tentamos tornar real os nossos desejos, mas, o que fazer com eles?

Há uma misteriosa resposta que vem das coisas e dos acontecimentos da vida, quando tomamos uma atitude de leveza — uma abertura para nos tornarmos crianças — e ousamos nos questionar e perguntar a respeito das nossas questões a tudo no caminho: pedra, árvore, rio, mar, montanha, céu e ar.

No caminho, sempre encaramos problemas difíceis de resolver. E esse é o momento da imaginação entrar em ação, tornar-se a estruturadora de um novo agir, que se cria e se expressa na completude inerente a cada ato.

Já que o presente é contínuo e transitório e faz-se independentemente de pensarmos que estamos agindo, a decisão mais acertada é sempre aquela que é encontrada descartando-se outras que sentimos que vão na direção errada. Que não nos contemplam com a paz ao serem percorridas.

A sensação de estar fazendo parte do caminho só se faz presente e toma corpo e alma dentro de nós quando vamos ao seu encontro porque sentimos necessidade de utilizar a caminhada de um modo produtivo, como uma nova prática de vida. Por isso o caminho é uma construção, é uma produção realizada através do nosso agenciamento com uma determinada percepção da realidade, que depende de um querer, uma vontade potente, para configurar-se e transformar-se em nós.

No exercício do encontro, com a mesma intensidade que o caminhamos, somos caminhados por ele. Tornamo-nos unidade, uma expressão única mas múltipla em seus efeitos. E, na simultaneidade, porque reside em mim, eu descubro que, se consigo ensinar algo a mim mesmo, nós — caminho e eu — acabamos por nos transformar em um Mestre em duplo sentido-direção, com firmeza e liberdade guiando-nos aos imprevistos com a determinação de quem sabe que só no estranhamento se produz as novidades.


Wellington de Oliveira Teixeira em outubro de 1995.

O Vinni que eu conheço.

Vinícius em auto fotografia em 22-02-2008Vinícius em auto fotografia em 22-02-2008.

Sei que o que eu estou fazendo é apenas uma tentativa. Não consigo imaginar o que devo escrever a seu respeito, principalmente porque nós não nos conhecemos tanto assim.

Estou escrevendo porque preciso. É a minha maneira de tentar lhe chamar de onde você está. Minha alma tenta contato com a sua. Creio que o que estou fazendo é como jogar uma isca de pensamento, dourada de sentimentos bons para alcançá-lo nesse limbo que chamam de coma.

Estou só usando todas as minhas possibilidades de elevar meu pensamento à sua potência máxima: desenho, escrevo, escuto música, contato amigos para fazer uma corrente em seu favor. Busco Deus em mim e peço que ele o encontre, pois também está em você.

Já ouvi, já escrevi, já li, diversas vezes sobre o silêncio e seu poder especial de nos colocar em um estado especial de mente e espírito. E recorro à ele, também.

O cérebro consegue desenvolver melhor quando utiliza mais de um sentido do corpo: vejo uma foto sua, você tocando no youtube, as fotos que você tirou por puro narcisismo. E, como numa enxurrada de emoções, a mão segue as determinações dessa força e vai digitando o que vai acontecendo, como a dizer dessa saudade, dessa vontade de poder ralhar com você, de abraçá-lo a dizer 'que bom que você está de volta fdp', e o palavrão só vai significar o textual, uma palavra muito potente, forte no que transmite: pura expressão de amor e amizade.

Não acreditar que estamos ligados a tudo no mundo é uma opção que não é minha mais. Creio no Uno, no indivisível que habita todas as partículas do universo (tal como em mim e em você).

Creio no poder da força máxima desse universo, criadora, reparadora, motriz, potencializadora: a do amor. E há, sim, nesse instante um fluxo contínuo desse amor atravessando perpassando mundos que sequer imagino existirem para alcançá-lo, inundá-lo, onde quer que seja a sua habitação nesse momento.

Há algum tempo você passou a fazer parte da minha vida, por conta de afinidades com o mundo musical: você é baterista e eu sou um simples produtor indo ao último ensaio antes do primeiro show da sua banda.

Como eu disse - me pareceu o fim do mundo (acho que deveria colocar aqui o rsrs, ou ahhahah). No entanto, vocês se saíram bem para principiantes.

Depois a gente se encontrou num momento seu de descoberta de novos mundos. E, por conta de uma brincadeira que eu fazia com colegas, ao passar, você foi incluído e, por 'pagar cofrinho', teve a cueca puxada pra cima (os homens que já sentiram isso sabem que incomoda). Mas você estava tendo o seu vôo particular e se foi.

Na semana seguinte se incluiu no nosso grupo com facilidade e felicidade - um novo modo de experimentar coisas novas.

Foi então que, cheio de dúvidas quanto à vida, ao seu potencial e ainda assim, cheio de sonhos e previsões para si mesmo, para as suas bandas atuais e futuras, você me buscou.

Hoje rio um pouco da sua ingenuidade, mas alguns de seus pequenos truques de marketing (gas mask toy) funcionaram e já deixam marcas de reconhecimento nos ambientes frequentados por você.

Teimosia creio que sempre foi a sua marca registrada, assim como a vontade de se expressar e de se descobrir.

Você faz as coisas, em alguns momentos, apenas para dizer que fez; outras, por que não consegue deixar de fazer algo inusitado: seu desejo de novidade também lhe caracteriza muito bem. Ousadia, portanto, não lhe é uma palavra indiferente.

Nas suas palavras, muitos pensam conhecê-lo bem. Não ousaria dizer isso, mesmo depois das longas conversas que tivemos, das considerações com relação às suas visões autocríticas e da minha eleição como um parceiro, amigo e confidente.

É que todos precisam desabafar - e você percebeu isso - então _'Melhor ser com um amigo psicólogo'. Eu ri e refutei: _'Não posso atender aos amigos, como psicólogo, apenas como amigo'. Você riu, brincou com esse conceito _'quer dizer que você consegue se dividir em dois?' e eu filosofei: _'Sou múltiplo, por natureza'. E rimos mais ainda.

Gosto de recordar do desafio que eu fiz num momento seu de baixa estima, numa casa de show em São Gonçalo: vá dar uma volta e não me volte sem uma história de beijo pra contar. E não é que você voltou feliz da vida?

Pensei em algo nesse instante. E me respondi: não, o que eu estou fazendo não é contar a história de alguém que se foi, é apenas acender boas marcas, como as histórias que contamos das aventuras que temos na vida. Nos torna mais vivos ainda.

E estar vivo é estar em luta, diariamente. Cada um com a sua. Cada um com seu cada um, dizia-me o mestre Ubiracy.

Então, como eu tenho uma porção de atividades pra fazer hoje, vou parando por aqui. Já enchi a sua paciência demais, por enquanto. Volto em outro momento para encontrá-lo aonde quer que você esteja, porque ainda acredito que Amigos São Amigos Pra Sempre.

Abração e Cai na PAz!

Wellington de Oliveira Teixeira em 22-04-2008.

Dois dias após esse texto o Vinni faleceu.
(20 junho de 1989 a 24 de abril de 2008)

19 de abr. de 2008

O poder de um sorriso.

Leonardo Perrier de Faria Valentim

Por entre os traçados e alinhavos, pontilhados e costuras, a vida da gente é tecida no seus detalhes mais imperceptíveis. Onde ficou aquele sorriso que eu dei na semana passada?

Não é por nada não, mas será que nós somos máquinas de triturar?

É… porque, memória à parte, desfazemos as cenas que protagonizamos e as assimilamos num contínuo alucinante. O corpo é palco de transformações num ritmo psicodélico e a alma capta e gerencia todos os acontecimentos. Gerentes de uma desordem incalculável.

A fluidez caótica que nos perpassa a todo instante e da qual somos parte integrante e componente indispensável, efetua combinações com tamanha maestria que, por alguns instantes, me vejo tomado de uma impossibilidade de qualquer tentativa de ordenação. Não que não haja possibilidade de haver ordem no caos, e sim por me escapar o tipo possível de ordenação. É que eu ainda sou um sujeito movido pela ordem da razão: 1, 2, 3, 4…; retangular, esférico, triangular…; curto, médio, longo…; amor, ódio, indiferença… E por aí vai, meu complexo mundo catalogador e rotulador de dados.

Mas o que dizer das outras possibilidades de ordem que me tomam nos infinitesimais acontecimentos e nos elementos que me promovem em aglutinação e desaglutinação, me refazendo a todo instante e me dizendo o que sou/estou em cada um deles?

Eu já deveria ter ultrapassado essa maneira tão abstrata de me dizer o que se passa dentro de mim, mas ainda continuo a usá-la por não ter encontrado uma outra que me explicite. Explico: é que quando tento escrever algo para alguém, o que eu acabo fazendo é um vôo entre este complexo que é um EU e o outro complexo que eu chamo de um OUTRO.

OUTRO foi o sorriso que me forçou a escrever esses errantes pensamentos que já tem lugar cativo na minha ilusória questão de permanência no mundo - minha história. Bonito? Mais que isso! Cativante? Certamente. Mas apenas parte de um todo ao qual eu nem me toquei de início, tão hipnotizado que estava pelo magnetismo que ele possuía e possui, pois foi fixado em impressão digital nos bits da rede e na tela do meu computador.

Mas quem é o dono do sorriso? Quem o fotógrafo que conseguiu retirar do menino-quase-rapaz essa serena felicidade que flui da foto através da expressão sorridente?
A qual ordem pertence a perspectiva de efetuação da arte que se tornou o ato de fotografar? Sim, porque além de efetuar o momento do acontecimento, teve a sua ressonância: Olha um EU aqui escrevendo contaminado por ele.

Faz parte de mim este sorriso? Pertence a alguma ordem transcendental? Está inscrito naquilo que se chamou de inconsciente coletivo? Ou está inscrito em alguma ordem pré-objetiva dentro de mim?

Não queria me impor um fechamento para este pensamento. É como se - já que não o foi concluído dentro de mim - não pudesse ser-lhe gerado um término e assim eu me permitir simplesmente dizer: "Independente do que possa ser dito a seu respeito, o poder do sorriso efetuou algo e nisso se fez potência de vida que expandiu-se para além do si mesmo e foi, de alguma forma potencializar novos acontecimentos… etc., etc., etc… e fim!" E, em não fechando, espero provocar seu pensamento, a sua sensibilidade, a sua imaginação, na perspectiva de que, tomado pelo seu poder, seja você mais um a produzir a partir dele novos efeitos que também possam ressoar por aí. Porque após ter contaminado o dono dele, o fotógrafo e a mim, você, agora - e quem sabe outros tantos mais -, terão um elemento a mais para dar conta: um escrito que se fez sob o efeito do seu poder sedutor.

Boa sorte no seu investimento…

Amigos São Amigos Pra Sempre!

Wellington de Oliveira Teixeira em 29 de junho de 2000.

18 de abr. de 2008

Um castelo com alma

Keptah, criado em 6 de janeiro de 2006.


Encontrei na vida diversas cabeças que pensavam coisas diferentes. Seus pensamentos geraram milhões de novos pensamentos em muitas outras pessoas. Levavam adiante o conhecimento para que o Homem pudesse tornar-se Ser Pensante.Espero que este seja um destes elementos que nos encaminham para a novidade do pensar. Felicidades!




Era uma vez… Um castelo.

Ele tinha uma alma que era hospitaleira e ficava feliz quando podia abrigar outras almas dentro de si. Sua felicidade irradiava. Quem olhava a sua fachada percebia uma beleza especial e desejava entrar. Com isso novas almas habitaram a alma do castelo.
Pela manhã, suas janelas eram abertas e os raios do sol iluminavam o seu interior; o aroma das flores do lado de fora tinham oportunidade e entravam; a brisa suave aproveitava e passeava por entre as paredes do castelo.

E o castelo vivia agradecido àquelas almas que o habitavam e habituou-se a tê-las em seu interior.

Sua felicidade era como a música que pairava em suas dependências: uma música que vinha das esferas celestes, dos riachos, das plantas, do vento, de sua alegria.

Numa noite especial, uma fada apareceu por lá e vendo a beleza da alma do castelo - que com prazer abrigava outras almas em si - resolveu dar-lhe a oportunidade de ter realizado um desejo seu. E lhe contou sua intenção. Depois de pensar um pouco o castelo disse para a fada que o seu grande desejo era tornar-se homem. Interrogado pela fada sobre seu desejo, ele falou que queria aprender como era ser abrigado por uma outra alma. A fada percebendo-lhe as nobres intenções, lhe concedeu o desejo.

E castelo tornou-se homem. Alma de homem que foi vagar e buscar o seu abrigo. E como tivesse sido o único castelo das redondezas, foi buscar em outro lugar algum outro para ser abrigo. E seguindo seu caminho encontrou outros homens que também buscavam abrigo. E se uniram na caminhada e na busca. Trilharam muitas vias, se conheceram e continuaram buscando alguma alma acolhedora.

Os companheiros passaram a reclamar do seu destino e, seguindo-lhes os passos, reclamou também. E tanto reclamou que esqueceu quem era e não mais conseguia se lembrar da sua antiga alegria.

Sua alma agora era triste e ele estava vazio

Um dia sentiu algo que o alertava para o estranho rumo que estava tomando: abrira um novo caminho por estar em busca de uma felicidade maior, mas nada havia encontrado que lhe acrescentasse além de lamúria e tristeza. Decidiu ser hora de refletir, ser mais prudente e questionar melhor sobre o modo e a direção que estava seguindo

E, seguindo, ele e os companheiros encontraram algo que poderia servir de abrigo: um castelo abandonado que tinha uma fachada triste. Tentaram entrar, mas descobriram que suas portas e janelas estavam cerradas e haviam placas indicando que a entrada era proibida. Não havendo meios para entrar, decidiram seguir adiante

E essa frustração se juntou às outras e pesaram na alma do ex-castelo. A maioria dos companheiros desistiu da busca.

Que fazer agora? Ir em frente ou voltar? Continuar lutando por seu desejo ou desistir? Tantas decepções aparecem no caminho de quem tenta o novo. Será que vale a pena prosseguir? Sua mente de homem questionava e pensamentos surgiam dos encontros-desencontros da vida. Mesmo com as dificuldades enfrentadas, uma coisa era certa: castelo crescia com seus novos conhecimentos. E, pensando assim, decidiu ir em frente.

Poucos foram os aliados no encontro ao desconhecido, mas agora sabiam com mais certeza o que queriam e não desistiriam tão fácil. “Nem se difícil”, dizia ele consigo mesmo. E fortalecendo-se e animando-se uns aos outros, seguiram até que chegaram a um lugar que a ele parecia familiar. Lá encontraram um castelo com uma fachada alegre, e desejaram entrar. Entraram seus companheiros. Entrou ele. E quando se sentiu abrigado, algo se abriu dentro dele. Viu que sua alma e a do castelo eram uma. E a felicidade foi tanta, que tornou-se novamente castelo. Muito mais bonito, muito mais feliz.

E agora, depois da longa jornada, sabia o que era ter abrigo: seus companheiros o haviam abrigado durante o caminho, quando o fortaleceram e o animaram. E, assim percebendo, mais feliz ficou em abrigar os que o haviam ensinado tanto.

E castelo alcançou mais do que desejou…


Wellington de Oliveira Teixeira em dezembro de 1996.

E o Fodão criou um mundo…

O fodão Criou o Mundo, arte Wellington de Oliveira Teixeira O fodão criou o mundo, criado em 16 de outubro de 1998.

E não o fez uma cópia do mundo do Outro. Claro que não. Não seria imbecil a tal ponto. Tudo bem que o Outro acertara algumas coisas: aprontara primeiro Céu, Terra, Águas. Qualquer principiante sabe disso. Mas, por que demorar 7 dias (ou melhor 6 porque um era o Sábado e nem Ele era de ferro), Ah! e é preciso fazer um outro desconto, por que qualquer ser criador precisa tirar um cochilo de 20 minutos – leia-se duas horas – após o almoço. E isso já reduz de 6 dias para 5 e ½. Mas, mesmo assim, é muito tempo só para dizer algumas palavras como Haja Luz em latim e ver se houve mesmo (e ele até pensou: é melhor eu não falar demais por que se a Fiat Lux souber que usaram seu slogan vai criar um problema na justiça com o Outro. E, mesmo tendo sido um plágio do Outro, ele não o criticava. Afinal, cada um com o seu cada um.). Qualquer ser inteligente verifica o resultado do que fez, mas precisava ficar dizendo para si mesmo que tudo que estava fazendo era bom? É claro! Como todo bom ser criador, que sabe que é bonzão. Nisso o Outro era perfeito. Mas param por aí as semelhanças.

E, é claro, que o Fodão começou o mundo por uma criança. Não cometeria o mesmo erro do Outro, que criou um homem e depois se ferrou ao ser abandonado por sua criação. Apesar de ter achado uma vacilada feia do Outro, não o criticava. Afinal, cada um com o seu cada um.

Outra, que ele achara ter sido uma vacilada feia do Outro, foi a de ter criado, logo a seguir, uma mulher. É claro! Todo ser que tenha um mínimo de inteligência (homem, é claro!), sabe que mulher quando aparece sempre gera problemas para o homem resolver ou, então, faz uma merda 'irresolvível'. Não é culpa dela não ser imagem e semelhança do seu criador e, por isso mesmo, incapaz de alcançar um pensamento que seja criativo. Também o Outro foi tirar logo um pedaço das axilas para criar uma mulher. (E ele já pensou: é por isso que elas precisam de tanto perfume e vivem em lojas para ver se melhoram a aparência e aparecem um pouco). Mas não criticaria o Outro. Afinal, cada um com o seu cada um. Criaria, em vez dela, Terras Encantadas por toda a parte.

E, existiria apenas uma escola: a dele. Prá que outra? (e ele já pensou, de novo, numa outra vacilada do Outro, essa de mandar outro para ensinar em seu lugar. Tinha que dar no que deu: quando perceberam a enganação, espancaram o cara, e o penduraram numa cruz, só para que o Outro pudesse ver mais de perto. Isso foi demais. Quanta irresponsabilidade! Por que não assumia que não sabia ensinar? Quem sabe vai e faz por si mesmo, não manda recados!). E as turmas seriam divididas entre os meninos que conseguiam e os que não conseguiam pensar, analisar e falar como o Fodão. É claro que ele daria uma atenção especial para os que já conseguiam, mas, de maneira alguma, deixaria os outros de lado. Simplesmente daria a parte que eles já conseguiam assimilar. E, afinal de contas, quem é burro tem que pastar prá aprender.

E houve a manhã e a tarde do primeiro dia. E, é claro, como não podia deixar de ser, o Fodão foi dar uma caminhada na praia e ver se havia festa por lá. Afinal de contas era o seu aniversário. E ele não cometeria uma vacilada igual a do outro (diga-se de passagem, já estava de saco cheio com as vaciladas do Outro. Mas não criticaria o Outro. Afinal, cada um com o seu cada um.) de só por ser um ser eterno não assinar em baixo por todos os anos já vividos. E foi ver, em seu vídeo cassete, os jornais da tarde e da noite.

E chegou o fim da noite do primeiro e único dia, por que o Fodão acordou e viu que tivera um sonho.

E pensou consigo mesmo "Só um Fodão prá ter um sonho como esse". E tocou o sinal do recreio e a gurizada correu ao seu encontro. Ele pegou um Halls, colocou na boca. Gritou: “Aqui só tem um que manda!

E, lá no fundo da sala, alguém escutou uma voz de um baixinho dizendo: “E sou eu!”.

Uma homenagem a um grande educador, prof.º Ubiracy Martins de Figueiredo, no dia de seu aniversário.


Wellington de Oliveira Teixeira em 16 de outubro de 1998.

17 de abr. de 2008

As escolhas

As escolhas - Wellington de Oliveira Teixeira - outubro de 1996 As escolhas - criado em outubro de 1996

“Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum – para si mesmo ou para os outros – abandoná-lo quando assim ordena o seu coração(…) Olhe cada caminho com cuidado e atenção. Tente-o tantas vezes quantas julgar necessário… Então faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta: possui este caminho um coração? Em caso afirmativo o caminho é bom. Caso contrário, esse caminho não possui importância alguma!”
(Dom Juan)


…“Vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre. Vai ficando complicado e ao mesmo tempo diferente.”…
Renato Russo


Cada dia que passa, experiências vão sendo vividas ao interagir com o meio em que se vive. O dia a dia de cada homem produz nele uma seqüência de acontecimentos, de todos os tipos e intensidades. A esta seqüência de acontecimentos e as experiências produzidas por ela, ele resolveu chamar de existência.

Geração após geração, o homem tem realizado uma busca do que lhe é fundamental, tem procurado o eu sou que lhe diz respeito. À esse eu sou, que ele percebe ser a base de sua existência, a sua natureza, o que realmente é, no mais íntimo de si, deu o nome de essência.

A primeira coisa que percebeu é que a existência de alguém tem precedência a todo e qualquer sentido dado a esta mesma existência. Em outras palavras, essa busca o levou a entender um fato: sou (existência) é anterior à questão de saber o que sou (essência). “A existência precede a essência”, como dizia Sartre.


“O que sinto muitas vezes faz sentido e outras vezes não descubro o motivo que me explica porque é que não consigo ver sentido no que sinto, o que procuro, o que desejo e o que faz parte do meu mundo.”
Renato Russo

O que se observa na humanidade é que essa essência não está definida de antemão. Cada pessoa faz-se no dia a dia. É uma construção. E como as construções diferenciam-se uma das outras em muitos aspectos, cada pessoa diferencia-se das outras: é singular.

Se o homem não possui tal natureza, é ele quem vai criar-se a si mesmo. Criar sua própria natureza, sua própria essência.

Para alguns pensadores, nós somos uma experimentação, nos produzimos ao ir vivendo de tentativa em tentativa, até descobrirmos o que nos torna pleno. Viveríamos numa pura improvisação: atores colocados num palco, sem que o roteiro tivesse sido definido anteriormente, onde temos que decidir a personagem, o texto, como falar, como queremos viver.


“Sou uma gota d’água, sou um grão de areia.
Renato Russo


À diferença dos outros seres, o homem percebe que existe e que um dia terá de morrer. Por si só isso já o diferencia completamente e o isola. Se ele não vê nenhum sentido nisso tudo, sente-se alienado: um ser estranho no mundo. Isso pode levar ao desespero, tédio, depressão. Só que essa característica de se saber é o que lhe permite ser livre. O homem não foi definido, e tem a liberdade para o fazê-lo como quiser. E, é claro, isso o torna responsável por tudo o que faz. Não é como outros animais que seguem seus instintos, sua essência, sem que possa fazer nenhum questionamento e sem que possa ser responsabilizado pelos seus atos.

Essa liberdade faz de cada momento uma situação de escolha. Nos força a tomar decisões durante toda a nossa vida. E se a essência não preexiste em nós, também não existem valores ou regras eternas, a partir das quais podemos nos guiar. E isso torna mais importantes as nossas decisões, as nossas escolhas.


“Tudo é dor e toda dor vem do desejo de não sentirmos dor.”
Renato Russo


Algumas pessoas acham isso um fardo pesado demais para carregar. Preferem não se preocupar e se deixam levar, como uma folha à mercê do vento, levada para qualquer direção. O medo de assumir uma postura, uma idéia, um sentimento, um desejo, consegue lhe causar uma paralisia de tal proporção, que é melhor deixar de lado. Tentar esquecer. Tentar diminuir a responsabilidade por sua própria decisão. Só que isso cobra um preço: negar-se a si mesmo e viver a dor de, dia a dia, tentar não ser.


“Há tempos são os jovens que adoecem. Há tempos o encanto está ausente e há ferrugem nos sorrisos e só o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção.”
Renato Russo


Só que, quem nega a sua capacidade de escolher, torna-se como uma massa anônima, impessoal. Passa de um ato para outro sem qualquer conflito ou pensamento. Não tem um eu próprio, pois foge de si mesmo e se refugia em mentiras. Não há como produzir felicidade num caminho de auto-negação. Onde a alegria verdadeira? Onde a espontaneidade? Onde a expressividade? Onde um relacionamento que complemente? Onde a amizade? Onde o amor?


Você diz que seus pais não entendem, mas você não entende seus pais. Você culpa seus pais por tudo e isso é absurdo: são crianças como você. O que você vai ser quando você crescer?
Renato Russo


Culpa do destino se não consegui ser feliz. Culpa da sociedade se não demonstro meus sentimentos. Culpa da geração anterior o fato do mundo estar como está. A responsabilidade nunca está nas próprias mãos: alguém sempre nos fez alguma coisa. É preciso projetá-la no outro. Qualquer outro. A vida no negativo é uma marca registrada dos que vivem desse modo.


“Começo a ficar livre – espero. Acho que sim. De olhos fechados não me vejo.”
Renato Russo


Mas nós, os que um dia resolvemos não mais aceitar ser uma marionete do destino, os que decidimos não permitir que os ventos do dia a dia nos levem pra qualquer direção contra nossa vontade, os que não queremos viver de culpa e nem desejamos viver culpando ninguém, os que encaramos a vida como uma grande chance de enfrentar o desafio da liberdade de ser – mesmo com preço que ela cobra, podemos criar um sentido para a nossa própria vida, pois somos nós que escolhemos aquilo que nos é importante, especial e fundamental. Nossas escolhas nos tornam o que somos. O nosso ato de decidir espelha aquilo que produzimos como nossa essência: as prioridades de nossa vida, os sentimentos que nos invadem, as qualidades que valorizamos e cuidamos em nós.


“Quando não estás aqui, meu espírito se perde. Voa longe…”
Renato Russo


E é a valorização do que é importante para nós que transforma nosso modo de olhar o mundo: abre as portas da percepção.

É o modo como percebemos que muda tudo o que acontece na nossa existência. Por exemplo: quando se vai buscar alguém por quem se está apaixonado numa rodoviária cheia de gente, nossa atenção não se liga a todas essas pessoas. Podemos achar que tomam espaço, que atrapalham, mas são irrelevantes. Naquele momento, a única coisa que se registra é que a pessoa que se quer não está ali. E esse não está se torna muito mais importante do que todos os outros sim está que possam existir naquele local. Só que, a partir do momento em que a pessoa desejada aparece, tudo se transforma dentro de nós: a angústia nos abandona, a falta desaparece, a plenitude nos toma de assalto. O mundo se transforma com nossa mudança. Porque o mundo só é aquilo que percebemos com a nossa consciência. E, se esta muda, o mundo muda também.


“O mundo começa agora – apenas começamos.”
“E daí, de hoje em diante, todo dia vai ser o dia mais importante.”
Renato Russo


Então, a decisão é a grande conquista da humanidade. Sua grande aliada. Cada dia que inicia traz consigo a novidade de vida, uma existência nova, exatamente porque ele começa com uma decisão: a de querer tomar as decisões e assumir a responsabilidade por viver num mundo tão fantástico, misterioso, maravilhoso e insondável (pequena homenagem a Dom Juan Matus, o índio mestre na arte de decidir, que me ensinou a procurar ter o espírito de um guerreiro impecável) ou achar que tudo no mundo é uma benção ou maldição. E que temos que suportar a vida porque ela é assim mesmo.

No fim das contas os que são, sabem que não há essa escolha inicial. Seu dia começa com a certeza de que o que se fizer será expressão de si, de sua essência. E procuram dar o melhor de si para que seu espírito e seus atos seja impecáveis.


“Preocupe-se e pense antes de tomar qualquer decisão, porém,
uma vez tomada, siga seu caminho, livre de preocupações e pensamentos;
haverá mil outras decisões ainda a sua espera.”
Dom Juan Matus