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30 de mar. de 2015

Reavaliar antes de revalidar

Avaliar—Revalidar criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 30-03-2015.
Avaliar—Revalidar*, criado em 30-03-2015.

Seja pontual ou contínua, a avaliação só faz sentido quando leva ao desenvolvimento do educando.
(Cipriano Carlos Luckesi — UFBa)


Não é porque a prática de limpar os dentes com uma certa planta foi entendido como benéfico e adotado por uma sociedade, tornando-se uma tradição, que deveremos continuar repetindo os mesmos procedimentos. Somente ao se entender seu sentido — a higiene bucal é saudável — será possível avançar para novas e mais eficiente e saudáveis práticas que esta.

Uma questão importante a se desenvolver é que referências para a vida podem se tornar aprisionamento. Práticas imutáveis são como o gesso em uma perna fraturada, cuja função reparadora ocorre apenas durante um determinado tempo e, quando não retirado, incomoda, impede os movimentos, podendo gerar algo pior.

As tradições, assim como algumas rotinas que adotamos, carregam um aprendizado prático, especialmente as relacionadas ao convívio humano. Seu uso tem seu motivo e importância. Porém, mais importante que repetir uma prática é compreendê-la. Entender o sentido que lhe deu origem em determinado contexto, o motivo de sua adoção, no momento em que se formou, e sua atual utilidade.

Ao conseguir efetuar tal raciocínio, será possível fazer a apropriação das lições que carregam e desenvolver novas práticas que ampliem futuros e diferentes aprendizados pessoais ou sociais.

Nenhuma tradição vale por si. Assim como os aprendizados pessoais podem ser desenvolvidos, conforme o indivíduo alcança maior maturidade, toda e qualquer regra de prática de vida precisa ser reavaliada para que possa ser revalidada.

Do contrário, indivíduos e a sociedade conseguirão apenas engatinhar. Não há desenvolvimento quando a pessoa se recusa a deixar sua alimentação ultrapassar o leite materno. O resultado, que se evidencia diariamente, são indivíduos fragilizados, facilmente controláveis, presos ao seu estágio emocional, psicológico e espiritual mais primário.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de março de 2015.

* Avaliar é:
  • Diagnosticar — determinar o nível atual de desempenho do aluno;
  • Qualificar — o que será necessário ensinar, no processo educativo;
  • Desenvolver — produzir continuamente ações visando alcançar os resultados esperados: que atividades, em que sequência, quais instrumentos, inclusive avaliativos para cada etapa.

28 de mar. de 2015

Recordações esquecidas

Recordações esquecidas criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 28-03-2015
Recordações esquecidas, criado em 28-03-2015.

É digno de nota que, por pouco que os homens sejam capazes de existir isoladamente, sintam, não obstante, como um pesado fardo os sacrifícios que a civilização deles espera, a fim de tornar possível a vida comunitária. A civilização, portanto, tem de ser defendida contra o indivíduo, e seus regulamentos, instituições e ordens dirigem-se a essa tarefa. Visam não apenas a efetuar uma certa distribuição da riqueza, mas também a manter essa distribuição; na verdade, têm de proteger contra os impulsos hostis dos homens tudo o que contribui para a conquista da natureza e a produção de riqueza. As criações humanas são facilmente destruídas, e a ciência e a tecnologia, que as construíram, também podem ser utilizadas para sua aniquilação.
(Sigmund Freud — O futuro de uma ilusão, p.4)
Permitir-se ter os sonhos mais lindos, sem depois acordar e se entristecer diante da realidade que os contradiz é, certamente, um desafio para cada ser humano. Exige equilibrar o desejável diante do possível quando, muitas das vezes, suas expectativas estão desfeitas ou vivências prazerosas frustradas no dia a dia.

Perante o sofrimento, algumas teorias psicológicas* propõem que vivenciamos, da raiva até a aceitação, estágios como a negação, negociação, depressão. Não irei desenvolver o conceito, uso essa informação apenas para mostrar que não é tão simples quanto parece. Embora, para alguns, ocorram de forma sutil, ocultados pelas necessidades diárias; em outros, os estágios ficam visíveis por meio de explosões de fala, lágrimas e inércia. De fora, desqualificar a turbulência vivenciada por outros é fácil. Afinal, a melhor dor é aquela que não sentimos.

Se encaminhar da autodestruição para a superação é o aprendizado principal do 'cair para aprender a se erguer': um processo eminentemente pessoal.

Como tudo na vida, o primeiro passo é entender o Isso passa! presente em cada acontecimento, dos mais tristes aos mais felizes. O segundo, é o Já ultrapassei algo semelhante! — cada queda nos ensina os pontos de desequilíbrio e, além disso, novas formas de reequilibrar. Por fim, perceber o A vida continua! e o tempo que gasto me prendendo ao que passou me impede de vivenciar o presente e de avançar para alcançar outras metas.

Nada que não a cessação da vida finaliza o processo de ser e estar nesse mundo incrível. Mesmo com tão bizarros fatos e acontecimentos que temos que encarar. Por isso, o Segue adiante! é um lema tão importante, não apenas retórica nas falas dos que incentivam.

Uma boa dica é refletir sobre o que foi vivenciado, sempre contextualizando a influência da experiência em seu presente ou futuro. Se não for para aprender a ir adiante, os ensinamentos do passado são inúteis: uma fotografia guardada em um álbum de recordações que já não é aberto há muito tempo.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 28 de março de 2015.

* Em 1969, Elisabeth Kübler-Ross lançou o livro On Death and Dying (Sobre a morte e o morrer, no Brasil) onde apresenta um modelo de cinco estágios vivenciados por quem sente a dor pela perspectiva da morte iminente. Sua pesquisa com pacientes terminais foi avaliada e, em boa parte, validada para diversas outras formas de perda ou sofrimento.

22 de mar. de 2015

Desgraçados

Graça, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 21-03-2015
Graça, criado em 21-03-2015.

Na antiguidade, alguns judeus rotulavam como alguém 'sem a benção' ou 'sem a graça de Deus' os muito pobres ou miseráveis. A palavra desgraçado, atualmente, ainda carrega esse sentido.
Conceito original do cristianismo, a Graça consiste em uma dádiva ou um presente imerecido. Pelo pecado original, todos mereciam a morte, mas, ao invés do castigo, a manifestação do amor suplantou a Lei e determinou o perdão e proporcionou a plenitude da vida. Ato divino, impossível de ser obtido de outra forma, resta-nos aceitá-lo com gratidão e reproduzir em nossa vida esta manifestação do amor.
Interessante é a diferenciação que pode ser feita entre a Graça e a Misericórdia: se em uma se recebe o imerecido; noutra, não se recebe o merecido. Num ato de amor, elas são complementares.

(Wellington de Oliveira Teixeira — Ser Pensante by Well)
Mas para vocês que reverenciam o meu nome, o sol da justiça se levantará trazendo cura em suas asas.
(Bíblia — Malaquias 4:2)


Um dia eu adotei a palavra Ordem* para evitar usar Deus — palavra que se tornou sinônimo dessa coisa horrível que manda matar, agredir, discriminar, isolar —, esse verdadeiro pistoleiro à espreita e apontando seu projétil matador para ínfimas criaturas do universo. Exatamente o mesmo que é capaz de mandar matar, em nome da fé, famílias. Ideia tão absorvida e aceita que justifica o ódio em nome do amor, contra os inimigos da sua verdade verdadeira — qualquer outra interpretação é diabólica — é preciso entrar em guerra. Só que esse Nós contra Eles é a total reversão do evangelho.

Não, não estou raivoso, creia-me! Estou tomado por compaixão e amor. Por isso, indiquei os passos que me levaram a uma das melhores decisões da minha vida: distanciar-me da estrutura religiosa.

Desde então, vi ampliar-se a multidão de pregadores pronunciando maldições mais que bençãos; dos que querem convencer a população a construir seus castelos financeiros, citando maldições e propondo milagres. Há muito que já nem ocultam seus escusos motivos pessoais, nem a prioridade dos seus interesses corporativos: hora de eleger mais um líder da fé, o escolhido de Deus — que agora também é miliciano e apoia o armamentismo.

Se funciona, não se mexe. Hora de reutilizar discursos da KKK e do nazismo:
  • anuncia-se o fim do mundo, dos bons costumes, da moral e da família;
  • define-se o alvo dos preconceitos (judeus já deram a sua cota) — negros pobres periféricos e homossexuais são os novos desgraçados!
  • vozes possantes e inflamadas, fazem do medo o melhor método de conversão;
  • propaga-se incessantemente interpretações visando controlar comportamentos e vidas.
A fé sempre foi manipulada, usada, corrompida, destituída da pureza e de tudo o que permite a conexão com o que ultrapassa a realidade absorvível. Hoje, continua assim, diferindo pela massificação televisiva e os efeitos especiais. A pedra fundamental da fé perdeu seu lugar.

Não sinto ódio, mas uma extrema tristeza e asco ao ver a música que abre os recônditos de uma alma à Ordem, conecta-nos de forma ímpar por acender a centelha divina em cada um, ser usada por seres abomináveis para instrumentar um discurso de enriquecimento acima de tudo. O culto ao dinheiro, de bençãos barganhadas com trocas de favores com o tal Deus: dê para a igreja e receba em troca prosperidade. A riqueza destronou o amor e transformou-se em o maior sinal da graça.

Minha esperança é que possamos acordar desse pesadelo. Do fundo da alma desejo que, sobre esse mundo cinzento — fruto dessa tal ira santa consumidora de vidas — seja estendido o manto multicolorido da Graça, da mudança que ocorre por um único e exclusivo meio escolhido pela Ordem: o amor. Não à toa, nas origens dessa forma de crer, amor e deus eram sinônimos e sua manifestação, por quem quer que fosse, comprovava de forma inequívoca a semelhança ou filiação. Afinal, uma das mais impressionantes analogias feitas sobre deus é a de quem ama é uno com Ele, porque Ele é o próprio amor.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 21 de março de 2015.

* A expressão Ordem, que uso, se refere à potência geradora de toda a vida, que na narrativa bíblica se manifesta a partir de comandos, como o 'Haja Luz!'.

21 de mar. de 2015

Antídoto urgente

Antídoto, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 21-03-2015
Antídoto*, criado em 21-03-2015.

O único transformador, o único alquimista que muda tudo em ouro, é o amor.
O único antídoto contra a morte, a idade, a vida vulgar, é o amor.

(Anaïs Nin)


Vejo, diariamente, quem só conseguem sentir-se bem agredindo: detratam, difamam, desonram. Imagino — e é apenas isso que posso fazer — que não lidam bem consigo mesmos. Desviar-se do foco da luz para iluminar as questões de outros é, claramente, colocar na penumbra ou escuridão as próprias.

Prezo muito a capacidade de manipular minhas próprias emoções, quando realmente preciso. Agradeço à filosofia, à psicologia e aos bons amigos. Mais ainda aos sofrimentos. Para evitar induzir uma interpretação errônea, esclareço que o uso desse recurso limita-se aos momentos quando estou só. Pode-se afirmar que é o meu modo de lidar com as fraquezas ou inconsistências pessoais. Recuperar o equilíbrio.

Imagine que a rigidez está exacerbada e apropriando-se das ações ou dos pensamentos. Antídotos especiais se tornaram os filmes e as músicas, em minha trajetória, que permitem ativar a sensibilidade. Em outros momentos, é necessário erguer barreiras: livros e diálogos complexos ganham prioridade. Se me questiono qual, no fim das contas, é o mais importante, creio que, sendo muito sincero, nenhum.

Capto que a melhor expressão de mim só ocorre quando invisto na produção de textos e imagens. O que eu faço não tem valor em si, mas o que o processo realiza em mim. Cada um precisa descobrir como erguer ou baixar suas defesas pode fortalecê-lo.

Deveríamos ser cautelosos para não usar outros para tal. Manipular as emoções tornou-se moeda corrente, todos querem vender o seu peixe. É uma futilidade, tão cretina quanto aceita, do cotidiano. E, como todos estão sob seu julgo, ninguém escapa da esfera de sua influência.

Vivemos em um mundo onde o extravasar, antes algo apenas necessário, constituiu-se fonte de lucro incessante. A diversão, atualmente, está contaminada e produz tédio. Algo foi retirado de nossa da natureza e de nossa alma e, junto disto, a capacidade de nos reencontrarmos, de sair por aí, de qualquer jeito, sem direção, sem tempo definido; de parar para meditar ou refletir; de ser sensível ao interagir com o suave toque da vida de uma brisa, de uma pétala, da areia, da grama e da água.

Não nos encontramos mais, nos agrupamos solitariamente. Nos trancamos entre paredes que protegem demais ou facilmente escancaramos as portas em momentos de solidão. Falta-nos o equilíbrio. E o antídoto urge ser descoberto e usado de forma individualizada, a custa da vida perder seu valor. Que é um sopro, temos consciência, mas, pelo menos, que seja um refrescante.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 21 de março de 2015.

* Algo que impede ou reduz efeitos destrutivos, seja por impedimento, fortalecimento ou transformação do agente ou do alvo.

18 de mar. de 2015

A robotização bate a nossa porta

Robotização criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 18-03-2015
Robotização, criado em 18-03-2015.

1) Orwell apresenta o futuro promovido pelos absurdos do presente (na época, anos 30 e 40). Tece críticas ao totalitarismo (stalinismo e o nazismo), à planificação social e à despersonalização do indivíduo visando torná-lo uma peça na engrenagem do Estado ou do Mercado, por meio de um controle absoluto do pensamento aliado e minimização do idioma. O cidadão-comum é controlado por teletelas e pelas diretrizes do Partido.
(George Orwell — 1984)

2) Huxley cria um futuro onde a sociedade se organiza por castas. Seres humanos são produzidos e pré-condicionados biologicamente a determinada função na sociedade. O condicionamento psicológico garante a aceitação das leis e a integração social, extinguindo a ética religiosa, a moralidade e o conceito de família, atuais. Os cidadãos recebem e consomem sua cota de Soma, uma droga sem efeitos colaterais aparentes que desfaz qualquer insatisfação pessoal. A individualização alcança seu auge máximo e inexiste.

(Aldous Huxley — Admirável Mundo Novo)


Supostamente um derivado da primitiva necessidade de sobrevivência do mais apto (nem sempre do mais forte), o uso de ferramentas para aperfeiçoamento de qualidades pessoais, utilizando jogos competitivos, ultrapassou em muito seus objetivos com a apropriação feita pelo capitalismo que criou a condicionante "se você não é o número um, você é um derrotado" e a difundiu para o mundo.

A cultura cinematográfica americana foi o instrumento mais utilizado pelo império (mesmo que em decadência) para produzir a aculturação em larga escala. Recriou em diversos países o tipo de egoísmo desejado pelo capitalismo selvagem: pisar em tudo, destruir o que possa ser obstáculo para ser o número um. Nesse modelo, o Eu X Outros é especialmente isolacionista.

Porém, essa cultura do isolamento do mais capaz entrou em colapso. O desenvolvimento dos meios de comunicação, produziu a necessidade de novos modos de interação. Já em seu início, os conceitos de rede mundial e globalização levaram as megacorporações a desistir de nacionalidades específicas em prol da transnacionalidade.

Como primeiro obstáculo, a transposição da cultura do isolacionismo para a do colaboracionismo. Teóricos do mundo passaram a desenvolver pesquisas e treinamento remodelares do arraigado conceito de suplantação e dominação produzidos nos indivíduos, em especial nos ambientes de trabalho. Plataformas de trabalho multi-integradas tornaram-se a ponte entre diferentes realidades e pessoas. Noções de mundo, culturalmente produzidas, também precisavam ser desfeitas — um processo semelhante ao unissex, dos anos 1970, em relação à moda sem gênero definido (como o jeans e as camisetas) e os novos padrões de beleza (androginia, dentre outros).

A possibilidade de ampliação da escala de trabalho para 24 por 7, isto é, ininterruptamente, também ganhou prioridade: o trabalho iniciado durante o dia, no ocidente, ao chegar a noite era continuado no oriente onde raiava o dia, reacendendo o ideal fordista de compartimentação das tarefas em prol da produtividade. Assim, independente de quem tenha iniciado um trabalho, ou onde o tenha feito, qualquer um podia dar continuidade, sem o adicional das horas-extras.

Novamente, ao invés de gerar integração na relações, a fragmentação tornou-se a tônica. Pessoas do mundo inteiro que nem sequer se conheciam faziam parte de um novo conceito de equipe. O mundo tornou-se uma imensa montadora de peças fabricadas em qualquer parte do planeta. Isso ampliou especialmente a escala de produção de softwares, impulsionados por conceitos como usabilidade e personalização.

Da beleza do conceito do trabalho colaboracionista à sua implementação, o aprofundamento do isolamento sistemático, na virada do milênio, começou a produzir seus efeitos: depressão e estresse, são apenas a ponta do iceberg. Da constituição do mais forte que assumia a proteção e manutenção de um grupo (semelhante a diversos casos na natureza) ao sugador do potencial dos outros, uma irrealização da humanidade representada pelo cada um por si - sem princípios ou referenciais - mostra a sua face na insegurança emocional cotidiana, no tédio face a vida, na ampliação da drogadição.

O ser humano, em sua trajetória de necessidade de singularização e coletivização simultâneas, se depara com a fragmentação e despersonalização. À semelhança do sujeito dos anos 1960 que só carimbava os papéis ou apertava um parafuso, perdendo as noções de todo e de pertencimento, esse novo ser assujeitado, descartável e aculturado se desintegra e, frustrada a sua necessidade de intimidade no convívio, não se referencia à nada, não constitui ideais sociais, vai perdendo sua humanidade e tornando-se uma máquina qualquer: a robotização bate a nossa porta, só que sem o Soma para anestesiar a consciência.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 18 de março de 2015.

* Esse texto é parte integrante de uma pequena série que questiona as origens de diversos comportamentos atuais, especialmente os expressos em redes sociais. Os anteriores são:
  1. Despersonalização e discursos de ódio
  2. Previsibilidade se contrapõe à Humanidade

15 de mar. de 2015

Previsibilidade se contrapõe à Humanidade

Previsibilidade criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 15-03-2015
Previsibilidade, criado em 15-03-2015.

O conceito, que está intimamente interligado ao comportamento desejado, tem diversos matizes, os mais conhecidos são o da produção de condições visando produtividade e a identificação e controle das variáveis atuantes visando modificação da forma de expressão individual ou social. No senso comum, a expressão idiomática tornar-se previsível, indica algo repetitivo, que se desgastou, perdeu seu sentido, tornou-se cansativo e não produz mais novos efeitos.
(Wellington de Oliveira Teixeira — Ser Pensante — by Well)


A previsibilidade está diretamente ligada à modelagem aplicada aos padrões sociais. Poucos percebem o quão próximos estamos de ser representados por modelos matemáticos comportamentais.

O que promove tal semelhança de práticas e de modos de ser? Certamente, não a natureza: a variedade infinita de seres e a singularidade de cada um são sua tônica ou marca registrada. As estruturas se repetem, não os seres; o modelo de folhas, não cada uma. A individualidade é a apresentação dessas diferenças.

Que forças tentam produzir padronização? Que interesses apostam na previsibilidade dos comportamentos?

Bombardeados incessantemente por uma mídia promotora de ícones, crianças, adolescentes - em especial - e adultos copiam esses modelos: o que fazem, o que dizem, o que vestem, seu corte de cabelo, seus produtos de beleza e investem na assemelhação. Exemplo muito bom é, ao andar na rua, detectar que todos os cortes de cabelo se igualam. Nem precisa procurar, é o mesmo que o ídolo do momento está usando.

A ideia de identidade grupal sempre esteve em avaliação. Agrupamentos constituídos por roqueiros, forrozeiros, regueiros, axezeiros, pagodeiros, funkeiros, dentre outros, sempre se caracterizaram. A aparência semelhante visava destacar ideias, gostos, propostas. Atualmente estamos caminhando para o ponto onde a uniformização dominará: controle das mentalidades e apropriação dos desejos individuais, geraram os ecléticos - tudo serve, nada me representa. Cultura de massas? Estamos longe de poder dizer que há cultura nessa ação de dominação. Há um desejo de superposição, de sobreposição e de apropriação.

Exceções são extremamente bem-vindas e desejáveis. Toda a evolução se constituiu por diferenciação: os não adaptados foram os que indicaram ou produziram os novos caminhos. A sociedade sempre foi capaz de criar nichos de inclusão, até mesmo para os considerados aberrações. Circos se expandiram por sua exposição.

Atualmente, os diferenciados são tratados como portadores de transtornos, controlados e impedidos de influenciar seu ambiente. Em vez de produzirmos a transformação na educação, visando alcançar essa parcela da população, escolhemos tratá-los medicamentosamente.

Não, não evoluímos. Com mais gadgets e eletrônicos mediadores da comunicação, o contato humano se perdeu. Considerar isso evolução, no mínimo, é ingenuidade. Além da destruição da capacidade de sustentação do planeta, nos tornamos insustentáveis, do ponto de vista da humanidade e o que ela representa: diferentes seres interagindo coletivamente e de forma complementar - cada um contribui com o que tem de melhor e com o que se destaca.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 15 de março de 2015.

*

14 de mar. de 2015

Despersonalização e discursos de ódio

Despersonalização criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 14-03-2015
Despersonalização*, criado em 14-03-2015.

Existe alguém esperando por você, que vai comprar a sua juventude e convencê-lo a vencer mais uma guerra sem razão.
Já são tantas as crianças com armas na mão, mas explicam novamente que a guerra gera empregos, aumenta a produção.
Uma guerra sempre avança a tecnologia…

(Legião Urbana — A canção do Senhor da Guerra)


Há discursos de ódio e alguns discursos que odeio.

No primeiro caso, geralmente, fruto da ignorância, da insegurança, da manipulação. A fragilidade emocional escamoteada pela busca de pertencimento e do fazer parte do senso comum: se a maioria tá fazendo, é o correto, eu faço.

Sinto pena dos que adotam o discurso e assumem sua prática. Historicamente, os bons cidadãos se calaram diante de ações fruto de ódio, não se posicionaram contra e com isso as fortaleceram e perpetuam. Não seria necessário exemplificar o que foi produzido com os discursos de racismo da Klu Klus Klan ou do nazismo para demonstrar o alcance desse tipo de discurso. O triste é que ambos tiveram apoio de igrejas e famílias de boa reputação. Será que foi por isso tão fácil ignorar os assassinatos, as agressões covardes, os estupros e tantos outros horrores?

A história geralmente se repete, e a cada época se escolhe algo, alguém ou ideia para Judas: tornam-se o bode expiatório da inadequação.

Alguns discursos eu odeio por serem bem estruturados, estilisticamente bem executados, ocultando seus falsos pressupostos com silogismos, trechos de escrituras sagradas, interpretações distorcidas. Ao final, induzem à adesão de suas práticas e, no seu limite, descambam para atos da raiva. Em sua base principal de sustentação, a necessidade de aceitação e o desejo de pertencimento e de adequação das pessoas.

Todos esses discursos promovem modismos, a repetição de palavras e expressões, um estilo vestir-se, determinados lugares. Em outras palavras, sua despersonalização em troca do pertencimento.

"Seja um de nós e jamais estará sozinho. Se não é um dos nossos está contra nós". Discursos produtores das expressões diárias de ódio, promotores dos interesses escusos daqueles que os articulam, financiam e divulgam. Geralmente o capital financeiro de mega corporações e de elites que desejam se perpetuar. Aqui inclui-se a promoção de separatismos e da guerra. Seu mecanismo de disseminação é o investimento no controle midiático: dinheiro compra o poder.

No dia a dia repetimos: ostentação, nordestino é burro, baiano é preguiçoso, você é um perdedor, pobre devia morrer. Alguns exemplos, sempre justificados com falsas informações. Frases de efeito, carregadas de preconceitos, afirmam que é preciso se destacar no mundo, o nordeste sempre foi terra de seca e sustentado pelo sudeste-sul, baianos fazem sesta e são lentos para tudo, para ser vencedor como [Eike, Jobs, Ator tal…] é preciso… e aqui entra como eles vão faturar seu dinheiro.

Esse nível de discurso, quando acolhido, prepara o principal: o da manipulação político social. O garoto(a) propaganda, diariamente valorizado pela mídia, faz a grande massa copiar seu cabelo, suas roupas, suas frases, suas músicas. Inclusive as ideias políticas. Acriticamente absorvidas por quem se despersonaliza para ser como o astro.

Em um mundo onde todos querem ser diferenciados, a massificação é a tônica. E a crítica…, bem, a crítica foi para um lugar bem longe…

Wellington de Oliveira Teixeira, em 14 de março de 2015.

* No campo clínico, a despersonalização é a alteração da percepção sobre si mesmo. Manifesta-se de forma mais evidente pela ansiedade, depressão e ataques de pânico. Em seu processo, o indivíduo deixa de sentir e de reconhecer o próprio corpo. Identifica-se como causa principal o passar por situações físicas ou psicológicas traumáticas que geram desespero e necessidade de refúgio. Num sentido amplo, a sensação de não pertencer a um grupo, e de ser alguém.
A sociedade atual promove uma despersonalização quando, ao invés de incentivar a expressão de características pessoais, investe na massificação. Do que vestir ao que falar, o sujeito deve incorporar o padrão social. O que fica em oculto são os interesses que atravessam esse investimento perpetrado por alguns grupos que se encontram no poder político, financeiro e midiático.

10 de mar. de 2015

Acrescentando potências

Bem-vindo, Pedro criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 10-03-2015
Bem-vindo, Pedro*, criado em 10-03-2015.

Como um raio de luz fugaz, nossa existência ganha novos sentidos em seu percurso quando investimos aquilo que é potência em nosso ser
— único modo de alcançar plenitude — nos encontros capazes de gerar novas potências.
De mônadas, do nascer ao morrer, podemos redefinir um caminho solitário acrescentando
o afetar e ser afetado por encontros e percursos que optamos por realizar.

(Wellington de Oliveira Teixeira — Ser Pensante by Well)


Respeito o pensamento dos que veem uma linha sucessória nas relações familiares, mas tenho uma visão peculiar a respeito.

Não é uma discordância da biologia do acontecimento, afinal citar gametas reunidos e divididos pode simplificar o que é a multiplicação.

Meu foco se desloca para a adição que modifica todo o processo, desde o seu início. Não é incrível que um ser se constitua no interior de um outro?

Quando o momento de explorar o exterior chega, um novo caminhante se dispõe ao nosso lado como parceiro na jornada. Todos passam a ter a chance de interagir e ser influenciado por essa presença. Somos transformados.

Sou grato por esse meu cinquentenário estar me proporcionando a percepção de o quanto essas ampliações do círculo familiar modificam o ciclo da vida, dos que estão próximos, inclusive dos que estão distanciados por circunstâncias de vida.

Então, é com o coração muito feliz que dou meu bem-vindo ao Pedro, parabenizo os familiares e todos mais que foram afetados pela chegada desse pequeno, que já trouxe grandes e boas mudanças para as nossas vidas.

Desejo profundo, filhote do meu filhote, é que sua bagagem traga potências geradoras de potências. E, como compromisso, a nossa disposição de participar do melhor modo possível como parceiro de caminhada, se possível, como fonte de boas provocações e além de fonte de carinho e amizade.
Wellington de Oliveira Teixeira, em 10 de março de 2015.

* Parabéns Leandro, Tamara, Lucas, pelo acréscimo tão bem-vindo que é o Pedro.
Zé Henrique e Dayla, meu muitíssimo obrigado pela oportunidade que me concederam de ser integrante dessa sua jornada de vida.

7 de mar. de 2015

Complicação involuntária

Complicação involuntária criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 07-03-2015.
Complicação involuntária *, criado em 07-03-2015.

I can see your heart is tired and your courage has worn thin, you wonder how long you will have to hang on, but when my love comes in, you'll be strong again.
And it's not by might, not by power, but by my Spirit says the Lord.

(Leslie Phillips — By my Spirit**)


A complicação é algo que involuntariamente produzo.

Algumas pessoas amigas questionam a respeito dessas imagens carregadas com centenas de camadas sobrepostas, confundindo qualquer tentativa de classificação.

Vez após vez me empenho em torná-las mais simples, algo palatável como pequenos agrupamentos identificáveis. Invariavelmente este resultado me escapa e, quando aceito simplesmente reduzir, a insatisfação se impõe.

Loucuras que vem e vão, só consumidas por substanciação na profusão de palavras e imagens.

Já tentei racionalizar afirmando que o complexo em mim não permite reducionismo. Legal a frase, né? Diz tudo, mas resolve nada. Vez após vez, retorno ao ponto de partida: uma tela em branco.

Hoje lido com a antecipação de um fantasma que me assombra. Essa situação, sei de cor e salteado. Permita-me um aparte: intrigante essa locução ora qualitativa ora modal, aprendida na infância para dizer, simplificadamente, um saber que ultrapassa o entremeado e o desordenado.

Hora de trazer o desassossego à tona e enfrentá-lo. Reafirmar que toda dor tem um modo de cessar e entender queque, diante de coisas não extirpáveis sem que rumemos à inexistência, resta minimizar os efeitos colaterais e prosseguir. Sentimentos desbotados não precisam ser evocados, sempre descobrem uma brecha para se manifestar. Igualzinho a essa lágrima solitária que desce pelo meu rosto.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 07 de março de 2015.

* Um exemplo disso são as cicatrizes que carregamos: nos fazem recordar o machucado e a dor vivenciada, mas nos reafirmam a capacidade de superação.

** Em tradução livre: Posso ver seu coração estafado e sua coragem por um fio, imaginando o tempo que ainda terá que suportar. Mas quando meu amor o invadir, você se fortalecerá mais uma vez. Isto não é pela força, nem pela violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor.

Dessignificação

Dessignificação criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 07-03-2015
Dessignificação*, criado em 07-03-2015.

Guardamos como imagens as marchas de garotos enfileirados bradando Heil Hitlers e isso formou a ideia de que todos na Alemanha agiram assim. Esquecemos as crianças rebeldes, aqueles que se insurgiram contra as regras, e os que esconderam judeus, dentre outros, em suas casas. Eis um lado da Alemanha Nazista esquecido".
(Markus Zusak, autor de A menina que roubava livros — em entrevista para The Sydney Morning Herald)


Chegamos a esse planeta.

Imediatamente descobrimos a necessidade, descobrimos que a nossa máquina precisava se acoplar a diversas outras para se manter funcionando.

À custa de atritos ou afinidades as arestas parecidas foram ganhando formato de complementaridade e encaixe. Daí, as conexões passaram a subsidiar a permanência e a subsistência.

Ao encontrar outras máquinas com semelhante equipamento gerador de necessidades, a existência se sustentou no nível das complementaridades.

Remediada por gestos protetores, alimentares e sensíveis, as necessidades ganharam o status de desejo e prazer e a jornada dos encontros ganhou um novo patamar, o das relações. Algumas capazes de potencializar nossa máquina, outras de minar com as capacidades ou mesmo de extingui-las. As primeiras geraram os aliados, as outras o medo.

A jornada ganhou o nome de vida e se estruturou tendo nos encontros seu cenário principal. Para sustentá-la, formulou-se um conjunto de dados básicos separando os que extinguiam a vida e os que a fortaleciam, os modos de contato e conexões. Foi um passo para que encontrar algo prazeroso e fugir do doloroso ditasse nossas direções.

Continuamos máquinas, um pouco mais sofisticadas, quase que autogeridas, capazes de produzir outras e de domesticar vontades.

Após a estruturação do conjunto de dados sensíveis, inventamos um modo de disseminá-los, permitindo que conhecimento e crenças se constituíssem como arcabouço dessas novas relações que eram um pouco menos imediatas.

Geramos, também, o diálogo interno. Com ele, a transformação do sensível em imagens internas estruturadas como reais formou a nossa imaginação. Rapidamente ela se distanciou dos objetos originais até ganhar existência própria, dando surgimento às artes.

Esse processo transformou o mundo, que nunca mais foi o mesmo, pois cada máquina constituiu o seu próprio mundo. O que para alguns tornou-se fonte de enriquecimento e de produção e ampliação das energias, em outros criou um modo de subsistir voltado para si, independente do detrimento de outrem. E as máquinas, antes desejantes da pulsação da vida, inventaram meios de retirar a potência das outras para ampliarem a própria.

Da significação inicial, das ressignificações das conexões, a dessignificação surgiu. Atualmente, a ela nomeamos morte.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 07 de março de 2015.

* Esse neologismo foi necessário para confrontar a questão do processo de produzir significados durante e para a vida, contrapondo-se a extingui-los, tornando a vida sem sentido.