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8 de mar. de 2009

Coisa de momento

Nú dorsal, foto e arte por Wellington de Oliveira Teixeira, em 22/11/2006.
Nú dorsal, arte sobre foto em 22 de novembro de 2006

As suas pernas como colunas de mármore,
fundadas sobre bases de ouro puro;
o seu parecer como o Líbano,
excelente como os cedros.
O seu falar é muitíssimo suave:
sim, ele é totalmente desejável.
Tal é o meu amado, e tal o meu amigo,
ó filhas de Jerusalém
(Blíblia Sagrada, Cântico dos Cânticos 5:15-16).

Quanta felicidade é perdida por condições do momento que simplesmente não contamos ou não conseguimos ter sob nosso controle?

Gestos expressivos ficam engessados por uma capa de comportamento dito necessário diante de um olhar que espera algo mais.

E o nosso olhar congela, a boca resseca, a voz emudece. Por segundos, que parecem eternidade, a alma do ser sai de um corpo que teima em não ser completo. Parece que a batida do coração fica suspensa num vácuo.

Mas a morte é inexorável e a ninguém permite indulgências. Por que, então, desistimos de viver o que é pleno em nome das circunstâncias? Por que o falso tem prioridade fazendo com que as aparências subjuguem os verdadeiros sentimentos? Por que as marcas que nos constituem são, em sua maioria, de decisões errôneas, de forças castradoras, da covardia que nos domina sempre que estamos no campo social diante de outros imbecis, como nós, repetindo em côro o modelo social da dominação de um padrão?

Eu ainda recordo de ter visto em seus olhos o brilho diante da opção de liberdade - ainda que momentânea - que lhe apresentei na noite de sexta-feira. Ainda tenho a lembrança daquele sorriso surgindo no canto da boca e da entrega irrestrita do seu corpo e da sua alma.

Não. Eu não o censuro por voltar à vida cotidiana e recomeçar a eterna rotina de ser quem não é para poder ser alguém. Você foi verdadeiro demais ao dizer dos seus medos e da sua atual incapacidade de lidar com as questões de sua alma e com os conflitos do seu corpo.

Mas, verdade seja dita, naquela noite você foi pássaro e conseguiu fazer um vôo que ultrapassou as barreiras que o aprisionavam. E eu vi o brilho que um pouco de felicidade gerou em você.

Sei que foi uma coisa de momento e, como tudo na vida, passou. Quem sabe, haverá outros?

Wellington de Oliveira Teixeira, em 8 de março de 2009.

* Pra que eu nunca esqueça, mesmo depois de nove anos…