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30 de nov. de 2014

Tecelão de si mesmo

Tapeçaria criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 30-11-2014
Tapeçaria, criado em em 30-11-2014.

E o tempo, assim, se torna contrário e começa a desfazer a tapeçaria que estava já chegando a sua conclusão, e impede a visão do processo como um todo.
Só se vêem linhas soltas e uma agulha solitária, todas sem função, a não ser um papel decorativo para quem apreciava as cores que possuíam individualmente.
A pausa não mais se expressou pelo seu aspecto de recuperação de forças para se seguir a caminhada, e, em vez de uma vírgula,
o que se viu foi uma tentativa de um limite, de um fechamento, de se gerar um ponto final.

(Wellington de Oliveira Teixeira — Trama de Histórias, Tapeçaria de Linhas*)


Alguns acreditam que aquela tapeçaria que vem produzindo com a vida é equilibrada, coesa, estruturada e sem brechas. Se esses adjetivos fossem antecedidos de quase ou até mesmo de suficiente já chegaríamos um pouco mais próximos da realidade.

Esse ano eu vi parte de uma montanha ser quebrada para abrir espaço para uma estrada. Máquinas imensas e de grande potência levaram meses para obter o resultado. Durante o processo, pude ver o interior da montanha que me era inacessível. A impressão que eu tinha era de que eu veria algo sólido e inteiriço, uma pedra única. Ledo engano: havia sulcos, valas, até plantas em seu interior. A água corria por ali, quando chovia.

Entendi que mesmo montanhas sólidas são constituídas por vãos, brechas, igual aos tecidos e tapetes. Sua firmeza se encontra na união das partes. Percebi que havia partes dela que se racharam em outros momentos e se recolocaram nos feixes e nas tramas. Sem nenhuma desqualificação nisso, ao contrário, a montanha encontrou um modo de adaptar essas incongruências admitindo as diferenças: acatou entre seus espaços a água, a areia, os galhos e até ossos enterrados.

Permitir-se perceber, antes de entender tal processo, nos capacita a ver nas diferenças os complementos — os pedaços que poderão se constituir partes de nós mesmos.

Olho para trás e vejo um complexo desenho representando o que foi produzido em minha vida. Alguns trechos me encantam, outros nem tanto. Mas me alerto para o fato de que um formato que não me atrai mais, em determinado momento foi o meu possível e não pode ser modificado, como o que estou nesse momento construindo. Maturidade também é poder olhar para trás, avaliar o tipo de tecelão que você conseguiu ser e ter orgulho de ter produzido algo.

Mas não esqueça: aperfeiçoar sempre é possível. O que ficou para trás deve ser encarado como desenhos feitos quando criança: carregados de sentimentos e sentidos verdadeiros e próprios àqueles momentos, mesmo que formalmente mal estruturados sob a ótica e capacidades atuais.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 30 de novembro de 2014.

* O texto que produzi em 27 de outubro de 1998 encontra-se disponível neste blog do Ser Pensante. Acesse-o em http://bigwzh.blogspot.com.br/2008/04/trama-de-histrias-tapearia-de-linhas.html
Sugiro a leitura do texto em azul (alinhado à esquerda) separadamente do texto em preto (alinhado à direita), para só então realizar a leitura completa. Os textos são o equivalente às linhas verticais e horizontais de um tapete.

21 de nov. de 2014

Um adulto que a criança se orgulharia

Life goes on criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 20-11-2014.
Life goes on*, criado em 20-11-2014.

Um Deus infinito pode se dar inteiro a cada um dos seus filhos.
Ele não se distribui de modo que cada um tenha uma parte,
mas a cada um ele se dá inteiro, tão integralmente
como se não houvesse outros

(Aiden Wilson Tozer, citado por William P. Young em A Cabana, p.203)


Vi uma imagem com a legenda: A criança que você era teria orgulho de quem você é? E essa é realmente uma questão que gostaria de encarar com esse texto queonde me permiti ser bem intimista.

Com certeza, o que me tornei não foi apenas fruto dos meus desejos, uma vez que houve uma imensa carga de desafios para os quais não estava preparado e sucumbi. Bem, não é com orgulho que alguém se recorda dos seus erros, no entanto, fico feliz por ter conseguido encarar as minhas derrotas. Cada guerreiro sabe o peso dos enfrentamentos que escolhe assumir, e é isso que me faz olhar o passado com bons olhos: eu me superei.

Claro que houve várias concessões: pedaços de mim que ficaram para trás, como tributo, no altar da vida plena, mas, das dores no corpo e na alma surgiu um ser humano coletivista.

Falta de modéstia? É! Com muito orgulho que vejo aonde cheguei, apesar da imensidão do que me afirmavam ser impossibilidades, por conta do contexto social e suas enormes dificuldades, por conta do modelo cultural, por conta da falta de referências no caminho que optei por trilhar.

De certa forma, a trilha que abri incentivou aqueles que vieram depois e, hoje, tenho a alegria de ver as novas gerações da família seguindo por um caminho consolidado. Isso reafirma que tudo valeu a pena.

Mas não pense que os créditos são todos meus, claro que não! Sem o precioso e amoroso suporte e incentivo que recebi, o caminho teria sido muito, mas muito mais difícil e, muito provavelmente, mais acidentado. Então, um componente fundamental da minha alegria é saber que na solidão de cada caminho há a possibilidade de se criar conexões e alianças que nos fortalecem, nos esclarecem, impedem a perda gradual da essência da vida que permite nossa plenitude como ser. Meus verdadeiros amigos - isto inclui, especialmente, os familiares - estiveram e estão ao meu lado.

Realização é uma palavra forte demais, ainda, para esse momento — há tanto percurso pela frente. Reconheço que estou mais cansado, porém muito mais esperançoso e esforçado: eu sei o quanto já enfrentei e o quanto já superei. De tudo o que desisti, apenas uma coisa me incomoda, até hoje. E isso é algo muito bom para se dizer, pois há ainda um vislumbre de um pequeno horizonte onde seja possível realizar: nossas utopias pessoais são o incentivo que nos fazem prosseguir tentando.

Não tenho arrependimentos, algumas tristezas, certamente. A vida, em vários momentos, rasgou um pedaço do meu coração e levou. Restou marcas e recordações que reintegro sempre que necessário, sempre que a saudade é forte demais. Não com dor. Agradecido pela partilha solidária do Caminho.

Das esperanças que me acalentam os sonhos, a de ver uma sociedade mais justa é a que me impele mais adiante. Dos prazeres, aqueles especiais e indizíveis momentos quando alguém perdeu a noção de si, comigo. Dos projetos, sempre estudar e possuir um lugarzinho pra chamar de meu, onde possa receber amigos e ver — olha a pretensão! — meus bisnetos correndo ao meu redor. Dos questionamentos, só o caminho onde se sinta pleno vale a pena percorrer. Das certezas, só o amor.

Wellington de Oliveira Teixeira, entre 20 e 21 de novembro de 2014.

* A vida continua

19 de nov. de 2014

O Brasil mostra a sua cara

Identidade real criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 19-11-2014.
Identidade real, criado em 19-11-2014.

Não me convidaram pra essa festa pobre que os homens armaram pra me convencer a pagar sem ver toda essa droga que já vem malhada* antes de eu nascer.
Brasil, mostra a tua cara, quero ver quem paga para a gente ser assim. Brasil, qual é o teu negócio?, o nome do teu sócio?, confie em mim.

(Cazuza — Brasil)


Percebo muitos especialistas intrigados com o novo perfil do país, buscando destrinchar os fios coloridos embaraçados, do que antes era a face nacional. Eu não. Não creio ter havido mudanças na face, perdeu-se a maquiagem que parcialmente escondia a verdadeira identidade brasileira: um conjunto fragmentário de ideias, de monta semelhante as suas dimensões continentais.

Quebrou-se a magia que mantinha o olhar preso nas maquinações produzidas pelo Pra frente Brasil, todos juntos vamos!, repetido infinitamente para criar, de um bando de consumidores ávidos por inserir-se como parte de algo importante, um grupo coeso, mesmo que por breve período de tempo.

Perguntam-se em muitos textos: no período de campanhas eleitorais a população foi fracionada? Evidente que não! Ganhou foco. Desfez-se o filtro na lente que tornava a imagem um todo coerente.

Em grande parte, fruto dos descontrolados textos e imagens, completamente incoerentes mas adotados como verdades absolutas, as rachaduras no perfil mantido anteriormente escancararam-se. E da coesão momentânea restou apenas a indignação coletiva, e mesmo sendo esta tão parcial, por um esforço hercúleo da mídia dominante para cooptar, gerou a indignação seletiva.

Às disputas ideológicas, das correntes de direita-esquerda-nãosei, seguiu-se outra por controle do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, visivelmente apresentada nas generalizações indevidas, nos discursos defendidos com garra e até mesmo com atos de manifestação de ódios, antes reprimidos.

Desfeitas as possibilidades de omitir as questões de interesses de classes e dos preconceitos, a corrida acirrou-se no sentido de buscar alcançar o ideário da população: ser contra a corrupção. E vieram à tona os esqueletos de um período que escondia sob os tapetes do judiciário (com j minúsculo mesmo!), casos inequívocos abafados ou controlados pelas instâncias de poder.

Do antigo jogo do Corra que a polícia vem aí!, esta instituição tão utilizada pela máquina ditatorial militarizada se esfacelou, implodiu diante da cidadania de alguns de seus melhores elementos que ousaram se posicionar contra os imensos desmandos que atingiam os direitos inalienáveis da população: dos cacos visíveis a grande população conheceu as milícias, as fraudes nos flagrantes forjados, e até a bola de cristal que permitia o aprisionamento indevido do cidadão com base em projeções futuras.

Para quem milita há anos em função dos direitos do cidadão ou aqueles bem informados historicamente, uma grande alegria: as tensões e distensões se visibilizaram, o país terá que lidar com elas de forma coerente sob pena de novos movimentos e manifestações de grande porte e nacionais só que extremamente polarizados e potencialmente agressivos.

Finalmente, o Brasil mostra a sua cara!

Wellington de Oliveira Teixeira, em 19 de novembro de 2014.

* A expressão droga malhada refere-se às substâncias que os traficantes acrescentam às drogas que vendem para torná-la mais potente e viciante ou apenas para que, ao aumentar seu peso, gere mais lucros. No texto da música, aos problemas herdados da Ditadura Militar, como a Dívida Externa que cada brasileiro, ao nascer, já carregava.

15 de nov. de 2014

Rotear o percurso

Roteando criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 15-11-2014
Roteando, criado em 15-11-2014.

Mas cada homem não é apenas ele mesmo; é também um ponto único, singularíssimo, sempre importante e peculiar, no qual os fenômenos do mundo se cruzam daquela forma uma só vez e nunca mais. Assim, a história de cada homem é essencial, eterna e divina, e cada homem, ao viver em alguma parte e cumprir os ditames da Natureza, é algo maravilhoso e digno de toda a atenção. Em cada um dos seres humanos o espírito adquiriu forma, em cada um deles a criatura padece, em cada qual é crucificado um Redentor.
Poucos são hoje os que sabem o que seja um homem. Muitos o sentem e, por senti-lo, morrem mais aliviados, como eu próprio, se conseguir terminar este relato.
Não creio ser um homem que saiba. Tenho sido sempre um homem que busca, mas já agora não busco mais nas estrelas e nos livros: começo a ouvir os ensinamentos que meu sangue murmura em mim. Não é agradável a minha história, não é suave e harmoniosa como as histórias inventadas; sabe a insensatez e a confusão, a loucura e o sonho, como a vida de todos os homens que já não querem mais mentir a si mesmos.
A vida de todo ser humano é um caminho em direção a si mesmo, a tentativa de um caminho, o seguir de um simples rastro.

(Herman Hesse — Damien, p.7-8.)


É impressionante como adicionamos novos processos às práticas cotidianas, absorvendo-os sem a mínima condição de avaliar os prós e contras, por conta da rapidez com que eles surgem. De repente, estamos usando instrumentos de interligação mundial que emitem ondas em faixas de frequências cada vez mais abarrotadas e sob o controle de um grupo cada vez menor.

A cautela se perde diante das facilidades oferecidas, a tal ponto, que nem os alertas das experiências anteriores, indicando a probabilidade de diversos cânceres, conseguem ser ouvidos de modo a forçar um tempo maior para pesquisas de avaliação das consequências.

Pudera, estamos estupefatos com o poderio oferecido pelas novas formas de telefonia, sinais digitais de rádio e tvs, e agora os techwear, os gadgets considerados 'vestíveis', como os óculos, os relógios e o tênis com capacidade de computação e conexão, antes, nem possíveis aos desktops.

O conceito de integrados é literal: eles conversam entre si. Os tênis sinalizam para o relógio que controla meus batimentos cardíacos, este avalia velocidade e gastos calóricos, mede a eficiência dos meus exercícios e envia um relatório ao meu espertofone* que contabiliza e mostra em gráficos minha evolução. Minha tv fala com minha câmera fotográfica, com meu celular, com o home theater, com o HD externo, usando sinais de wi-fi ou de bluetooth. Tudo o que estiver na internet é acessível.

Não, eu não acredito que seja possível fugir às mudanças, mesmo a educação já tem transformações preparadas para integrá-las. Do ensino básico ao superior, novos instrumentos que mais parecem jogos de simulação, se efetivam para facilitar operações de níveis muito complexos: os aprendizados de controle de tráfego, de pilotagem aérea, terrestre ou marítima; de cirurgias a distância ou de integração de plataformas de colaboração em pesquisas.

Na contramão dessa maximização da conexão, afastamo-nos uns dos outros (se das relações mais antigas, o que se dirá das novas!). Nossas crianças já apresentam sinais de curvaturas na altura do pescoço, ao ponto de, em breve, disfunções graves serão preocupação familiar, tais como foram as síndromes de tendinites como a Ler e a Dort**.

Não é algo inescapável de críticas, de transformações, desde que direcionemos os questionamentos e as aplicações. O cuidado em função do ensino do equilíbrio no uso de tais instrumentos precisa ocupar a Ordem do Dia — para usar a expressão militar que foi apropriada pelos civis — de modo a garantir qualidade de vida (dito ser o objetivo deles, por aqueles que o produzem).

Que a humanidade mude suas práticas e seus métodos e instrumentos, isso a história já nos ensina. Porém, o simples abandono de antigos valores não é garantia da geração de novos qualitativamente valorizáveis. Todo momento é de transição e exige nossa atenção. Somos responsáveis por estarmos produzindo o futuro e devemos ser críticos mais do apressados em adotar mudanças.
Wellington de Oliveira Teixeira, em 15 de novembro de 2014.

* Da palavra Smartphone. Esperto é o indivíduo astuto e malicioso: O mundo é dos espertos e Não quero espertalhão como sócio, exemplificam.
Experto é a forma nacional para o expert, o perito, o especialista ou a pessoa ilustre em determinada área do conhecimento: Procure ouvir a opinião de algum experto e Somente um experto distingue um quadro falso de um verdadeiro.

** Exemplos de síndrome dos movimentos repetitivos: L.E.R. (Lesões por Esforço Repetitivo), D.O.R.T. (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho), L.T.C. (Lesão por Trauma Cumulativo), A.M.E.R.T. (Afecções Musculares Relacionadas ao Trabalho).

14 de nov. de 2014

Potências muito subutilizadas

Potencias subutilizadas, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 10-11-2014
Potencia subutilizada*, criado em 10-11-2014.

Julia nunca se perguntava por que coisas ruins aconteciam com pessoas boas, pois já sabia a resposta: coisas ruins aconteciam com todo mundo. Não que isso servisse de desculpa ou justificativa para fazer mal a outro ser humano. Ainda assim, todos tinham uma experiência em comum: a do sofrimento. Ninguém deixava este mundo sem verter uma lágrima, sentir dor ou navegar pelos mares da tristeza. Por que a vida dela deveria ser diferente? Por que ela receberia um tratamento especial, privilegiado? Até Madre Tereza sofreu, e ela era uma santa.
(Sylvain Reynard — O inferno de Gabriel, p.186)


Muitas vezes ignoramos que o sofrimento é um ponto de convergência da raça humana: todos sofrem. Gostamos de pensar que se formos bonzinhos não teremos castigos - e isso é até verdade, nos termos corretos -, só que avaliamos erroneamente o processo imensamente subjetivo da dor e dos valores.

Há muitas formas de não sofrer: há aqueles cujos corpos respondem quase que insensivelmente aos estímulos mais fortes; há os que estão em um nível mental onde as invasões são praticamente inexistentes; há os que se fecharam emocionalmente e, talvez, até tenham perdido a chave para a reabertura; há os que cauterizaram sua consciência.

Há muito mais formas de sofrer: diariamente morremos um pouco, nos incapacitamos fisicamente um pouco, fazemos investimentos que não nos trazem retornos, projetamos futuros e nos decepcionamos, somos envolvidos em situações que nos constrangem, nos sugam a individualidade e a alma.

Há a dor dos desesperançados, dos mutilados, dos enlutados, dos desenganados, dos mal amados, assim como a dos juízes do alheio, dos mantenedores dos ódios, dos insufladores de guerras pessoais ou globais, dos ressentidos…

Não gostamos dos nos incluir, mas todos, absolutamente todos desenvolvemos um pouco de tudo isso - é o nosso processo de evolução pessoal.

Talvez por isso, geneticamente estamos predispostos à sensibilidade ante o sofrimento alheio. Ele reflete o nosso, e, quando intervimos para minimizá-lo, fazemo-lo diretamente nos ajudando. Queiramos ou não há uma boa dose de egoísmo nesses atos: ficamos satisfeitos ao agir desse modo. Não desqualifique esse elemento: egoísmos tem matizes boas e ruins, dependendo da intensidade com que se efetua.

Seu dia está ruim? O período não está favorável, o mar não está para peixe? O fruto de seu intenso e esperançoso plantio não corresponde com uma breve e farta colheita? Isso faz parte do processo de aprendizado e aperfeiçoamento pessoal, não é castigo, não é lei do retorno às avessas. Chega o momento em que o peso que você ergue se torna leve e é necessário aumentar a carga. Isso tem consequências dolorosas, também, mas o fortalece e o capacita a uma nova fase bem mais ampla que a anterior.

Então é isso, solidarize-se com o sentimento e sofrimento alheio, mas não se perca nele. Avalie os seus, mas sem fazer comparações, uma vez que cada um tem seus próprios desafios. O caminho de hoje pode ter o sol iluminando um dia ameno e prazeroso, o de outro dia ser extremamente frio ou quente e desagradável ou incômodo. Mas você está lá, vivo, com possibilidades só suas desejando serem atualizadas e vividas plenamente.

No fundo, é sempre muito bom quando alguém percebe suas lutas e é capaz de se aproximar para, apenas com sua presença, partilhar seu momento e estimular suas capacidades de superação. A humanidade tem potências muito subutilizadas, mas estão lá, latentes, aguardando sua ida à fonte delas para dotá-lo de poderosos instrumentos de transformação. Como sempre, basta apenas uma decisão.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 14 de novembro de 2014.

* Muitas filosofias, inclusive as de cunho religioso, tentam dar contar da questão da dor em forma de sofrimento. Aprecio aquelas que tentam encaminhar a questão por um prisma de construção e desenvolvimento pessoal, especialmente aquelas que tentam estruturar sua lógica invadindo os elementos causadores: há os que produzem bem ou mal, dependendo das condições momentâneas e dosagem, mudando completamente o entendimento da questão e tirando o foco do 'coitado' para o do 'focado', isto é, o modo como encaramos as questões é que causa o sofrimento, não qualquer coisa em si.

9 de nov. de 2014

Erramos com as melhores das intenções

Lendas, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 31-08-2014
Lendas*, criado em 31-08-2014.

Na formação das lendas há toques da imaginação popular nos elementos da sabedoria ancestral,
cuja fantasia preserva, em tradição oral, os alertas dos mais sábios que nos precederam.
As nossas foram enriquecidas pela miscigenação intercontinental. Não exigem comprovação,
seu caráter é de inconsciente coletivo das lições retidas nos acontecimentos reais.

(Wellington de Oliveira Teixeira — Se Pensante by Well)


Gosto de lendas como a do Rei Arthur, pois nos permite imaginar caminhos individuais e coletivos; ver que, por melhor que sejam as intenções, haverá erros pessoais, traição e, por outro lado, sonhos, mágica e amor.

Não vejo como fundar, sem esses elementos, uma sociedade humana com desejos coletivizadores onde o desenvolvimento individual não perca seu espaço.

São as dúvidas, não as certezas, que nos provocam o pensamento, estruturam aprimoramentos e constroem momentâneas decisões de vida.

São os erros que cometemos que nos reencaminham, quando nos permitimos entendê-los e desejar ultrapassá-los. São os momentos mágicos que nos dão o alento e o descanso na vida; o amor, que nos dá a certeza de valer a pena percorrer a jornada; são as pequenas ou grandes traições, a nós mesmos, de ou a outros, que nos mostram do quanto somos capazes, quando provocados ou quando colocados em um ponto sem saída.

Gosto de lendas porque nos ensinam a humanidade e tudo o que acarreta dela mas nos dão um vislumbre de aonde a capacidade de superação pode nos levar.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 09 de novembro de 2014.

* A primeira vez que li As brumas de Avalon, de Marion Zimmer, tive um choque inicial diante da visão extraordinariamente complexa e diferenciada das outras apresentações a respeito de lenda do rei Arthur e sua espada. Poucas pessoas, hoje, se envolveriam na leitura de A Senhora da Magia, A Grande Rainha, O Gamo-Rei e O Prisioneiro da Árvore, seus quatro volumes. Além do foco no feminino e nos bastidores de todos os atos e motivações, o livro traz essa crua realidade: somos humanos, erramos, mesmo com as melhores das intenções.

3 de nov. de 2014

Conto de fraldas

Conto de Fraldas criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 02-11-2014
Conto de Fraldas*, criado em 02-11-2014.

Era de modo diferente de outrora que a essa altura pensava a respeito das criaturas humanas. Havia no julgamento menos intelecto, menos orgulho, mas, em compensação, mais calor, mais curiosidade, mais simpatia. […] A vaidade, a cupidez, o ridículo que os dominavam perdiam para ele sua comicidade, encontravam explicação, tornavam-nos até mesmo dignos de respeito. O amor cego que a mãe tributasse ao filho; o orgulho estúpido, obcecado, de que um pai presunçoso se enchesse em face do filhinho único; o desejo desvairado, furioso, de possuir joias, de ser admirada pelos homens, tal como o experimenta uma mocinha garrida – todos esses instintos, todas essas infantilidades, ambições e ânsias, impulsos simples, irracionais, porém invencíveis na desmedida força e na pujante vitalidade, cessavam de apresentar-se aos olhos de Sidarta como mera criancice. Chegava ele a entender que os seres humanos viviam em função dessas coisas e que justamente elas os capacitavam para proezas incríveis, permitindo-lhes fazer guerras, empreender viagens, suportar tudo e resistir a sofrimentos sem fim.
(Hermann Hesse — Sidarta)


Atualmente, eu inicio as atividades diárias tentando me oferecer um tempo para um desjejum calmo. Em minha vida corrida, literalmente, eu já precisei correr muito para conseguir realizar minhas tarefas de estudos e trabalho.

Dona Theonas, uma das mais abnegadas pessoas com quem tive a oportunidade de conviver e aprender, ralhava, mas entendia. E, de um modo inexplicável, conseguia atender às necessidades dos que estavam ao seu redor, mesmo com prejuízo próprio momentâneo. Só hoje entendo sua descoberta de que a alegria que lhe seria proporcionada, em momento posterior, valia a pena.

Semelhante oportunidade de transcender, algumas pessoas amigas, próximas ou distantes, est[ar]ão encarando. A abnegação, como a citada antes, entrou em suas vidas disfarçada com o formato de uma barriga expandida ou de uma visita ao lar da cegonha. É importante frisar que a adoção pelo coração da nova figura se faz em ambos os casos.

Dá trabalho (ufa, e como!), quase nos exaure. E, quando se pensa em desistir, um pequeno reflexo de sorriso faz brotar a força sobre-humana que consolida a recarga interior e faz o futuro brilhar e iluminar o momento atual.

São muitos os nomes individuais, mas todos podem ser condensados na palavra filho. Assim, também, são diversas as maneiras de lidar com o processo de desenvolvimento da figurinha - inclusive aceitar tranquilo o arrancar dos seus cabelos por dedinhos minúsculos, especialmente por parte de alguns mais iniciantes.

Vejo, incentivo, promovo o situar-se no processo e incluí-lo no conjunto de elementos que realizam o sonho de ser e estar pleno. Planejado ou presente surpresa, esse encontro com as novas possibilidades provavelmente o fará sair do si atual e avançar para um outro muito mais amplo de capacidades. É que, quando uma pessoa descobre que a vida sempre dá um jeito de expandir-se, eu digo que ela encontrou o seu sonho de fraldas.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 03 de novembro de 2014.

* Permitam-me dedicar especialmente para o Arthur, filho à caminho do meu sobrinho Weberson Thomaz Teixeira - que, em função dele, transforma diariamente o valor das moedas em quantidade de fraldas.