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23 de abr. de 2008

Produzindo percepções

Pablo, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 01/05/2005 Pablo, criado em 1º de maio de 2005.


E o tempo, hein, que coisa estranha que inventaram!


Certo. É uma maneira um pouco estranha de se começar um texto, reconheço. Mas por que não devo expressar de início a que vim? Quem achar que estou tentando esclarecer, talvez se decepcione. Mas não estará totalmente enganado. Busco o esclarecimento: não regras ou receitas pré-aprovadas, mas uma oportunidade que possa surgir ao tempo em que me dedico à tarefa de visualizar minhas questões, talvez nossas questões.

Você já deve ter lido, ouvido, pensado, que quando se escreve, desenha, esculpe, costura, inventa, constrói-se muito mais do que o que foi proposto inicialmente - algo ultrapassa a nós mesmos e aos objetivos.

Não sei se a angústia inicial seja, por princípio, necessária, mas, e não quero generalizar, vem como algo coincidente nas oportunidades em que me permito tornar verbo e substantivo alguns adjetivos que teimam ser advérbios (principalmente os intensivos) - o 'mente' no seu final me parece ser isso mesmo, como os final(mente), exclusiva(mente), total(mente), percebeu?

Fico imaginando um cenário nas áreas entre as terras/águas e os céus onde devem existir alguns seres bem parecidos conosco (quem sabe já aprenderam as técnicas de voar sem asas, de falar sem gesticular, escrever ou sem pronunciar?) que possuem uma faculdade especial, uma sensibilidade particular e extra de se sentirem estimulados quando um semelhante, que ainda está preso à terra, é tomado de uma necessidade de viver e expressar a sua experiência de vida, e seria como que impelido a auxiliá-lo através de provocações de nível extra-sensorial - um diálogo direto com a alma (não se esqueçam que eles não usam o nosso meio habitual de comunicação!).

Então, seria como um passe de mágica para o nosso modo cotidiano de entender essa coisa que até chamaria, em uma forma bem reducionista, de inspiração. Para que serviria esse auxílio? Por que estariam interessados nisso? Será que agiriam apenas por estímulo-resposta? O que seres assim ganhariam, qual seria o seu retorno, mesmo que sua ação fosse voluntária e desinteressada?

Sabe, eu creio que em qualquer situação que vivamos temos um retorno que podemos não perceber, não buscar, nem desejar. Seria algo como que um necessário da ordem dos mundos: um bônus da vida para aqueles que participam dela, em qualquer de seus níveis. Mas não leve tão a sério e ao pé-da-letra a palavra bônus, ela é enganadora. As energias que movimentam os mundos estariam entrelaçadas e fluiria. Assim quando uma entra em ação, as outras também teriam que se mover num fluxo sem fim.A quantos mundos se daria à luz assim?

Luz. Por muito tempo se disse que era a maior velocidade existente - e olha que já fizeram enormes piadas a esse respeito misturando pensamento e (me perdoe a expressão) a diarréia - sendo essa última a mais veloz de todas por não dar tempo nem de pensar. Riu? Tente, pelo menos. Imagino que a coisa mais veloz do mundo - e também a mais poderosa - chama-se amor. Já reparou que quando amamos, não é necessário pensar para estar ou sentir ao lado o objeto desse amor? O contrário também vale: o vazio imediato que surge gerado pela ausência (ou a nossa necessidade de presença).

Mas, indo adiante, se imaginássemos esses entes como partículas carregadas de energia, que buscam opostos ou semelhantes para se unir para uma troca. O que teríamos para lhes fornecer e eles a nós?

Será que as nossas vivências criam algum tipo de registro energético em nosso campo pessoal e isso seria o fator de aproximação entre todos? E será que isso implicaria em que quanto mais nos entregamos às experiências, quanto mais diversas e plenas elas forem, haveria um ponto de concentração em um determinado núcleo de nós que seria um aglutinador de mais e mais encontros com esses entes e nesses encontros um algo se acenderia em nós e neles e, por alguns segundos, uma certa angústia produzida na transferência-troca, identificação-descoberta, se seguiria da separação entre as partes: o processo se finalizaria quando esse encontro simbiôntico se produzisse plenamente.

Simbiose, palavra linda que foi inventada para dar conta de um encontro em que todos os participantes saem plenos, após cada um contribuir com aquilo em que é pleno. Poderia chamar de plenitude também, não é? Talvez até melhor, porque o bios no meio da outra parece apenas incluir organismos que a biologia classifica - e os possíveis outros?

Mas é questão de opinião e, tanto faz se aceitável ou não. Basta que produza um efeito para ser real. Não acredita? Pois então vamos falar de fé. É isso aí! Você acredita na ciência, acredita em rotinas, acredita em mensuração e estatísticas? Pois é isso mesmo: você acredita. Fé! A ciência também acredita, pois ela só trabalha com o provável e não com o que pode provar (eheh, te peguei!). É como um jogo de palavras: você define um objeto e depois diz que ele é objeto porque você o definiu. Mas espere aí, isso não desqualifica a ciência. Pelo contrário, mostra que ela é real, funciona. O paciente escuta o médico falar, acredita, toma um certo remédio (poderia ser só água com açúcar) e fica curado. Um outro paciente, depois de escutar por uma hora um sermão de pastor, padre, rabino, mestre, ou outro, e acredita e sai curado.Funciona! Que outra palavra mágica. Somos como uma máquina que precisa de um combustível para funcionar. E me arriscaria a dizer que nosso combustível principal é a fé, se não fosse o amor, por que ele me faz ultrapassar-me a todo momento.

Pronto! Se fosse fazer uma teoria sobre a vida, resumiria em poucas palavras: a vida se compõe de energia de amor e fé que fazem funcionar todos os entes dos mundos existentes ou ainda não e produz intercâmbio entre eles.

Complicado? Não. Simples assim.

Já disseram que a simplicidade é a unidade principal de todas as coisas que, quando adicionada a diversas outras, geraria a complicação. Da mesma forma que esse texto: unidades de idéias simples que se articulam e produzem, por si mesmas, sem qualquer predisposição minha para tanto, uma certa complicação.

Quer ver como é esse jogo de simples-complicado? Você conhece alguém; troca alguns pontos de vista sobre o que pensam de si mesmo e do outro. Você sai com a sensação de que aquela pessoa é maravilhosa, tudo o que você desejaria. O mundo se move e retorna ao ponto de encontro. E mais trocas de palavras, gestos e, agora, toques. E, mais uma vez, você sai achando que o mundo é maravilhoso, tudo é completo, tudo se encaixa. Que bom que seja assim, porque senão ninguém se arriscaria a ir adiante e enfrentar o aparar de arestas entre os encaixes, que depois de certo tempo começam a incomodar - dizem que é sorte de principiante, mas para mim tem haver com amor e fé, e é aí, quando as coisas simples se complicam, que também eles entram em ação para gerar condições de sustentabilidade ou de dissolução.

Viu, o simples gera o complicado e um possível retorno à condição inicial.Inicial? Será que já não havia um 'precedimento' no ponto do encontro que foi o gerador dele? Vamos chamar de referencial? Isso. Ao ponto em que fazemos a referência para o acontecimento. Então tudo teria início (eu disse início?) com a referência.

Nos referenciamos a tudo e utilizamos tudo como referência. Assim temos que nos dizer somente em termos do que não somos, isto é, o outro nos referencia a crer que somos e nos diz ente também. Por que não? Afinal de contas o que conta é nos percebermos vivos.

Percepção é o ponto onde acontece aquela angústia do encontro entre os entes, senão não daria para diferenciar eu e não-eu.Caramba, que bom caso a percepção possa ser expandida: eu e não-eu sermos uma coisa só, ampliada. Uma certa unicidade entre tudo, um todo uno.

Único. Sim, por que não? Um único momento, o agora; uma única referência, vida; um único ser, pleno de eus (deus?); uma única propulsão, a fé; um único e contínuo ponto de aglutinação, o amor, talvez o produtor dos sonhos…

Sonho. Deixa estar, quem sabe não seja exatamente essa a função dos encontros - geração de sonhos - pequenos 'vazios' no uno, plenos em si. Angústia com potencial de gerar transformação, que faz com que tenhamos que avançar para algo que não-nós e por isso mesmo nos encontrar.


(Para Xandinho, Pequeno, Bruninhu, MD, Cµssa e Thiago que me ensinaram a ampliar a minha percepção).


Wellington de Oliveira Teixeira – 4 de abril de 2006.

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