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19 de abr. de 2008

O poder de um sorriso.

Leonardo Perrier de Faria Valentim

Por entre os traçados e alinhavos, pontilhados e costuras, a vida da gente é tecida no seus detalhes mais imperceptíveis. Onde ficou aquele sorriso que eu dei na semana passada?

Não é por nada não, mas será que nós somos máquinas de triturar?

É… porque, memória à parte, desfazemos as cenas que protagonizamos e as assimilamos num contínuo alucinante. O corpo é palco de transformações num ritmo psicodélico e a alma capta e gerencia todos os acontecimentos. Gerentes de uma desordem incalculável.

A fluidez caótica que nos perpassa a todo instante e da qual somos parte integrante e componente indispensável, efetua combinações com tamanha maestria que, por alguns instantes, me vejo tomado de uma impossibilidade de qualquer tentativa de ordenação. Não que não haja possibilidade de haver ordem no caos, e sim por me escapar o tipo possível de ordenação. É que eu ainda sou um sujeito movido pela ordem da razão: 1, 2, 3, 4…; retangular, esférico, triangular…; curto, médio, longo…; amor, ódio, indiferença… E por aí vai, meu complexo mundo catalogador e rotulador de dados.

Mas o que dizer das outras possibilidades de ordem que me tomam nos infinitesimais acontecimentos e nos elementos que me promovem em aglutinação e desaglutinação, me refazendo a todo instante e me dizendo o que sou/estou em cada um deles?

Eu já deveria ter ultrapassado essa maneira tão abstrata de me dizer o que se passa dentro de mim, mas ainda continuo a usá-la por não ter encontrado uma outra que me explicite. Explico: é que quando tento escrever algo para alguém, o que eu acabo fazendo é um vôo entre este complexo que é um EU e o outro complexo que eu chamo de um OUTRO.

OUTRO foi o sorriso que me forçou a escrever esses errantes pensamentos que já tem lugar cativo na minha ilusória questão de permanência no mundo - minha história. Bonito? Mais que isso! Cativante? Certamente. Mas apenas parte de um todo ao qual eu nem me toquei de início, tão hipnotizado que estava pelo magnetismo que ele possuía e possui, pois foi fixado em impressão digital nos bits da rede e na tela do meu computador.

Mas quem é o dono do sorriso? Quem o fotógrafo que conseguiu retirar do menino-quase-rapaz essa serena felicidade que flui da foto através da expressão sorridente?
A qual ordem pertence a perspectiva de efetuação da arte que se tornou o ato de fotografar? Sim, porque além de efetuar o momento do acontecimento, teve a sua ressonância: Olha um EU aqui escrevendo contaminado por ele.

Faz parte de mim este sorriso? Pertence a alguma ordem transcendental? Está inscrito naquilo que se chamou de inconsciente coletivo? Ou está inscrito em alguma ordem pré-objetiva dentro de mim?

Não queria me impor um fechamento para este pensamento. É como se - já que não o foi concluído dentro de mim - não pudesse ser-lhe gerado um término e assim eu me permitir simplesmente dizer: "Independente do que possa ser dito a seu respeito, o poder do sorriso efetuou algo e nisso se fez potência de vida que expandiu-se para além do si mesmo e foi, de alguma forma potencializar novos acontecimentos… etc., etc., etc… e fim!" E, em não fechando, espero provocar seu pensamento, a sua sensibilidade, a sua imaginação, na perspectiva de que, tomado pelo seu poder, seja você mais um a produzir a partir dele novos efeitos que também possam ressoar por aí. Porque após ter contaminado o dono dele, o fotógrafo e a mim, você, agora - e quem sabe outros tantos mais -, terão um elemento a mais para dar conta: um escrito que se fez sob o efeito do seu poder sedutor.

Boa sorte no seu investimento…

Amigos São Amigos Pra Sempre!

Wellington de Oliveira Teixeira em 29 de junho de 2000.

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