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9 de abr. de 2008

Trama de Histórias, Tapeçaria de Linhas



Em meu coração eu sei que não basta o que fica incompleto.

Há muito tempo atrás, encontrei uma pessoa muito interessante. Um pouco perdida, é verdade, mas com um grande potencial humano e procurando, com uma vontade muito forte, alguém que pudesse ajudá-la. Sua busca de um encontro acabou atraindo para si muitas pessoas.

E, no fundo, o coração pede para não carregar fardos que não pode suportar, ou, se pode, não deseja.

Dentre elas, algumas que acabaram por confundir mais ainda seus caminhos, apesar de serem muito interessantes sob outros aspectos. Valia a pena sair, brincar, se divertir com elas. E nada de errado havia nisso. Só que não bastava. Dentro de si sabia que eram apenas uma sombra pálida do que precisava.

E são compassos de espera todos os instantes, momentos e períodos em que vacilamos com relação a nossa confiança e não partirmos para solucionar o que está gerando um impasse.

E, de repente, alguém se apresenta como um parceiro nessa caminhada rumo ao encontro de si mesmo. Como tudo na vida, trouxe uma parte que era boa e uma outra nem tanto. Muito do que se desejava começa a ser alcançado, mesmo que se deparando com situações estranhas, com fazeres estranhos, com sentimentos estranhos.

Se há indecisão, é necessário o esclarecimento e a clareza dos objetivos para que se possa prosseguir em direção a um alvo, mesmo compreendendo que este é apenas um dos caminhos possíveis para se chegar a uma tranqüilidade dentro de si e para poder encarar-se como se diante de um espelho.

É claro que houve conflitos entre o antigo e o novo. Entre o que se considerava ideal e o que, agora, já se configurava como um meio melhor de se prosseguir na busca. É claro que houveram dúvidas e, mesmo que algumas tenham sido solucionadas, outras ficaram como um sinal de alerta para recordar que ela não estava assim tão completa nem achado o que desejara.

Há uma necessidade que se impõe de fechar o ciclo, terminar o iniciado para que a vida possa reiniciar numa nova fase, em um novo degrau e com horizontes novos, não marcados pelo olhar acostumado a ver do mesmo jeito as mesmas coisas.

E foram estas dúvidas que impediram o prosseguir, que trouxeram uma certa paralisia, um certo medo dos novos padrões adotados, do novo modo de sentir e de expressar-se. Não por que fossem estranhos ao próprio ser, mas ao social que a rodeava. E aquela pessoa não conseguia dar conta de si e do social ao mesmo tempo. Era preciso uma escolha.

E o meio mais fácil de se fechar um ciclo é olhá-lo desde seu início, entender o percurso realizado e projetar a sua continuidade para seguir pelo caminho pré-traçado. Nem sempre o melhor caminho, para alguns, já que exige uma atenção, uma perseverança e um retorno às fontes originais dos conflitos.

Por fim a forma encontrada para não se incomodar foi a de desistir da busca, tentar não mais passar por aqueles caminhos e enveredar por trilhas novas, na tentativa de, de repente, encontrar uma nova solução para o mesmo e velho problema. E houve uma separação. Os caminhos não mais se tangenciavam e uma vez ou outra se cruzavam, sem causar nenhuma mudança no que se estabelecera.

E o tempo, assim, se torna contrário e começa a desfazer a tapeçaria que estava já chegando a sua conclusão, e impede a visão do processo como um todo. Só se vêem linhas soltas e uma agulha solitária, todas sem função, a não ser um papel decorativo para quem apreciava as cores que possuíam individualmente.

A pausa não mais se expressou pelo seu aspecto de recuperação de forças para se seguir a caminhada, e, em vez de uma vírgula, o que se viu foi uma tentativa de um limite, de um fechamento, de se gerar um ponto final.

E o ciclo incompleto volta a reclamar e precisa ser calado. E o coração que fingiu não escutar seu pedido de atenção, se fechou. E guarda dentro de si, num canto escuro, aquilo que se revelado provocaria um recomeço da jornada ao centro de uma terra que ficou sem dono: o eu mesmo.

E, no processo de esfriamento das chamas da fogueira, o que se viu foi um monte de lenha meio chamuscadas, meio ressentidas de não terem nem chegado a plenitude do consumir-se naquilo que lhes era natural: nem aqueceram, nem brilharam o que podiam.

Wellington - 27-10-1998

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