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23 de abr. de 2008

Durante o caminho…

Wellington de Oliveira Teixeira - foto: Luiz Claudio da Rocha Prét Wellington de Oliveira Teixeira, Bico do Papagaio - RJ

Foi uma subida íngrime. Passo a passo o caminho foi se fazendo-mostrando e sendo percorrido. A tarde já estava se despedindo, o sol ainda era intenso e brilhava no horizonte. O que se podiam ver eram apenas a subida e a alameda que, nas suas laterais, se mostrava repleta de plantas de todos os tipos. Árvores faziam pequenas sombras em alguns trechos. Havia curvas, muitas curvas, ora para a direita, ora para a esquerda e de novo para a direita. O caminho era de pedra e as pedras disformes entre si faziam com que fosse necessária uma atitude cuidadosa para com os passos para não serem transformados em desastre, numa queda. Havia também um desejo, um alvo, uma vontade que se expressava em cada movimento da perna e dos braços: alcançar o final, o cume, ver a paisagem, desfrutar do mundo lindo de um pontal, obra-prima da natureza, verdadeiro cartão postal.

Percorremos mundos, geramos em nós expectativas, buscamos nossas recompensas, tentamos tornar real os nossos desejos, mas, o que fazer com eles?

Há uma misteriosa resposta que vem das coisas e dos acontecimentos da vida, quando tomamos uma atitude de leveza — uma abertura para nos tornarmos crianças — e ousamos nos questionar e perguntar a respeito das nossas questões a tudo no caminho: pedra, árvore, rio, mar, montanha, céu e ar.

No caminho, sempre encaramos problemas difíceis de resolver. E esse é o momento da imaginação entrar em ação, tornar-se a estruturadora de um novo agir, que se cria e se expressa na completude inerente a cada ato.

Já que o presente é contínuo e transitório e faz-se independentemente de pensarmos que estamos agindo, a decisão mais acertada é sempre aquela que é encontrada descartando-se outras que sentimos que vão na direção errada. Que não nos contemplam com a paz ao serem percorridas.

A sensação de estar fazendo parte do caminho só se faz presente e toma corpo e alma dentro de nós quando vamos ao seu encontro porque sentimos necessidade de utilizar a caminhada de um modo produtivo, como uma nova prática de vida. Por isso o caminho é uma construção, é uma produção realizada através do nosso agenciamento com uma determinada percepção da realidade, que depende de um querer, uma vontade potente, para configurar-se e transformar-se em nós.

No exercício do encontro, com a mesma intensidade que o caminhamos, somos caminhados por ele. Tornamo-nos unidade, uma expressão única mas múltipla em seus efeitos. E, na simultaneidade, porque reside em mim, eu descubro que, se consigo ensinar algo a mim mesmo, nós — caminho e eu — acabamos por nos transformar em um Mestre em duplo sentido-direção, com firmeza e liberdade guiando-nos aos imprevistos com a determinação de quem sabe que só no estranhamento se produz as novidades.


Wellington de Oliveira Teixeira em outubro de 1995.

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