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8 de abr. de 2008

Semáforos e sinais.



"…a verdade não tem necessidade de ser dita, para ser manifestada, e que podemos colhê-la mais seguramente sem esperar pelas palavras e até mesmo sem levá-las em conta, em mil signos exteriores, mesmo em certos fenômenos invisíveis, análogos no mundo dos caracteres ao que são, na natureza física, as mudanças atmosféricas." (O caminho de Guermantes - Proust)


Não sei por que inventaram os semáforos dos sentimentos. É… é sempre o meio-têrmo entre o verde e o vermelho e todos acabamos amarelados com um certo medo de sentir, com um constante sinal de alerta - cuidado!

Em oposição aos semáforos, nos sinais dos sentimentos, o vermelho é o da paixão: diz vá em frente sempre. Bateu tesão, valeu, pode seguir; o verde diz para você ter esperança e esperar, fique calmo, tranqüilidade é o que indica.

Pois é, eu também fico intrigado com o fato de que podemos dar o sentido que quisermos a tudo e ainda fazer sentido pra nós e para os outros: pura questão de sensibilidade e interpretação de quem produz e de quem re-produz.

Ser sensível aos símbolos que nos cercam é uma experiência fantástica que faz com que você seja capaz de se ligar aos diversos elementos possíveis de se relacionar na vida. Exemplos não faltam, nem é preciso pensar muito. Assim, algumas pessoas sentem-se atraídas por símbolos musicais e se apaixonam por ritmos, melodias, harmonias e fazem conexões com tudo o que se relaciona a eles. Se ligam aos instrumentistas, cantores, DJs, aos métodos de reprodução e compartilhamento - como os arquivos .mp3. Outros são tomados pelos símbolos das imagens e buscam saber tudo sobre cores, formas, perspectivas, sombreamentos, tonalidades, intensidades. Se ligam aos fotógrafos, cineastas, modelos, aos métodos de captura, de tratamento e compartilhamento - como no caso dos arquivos .jpg e mpeg.

Na era da internet censurada, tudo vira uma questão de 'direitos' e no semáforo os sinais são de retenção e impedimentos e de relacionamentos controlados.

As paixões do mundo sensível, ao mesmo tempo em que ganham a possibilidade de compartilhamento dos interesses em escala mundial de relacionamentos, se vêem subjugadas aos interesses de alguns ditos proprietários e se tornam como tudo mais na vida, objeto de controle e, por isso mesmo, da inventividade no seu ultra-passar.

As propostas do livre aceso e modificação e distribuição já fazem parte do mundo virtual. Puro reflexo dos processos mentais de aprendizado? A humanidade sempre se expandiu quando o compartilhamento do 'velho' e do 'antigo' foi o ponto de partida para as transformações criativas. Signos sensíveis se transmitiram e contaminaram outros sentidos que, tomados por essa nova paixão, produziram, inventaram, transformaram, isto é, levaram adiante, na história da vida, outras perspectivas.

Que paixões, então, nos levam adiante, aos ultrapassamentos? Quais as novas formas e rumos que o fluir toma ao encontrar os obstáculos (pensou em pedras no meio de um rio?)?

Não penso que os semáforos são ruins e os sinais são bons - meio maniqueísta isso, não é? Quero trabalhar uma idéia, a de que tudo 'faz parte' para usar uma expressão que há algum tempo se tornou popular. Então, usar semáforos e sinais como ponto de referencial para os encontros, encontrar nestes as paixões e motivações, e deixar surgir nas marcas da superfície de nossas vidas a potência que nos foi transmitida aditivada e mesclada com a gerada em nós, seria um bom ponto de partida para pensarmos a vida como fluxo: sempre parcialidades de um todo em plena e constante transformação.
Wellington de Oliveira Teixeira - 31 de julho de 2007.

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