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2 de set. de 2015

Ultrapassamentos e ressignificações

Ressignificações, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em  01-09-2015.
Ressignificações*, criado em 01-09-2015.

Somos criaturas limitadas, forjadas pela evolução, súditos das leis da natureza, como tudo o mais que existe no cosmos. Nossa vontade é puxada de lá e de cá, de todos os lados, pelo peso dos genes, do ambiente, da imprevisibilidade do mundo. Mas, em algum lugar, nas brechas do possível, ainda dá para moldar nossa vontade, ao menos de vez em quando. Se existe um músculo que precisa ser exercitado sempre, é esse.
(Reinaldo José Lopes — O livre arbítrio existe? Em: Os 11 maiores mistérios do Universo, cap.10, p.189)
Aprendemos a crer e a desenvolver ou modificar uma crença. Esse fato está extremamente conectado à capacidade humana de vislumbrar, imaginar, antecipar e construir. Cada prática no presente é impregnada do aprendizado com o passado e de um ideal, um medo e um prazer no futuro. Vivemos num limbo temporal.

Desse modo, a adaptação estruturou o corpo humano: nas funcionalidades do presente é possível detectar os desenvolvimentos de características diferenciadas em função das novas realidades. Esse pensamento é válido especialmente nas mudanças que estão sendo promovidas pela utilização de novas tecnologias.

Essa mutabilidade é um desafio a ser encarado pela humanidade. Por exemplo, a manipulação genética e embrionária está traçando um rumo diferenciado dos processos básicos da reprodução. A antiga disputa entre espermatozoides, em prol da melhores qualificações para o novo ser, fica em segundo plano quando é possível fertilizar in vitro, corrigir processos estruturais ou determinar características.

Esse e outros temas assustam. Mas o medo reduz-se quando entendemos que há sempre algo a aprender com o novo. Exige-se, no entanto, o desenvolvimento de uma ética capaz de lidar com cada nova transformação. Ela será o instrumento necessário para uma transição mais tranquila entre o modo antigo e os novos.

Se vai ser possível gerar uma nova raça, não sei. Sonho com a manutenção dos princípios fundamentais que — aos trancos e barrancos, discórdias e guerras — produziram as relações sociais pacíficas. Se nos basearmos apenas nos indícios atuais, como o ressurgimento global de correntes extremistas e dos fundamentalismos, estamos longe de poder acreditar no ultrapassamento da barbárie.

No entanto, ampliam-se os atos, antes isolados, que mobilizam pessoas de diversos países em prol de melhoria da qualidade de vida para todos e da preservação dos recursos naturais. É desta ressignificação da humanidade que surgem os movimentos que podem nos conduzir ao cidadão do mundo: um novo modo planetário de ser e estar e agir em prol da vida.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 02 de setembro de 2015.

* A Psicologia e a Neurolinguística, aliadas, permitiram uma nova forma de tratamento conhecida como Programação Neurolinguística (PNL). O método prioriza o uso da habilidade humana de atribuir significados: um significante possui significados, como num dicionário. A terapia tenta gerar a ressignificação, processo em que o indivíduo desenvolve sua compreensão sobre as circunstâncias da vida e altera o seu modo de perceber determinadas vivências. De forma consciente, é possível produzir sentidos diversos, mais positivos ou satisfatórios, para eventos traumáticos, gerando resiliência. Isso resulta em novas práticas de vida e reconduz ao equilíbrio emocional.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tomo emprestado o conceito de antifrágil para meu comentário.
(Já digitei nesse blogue sobre isso. Apenas para lembrar: frágil: é algo que quebra (vai para um estado inferior de organização) fácil ante ao estresse; resiliente: é algo que, passado o estresse, retorna ao que era (mantem constante o estado organização); antifrágil: fica “mais forte” depois do estresse.)
Penso que a ressignificação de determinadas experiências, transformando-as de traumáticas em enriquecedoras, mais do que implicar retorno ao estado anterior de equilíbrio geram oportunidades de novos estados de equilíbrio, superiores ao anterior haja vista o aprendizado que o trauma oportuniza.
Por não considerar que a evolução seja uma regra universal, não sei se vamos a uma nova raça. Penso que ante a crise faz sentido querer ser melhor.
Mas tem um problema. Tanto a resiliência quanto a fragilidade pressupões tensões temporárias, em limites inferiores ao da ruptura.
Ao nos expor à sucessivas pequenas tensões ou a tensões demasiado grandes ou demasiadamente prolongadas, sucumbimos. E o pior efeito da sucumbência não é a morte corporal, mas o apequenamento do espirito e da vida diante da existência.
Sei o que estou falando. Passei há pouco por um evento traumático: a morte de um grande amigo.
Olho ao meu redor. Sei que as referências mudam o tempo todo. Mas, quando não as reconheço mais como tal, busco segurança me apegando as pequenas obsessões do dia a dia. Morro em vida. Triste, mas comum. Nem por isso desejável.

Wellington O Teixeira disse...

Fiquei muito interessado no conceitual do antifrágil. A recorrência pode ter como elemento amenizador a experiência anterior de superação, nesse caso, um ser mais potente que antes encara a adversidade.
Me preocupa, também, a exposição contínua que não permite a trégua para o 'refazimento' interior — identifico como exemplo a guerra ou as guerrilhas que assumem características de permanentes. O colapso individual torna-se expresso num vazio social, onde o assujeitamento descaracteriza os sujeitos e impede seu vir-a-ser enquanto desenvolvimento das expressões pessoais. Não muito diferente da produção de uma infância alienada em locais de tráfico e milícias.