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2 de set. de 2015

A catedral da riqueza e da dor

Catedrais da dor, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 30-08-2015.
Catedrais da dor, criado em 30-08-2015.

Eu não sei se é o céu ou o inferno, qual dos dois você vai ter que encarar; e foi pra não lhe deixar no horror que eu vim para lhe acalmar.
Se o pecado anda sempre ao seu lado e o demônio vive a lhe tentar, chegou a luz no fim do seu túnel, minha filha, o meu cajado vai lhe purificar.
Para os pobres e desesperados e todas as almas sem lar vendo barato a minha nova água benta: três prestações, qualquer um pode pagar.
O sucesso da minha existência está ligado ao exercício da fé, pois se ela remove montanhas também traz grana e um monte de mulher.
"Pois eu transformo água em vinho, chão em céu, pau em pedra, cuspe em mel: pra mim não existe impossível!." (pastor João e a igreja invisível)
(Raul Seixas — Pastor João e a Igreja Invisível)

Você pode firmemente tentar desenvolver algum sentido para o mundo, para os abusos cometidos por seres humanos sobre outros. Talvez, essa seja a única coisa sensata a fazer para se manter alguma sanidade em meio a tanta loucura e desordens — naturais ou produzidas — para cooptar seus sentimentos, pensamentos e vontades: seu ser.

Alguns dos pouquíssimos agentes financeiros poderosos derrubam países com uma orquestrada saída de investimentos. Para o retorno, só exigem uma considerável elevação dos lucros que terão às custas da população local.

Algumas das poderosas farmacêuticas utilizam-se da produção de leis para impedirem qualquer medicamento que cure verdadeiramente uma doença — o custo da manutenção de um tratamento vitalício que produz uma estabilidade de vida enriquece extremamente mais.

O domínio dos preços de mercado dos alimentos, inclusive em países considerados desenvolvidos ou no supermercado bem próximo, é algo que dá náusea, produz desnutrição e miséria humana — mas faz-se de forma simples, jogando-se fora uma quantia imensa que é chamada de excedente. Claro que os lucros poderiam ser superiores ao ter seu preço reduzido e ser vendido em quantidades, claro que iniciativas de doação de produtos com validade próximas do fim são esquecidas.

É preciso ignorar que isso gera subprodutos como armamentos, segurança, polícias e guerras. A vida humana é apenas fonte de renda para esses que se utilizam de um poder conquistado através dos tempos com apropriações de terras, com o desenvolvimento de doenças com agrotóxicos, entre outros, com subempregos e escravidões modernas, com um mercado fácil para os tráficos de órgãos para transplantes, de corpos para a prostituição e práticas indizíveis.

Foi criada uma nova forma de religião. Em sua catedral, a adoração é ao dinheiro; o seu louvor, a desesperança; seu ensinamento, a dor; sua pregação, o mercado. Não resta humanidade detectável, apenas a sede de poder e domínio. Para sua ostentação e glória, a indução a um modo decadente de ser que é endeusado, manipulando-se a percepção das pessoas pela comunicação mundial*.

Quer saber o mais triste: a maioria aplaude e afirma ser este um bom caminho, o ensina e o reproduz. Se isso não é insanidade, me internem, certamente o maluco sou eu**.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 02 de setembro de 2015.

* Os meios de comunicação esmeram-se em torná-los desejáveis, imitáveis. Seres humanos de origem simples abrem mão do alimento para comprar produtos de marca, iludidos com a promessa do status. A busca desenfreada de lucros está produzindo o impensável: de um lado 0,9% da população e de outro o resto. Já parou para pensar que toda a riqueza do mundo está dividida igualmente entre os dois? Aceitamos a invasão de países, resultado de forjadas e praticadas ações terroristas, pois isso facilita a apropriação de suas riquezas. É fácil utilizar-se de discórdia na população, incitar revoltas ou disputas políticas para eleger capachos do poder financeiro […]. E tudo isso 'passa batido', não é?

** Raul Seixas produziu críticas de uma forma muito interessante, quebrando com os parâmetros convencionais. Uma delas está em Quando acabar, o maluco sou eu!
Toda vez que eu olho no espelho a minha cara, eis que sou normal e que isso é coisa rara (a minha enfermeira tem mania de artista, trepa em minha cama, crente que é uma trapezista).
Eu não vou dizer que eu também seja perfeito, mamãe me viciou a só querer mamar no peito — quando acabar, o maluco sou eu!
O russo que guardava o botão da bomba H tomou um pilequinho e quis mandar tudo pro ar (Seu Zé, preocupado, anda numa de horror, pois falta um carimbo no seu "tito" de eleitor) — quando acabar, o maluco sou eu!
Não bulo com governo, com polícia, nem censura; é tudo gente fina, meu advogado jura. (já pensou o dia em que o papa se tocar e sair pelado pela Itália a cantar?) — quando acabar, o maluco sou eu!
Quando acabar, o maluco sou eu!
Eu sou louco, mas sou feliz. Muito mais louco é quem me diz (eu sou dono do meu nariz em Feira de Santana ou mesmo em Paris!) — quando acabar, o maluco sou eu!
É, a coisa tá feia…

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