Pesquisar este blog

3 de out. de 2015

Nuances do controle social

Homogeneização, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 02-10-2015.
Homogeneização*, criado em 02-10-2015.

O desafio para a educação é a construção de uma concepção na qual a unidade seja concebida como plural. O enfoque nessa pluralidade ou interculturalidade do povo brasileiro enfatiza a relação, o intercambio de visões de mundo que formam a unidade da nação. Educar para a multiculturalidade e para o diálogo intercultural torna-se compromisso fundamental de todo projeto educativo, especialmente em contexto brasileiro.

É evidente que a forma de iluminar um fato — o que ocorre quando alguém apresenta uma consideração — de algum modo interfere nas outras opiniões. É como na iluminação de um palco, onde o uso de focos com diferentes graduações de cores, direcionados para determinados pontos, produz efeitos diversos. Quanto mais hábil o iluminador, maior o efeito que ele consegue produzir sobre quem assiste ao espetáculo. Os excepcionais conseguem que você se abstraia da realidade, completamente tomado pela cena.

Efeito semelhante ocorre quando se expõe pessoas a uma única corrente de pensamento: absorve-se aquela forma de pensar e de agir, sem uma real avaliação das questões. É fundamental, então, gerar espaço para múltiplas ponderações, de modo que a aproximação de uma opinião pessoal ocorra num grande espectro de opções. Deveríamos nos conscientizar de que sem a capacidade de produzir críticas consistentes, é inadmissível adotar qualquer que seja a proposta. Questionamento é o que permite a individualização da tomada de decisão. Mas vivenciamos décadas de homogeneização sociocultural onde promoveu-se padrões únicos de como se vestir, falar, agir, transar. Complicou ultrapassar o despreparo para opinar ou decidir.

Pense comigo. Há gerações o povo brasileiro é exposto a uma dominação cultural que substituiu os valores tradicionais com base exclusivamente no modelo vendido pelos meios de comunicação. Isso ocorreu quando passamos a ser expostos a maior parte do dia, desde a infância, às propagandas e aos conteúdos definidos por empresas multinacionais. Adotamos o que os enlatados americanizados nos ensinaram: a vestir apenas o jeans, camisetas e tênis; a comer a péssima alimentação fast-food, usar e consumir agrotóxicos de alta periculosidade (as consequências para a saúde estão lá e aqui), para ilustrar apenas alguns frutos da homogeneização.

Creio que você conseguirá perceber o quanto isso afetou nossa formação ao transpor esse raciocínio para os conteúdos intelectuais, os discursos morais ou éticos e a visão de valor próprio. O que foi adaptação? O que foi apropriação? O que foi aprendizado e desenvolvimento? O mundo mudou e continuará mudando. De tudo o que há nele, quais são as melhores práticas e pensamentos disponíveis?

Dependerá de sua resposta o modo como você viverá e desenvolverá a educação das novas gerações. Não é algo pequeno ou simples. Exige superar todas as formas de rigidez de pensamento e de práticas, abrir espaço para as que são mais eficientes e que permitirão a riqueza interior e a sustentabilidade da vida no planeta.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 02 e 03 de outubro de 2015.

* A padronização de discursos influencia o modo de pensar e agir no cotidiano. Veja alguns dos exemplos:
  • A integração promovida pela telefonia celular e a Internet reduziu as distâncias mundiais, consequentemente, a difusão e apropriação de hábitos. Interesses financeiros dominantes promovem exclusivamente determinados modismos (na música, no vestiário, nos cabelos…) que acabam gerando homogeneização cultural.
  • O Colonialismo, como forma de globalização, priorizou a ocupação de territórios (continentes americano e africano). A do final do século XX priorizou a fragmentação das fronteiras e atuação das empresas transnacionais. Ambas promoveram pobreza e exclusão social. The Corporation é um documentário canadense sobre os efeitos da globalização no mundo (um paletó vendido por 178 dólares, nos EUA, remunera com apenas alguns centavos de dólar o filipino que o fabricou). É possível uma globalização justa para todos, que garanta liberdade, diversidade, pluralidade não apenas para alguns?
  • Eventos importantes nos afetam (a morte de quem busca refúgio da guerra em seu país, terremotos e tsunamis, atentados à bomba em diversos países), mas estão sendo banalizados e nos tornamos, cada dia mais, emocionalmente refratários. Inclusive ao genocídio de uma população marginal (pobre, negra, jovem e periférica) que ocorrem especialmente em São Paulo e Rio de Janeiro.

Nenhum comentário: