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20 de ago. de 2015

Liberta, libera e humaniza

Libertação e liberação, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 19-08-2015.
Libertação e liberação, criado em 19-08-2015.

Ao longo dos anos, a combinação de “intervenções humanitárias” mal pensadas e mal conduzidas com políticas restritivas e discriminatórias de gestão de fluxos migratórios e de refugiados pela União Europeia vem provocando a morte de milhares de seres humanos no Mediterrâneo, e também vem afogando a todos nós num mar de hipocrisia. Nesta triste fábula da política contemporânea, os únicos heróis são aqueles que conseguem sobreviver às guerras, à intolerância, à política europeia, às ondas e à nossa apatia.
Eu quero que prevaleça o direito de voar dentro das possibilidades individuais, alienando as negativas imediatas, os 'nãos' que constantemente se sobrepõem à vida. O monstro da desumanidade aprendeu a camuflar-se e embrenhou-se nas pequenas coisas consideradas ingênuas ou inocentes. Ele não precisa dar um bote, já se enraizou no superficial e aprofunda-se diariamente no social sob o pseudônimo de legalidade. É legal deixar morrer!

Uma cineasta alemã descreveu, numa entrevista, que enquanto viajam em cruzeiros caríssimos, afortunados observaram pequenos barcos de imigrantes sofridos, destituídos de suas mínimas condições de vida, obrigados a deixar o que lhes constituiu a vida para trás. Ajuda? Solidariedade? Claro que não!

Há uma reação europeia incrível a estes imigrantes: querem evitá-los a qualquer custo. Esquecem que são pessoas e possuem um direito fundamental a qualquer terra no mundo, porque todas as terras foram ocupadas desse modo: migração constante. A terra não pertence, ela é direito de todos os seres humanos. Só inumanos, tornados assim pela ganância e pela massiva construção de uma subjetividade conectada ao consumo e valorizada apenas pelas posses, não aceitam o fato.

Novamente, a organização de bolsões de ocupação pela Europa. Não bastam as favelas ou guetos do mundo, as regiões sem ação mínima do Estado para permitir condições dignas de vida.

Minha questão não é de pena. É um grito de alerta e uma exigência de respeito à humanidade que está sendo retirada de seres humanos. O estrangeiro é só um ser humano nascido em outra terra. Não são desocupados, não são bandidos. Muitos foram colocados à margem do consumo, despossuídos de si. Vivenciaram a desintegração de suas famílias, ficaram alienados de tudo, em nível tal que o conceito de vida vai se desbotando — diante da eminência da morte, a consciência será um luxo efêmero, que acabará assim como tudo o mais.

Sua dor deveria nos mobilizar para pressionar os governos a uma ação verdadeira de enfrentamento à pressão de empresas globais que não querem perder a facilidade da obtenção das riquezas das nações — estes, sim, verdadeiros homicidas e sanguinários ditadores.

Sou descendente de imigrantes que vieram expulsos de seus lares por conta da guerra — o modo de enriquecimento dos que produzem o mercado da balística e da morte. No Novo Mundo, encontraram no norte fluminense solo para plantarem, ensinarem a farmacêutica, cuidarem dos partos de seus vizinhos, e construírem cidades, desenvolverem a musicalidade e a espiritualidade. O sobrenome da família até recebeu honraria de Câmara de vereadores de Serro Frio pelo desenvolvimento trazido e compartilhado.

A miscigenação é capaz de, contra tudo o que possa desqualificá-la, produzir transformação positiva. Já fomos conhecidos como um povo que gentil, hospitaleiro, atencioso com todos os estranhos. Pena que o imperialismo comercial e financeiro nos ensinou o egoísmo, o pisar no outro para ser melhor. Não sei nomear o que isso tornou muitos — estes que atualmente são maioria dentre os que fazem discursos de ódio e xenofóbico*. Não há outra alternativa, senão reconstruir nossa humanidade por uma contraposição clara à hegemonia do financeiro sobre a vida.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 19-08-2015.

* Xenofobia
medo, aversão ou profunda antipatia em relação aos estrangeiros, desconfiança em relação a pessoas estranhas. Ocorre a partir das percepções de um grupo em relação aos externos: por medo da perda de identidade, por suspeição acerca de suas atividades, via agressão ou desejo de eliminar qualquer presença que possa produzir impureza racial. Seu alvo, além de pessoas de outros países, inclui outras culturas, subculturas, sistemas de crenças ou características físicas. Mais profundamente, é o medo do desconhecido, mascarado como aversão ou ódio, gerando preconceitos.

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