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13 de set. de 2015

Abatimento

Abatimento, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 13-09-2015.
Abatimento*, criado em 13-09-2015.

Já não tem como voltar atrás,
nem acertar o que já foi demais; só por nós dois, eu sei que não dá.
Daqui há pouco o sol vai partir
e eu vou ficar parado como um barco que procura um farol pra se guiar.
Partir sem lugar pra chegar
é como ter que ir e não poder nunca mais voltar…
Fugi, fui deixando você e me perdendo de mim:
é tão difícil enxergar o fim!

(Flávio Venturini — Navios)


O acinzentado do céu ajuda essa sensação de estranhamento, um não saber bem o que se quer, como aquele momento que se vivencia ao abrir a porta da geladeira. É uma certa indecisão, estar entre um lugar ou outro, e não conseguir decidir entre o ir e o ficar. Limbo. Nuvem que paira e não diz bem a que veio.

O intervalo que permite um repouso após a convulsão de sentimentos, os pensamentos embaralhados, as recordações inexatas que são promovidas quando ocorre o distanciamento, a despedida, a viagem de ida sem retorno. Uma cena de filme onde todos torcem para a personagem se virar e olhar, pois o futuro, o feliz para sempre, está logo ali, à distância de um beijo.

Diz-se que alguém está abatido quando entra nesse estágio. É que a base da palavra induz a recordar dos abatedouros, do lugar dos sacrifícios, da falta de esperança e de possibilidades futuras provocada pelo golpe do destino.

Esse esvaziamento das energias, esse esmaecimento das cores, certamente pode ser relacionado à ausência da luz que se apagou, do sorriso desfeito, do amargo retido e dos sonhos tragados — para quem fica. Não sei dizer bem o que, para quem vai. Mas como toda viagem, ao se cruzar as fronteiras, um novo mundo nos aguarda. Talvez uma nova língua, novos costumes, novos encontros. A novidade com todos os percalços e construções possíveis.

Estou novamente atravessando um período de luto. Dia a pós dia superando a pressão no peito, reerguendo meus escudos, fortalecendo minhas determinações. Assim como a vida é um presente, a morte é um futuro certo. Há motivos relevantes para se dar um tempo e refletir, intensificar as marcas deixadas pela vida exaurida. Mas permitir-se a dor não é um ato de entrega ou desistência. É reprisar as boas oportunidades que a vida concedeu nos encontros efetuados e resíduos que permaneceram.

Eu sei que isso soa melancólico demais, mas é necessário: algo assim como esse dia, lindo e triste.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 13 de setembro de 2015.

* Custei muito para conseguir produzir esse texto. É como uma espécie de despedida para o amigo 'brasileiro quase mexicano' com quem compartilhei boas aventuras e risadas, Carlos Leonardo da Silva Querino (eu o chamava de Caleo, por conta de Smallville, a série que assistimos juntos). Ele morreu no dia 08-SET. Certamente levou uma parte de mim consigo e eu vou me esforçar para honrar a sua parte em mim.

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