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17 de abr. de 2014

O plausivel

Plausível, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 17-04-2014
Plausível, criado em 17-04-2014.

Quero lhe contar como eu vivi e tudo o que aconteceu comigo.
Viver é melhor que sonhar e eu sei que o amor é uma coisa boa, mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida
de qualquer pessoa.
Por isso cuidado meu bem: há perigo na esquina! Eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens.
Para abraçar meu irmão e beijar minha menina na rua é que se fez o meu lábio, o seu braço e a minha voz…

(Como nossos pais - Belchior)

Senso comum é o conhecimento irrefletido, tradição.
O senso crítico é baseado na crítica, na reflexão, na pesquisa e no pensamento:
o raciocínio busca comprovação antes de emitir uma avaliação ou realizar uma conclusão.




Uma vez, uma professora universitária me disse que sem uma taça de vinho, nada do que escrevia parecia verdadeiro, recendia a uma casca de verniz social. Bem, na opinião de quase todos os trabalhadores que anseiam por um happy hour ou pela cerveja da SEXta-feira, tudo certo.

Não ousem me dizer — quem não teve a oportunidade de experimentar o relaxamento que uma taça de vinho ou umas duas cervejas proporcionam — que isso seja falso. Como, também, não é falso dizer que não se deve tomar decisões no meio do fogo cruzado das emoções.

Tristes são as histórias de jogadores compulsivos que dizem ser o seu dia de sorte; daqueles que dizem que irão apenas beber mais uma dose; ou daqueles que… recuso-me a continuar. O que importa para minha questão é que a emoção apenas não determina o que fazemos, tudo é uma história de vida. São os pequenos acontecimentos que se acumulam e transformam-se num gigante a ser vencido.

Davi e Golias? Café pequeno.

Alegoria ou fato histórico, jamais irá detalhar a realidade diária de cada um de nós, o enfrentamento de dificuldades, o silêncio engolido com a garganta seca, o surrealismo dos padrões sociais: Negamos! Afirmamos! E, se nos dermos conta, nada daquilo se referencia àquilo que nos torna seres humanos. Nem mesmo a dor. Nem mesmo o prazer.

Sentir-se no meio do furacão? Brinca comigo, não. Com tantas pessoas despejadas, famintas, destituídas da humanidade, é mais do que ridículo recorrer às nossas novelinhas pessoais. Coitados dos mexicanos quando recebem os créditos! Juro (e não se deve jurar!) que a vida produzida socialmente, falsamente, manipulada pelos controles e descontroles de cada um de nós é algo inócuo. Inofensivo. Apenas uma proposição necessária adotada quando não há outra opção: máscaras sociais da madame e do patrão; do operário e do ladrão.

E todos somos responsáveis, tentando desesperadamente ignorar a culpa ou a responsabilidade de não interferirmos nesse modelo social anacrônico, de não sermos agentes de transformação social.

Como os nossos pais (agradeço as palavras de Belchior e a voz da Elis Regina) repetimos, reproduzimos. Somos máquinas copiadoras. Transformadoras? Não se faça rir.

Mas, quando eu vejo meus netos ou meus sobrinhos-netos me questiono: O que realmente eu estou deixando para eles? Que parte de mim eles irão — por opção — avaliar, reproduzir, acreditar?

Um dia eu disse para o meu filho: 'mesmo que eu seja completamente contra o que você faça, jamais irei deixar de amá-lo'. Registrem isso, porque verdades são raras no mundo. Hoje, eu digo com clareza: 'isso jamais me fará abrir mão de mim mesmo, é parte de mim.'. Maturidade? Talvez. Certamente, um aprendizado sobre as relações humanas.

Teve alguém que ousou dizer que teria que ser do mesmo modo que para mim mesmo, a manifestação do meu amor. E eu aposto nele e naquelas palavras. Todo o resto é produção cultural, social. Precisa ser reavaliado (com extremo cuidado, eu sou primeiro a dizer!).

Numa época em que participei de um grupo que queria acessar modos mais plenos do que entendíamos ser adoração (eu era membro de uma estrutura religiosa), a primeira coisa que ficou clara era que era preciso modificar algumas das práticas cristalizadas e solidificadas em bases de tradição ou costumes de época. Antes disso, porém, um 'bando' de adolescentes — era assim que eram qualificados — entendeu que a transformação só aconteceria se eles se envolvessem, investissem naquilo que acreditavam, que se dispusessem a participar do modo que achavam que podiam. Tenho o orgulho imenso de dizer: eles o fizeram!

Mas agora eles cresceram e dizem que a realidade é outra. Será?

Sabe o que impede de agirmos hoje do mesmo modo? Acomodação. A mesma que faz um país inteiro se submeter. A mesma que corrói os ânimos, as reivindicações. A mesma que nos torna reprodutores, nunca produtores. Seres domesticados. Ânimos sem fôlego. E perceba bem, Animo e Fôlego são palavras especiais, sem elas não há existência humana.

Talvez, por isso — e me perdoem o pessimismo — a maquinização dos nossos desejos, a homogeneização de nossas características e o desrespeito às nossas diferenças tenham se tornado a herança para as novas gerações.

Imbecilizados?

Idiotizados?

Certamente, destituídos do possível, do viável, adotamos tristemente o plausível.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 17 de abril de 2014.

* Não esperem de mim, tão cedo, outro desabafo assim.

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