Pesquisar este blog

12 de abr. de 2014

Desistências

resiliência, criado em Wellington de Oliveira Teixeira, em 12-04-2014
Resiliência, criado em 12-04-2014.

Denyel foi arremessado à goela do monstro. Farejou seu odor nauseante […] estava condenado, mas resistia. Deu cotoveladas e socos.
[…] Quando a bocarra se expandiu, Denyel tomou uma atitude impensada. Sem mais pedras para jogar, enfiou a mão na jaqueta e arremessou tudo o que guardava nos bolsos. […] O querubim achou que seria morto em seguida, no entanto o tentáculo afrouxou. Surpreendentemente, o corpo do monstro se agitou numa tremedeira […]tornou a se espremer, descendo ao abismo da escuridão infinita, uma passagem aberta para o universo sombrio.

(Eduardo Spohr — Filhos do Éden 2: Anjos da morte, p.450-452)

Vejo pessoas que tornam-se dependentes de obter soluções imediatas, senão jogam fora ou abrem mão. Entendo essa atitude ser fruto de uma sociedade consumista que incentiva usos temporários e rápidas desistências.

Muito se diz sobre a capacidade humana de superar. Dentre as maneiras de exaltar a resiliência está uma que propõe, para além de superar uma questão, ser capaz de reconstruir, refazer, reestruturar determinados aspectos ou partes perdidas.

Declaro-me fã deste determinado modo de entender a potência desse processo: mais do que apenas ficar de pé em meio à tempestade, tornar-se capaz de inventar - com o que disponível estiver - escudos protetores para continuar caminhando, seguindo em frente, alcançando mais um trecho para alcançar seu objetivo.

Quase sempre, quando proponho essa forma as pessoas (a maioria discretamente) dão um risinho. Não me parece ser de deboche, apenas manifestação involuntária a uma certa ingenuidade minha. Só que, nas várias vezes que busquei refazer o processo de entendimento e achar as brechas, não as encontrei. É possível. É viável. É factível.

Bem, sendo assim, por que as pessoas consideram ingenuidade? Será que o sofrimento vai deixando resíduos, que aos poucos se acumulam e produzem resistência no sentido contrário, isto é, a busca de evitar os enfrentamentos? Porque é isso o que acontece.

Uma vez eu ouvi a expressão 'tiraram o meu chão', em outras 'estou no fundo do poço' ou 'não tenho mais forças para tentar'. A impotência que elas carregam não é pequena, não é desconsiderável. Manifestam um estado ou condição humana onde a esperança se desfez, a visão de algo além se nublou, um estado emocional de esgotamento. Não à toa, pessoas assim precisam de ajuda especializada, inclusive os próprios especialistas que não estão imunes ao processo por contaminação.

Nessas horas, em vez de me focar no processo global eu me permito indicar soluções muito particularizadas e parcializadas: não tente resolver tudo de uma vez. Encontre aquele pequenino aspecto em que você ainda se proporciona um pouco de felicidade e use-o como escudo inicial. Ilumine ao redor dele outros. É como ir ao cinema com um amigo e depois passear na praça, na praia. Um prolongamento do momento bom. Isso é como formar pilares para que você possa colocar uma tampa no seu poço que, de placa em placa, vai cobrindo toda a sua superfície. Não tente encher o poço - ele é profundo. Basta tampar a sua abertura externa, construir uma ponte que o permita atravessar essa profundidade. Se você reforçá-la, diariamente, aos poucos nem notará mais que ficou detido por ela, anteriormente.

Somos seres individualmente muito incríveis. De uma potência maravilhosa. O exercício do enfrentar nos empodera mais, nos fortalece mais.

Eu descobri, também, que produzir novos encontros abre novas possibilidades, compartilhar questões permite que escutemos a nossa própria voz, deixar o sofá ou cama e caminhar faz bem.

Bem, essa é a minha visão. Há outras.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 12 de abril de 2014.

* Eu ri quando terminei a revisão do texto. Ficou parecendo texto de autoajuda. Que seja!

Nenhum comentário: