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4 de mai. de 2008

E se foi o tempo…

Álibe perfeito, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 05/07/2007 Álibe perfeito, criado em 5 de julho de 2007*.


Em um universo assim fragmentado não há Logos que possa reunir todos os pedaços: não há lei que os ligue a um todo…
Talvez o tempo seja isso: a existência última de partes de tamanhos e de formas diferentes que não se adaptam, que não se desenvolvem no mesmo ritmo e que a corrente do estilo não arrasta na mesma velocidade.
Proust e os signos - Gilles Deleuze

E se foi o tempo,

O seu tempo. O seu tempo se foi. E eu o vi não muito longe. Tristemente o vi, porque ainda não aprendi que é necessária a despedida para que haja reencontro. E lutei comigo mesmo porque é muito difícil abrir mão do que acreditamos ser nosso: um sonho quase que possível. Semi-possível — semi-real. E enquanto o tempo se ia, eu não quis acreditar que se ia porque não via que era o seu tempo e não o meu. E seu tempo era o que era necessário.

E por ir-se o tempo,

Era de tempo que você precisava. O tempo que reconstrói o mundo que se desfaz dentro e fora de nós: o tempo que pode ensinar o verdadeiro sentido dos nossos passos: passos de fuga ou refúgio? Tempo que mostra o refugo que precisamoss retirar da nossa alma para que não apodreça e em apodrecendo nos apodreça juntamente com ele.

E se foi o sorriso,

O seu sorriso. O seu sorriso se foi. E eu o vi não muito longe. Tristemente o vi, porque era apenas um esboço que a necessidade impediu de se tornar uma sonora risada. E não lutei mais comigo mesmo, porque é muito difícil não acreditar que temos algo que é nosso: um sorriso espontâneo. Sempre possível - sempre real; e enquanto sorria eu quis acreditar que se ia era porque eu vi que era meu sorriso e não o seu. E o meu sorriso era o que era necessário.

E por isso se foi,

Mas ao ir, abriu espaço para outro vir ocupar seu lugar. E não tomou nem se apossou do que não era seu, pois era lugar de ambos. Lugar de muitos sorrisos. Um bando de sorrisos capazes de compartilhar do mesmo alvo-objeto de sua existência. E partiu e por isso se foi: havia alguém que precisava dele. Alguém precisava voltar a sorrir.

E assim eu me fui,

Fui para que em alguém o sorriso voltasse e, em voltando, muitos sorrisos fossem de mim, por muito tempo e pudessem perdurar dentro de mim, que estava quase vazio deles quase o tempo todo.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 2 de fevereiro de 1995.

Minha imensa e especial gratidão à Denise Farias da Fonseca que ajudou ao 'meu menininho' não ter medo de tornar-se um homem que gosta de ser apenas um garoto.
* Texto na arte: trecho de Nosso fim, nosso começo, de Guilherme Arantes.

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