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28 de jun. de 2015

A cura para a amargura

Amargura, criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 28-06-2015.
Amargura*, criado em 28-06-2015.

Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus;
que nenhuma raiz de amargura brote e cause perturbação, contaminando muitos.

Bíblia — II Samuel 2:26

Oi!
Permita-me esclarecer que imagino onde você se encontra e o que faz.
Está sentindo-se solitário ou tem alguém que o ama?
Me ensine a ganhar seu coração pois não tenho noção.
Permita-me, porém, de início, afirmar "Eu te amo!"

(Lionel Ritchie — Hello! trad. livre)

Amanheci com um sentimento de que não quero fazer parte de um mundo onde a amargura azeda o coração, gera uma acidez que corrói a ponte que permite que eu me conecte a um outro — estranhos, especialmente.

Nos meus lábios, uma canção muito antiga, da época de adolescente, que invariavelmente constrangia meu interior ao ponto de lágrimas aflorarem meu rosto: "Há um doce espírito aqui, doce presença, presença santa vem sobre nós enchendo-nos do seu poder…". Meus dedos deslizavam as teclas do piano, meus olhos úmidos não me permitiam vê-las. Não precisava, era guiado em outro nível a escolher quais deveriam suavizar todos os sons em acordo com as palavras que eram pronunciadas melodicamente, poderosamente ungidas.

Não. Não era o espírito de ódio ou amargura que assomava o recinto, interior e exterior, e reunia todos em apenas um único coração. Seria impossível para ele erguer-me a um ponto onde não havia nada mais, nada maior, nada opositor.

Tenho certeza disso: quando a paz invade, você pode estar em meio a maior tempestade que não será abalado.

E isso eu quero alcançar nas minhas práticas de vida, muito para além de discursos inócuos carregados de uma hipocrisia alienante do seu verdadeiro significado. Não quero que meus lábios expressem o que meu coração não esteja plenamente inflamado. Do contrário, não há como trazer um pouco de luz de dentro ao meu redor, para todos que me cerquem.

Eu quero usar palavras de amor para um estranho, o que importa se ele está se destruindo ou que, por suas opções, eu tendo a desqualificá-lo?

Ontem, um menino me pediu dois reais sem me dizer o porquê. Neguei. Ele foi adiante. Uma senhora sentada na mesa adiante da minha levantou-se, colocou a mão em seu ombro e o levou até o caixa do restaurante. Lembro de ter sorrido para ela, ao ver seu gesto. Ao final do meu almoço eu fui pagar a conta e pude perceber o menino sentando diante de um prato de comida e comendo com muito ânimo.

Sim, era o mesmo menino de 14 ou 15 anos que possuía uma maconha como brinco nas orelhas e para o qual não fui capaz de dar vida aos meus discursos.

A Ordem tem sua forma de agir, ela move corações que não se tornam receptáculo do ácido discurso que corrói, legitima a insensibilidade e impede um contato humano e caloroso. Não era para ser a minha vez, veio um certo sentimento de justificação. Pode até ser verdade que o coração a ser mobilizado naquele momento era outro, mas o brinde de uma lição maravilhosa foi completamente meu e foi plenamente absorvido.

A ação não agrediu os preceitos daquela senhora, embora, provavelmente, ela tenha percebido a real situação do menino. Para além de qualquer julgamento se permitiu a manifestação de um espírito que conecta corações, age em prol da transformação por meio de ações que não exigem mérito algum para a obtenção da graça.

Quem sou eu para julgar? Me é permitido algo muito superior: manifestar meu amor de um modo que a paz tenha o primeiro lugar! Mesmo que a razão apresente motivos para determinada avaliação, eu jamais alcançarei o entendimento sobre uma determinada vida, o inexplicável mistério de sua complexidade.

Há uma inexorável verdade que posso me apropriar: o que falo e como ajo são frutos do que cultivo em meu coração. Que o Espírito me inspire a tornar essa verdade algo produtivo para a vida de meu semelhante, a despeito de toda e qualquer convicção que eu tenha para a minha própria vida.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 28 de junho de 2015.

* O amargor é contagiante e impede qualquer convívio com a diferença: assimila a doçura e a destitui de sua qualidade principal. Desse modo, as ações movidas por amargura nunca alcançam o poder de melhoria. Mas condenar é precipitado. Amargura deve ser entendida pelo que realmente é: excesso de sofrimento e desamparo. Em sua versão severa, constitui-se como o elemento qualitativo que torna alguém intransigente.

Então Abner gritou para Joabe:
— O derramamento de sangue vai continuar? Não vê que isso vai trazer amargura?
Quando é que você vai mandar o seu exército parar de perseguir os seus irmãos?
(Bíblia — Hebreus 12:15)

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