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20 de jun. de 2015

Entre o previsível e o predizível

Sinalizadores criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 20-06-2015.
Sinalizadores, criado em 20-06-2015.

Delfos criou um clima de piedade e de efervescência intelectual, despojando-se de suas máscaras sociais com incentivo à prática da filosofia. O oráculo de Delfos estimulou Sócrates a ensinar, definindo-o como o mais sábio dos homens para seu discípulo, Platão. Na vila, muitos lemas filosóficos ornavam as ruas:
  • Nada demais (mêdien ágan) — inculcando a medida e rejeitando o excesso;
  • Conhece-te a ti mesmo (gno^~thi seautón) — ensinando a importância da autonomia na busca da verdade (fórmula que Sócrates usará como sua) e a da introspecção;
  • Tu és (Ei~), — subentende-se como "tu também és uma parte do divino".
Como antecipador ou promotor, a presença do oráculo fez de Delfos o lugar ideal para a descoberta de si.
(com base no termo Oráculo — Wikipedia)


Um dos livros de Russel* chama a atenção, já no seu título, para o fato de a filosofia se estabelecer na intermediação entre a ciência e a religião. Pensar é não se radicalizar no que está comprovado nem nas mitologias. Caminho do meio? Também, não. É transitar entre os mundos de modo a aprender a crer para depois ver.

Há questões, a meu ver, para as quais não há, em principio, métodos de comprovação direta. Outras se exclusivisam no terreno da subjetividade como pura interpretação. Algumas poucas, de tão profundas, se estabelecem numa ordem de pura predizibilidade, como as teorias do pluriverso e das aplicações da teoria quântica. Entre tudo isso o cotidiano, as relações de amor e dor, nossa ignorância diária de nossa transitoriedade e da morte iminente.

É que entre os mundos de dimensões galáticas e os do universo invisível do micro ou mínimo, existimos. Ignorando imensamente mais do que conhecendo. E — que paradoxo insustentável — soberbamente nos considerando o centro de tudo.

Não sou antropólogo, tenho o prazer de conviver com muitos e entendi que muitas das práticas e costumes atuais se sustentam apenas em mitos. Mesmo nas das sociedades consideradas mais avançadas da atualidade.

Toda narrativa alegórica corre o risco de ser tomada ao pé da letra. Como minimizar os riscos? Além disso, muito do que é previsível não é predizível: são tanto os incapacitados a receber a mensagem, que inviabiliza qualquer tentativa. O que fazer?

Mesmo considerando o risco, o antigo método de ilustrar com elementos simples ainda hoje é válido. Há milênios contamos histórias, inventamos mitos e criamos conceitos. A partir deles, geramos práticas. Sua eficácia está em alcançar uma gama ampla dentre aqueles a quem nos dirigimos.

Só que nem todas as lições são como a do bichinho que come dente e causa dor, grandemente utilizada ao se ensinar, durante a primeira infância, a escovar os dentes.

Penso nisso e mais ainda me encanta o poder dos grandes mestres, cientistas e pensadores que nos deixaram como legado parábolas ou conceituações que nos incentivam a reavaliar a vida, suas práticas e modos de pensar. Eles anteviram condições, avaliaram contextos, estudaram propostas e alcançaram respostas que nos permitem iniciar nossa jornada de forma muito mais confortável, já que nos legaram tudo o que sua vivência permitiu.

Convivência, respeito, harmonia e coletividade foram elementos básicos para a humanidade sair da obscuridade. A partir daí, a revolução que a diferenciação por individuação sem qualificação promoveu ganha para mim o status de a etapa máxima alcançada. É que podemos aplicar o entendimento de que, por mais diferente de nós mesmos que seja, o outro é também alguém como nós.

O porquê de qualificar assim? Para mim, essa mudança no trato e no lidar com o outro pode produzir em nós a elevação para um nível que permitirá a humanidade ultrapassar-se. Da cadeia que nos mantém na estrutura animal, tornarmo-nos seres espirituais.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 20 de junho de 2015.

* Bertrand Russell — A Filosofia entre a Religião e a Ciência http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2292

Um comentário:

Anônimo disse...

"Porque, essencialmente, o dom da empatia diminui a fronteira entre caçador e vítima, entre o vitorioso e o derrotado". PKD.