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7 de mar. de 2015

Dessignificação

Dessignificação criado por Wellington de Oliveira Teixeira em 07-03-2015
Dessignificação*, criado em 07-03-2015.

Guardamos como imagens as marchas de garotos enfileirados bradando Heil Hitlers e isso formou a ideia de que todos na Alemanha agiram assim. Esquecemos as crianças rebeldes, aqueles que se insurgiram contra as regras, e os que esconderam judeus, dentre outros, em suas casas. Eis um lado da Alemanha Nazista esquecido".
(Markus Zusak, autor de A menina que roubava livros — em entrevista para The Sydney Morning Herald)


Chegamos a esse planeta.

Imediatamente descobrimos a necessidade, descobrimos que a nossa máquina precisava se acoplar a diversas outras para se manter funcionando.

À custa de atritos ou afinidades as arestas parecidas foram ganhando formato de complementaridade e encaixe. Daí, as conexões passaram a subsidiar a permanência e a subsistência.

Ao encontrar outras máquinas com semelhante equipamento gerador de necessidades, a existência se sustentou no nível das complementaridades.

Remediada por gestos protetores, alimentares e sensíveis, as necessidades ganharam o status de desejo e prazer e a jornada dos encontros ganhou um novo patamar, o das relações. Algumas capazes de potencializar nossa máquina, outras de minar com as capacidades ou mesmo de extingui-las. As primeiras geraram os aliados, as outras o medo.

A jornada ganhou o nome de vida e se estruturou tendo nos encontros seu cenário principal. Para sustentá-la, formulou-se um conjunto de dados básicos separando os que extinguiam a vida e os que a fortaleciam, os modos de contato e conexões. Foi um passo para que encontrar algo prazeroso e fugir do doloroso ditasse nossas direções.

Continuamos máquinas, um pouco mais sofisticadas, quase que autogeridas, capazes de produzir outras e de domesticar vontades.

Após a estruturação do conjunto de dados sensíveis, inventamos um modo de disseminá-los, permitindo que conhecimento e crenças se constituíssem como arcabouço dessas novas relações que eram um pouco menos imediatas.

Geramos, também, o diálogo interno. Com ele, a transformação do sensível em imagens internas estruturadas como reais formou a nossa imaginação. Rapidamente ela se distanciou dos objetos originais até ganhar existência própria, dando surgimento às artes.

Esse processo transformou o mundo, que nunca mais foi o mesmo, pois cada máquina constituiu o seu próprio mundo. O que para alguns tornou-se fonte de enriquecimento e de produção e ampliação das energias, em outros criou um modo de subsistir voltado para si, independente do detrimento de outrem. E as máquinas, antes desejantes da pulsação da vida, inventaram meios de retirar a potência das outras para ampliarem a própria.

Da significação inicial, das ressignificações das conexões, a dessignificação surgiu. Atualmente, a ela nomeamos morte.

Wellington de Oliveira Teixeira, em 07 de março de 2015.

* Esse neologismo foi necessário para confrontar a questão do processo de produzir significados durante e para a vida, contrapondo-se a extingui-los, tornando a vida sem sentido.

2 comentários:

CATARINA disse...

Bela reflexão Wellington.
Obrigada pela partilha.
Grd abraço

Raphael Teixeira disse...

Uma bela viagem pelos universos gerados e arquivados na corrida de revezamento paralelo que é a vida. Parabéns!